14.9.11

Sair do euro: um desígnio nacional?

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Imaginemos que uma parte substancial da nossa dívida - digamos, metade - se evaporava no ar.

Ficariam os nossos problemas resolvidos?

Provavelmente não, visto que, permanecendo inalterado o enquadramento institucional da zona euro, a política económica geral europeia permaneceria inalterada. Ora ela tem-nos sido sistematicamente prejudicial.

A Zona Euro manteve até 2007 taxas de juro demasiado baixas para Portugal, que potenciavam o crescimento descontrolado do endividamento. Fê-lo, porque isso era do interesse da Alemanha.

Desde 2007, a Zona Euro impõe-nos taxas de juro demasiado elevadas, que agravam a recessão e o desemprego em Portugal. Fá-lo, porque isso é do interesse da Alemanha.

As duas décadas decorridas desde o lançamento do Sistema Monetário Europeu demonstram à saciedade que nós não estamos aqui a fazer nada. É hoje mais que evidente que a pertença à Zona Euro não tem para nós nenhuma vantagem e tem todos os inconvenientes.

O país deixou de ter política monetária e cambial própria, perdeu controlo sobre a sua política fiscal e ficou muito condicionado nas suas políticas industriais. Numa palavra, prescindiu da sua soberania entregando poder de decisão a quem não acautela minimamente os nossos interesses.

Tudo isto é hoje óbvio, tal como é óbvio que, descontando a eventualidade de uma reforma do Euro cada vez mais improvável, o futuro imitará o passado.

Escusam de me explicar que a saída da zona euro não é de momento possível, porque eu proponho apenas que essa opção seja seriamente encarada e estudada.

Quanto ao momento adequado, ele virá quando se tornar claro que os elevados custos de ficar são afinal superiores aos elevados custos de sair.
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4 comentários:

António Parente disse...

O euro era a nossa grande oportunidade de construirmos um país diferente onde o crescimento se baseasse na inovação e na capacidade dos portugueses serem tão capazes como os outros de competirem no mercado global. Parece que alguns portugueses conseguiram - o sector do calçado, considerado condenado, foi capaz de recuperar - mas uma sociedade para mudar precisa de décadas, não é num par de anos que o consegue.

Sair do euro agora ou daqui a um par de anos é desistir, é continuar a apostar nos salários baixos, é dizer aos empresários que ainda resistem na indústria que não vale a pena investirem na inovação e modernização das suas empresas porque o câmbio resolve-lhes sempre os problemas.

O seu post desiludiu-me. Não o via desistir tão facilmente.

João Pinto e Castro disse...

O crescimento do país assentou na inovação, no crescimento da produtividade e na exportação antes de o país aderir ao euro. Depois de aderir ao euro, parte crescente da mão de obra foi deslocada para atividades de baixa produtividade e baixos salários, a competitividade internacional das empresas reduziu-se e o investimento desceu continuamente.
Como vê, tudo ao contrário do que pressupõe no seu comentário.

António Parente disse...

Tenho uma percepção diferente da sua. O crescimento assentou na desvalorização do escudo, o que favorecia as exportações. Quanto à produtividade do trabalho, tem parcialmente razão: aumentou com a entrada no euro. Todavia, se compararmos com a evolução de outras economias que partiram de uma situação pior, a nossa produtividade quasse que estagnou.

Em relação às mudanças depois do euro, são sinal de incapacidade de adaptação a um novo quadro de acção. O que fazer? Voltarmos ao passado e tornarmo-nos uma espécie de "Ásia" da Europa?

Repare que eu não digo que não tenha razão. Nas minhas noites de insónia em que para adormecer procuro resolver os principais problemas mundiais e nacionais já tenho pensado se a saída do euro não seria uma solução. Não estou convencido que seja. Todavia, como sou um Keynesiano, isto é, aceito mudar de opinião desde que me mostrem que estou errado ou se existirem dados novos que me levem a concluir isso por mim próprio, não digo que nunca estarei de acordo consigo.

Para terminar, aqui estão os dadoa da produtividade do trabalho:

http://epp.eurostat.ec.europa.eu/tgm/table.do?tab=table&init=1&plugin=1&language=en&pcode=tsieb030

Anónimo disse...

Caro Parente,

Nesse seu gráfico a Itália, a mesma que está agora a bater no fundo, a chafurdar em divida e com recessão à vista tem índices de produtividade superiores à Dinamarca.
Serve-lhes de muito esse gráfico..

Você devia sair de casa mais vezes!

Cumprimentos