29.1.12

As pessoas devem pagar mais pelo SNS que as suas empregadas

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Por muito estranho que pareça, uma larga maioria de pessoas acredita mesmo que o SNS é grátis. Sempre que num dos múltiplos focus groups sobre serviços de saúde a que assisti algum participante lembrava que todos o pagamos com os nossos impostos, os outros ficavam visivelmente surpreendidos com a ideia e, como tal, relutavam em aceitá-la.

Devemos por isso compreender que a proposta da direita de pôr as pessoas de mais rendimentos a pagarem os atos clínicos de que são beneficiárias tem junto dos pobres mais recetividade do que habitualmente se supõe.

E, no entanto, os cidadãos que disfrutam de rendimentos elevados já pagam, pela via fiscal, muito mais do que os pobres.

Quanto mais? Tendo em conta que quem aufere o rendimento mínimo ou algo similar não paga IRS e, devido ao seu reduzido consumo, paga pouco IVA, parece-me provável que uma pessoa como eu pague entre vinte a trinta vezes mais que alguém nessa situação.

Aposto que muito pouca gente faz estes cálculos.

Achei por isso curiosíssimo ler hoje no Público uma entrevista à historiadora Maria de Fátima Bonifácio onde ela se manifesta favorável à ideia de as pessoas de posses pagarem mais do que a sua empregada quando recorrem ao SNS.

Apreciei especialmente a parte em que diz: "A desculpa de que já descontam no IRS é uma desculpa de mau pagador. Não faz sentido."

Este argumento é muito bom, quase inultrapassável. Mas não quereria a senhora professora ter a bondade de desenvolver um pouco mais a ideia para as pessoas lá em casa, incluindo a sua empregada, conseguirem percebê-la?
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2 comentários:

jj.amarante disse...

Eu acho que noutras aquisições essenciais como a alimentação se devia seguir o mesmo critério: quem ganhasse mais pagava mais. Bastava colocar no cartão de cidadão a liquidação do IRS do ano anterior e com uma regra de três simples ficava tudo bem resolvido, com os pobrezinhos a poderem comprar tudo mais em conta do que os ricaços.

SS disse...

acho que é uma perspectiva muito interessante e muito em falta nos dias de hoje. porém, há que distrinçar aquilo que financia o SNS de forma indirecta e o que o financia de forma directa. se o IRS financia o SNS de forma indirecta e proporcional aos rendimentos de cada contribuinte, já o mesmo não se pode dizer das mais variadas taxas que proliferam quando recorremos aos serviços. fala-se em isenções do pagamento das taxas o que presumo só ocorra para os pobres indigentes que consigam fazer prova de morarem debaixo da ponte, mas resta saber onde está a proporcionalidade na aplicação das taxas a todo o resto da população não isenta.
acresce dizer que esta história da taxa proliferante é algo que me deixa muito perplexa, pois se bem aprendi que taxa era uma contrapartida directa de um bem/serviço que me era colocado à disposição, e se pago taxas por tudo e por nada onde estão a ser canalizados os impostos que pago e que supostamente financiavam estes mesmos bens e serviços?