É muito provável que, nas próximas eleições, os partidos da esquerda obtenham, em conjunto, uma votação bem acima dos 60%.
Porém, sendo também possível que o PS não consiga a maioria absoluta, não é óbvio que a esquerda possa tirar vantagem de uma maioria tão dilatada.
Já se sabia que não se pode contar com os comunistas para formar governo. Ficámos recentemente a saber que, enquanto Louçã mandar, tampouco o Bloco estará disponível para coligações ou negociações, tentações do demo que não têm cabimento no seu vocabulário.
De modo que há quem se entusiasme com a eventualidade de um governo de bloco central patrocinado pelo Presidente da República.
Imaginemos, porém, que, mesmo sem maioria absoluta, o PS se abalança a formar um governo com um programa susceptível de concitar um vasto apoio entre independentes de esquerda.
Como poderá Louçã justificar a oposição sistemática do Bloco a um tal executivo? Como conseguirá manter unido o seu grupo parlamentar durante quatro anos? Como evitará a deserção de apoiantes cansados de uma actividade política sem sentido útil visível para além da exibição mediática dos dirigentes do BE?
A novela Joana Amaral Dias, concebida, escrita e representada por Francisco Louçã, é um sinal antecipado do seu receio de fuga de muita gente insatisfeita com o beco sem saída de uma política orientada pelo rancor e pelo ressentimento.
O Bloco vai ter que portar-se como gente crescida, exigência tanto mais evidente quanto maior for a sua votação. Não há futuro para os meninos da Terra do Nunca.
Ou viabiliza uma solução governativa de esquerda, ou viabiliza uma solução governativa de direita. Game over.
Mas a descrição que faz do futuro do Bloco é a mesma observada com o Partido Comunista, que apesar de ir perdendo quadros, ainda mantém-se como 3ª força política.
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Infelizmente (para mim) sou um bocado mais céptico... a ideia é ficar tudo na mesma, só com um objectivo: a direita ter sempre como voltar ao poder num relativamente curto espaço de tempo. O BE não quer, não vai e não planeia viabilizar seja o que for. São mais uns tipos com quem não se pode contar.
Qualquer dia somos um país do contra. Votamos no contra, nunca a favor de nada, somos contra tudo e contra todos.
A situação é dramática.
(1) O sistema político-partidário português tem sido desde sempre assente num suporte parlamentar do Governo. Dados os amplos poderes legislativos e executivos do Governo (em concorrência com o Parlamento) e a dupla-responsabilidade política do Governo em relação ao Parlamento e ao Presidente da República, gerou-se a prática constitucional de os partidos mais votados serem convidados a fazer Governo a fim de o Governo gozar de legitimidade democrática e suporte parlamentar e responder apenas perante o Presidente e o eleitorado. Daí que muita gente pense, quando vai votar, que vai votar "para o Governo", tal é a legitimidade democrática indirecta do Governo.
ResponderEliminar(2) O PCP é um partido radical por natureza. O BE é um partido que nasceu dos comunistas descontentes e que procurou modernizar o discurso dessa mesma esquerda radical aos novos tempos perante a apatia do PCP e a recusa da mudança. O BE tem prosseguido, desde a sua formação, um discurso populista e demagógico destinado a conquistar os votos de um certo eleitorado descontente que cobre os "intelectuais iluminados" (casta que pessoalmente abomino), a juventude alternativa, entre outros. A sua estratégia tem dado frutos como comprovam os resultados que tem atingido nos últimos anos a ponto de poder assumir o papel ja de terceira força política, a manterem-se os resultados das europeias.
(3) No entanto, o BE já pôs as cartas na mesa e afirmou peremptoriamente uma coisa: está absolutamente indisponível para formar Governo! Ou seja, mesmo que pudesse (à semelhança do CDS de Paulo Portas) chegar ao Governo por via de uma coligação com o PS, o BE já afirmou a sua indisponibilidade para tal coligação. Ou seja, o BE gosta é de criticar e de atacar mas para assumir responsabilidades e fazer qualquer coisa, está quieto que isso não é para mim!
(4) Posto isto apenas gostaria de saber uma coisa: que credibilidade pode ter uma força política que, num sistema político-constitucional como o Português em que o Governo goza sempre de amplo suporte parlamentar e as eleições são feitas em vista ao Executivo, afirma peremptoriamente recusar quaisquer cargos executivos? Que credibilidade merece uma força política que assenta a sua estratégia no ataque demagógico por forma a conquistar assentos parlamentares mas que recusa pôr as mãos ao trabalho e assumir quaisquer responsabilidades?
O que reforça a minha convicção de que o BE é um partido de tretas, gente incapaz de fazer alguma coisa que ainda se julga no direito de criticar os demais e que proclama à boca cheia altos ideiais que não tem intenções de cumprir. É o partido do intelectual iluminado que vai ao Bairro Alto com o seu casaco de couro ou blazer escuro, óculos de massa e gel na cabeça falar de Justiça Social (as maiúsculas são intencionais), dos malvados dos americanos e da tolerância da cultura árabe enquanto pedem uma cerveja à empregada brasileira e falam da intolerância do pai médico/advogado/industrial/whatever. É o partido do jovenzinho radical que se arrasta nas faculdades até aos 30 anos à custa dos pais e dos contribuintes, anda de rastas, de roupa comprada nos andinos e fuma droga para demonstrar a sua revolta contra a sociedade que lhe deu a oportunidade de escolher aquele modo de vida mas que recusa-se a sustentá-lo e exige-lhe uma coisa tão simples e elementar como ele prover para o seu sustento como qualquer mortal. Ou seja é o partido dos inúteis!
Meu caro JPC, há aí demsiados ses.
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