16.10.11

Dêem-lhe tempo, que ela chega lá

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Fazia sentido, no princípio deste ano, face à dupla pressão dos mercados financeiros e da União Europeia, que o governo português se esforçasse por ganhar tempo.

Tendo em conta que 80% do acréscimo do défice orçamental desde o início da crise se deveu à perda de receita fiscal resultante da quebra da atividade económica, poder-se-ia esperar que a retoma europeia desse uma contribuição decisiva para resolver o problema.

Mesmo assim, a viabilidade dessa estratégia dependia de forma crucial da criação de uma frente comum interna que, unindo os principais partidos, reforçasse a nossa capacidade negocial face à União Europeia.

Sabe-se que isso não aconteceu. O impropriamente chamado PEC IV, que visava precisamente ganhar tempo e proteger os portugueses do pior, foi alegremente chumbado por uma raivosa coligação anti-Sócrates.

Fomos então forçados a negociar com o FMI, o BCE e a Comissão Europeia nas piores condições imagináveis. De um lado, um governo enfraquecido pela oposição maioritária que lhe tirara o tapete no momento menos oportuno; do outro, uma troika entusiasticamente estimulada pelos partidos de direita e por uma parte substancial dos media a impor drásticas condições ao país.

O acordo foi o que se sabe. Ainda assim, o novo governo prometeu de imediato ir ainda mais longe. Como desperdiçar esta oportunidade, há tanto tempo aguardada, de humilhar os pobres, esmagar os trabalhadores e desmoralizar a classe média?

E é neste momento que, com a gigantesca fraude política à vista de todos, Manuela Ferreira Leite vem pedir a renegociação com a troika das medidas a tomar e do prazo de ajustamento do défice. Mas onde é que a senhora tinha a cabeça quando exigiu o chumbo do PEC IV, que visava precisamente isso? Mais alguns meses, e ela chega lá.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Cristalinamente acertivo.

O menino surpreende-me e deixa-me de quatro.

Aquele abraço do Norte