18.2.09

Reforma ou lamento

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Não tenho razão para duvidar que alguns patrões aproveitam o actual estado de confusão para despedir trabalhadores desrespeitando a legislação vigente e valendo-se da ignorância jurídica dos atingidos.

Mas é totalmente descabido que o secretário-geral da Intersindical se esforce por fazer dessa questão o fulcro do debate em torno do crescimento galopante do desemprego a que estamos a assistir.

Esta atitude, na aparência radical, na verdade só serve para desviar as atenções do que mais importa. Não, a origem deste drama não radica, no essencial, na falta de escrúpulos de alguns empregadores, mas em males profundos do nossos sistema sócio-económico que a presente crise fez vir à tona.

Não está em causa apenas o comportamento imoral deste ou daquele patrão, mas a ideologia económica que prevaleceu nas últimas décadas.

Que tem a Intersindical a dizer a este respeito? Pensa que as organizações laborais devem limitar-se a um papel de protesto, ou, bem pelo contrário, entende que elas têm um papel activo a desempenhar na configuração na ordem reformada que na sequência da crise deverá emergir?

Não será este o momento adequado para se começar a discutir isto?
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3 comentários:

Björn Pål disse...

Pedir isso à Intersindical, pelo menos na sua actual configuração e liderança, é pedir demais... Ali na Soeiro Pereira Gomes não deixam.

Anti PS Neoliberal disse...

Durante as ultimas 3 décadas assistimos ao desmembrar do movimento sindicalista, era quase condição exigível não pertencer ao sindicato, o neoliberalismo em que vivemos assim o exigia, agora que é necessário negociar com os trabalhadores já vêm, os mesmos que o destruíram, apelar à sua revitalização.

Anónimo disse...

O sindicalismo Português apresenta caracteristicas originais no âmbito do Direito Comparado uma vez que, na realidade, nunca se assistiu em Portugal a um movimento sindical.

O movimento sindical foi criminalizado no final do sec. XIX e na Primeira República. Mais tarde foi recauchetado por Salazar na época de industrialização do país como uma forma de controlar os salários (Portugal necessitava de baixos salários para vender os seus produtos na EFTA) e de moderar as reivindicações operárias (os líderes sindicais eram escolhidos pelo Governo central). A única excepção foi a CGTP cujas origens clandestinas e ligações ao movimento socialista são mais do que evidentes ainda hoje.

com o 25 de Abril, as corporações do Antigo Regime recauchetaram-se em sindicatos e uma leitura extremamente ampla do princípio da filiação não colocou quaisquer limites à dispersão sindical.

Tanto quanto é do meu conhecimento, apenas existe um movimento sindical verdadeiro em Portugal - a associação dos sindicatos independentes (o nome é já de si sugestivo) cuja importância no sector do comércio é inegável.

Resultado: não se pode esperar verdadeiramente um diálogo sindical ou uma reforma da Tarifpolitik como aquela que ocorreu na Alemanha uma vez que as ligações dos sindicatos à agenda política dos partidos impede verdadeiramente qualquer discussão séria sobre uma reforma de modelos.

Já que a crise actual tem a potencialidade de parir um novo modelo, seria interessante uma reforma da regulamentação dos sindicatos por forma a parir igualmente um novo sindicalismo.