tag:blogger.com,1999:blog-55053452024-03-07T18:40:34.858+00:00...bl-g- -x-st-"If they can get you asking the wrong questions, they don’t have to worry about answers" Thomas PynchonJoão Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.comBlogger4661125tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-31079498888736027252013-06-16T01:37:00.000+01:002013-06-25T21:29:19.631+01:00A carta que nunca te escrevi. <span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;"><br /></span>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">O nosso João nasceu em 8 de Agosto de 1950, no Porto, cidade que sempre fez parte da sua identidade.</span><span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;"> </span><br />
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">No dia em que nasceu, o seu pai, o Engenheiro Francisco Almeida e Castro, Presidente da CP, homem pelo qual sempre nutriu a mais profunda admiração e respeito, estava nos Estados Unidos, num comboio a caminho de Chicago, preso durante dias numa tempestade de neve, viagem essa que resultou na introdução em Portugal da primeira locomotiva diesel.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Era ainda criança quando a família se mudou para Lisboa, cidade que amou profundamente, e onde cresceu e viveu quase toda a sua vida.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">O Zinho, como a família sempre o chamou, corria e brincava na zona da Av. Roma e frequentou o Liceu Camões onde foi um aluno exemplar.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Enquanto jovem revelou ter um assinalável jeito para o desenho e um sentido estético apurado que facilmente poderia tê-lo levado a ter se tornado num grande artista plástico, facto facilmente comprovável pelos seus inúmeros desenhos e pequenas pinturas que há poucos anos reencontrei, arrumados numa velha caixa.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Educado em piano clássico por uma querida professora que mais tarde veio ser também minha e da minha irmã, a música sempre teve uma importância enorme para ele. Na nossa casa a música inundava constantemente o espaço, paixão visível pela forma como coleccionava LP’s, como se fossem a banda sonora da nossa felicidade.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Foi já na Faculdade de Economia que conheceu a senhora minha mãe, mulher carinhosa e de forte carácter, que desde o primeiro momento amou de forma sempre leal e honesta. Juntos partilharam as alegrias e dificuldades da vida, próprias de um jovem casal. </span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Enquanto estudantes, envolveram-se activamente na luta política contra o regime fascista, da qual não faltam histórias absolutamente fantásticas algumas que ele próprio nos contou e outras que ainda vou descobrindo nos relatos de alguns dos seus bons amigos.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Várias vezes teve a grandeza de agir de forma contra-intuitiva, em nome da liberdade de pensamento que sempre defendeu com unhas e dentes.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">3 anos após a revolução, teve o seu primeiro filho, eu, e passados 3 anos teve uma filha, a menina dos seus olhos, a minha irmã Inês.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Connosco sempre tratou de forma carinhosa, sempre um bom pai, sempre nos deu todas as oportunidades. </span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><br />
<span style="letter-spacing: 0.0px;"></span></span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">O seu percurso profissional levou-o ao Marketing e à Publicidade, passando pela Direcção de Marketing de grandes empresas internacionais como a Ogilvy e a Wunderman e culminando na criação de uma Agência de sucesso, a Interact e mais recentemente na Ology, onde tive a enorme sorte de trabalhar a seu lado.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Guardo com muito carinho e saudade estes últimos 3 anos que passámos juntos, diariamente, e em que tanto me ensinou. Feliz circunstância essa em que, no auge da crise, perdi o meu emprego em Londres, o que me trouxe de volta a Portugal, de volta ao meu Pai e à senhora minha Mãe. Feliz circunstância essa que me permitiu este período em que reaprendi a estar com eles, a valorizá-los mais e a encontrá-los, em mim.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Possuidor de uma cultura absolutamente enciclopédica, que toda a vida alimentou consumido livros, música e cinema a uma velocidade estonteante, o João tornou-se conhecido na sua vida profissional pela verticalidade de princípios, pelo imenso respeito pelos outros, pelo seu altruísmo militante e pelo compromisso absoluto de continuamente se superar enquanto homem.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Era um homem pacifico, mas nunca conformado, sempre exigente com a vida e com os outros na mesma proporção em que era exigente consigo próprio. </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">De entre as suas excepcionais qualidades sempre me impressionou a sua capacidade de sintetizar assuntos complicadíssimos, de resolver a complexidade sem qualquer esforço aparente. Como um artista que resolve tudo com um só gesto.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Sempre cuidado na sua presença, sempre ponderado nas suas palavras, o João era um verdadeiro alquimista no uso da palavra. </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Apreciava o discurso da mesma forma que sabia apreciar o silêncio.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Sabia ouvir os outros, era tolerante, e aceitava a diferença como ninguém.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Não se impunha, entendia e respeitava o espaço de cada um.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Era um grande conversador, um verdadeiro contador de histórias.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Vamos ter muitas saudades de o ouvir e de o ler. </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Da sua voz e da alegria que disponibilizava em tudo o que fazia.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Era um homem que amava ensinar e que se envolvia como um pai no percurso dos muitos alunos que tiveram a sorte de o ter como professor. Sei agora como essa forma de se relacionar com os alunos era apreciada e por isso reciproca.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">O João era um homem que nunca se demitiu das suas responsabilidades.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Há uns dias, pedi-lhe que delegasse em mim os compromissos profissionais que o apoquentavam. E ele disse: “ Não filho, em Julho, quando eu estiver melhor, eu próprio tratarei dos assuntos pendentes e de ver os trabalhos dos meus alunos.”</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Na fase final da sua doença, é assinalável o enorme prazer que retirava das visitas dos seus amigos. As conversas com os amigos pareciam um remédio milagroso, e não fora o cansaço físico dir-se ia que estava encontrada a cura que o traria de volta.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Faltam-me as palavras para descrever a forma incrível como se manteve lúcido até aos últimos dias em que a vida o traiu. Impressionou-nos a forma como nunca se queixou da sua má sorte. Como manteve sempre a sua elevação e o seu acutilante sentido de humor. </span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">No meu aniversário, no passado dia 5 de Junho, ele estava, fraco, deitado numa cama de hospital, e eu aproximei-me dele e disse-lhe:</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">“Parabéns querido pai, faz hoje 36 anos que me tiveste. Lindo serviço!” </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Ao que ele me respondeu na sua doce e já algo debilitada voz: </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">“Sabes André, foi o que se pôde arranjar.”</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">O nosso João nunca desistiu de viver. Caiu de pé como todos os grandes homens.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Defendeu as muralhas da cidade como ninguém, lutando como um herói, pronto a dar tudo pela sua família, pelos seus amigos e por tudo aquilo em que acreditava.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Nunca falou da morte talvez por não acreditar nela. </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Nunca mostrou uma pinga de medo. </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">E isso é para mim a verdadeira imortalidade.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Da enorme tristeza de o ver partir, sobra-nos o alivio que sentimos de saber do fim do seu sofrimento e resta-nos a eterna saudade. </span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">É hoje nossa obrigação manter a sua memória viva aprendendo com ele a viver a vida até ao último momento, sempre com a máxima dignidade e amor pelo próximo.</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Esta é a carta que nunca te escrevi.</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;"><br /></span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">Até já querido amigo,</span></div>
<div>
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0.0px;">André Castro</span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="letter-spacing: 0.0px;"></span><br /></span></div>
<div style="min-height: 16px;">
<br /></div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-80650532680634162942013-06-15T13:17:00.001+01:002013-06-19T10:46:24.277+01:00Professor Doutor João Manuel Pinto e Castro 08/08/1950 – 14/06/2013 <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwS-chl-jKNYNGMmTwsuXqZaiZqJESIr4TjFS5wfUhbuhPCb8gnNoc35sHfhK_iGZqBETcBKGZjIs5FIlQWdhOoVBRvOsOORPAF1s7Gh4v4JTpk1ByzsAdx98fRBx3jPS7KH0Mww/s1600/Joao%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwS-chl-jKNYNGMmTwsuXqZaiZqJESIr4TjFS5wfUhbuhPCb8gnNoc35sHfhK_iGZqBETcBKGZjIs5FIlQWdhOoVBRvOsOORPAF1s7Gh4v4JTpk1ByzsAdx98fRBx3jPS7KH0Mww/s320/Joao%5B1%5D.jpg" width="212" /></a></div>
<div style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 14px; margin-bottom: 10px; text-align: justify;">
<span style="letter-spacing: 0.0px;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: 10px; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; letter-spacing: 0px;">Sua mulher Maria Regina Lourenço Ferreira, seus filhos André Ferreira e Castro e Inês Ferreira de Castro, sua mãe Maria Alice Torres Pinto de Castro, sua irmã Maria Leonor Pinto e Castro e demais família, participam o falecimento do seu ente querido na sequência de doença prolongada.</span></div>
<div style="margin-bottom: 10px; text-align: justify;">
<br /></div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-85503230528149808792013-04-17T12:27:00.002+01:002013-04-17T12:27:56.097+01:00Queimar dinheiro na praça pública.<br />
Depois de ler o meu <a href="http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/joao_pinto_e_castro/detalhe/queimar_dinheiro_na_praca_publica.html">artigo</a> de ontem no Negócios, um amigo fez-me chegar um extracto de <a href="http://www.newstatesman.com/politics/politics/2012/12/commons-confidential-dave-party-pooper">algo</a> que encontrou no New Statesman:<br />
<blockquote>
This year’s initiation ceremony to join the Bullingdon Club, disclosed an Oxford student who has a chum in that oafish society, was to burn a £50 note in front of a beggar.</blockquote>
Queimar o dinheiro que se diz não haver na cara de quem mais dele precisa parece fazer parte do <i>zeitgeist</i>.<br />
. João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-55251363831790932492013-04-08T11:32:00.001+01:002013-04-08T13:03:20.269+01:00O que significa sair do euro?.<br />
Após a conclusão do acordo de resgate a Chipre, foi instituído na ilha o controlo de capitais, o que significa que as pessoas e as empresas não podem transferir livremente euros de ou para o estrangeiro.<br />
<br />
As PMEs italianas muito dificilmente conseguem hoje obter financiamento a taxas inferiores a 10%; do outro lado da fronteira, na Áustria, o crédito custa metade desse preço.<br />
<br />
O estado português financia-se - quando consegue financiar-se - a taxas não inferiores a 6%; em contrapartida, a Alemanha consegue financiamento a 1%.<br />
<br />
A ideia de que a saída do euro é um acontecimento instantâneo e que se trata de uma opção de "tudo ou nada" revelou-se equivocada, como estes três exemplos demonstram.<br />
<br />
Não se sai do euro - vai-se saindo. O que torna essa perspectiva simultaneamente mais provável e menos dramática.<br />
<br />
<b>Última hor</b>a: o eventual pagamento do subsídio dos funcionários públicos com títulos da dívida é mais uma forma de começar a sair do euro sem grandes fanfarras, porque equivale à emissão de dinheiro numa moeda cujo valor estará indexado à capacidade esperada de o país pagar a sua dívida.<br />
.João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-60029277210730972132013-04-06T16:18:00.000+01:002013-04-06T16:18:00.748+01:00A defensiva estratégica na resistência à troika<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal">
.</div>
<div class="MsoNormal">
Quando Aníbal invadiu a península itálica e impôs uma série
de derrotas humilhantes às legiões romanas, Fabius Maximus foi designado
ditador com poderes ilimitados para assegurar a salvação da pátria.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas Fabius optou pela estratégia impopular de evitar o
confronto directo com o inimigo, preferindo segui-lo à distância,
dificultar-lhe os abastecimentos e as comunicações e atacá-lo apenas em
pequenos recontros de cada vez que uma parte das suas forças se deixava isolar.
Isso valeu-lhe a alcunha de “Cuntactor” (contemporizador) e motivou não poucos
conflitos com oficiais que, embora nominalmente sob as ordens, optaram, sempre
com resultados trágicos (mormente na batalha de Canas), por desobedecer-lhe.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
No final, porém, a estratégia de defesa activa de Fabius
acabou por obrigar o enfraquecido e desmoralizado exército de Aníbal a retirar
para o Norte de África.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Uns dois mil anos depois, os generais Barclay de Tolly,
primeiro, e Kutuzov, depois, repetiram com êxito o estratagema de Fabius
perante o exército napoleónico que, no Verão de 1812, atravessou o rio Nieman e
avançou sobre Moscovo. Aplicando uma política de terra queimada, o exército
russo recuou continuamente à frente de Napoleão, frustrado por não lograr uma
batalha decisiva e obrigado a caminhar por um território deserto abandonado
pelas populações, tornando muito difícil o dia a dia dos seus 285 mil homens.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando a Grande Armée se encontrava já consideravelmente enfraquecida,
Kutuzov aceitou travar batalha em Borodino. Após um resultado inconclusivo, o
exército russo continuou a retirar, abandonando inclusive Moscovo ao invasor. O
caos que se seguiu obrigou à retirada precipitada de Napoleão em pleno Inverno,
sendo o seu exército metodicamente dizimado e perseguido até Paris.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Já no século XX, Mao teorizou os princípios da defensiva
estratégica nos seus escritos militares. Tanto na guerra contra o Kuomintang
como, poucos anos depois, na guerra contra a invasão japonesa, foi forçado a
reconhecer que a fragilidade dos seus efectivos, a insuficiência do seu
equipamento e a vulnerabilidade da sua posição o impediam de bater-se
frontalmente contra o inimigo. Nessas condições, inspirou-se em Sun Tzu para
caracterizar a estratégia mais indicada: “O inimigo ataca, nós recuamos; o
inimigo pára, nós flagelamo-lo; o inimigo cansa-se, nós atacamos; o inimigo
cansa-se, nós perseguimo-lo.”</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Portugal encontra-se numa situação de grande fragilidade
política e financeira perante os seus principais parceiros internacionais.
Aderiu ingenuamente a uma zona monetária mal concebida que, em vez de o
proteger perante as tempestades internacionais, o condena a ainda maiores
penas. Não estava nem está ainda em condições de recusar liminarmente as
condições do resgate que foi forçado a pedir em 2011. Nenhum dos seus mais
importantes parceiros europeus está disponível para defender uma solução
diferente. A narrativa moralista e punitiva da Alemanha é todos os dias imposta
sem contraditório. Extravasando as suas competências, o BCE permite-se ditar
opções políticas aos países membros. Os países em dificuldades têm relutância
em assumir posições comuns. Finalmente, a opinião pública europeia permanece em
larga medida alheada destes problemas, em parte por sentir que a sua voz não
conta.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Manifestamente, Portugal não dispõe de grandes trunfos neste
confronto com forças incomparavelmente mais poderosas. Significará isto que não
há nada a fazer?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sustento que a alternativa é entre a capitulação e a
resistência. A teoria e a prática da capitulação é ilustrada na perfeição pelo
comportamento do governo português nos últimos dois anos. A total identidade de
pontos de vista entre Vítor Gaspar e a troika assegura que a receita definida
em conjunto pela UE, pelo BCE e pelo FMI é aqui aplicada na sua versão mais
extrema. “Ir além da troika” significa, na prática, que as condições impostas a
Portugal são mais graves do que as aplicadas à Grécia, à Irlanda, à Espanha, à
Itália ou a Chipre. Não pode haver negociação pela simples razão de que o
ministro das finanças português partilha por inteiro as concepções da troika.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Poderia ser diferente? Note-se, primeiro, que, com excepção
de Portugal, nenhum – repito: nenhum – dos países sob assistência fez tudo
aquilo que a troika lhe mandou fazer. A Irlanda, por exemplo, frequentemente
apresentada como um caso exemplar, não só não procedeu à privatização do seu
sector eléctrico, como nem sequer separou a produção da distribuição – medidas explicitamente
exigidas no respectivo memorando de entendimento.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Depois, os governos desses países não se coíbem de criticar
publicamente a concepção dos programas implantados pela troika e de exigir
melhores condições. Inversamente, Gaspar critica em voz alta como irrealistas as
iniciativas da Irlanda que poderiam também beneficiar-nos a nós.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Finalmente, tanto a Espanha como a Itália se uniram internamente
para impedir a declaração oficial de um resgate, camuflando-o sob vestes que,
sendo em parte formais, não deixam de ser menos humilhantes e atentatórias dos
direitos dos seus povos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Em resumo, apesar das condições de debilidade prevalecentes,
é possível fazer-se muito mais e melhor – desde que se queira.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Por outro lado, Portugal tem algumas cartas que pode e deve
jogar. Sendo membro do Conselho de Segurança da ONU, o seu voto tem relevância
para a UE; porém, no caso da admissão da Palestina na UNESCO, o país
submeteu-se prontamente à vontade dos alemães sem obter nada em troco. Algo semelhante
se passa na NATO: apesar de traído pelos seus aliados, Portugal continua a
despender recursos escassos com a sua presença militar no Afeganistão e na
Bósnia, quando poderia legitimamente retirar-se invocando as dificuldades
financeiras criadas pela teimosia da troika. Chama-se a isto fazer política
internacional, algo que Paulo Portas deve achar muito cansativo.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Apesar de a situação permanecer desfavorável, é indiscutível
que tendeu a melhorar no último ano, principalmente porque a política de
austeridade favorecida pela Alemanha e pelo Partido Popular Europeu se encontra
cada vez mais descredibilizada, dado que não só a saída da crise foi adiada,
como a UE voltou a entrar em recessão a partir de meados de 2012.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Cada vez mais vozes autorizadas – incluindo as de Olivier
Blanchard e Paul de Grawe – criticam a punição sem sentido a que Portugal está
a ser submetido e demonstram que, se não ocorrerem modificações de fundo na
atitude da UE, a estagnação e o desemprego não têm fim à vista. Além disso,
aumentando os riscos de catástrofe em grandes economias europeias e de contágio
a cada vez mais países, incluindo alguns do centro, até Christine Lagarde,
Durão Barroso e Mario Draghi procuram distanciar-se de Angela Merkel.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Por outras palavras, a causa da troika perde adeptos na
mesma medida em que a nossa ganha apoios. Pode-se legitimamente esperar que o
tempo jogue a nosso favor.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Entretanto, a estratégia adequada à nossa presente
circunstância continua a ser a defensiva estratégica, ou seja: recuar quando o
inimigo avança; conspirar quando se detém; moer-lhe o juízo quando procura
descansar; desacreditá-lo quando comete erros ridículos; persegui-lo quando se
mostra desorientado; exigir a renegociação quando se torna evidente para todos que
não sabe o que anda a fazer. Um dia, com muita persistência, chegará finalmente
a hora de passar à ofensiva estratégica.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tudo isto exige, porém, como condição prévia, um povo unido
em torno de uma ideia do que tem direito a exigir, a começar pelo respeito pela
sua vontade livremente expressa através do voto.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Fim da segunda lição sobre como fazer face à troika.</div>
<div class="MsoNormal">
.</div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-63536735960378997042013-04-05T15:03:00.000+01:002013-04-05T15:04:42.374+01:00Tempo de balanço<!--[if gte mso 9]><xml>
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<div class="MsoNormal">
Conjecturo a existência de uma correlação negativa entre o
número de economistas portugueses doutorados nos EUA e o crescimento do nosso
PIB per capita. Por outras palavras, quantos mais economistas dessa extracção temos,
pior se comporta a economia portuguesa.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Qualquer pessoa sensata dirá que se trata de uma correlação
espúria. Eu, porém, que não tenho que fingir sensatez quando escrevo num
blogue, não estou tão seguro disso.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ora vejamos. Ao longo do século XX a economia portuguesa recuperou
uma boa parte do seu atraso em relação ao núcleo dos países europeus mais
desenvolvidos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eis senão quando, a partir da década de 80, um escol de
economistas portugueses recém-regressados ao país após o seu doutoramento na
América veio explicar-nos que até aí tínhamos feito tudo errado e que eles é
que sabiam o caminho para uma prosperidade para além dos nossas mais loucos
fantasias.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como por cá valorizamos muito o que vem “lá de fora”, muitas
dessas pessoas lograram alcandorar-se rapidamente a lugares de destaque no
governo, na administração pública, no banco central e na academia, o que lhes concedeu
a oportunidade de porem em prática as suas ideias.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que eles fizeram basicamente foi combater o chamado “intervencionismo
estatal”, na convicção de que o livre jogo dos mercados encontraria automaticamente
as melhores soluções para assegurar o crescimento para todos. Por outras
palavras: nada de entraves ao comércio externo, nada de limitações aos movimentos
de capitais, nada de política cambial, nada de política industrial, comercial
ou agrícola, nada de promoção de novas actividades económicas, nada de selecção
de sectores estratégicos para investimento, nada de empresas públicas, nada de
intervenção directa do estado na economia, nada de regulação dos mercados de
trabalho. A lista poderia continuar, mas creio que já ficou claro o receituário
dos economistas da escola “não te rales”.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O advento do Mercado Único e do Sistema Monetário Europeu
deram a esta corrente o apoio externo de que precisava para se impor sem
contestação, de modo que, desde então, o país prescindiu voluntariamente de
praticamente todos os instrumentos de política económica que contribuíram durante
mais de oito décadas para a prosperidade da economia portuguesa.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Passados vinte anos, dir-se-ia que já vai sendo tempo de se fazer
um balanço, não?</div>
<div class="MsoNormal">
.</div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-37766732000785680872013-04-04T21:40:00.000+01:002013-04-05T15:03:49.253+01:00A virtude do Norte<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal">
</div>
Após constatar que em vários países europeus existe uma
narrativa popular que opõe, dentro de cada um deles, o norte ao sul, sendo o
primeiro sinónimo de trabalho, seriedade e progresso e o segundo de ócio, despreocupação
e atraso, Theodor Adorno confrontou este mito com duas pequenas dificuldades.<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
Em primeiro lugar, como explicar a virtude do norte italiano,
se ela está ao sul da negligência do sul alemão?</div>
<div class="MsoNormal">
Em segundo lugar, como explicar que em vários casos, de que
valem como exemplos a Grã-Bretanha e Portugal, o sul é mais desenvolvido do que
o norte?</div>
<div class="MsoNormal">
Adorno não tenta sequer resolver o paradoxo, deixando-nos
por conseguinte o encargo de pensar melhor no assunto.</div>
<div class="MsoNormal">
Sabe-se que, no hemisfério norte, existe uma elevadíssima
correlação entre latitude e produto per capita, sugerindo que a geografia conta
muito na explicação de níveis díspares de desenvolvimento.</div>
<div class="MsoNormal">
Todavia, o que Adorno faz notar é que o preconceito
anti-meridional ocorre mesmo quando tal correlação inexiste.</div>
<div class="MsoNormal">
Isso leva-me a pensar que a valorização ética do norte é no
essencial do domínio do simbólico. Os infelizes povos do norte, castigados com
invernos mais rigorosos e privados durante boa parte do ano da luz e do calor,
tendem a fantasiar o sul como uma espécie de paraíso terrestre onde todos são
eternamente felizes e abundantes fluem o leite e o maná.</div>
<div class="MsoNormal">
Em contrapartida, consolam-se acreditando que o seu
sofrimento lhes assegura, nesta vida, o monopólio da virtude, e, na outra, quem
sabe se um lugar privilegiado à direita de Deus Pai.</div>
<div class="MsoNormal">
O fundo do mito do sul preguiçoso por contraste com o norte
industrioso proviria, assim, do ressentimento ou da inveja.<br />
. </div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-44549375944089327402013-04-04T13:06:00.001+01:002013-04-04T13:06:14.766+01:00Olhar para o lado errado.<br />
Uma das coisas que mais confusão me fazem nas discussões sobre as políticas dos governos de Sócrates antes da eclosão da crise internacional, ou seja até 2008, é a excessiva ênfase colocada nos temas financeiros.<br />
<br />
Quem conhece e respeita os números dificilmente pode aceitar as acusações de "despesismo". Em primeiro lugar, nunca o controlo das contas públicas foi tão efectivo em Portugal como nesses anos. Em segundo, o investimento público situou-se a níveis historicamente baixos e com tendência para baixar. Finalmente, o acréscimo do défice em 2009 em mais de 6 pontos percentuais deveu-se em cerca de 80% à quebra das receitas fiscais, tendo o resto a ver sobretudo com o aumento das prestações sociais decorrente da recessão, principalmente o subsídio de desemprego.<br />
<br />
Em conclusão, eu diria que não há muito a criticar do lado da política financeira dos governos Sócrates e que o desempenho de Teixeira dos Santos merece nota 18.<br />
<br />
Inversamente, sou de opinião que se errou - e muito - na frente económica. Muito resumidamente, o país foi confrontado em meados dos anos 90 com a necessidade imperiosa de acelerar a transformação da sua estrutura produtiva, caso contrário ficaria condenado a competir directamente com outros que beneficiam de uma mão de obra incomparavelmente mais barata.<br />
<br />
Assim sendo, a pergunta que eu faço é esta: o estado português ajudou de facto esse processo de requalificação das empresas e dos trabalhadores? E a minha resposta é: muito pouco.<br />
<br />
De modo que a concentração do debate na política financeira - onde. a meu ver, se fez o que razoavelmente poderia ser feito - desvia as nossas atenções da política económica - onde pouco se fez e ainda tanto resta por fazer.<br />
.João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-22214650694674181642013-03-29T20:46:00.000+00:002013-03-29T20:46:01.378+00:00Mudança da política de resgate na UE?.<br />
Quando os bancos gregos, irlandeses e portugueses enfrentaram
dificuldades era preciso protegê-los porque deviam muito dinheiro a
bancos alemães, franceses e austríacos.<br />
<br />
Idem, pelas mesmíssimas razões, quando a crise ameaçou de insolvência alguns bancos italianos e espanhóis.<br />
<br />
Quando
os bancos alemães, franceses e austríacos reduziram significativamente a
sua exposição à Grécia, avançou-se para um perdão de cerca de metade da
dívida soberana grega, porque isso já não os afectaria.<br />
<br />
No
mesmíssimo dia em que isso foi decidido, a banca cipriota, muito exposta
à dívida grega, ficou automaticamente insolvente apesar de,
curiosamente, ter passado todos os stress tests anteriormente
realizados.<br />
<br />
O pedido de resgate de Chipres esperou quase 9 meses por uma resposta da UE.<br />
<br />
Quando
finalmente chegou, o bail-out passara a bail-in: em vez de uma
penalização dos devedores, propunha-se uma penalização dos credores.<br />
<br />
Alguns
ingénuos saudaram esta inovação como uma mudança de política no sentido
certo. Afinal, não é justo que o custo do reajustamento recaia
inteiramente sobre os devedores, quando os credores são tão ou mais
responsáveis.<br />
<br />
Há aqui um completo equívoco, pois, na verdade, não ocorreu nenhuma mudança de política.<br />
<br />
A
política permanece inalterável, e pode ser assim caracterizada: quando a
situação ameaça directamente os bancos do centro, os devedores são
penalizados; quando a situação não ameaça directamente os bancos do
centro, os credores são penalizados, pois assim os países do centro não
terão que garantir o financiamento de emergência e o BCE não assumirá
encargos adicionais.<br />
<br />
Entendido?<br />
. João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-9556717443316742502013-03-29T17:26:00.005+00:002013-03-29T17:27:30.592+00:00Mudar de política em relação à troika.<br />
Pedro Lains perguntou <a href="http://pedrolains.typepad.com/pedrolains/2013/03/o-trio-do-ritz.html">certa vez</a> porque raio é que a delegação da troika é instalada no Ritz de cada vez que vem a Lisboa.<br />
<br />
Este comentário aparentemente anódino faz todo o sentido, e entendo que faz sentido explorar um pouco esta via de questionamento. Não sugiro que se deva hospedar a troika numa qualquer Pensão Estrela num bairro de má nota, mas parecer-me-ia bem levá-los para um hotel decente mas económico, como convém a um país a atravessar uma fase de grandes apertos.<br />
<br />
Pergunto-me também porque se vai recolhê-los ao aeroporto e transportá-los para as reuniões em carros de luxo de alta cilindrada, quando uma ou - vá lá - duas viaturas militares fariam perfeitamente o serviço.<br />
<br />
Depois, aposto que durante as reuniões há pausas para café acompanhado de biscoitinhos dinamarqueses. Da próxima vez, deveria eliminar-se a benesse e, quando eles perguntassem pelo cafezinho, ficariam a saber que os cortes em pessoal auxiliar determinaram a eliminação dessas mordomias. Quem tiver muita sede, poderá ir à casa de banho servir-se de água da torneira. Em alternativa, faz-se uma pausa para ir até ao café da esquina e cada um pagará a sua despesa.<br />
<br />
O ar condicionado passaria também à história, dando-se como exemplo a inovação do Ministério da Agricultura, onde os funcionários foram convidados a tirar a gravata no Verão. E no Inverno? Traz-se de casa um casaquinho de malha e um cachecol, e está o caso resolvido.<br />
<br />
Ao contrário do que alguns poderão estar a pensar, não estou a brincar. O domínio das técnicas de negociação é tanto mais indispensável quanto mais frágil for à partida a nossa posição. Criar situações de desconforto ao adversário, sobretudo se subtis e de algum modo justificáveis pelas circunstâncias colocam-no a ele numa situação psicologicamente desgastada. Isto não mata, mas mói.<br />
<br />
Por último, faz-lhes ver que não estão perante gente submissa e que, portanto, terão que preparar-se para enfrentar desafios potencialmente desagradáveis. Mudar de atitude em relação à troika começa por coisas pequeninas como esta.<br />
<br />
Muito mais haveria para dizer, mas isso fica para outro dia. Fim da primeira lição.<br />
. João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-54415367518368757652013-03-27T13:40:00.001+00:002013-03-27T13:41:26.700+00:00Bernstein: Inside Pop - The Rock Revolution.<br />
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.João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-11796757484722024212013-03-06T16:54:00.000+00:002013-03-06T16:54:09.549+00:00Um grande salto em frente, dois grandes saltos atrás<span>.</span><br />
<span>Do meu <a href="http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/detalhe/um_grande_salto_em_frente_dois_grandes_saltos_atras.html">artigo de ontem</a> no Negócios:</span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<span>Não podemos pôr de parte a hipótese de se acentuar na
União Europeia a presente deriva de degradação da convivência civilizada
entre os povos e de liquidação definitiva de qualquer conceito de
futuro mobilizador para os seus cidadãos. É por tudo isso que nós, os
bons Europeus –, ou seja, aqueles que concebem a Europa antes de mais
como um projecto de civilização – temos de reconhecer que, a persistir o
curso actual, talvez seja necessário que ao grande salto em frente da
criação da moeda única possam ter de seguir-se dois grandes saltos
atrás, ou seja, não só o desmantelamento dessa moeda única como a
anulação de uma parte das regras do Mercado Único que a precedeu.</span><br /><br /><span>Não
há uma só maneira de os povos europeus conviverem e cooperarem entre si
em razoável harmonia. Nos quase três milénios que leva de existência
como instância geopolítica relevante, a Europa conheceu já múltiplas
configurações, alternando períodos de aproximação entre os estados
constituintes com outros de afastamento. Num horizonte longo, a presente
UE deve ser encarada como apenas um dos arranjos institucionais
possíveis, cuja principal carta de recomendação foi a sua orientação
demo-liberal. Falhando essa inspiração distintiva, não há razão para que
seja considerada preferível a arranjos mais estreitos, no limite pouco
mais que zonas de comércio livre e cooperação política limitada.</span><br /><br /><span>Nós,
os bons Europeus, deveremos por isso prepararmo-nos para reconsiderar
radicalmente a posição de Portugal no contexto da Europa, quem sabe se
começando por dar à expressão "países periféricos" um sentido positivo.
Com tanto país a ser deitado fora da UE como carga imprestável, talvez
se consiga fazer algumas alianças interessantes, deixando a Alemanha
entretida com os seus estados tributários. </span></blockquote>
<span>. </span>João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-77468329676483732162013-03-05T12:54:00.000+00:002013-03-05T12:55:27.388+00:00Forma de vida.<br />
<img src="http://static.squarespace.com/static/5073041b84aefb9a79abf5cb/t/5133572be4b066ad532d8f4c/1362319149805/CI%20epis%C3%B3dio%202%20JPCastro.png?format=1000w" width="750" /><br />
. <br />
À conversa com o Abel Barros Baptista sobre o livro de Daniel Kahneman "<a href="http://www.wook.pt/ficha/pensar-depressa-e-devagar/a/id/12640883">Pensar, Depressa e Devagar</a>", num podcast que pode ser ouvido <a href="http://formadevida.org/podcast/">aqui</a>.<br />
.João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-48851038582416769562013-03-01T12:45:00.000+00:002013-03-01T12:45:00.174+00:00O homem sem qualidades.<br />
O Público online cita hoje com algum detalhe algumas <a href="http://www.ionline.pt/portugal/cortes-passos-diz-estado-social-pesado-deu-proteccoes-muito-elevadas">declarações</a> proferidas por Passos Coelho na Faculdade de Direito Lisboa, convenientemente rodeado de gorilas e jotinhas:<br />
<br />
“A Europa construiu[-se] também como um dos exemplos de Estado social avançado, em que as pessoas adquiriram níveis de protecção contra riscos sociais e económicos muitos elevados”, mas (…) essas protecções foram adquiridas durante “um tempo em que a Europa crescia a um ritmo bastante vigoroso e em que a nossa demografia ajudava nesse crescimento”. Neste momento, lembrou, nenhuma das duas premissas se verifica e por isso levantam-se as perguntas: “Como é que podemos assegurar que os recursos estão disponíveis para aqueles que precisam mais e como é que temos a certeza de que os impostos que os cidadãos pagam e que depois o Estado redistribui correspondem a uma correcção das injustiças na distribuição do rendimento?”<br />
<br />
Habituámo-nos, talvez precipitadamente, a encarar Passos Coelho como alguém que mente compulsivamente, desdizendo sistematicamente o que afirmou na véspera para pouco depois regressar à versão original, tudo isso sem revelar, como o próprio reconhece, o mínimo embaraço sempre que é apanhado em falso.<br />
<br />
Este comportamento persistente recorda-me irresistivelmente as palavras que o então treinador do Benfica Graham Soughness pronunciou a respeito de Vale de Azevedo: “This man is a dangerous man. He lies while looking at you in the eye.”<br />
<br />
Acontece que Passos não é Azevedo – este último um evidente psicopata que acredita piamente nas falsidades que profere. Não vislumbro um desequilíbrio psicológico no Primeiro-ministro; pelo contrário, parecem-me evidentes as suas carências cognitivas.<br />
<br />
Passos Coelho é, por um lado, um penteado piroso, um olho de carneiro mal morto e uma voz bem colocada; por outro, uma suprema empáfia suportada por uma capacidade sintáxica de produzir frases ordenadas sem correspondência numa semântica susceptível de produzir qualquer sentido.<br />
<br />
É manifesto exagero acreditar-se que Passos mente, visto que isso implicaria reconhecer que faz alguma ideia do que diz.<br />
<br />
Passos adquiriu uma longa prática de décadas a discursar para patetas da JSD. Ora, o cerne desse tipo de intervenção discursiva consiste em jamais correr o risco de ficar sem nada para dizer, mesmo que – ou até de preferência quando – o que se diga seja nada. A palavra, nessas circunstâncias, não passa da negação do silêncio, e isso apenas e só na medida em que ela confere um poder sobre quem não foi bafejado por uma idêntica capacidade para debitar uma grande quantidade de inanidades durante um longo período de tempo.<br />
<br />
O cérebro de Passos Coelho é uma das mais perfeitas máquinas de registar frases feitas e lugares comuns e de reproduzi-las sequencialmente nas mais variadas circunstâncias, certo de que disporá sempre de uma audiência que murmurará, embevecida: “Não percebi nada, mas que bem ele fala!”<br />
<br />
Estamos, pois, conforme prefiram, perante um génio imitativo ou um idiota reprodutivo.<br />
. João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-42412851226900227962013-02-28T16:47:00.001+00:002013-02-28T16:47:05.680+00:00Legitimidade.<br />
Apesar das bizarras circunstâncias em que ocorreram, ninguém duvida
que as legislativas de 2011 decorreram no respeito pela legalidade. Isto
aqui não é a Venezuela, tampouco a Florida em 2004.<br />
<br />
Vai daí,
Passos Coelho deduz que não pode ser questionada a legitimidade do seu
governo para fazer o que lhe der na real gana. Não espanta que o
Primeiro-ministro ignore a diferença entre legalidade e legitimidade;
porém, a avaliar pelo que por aí se escreve, dir-se-ia que o
desconhecimento é generalizado.<br />
<br />
Já se sabe que o calcanhar de
Aquiles da democracia representativa é a latitude teoricamente
vastíssima de que os governantes dispõem para interpretar o seu mandato.
Um representante não é, nem pode ser, um mero “comissário” (bela
expressão inventada em 1917 por Trotsky num momento de singular
inspiração), antes beneficia de considerável e indispensável autonomia
no desempenho das suas funções políticas.<br />
<br />
Terá essa autonomia
limites? Quem se der ao trabalho de ouvir os primeiros cinco minutos do
debate televisivo que em 2011 opôs Passos Coelho a Sócrates sentir-se-á
pelo menos inclinado a achar que sim, tal o contraste entre o que na
altura jurou e o que pouco depois se decidiu a fazer.<br />
<br />
Contra isto
argumentam muitos que os políticos sempre prometem coisas que sabem ser
impossíveis, e que, por conseguinte, tudo isto deverá de algum modo ser
considerado normal. Mas eu desafio qualquer um a mostrar-me que alguma
vez se tenha visto, em Portugal ou em qualquer outra democracia que se
respeite, algo que sequer se aproxime desta total, sistemática e – pior
ainda – crescente divergência da acção governativa em relação às ideias e
ao programa anunciados antes e durante a campanha eleitoral.<br />
<br />
E é
aqui que surge o problema da legitimidade como algo bem distinto da mera
legalidade. Num certo sentido, a legitimidade está muito para além da
legalidade, na medida em que é o seu sustentáculo derradeiro.<br />
<br />
Nas
palavras de Max Weber, a legitimidade é “a razão profunda pela qual, em
qualquer sociedade estável e organizada, há governantes e governados, e
por que a relação entre uns e outros se estabelece como uma relação
entre o direito, por parte de uns, de governar, e o dever, por parte dos
outros, de obedecer.”<br />
<br />
Ora a legitimidade assenta, já Locke o
afirmava, no consentimento dos governados, por sua vez dependente da
convicção de que quem exerce o poder o faz no entendimento, mesmo que
discutível, de que se esforça o mais que pode e sabe por garantir o
bem-estar colectivo.<br />
<br />
Mas haverá, nos dias que correm, alguém
minimamente atento ao que se diz nos mais variados círculos da sociedade
portuguesa que ainda conserve a ilusão de que essa convicção, esse
consentimento e, logo, essa legitimidade subsistem?<br />
<br />
Quem sabe se o esclarecimento definitivo desta dúvida não chegará já no dia 2 de Março?<br />
. João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-9557762268053987502013-02-26T12:12:00.003+00:002013-02-26T12:16:17.451+00:00A derrota do pró-cônsul.<br />
Monti começou razoavelmente, negociando austeridade moderada (por comparação com a imposta noutros países) a troco da união bancária europeia e da flexibilização da atitude do BCE. Depois, Merkel adiou para 2014 os compromissos assumidos e Monti ficou com uma mão cheia de nada, a desempenhar o papel de pró-cônsul da Germânia no Lácio.<br />
<br />
Que poderiamos esperar que o eleitorado italiano fizesse? Submeter-se de boa mente às sevícias teutónicas - ou resistir? Ao contrário doutros, a Itália pode credivelmente ameaçar abandonar o euro - um caminho duro e arriscado, mas ainda assim possível. Faz todo o sentido que use a capacidade negocial de que dispõe.<br />
<br />
Tecnocratas bem comportados como Monti, mas insensíveis às consequências políticas e sociais dos arranjos financeiros que patrocinam, não levam a Itália para lado nenhum. Bersanni, uma outra variante de político "bem-comportado", apenas se propunha dar uma caução de esquerda civilizada e responsável à austeridade sem fim à vista.<br />
<br />
Neste contexto, estava aberto o caminho para o voto de protesto, não só contra a austeridade, mas também contra o euro, o défice democrático europeu e a colonização financeira promovida pela Alemanha. Eleger um cobrador de fraque teleguiado a partir de Berlim não é uma perspectiva exaltante.<br />
<br />
Já se viu que os novos senhores da Europa só entendem a linguagem da força. Caos político na Itália e na Espanha é a melhor coisa (ou, digamos, a menos má) que poderiamos esperar nas presentes circunstâncias.<br />
.João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-25137127406738497432013-02-25T16:15:00.001+00:002013-02-25T16:15:12.024+00:00Fui eu que escrevi isto?.<br />
Originariamente publicado neste blogue sob o título "<a href="http://blogoexisto.blogspot.pt/2011_10_01_archive.html">Uma pessoa vulgar</a>", em 19.10.11:<br />
<br />
"Ninguém podia imaginar uma coisa destas. Um senhor tão calmo, tão
sossegado, que falava sempre tão bem aos vizinhos... Quer dizer, ele não
era de muitas falas, mas cumprimentava sempre toda a gente."<br />
<br />
"Uma vez assustei-me porque me cruzei com ele nas escadas à noite com as
luzes apagadas e ele vinha muito silencioso - ele nunca faz barulho
nenhum - e só o vi quando quase choquei com ele."<br />
<br />
"Não era uma pessoa muito alegre e expansiva, lá isso não. Via-o sempre
muito metido consigo mesmo, a pensar nas suas coisas. Mas a gente sabe
lá o que vai na cabeça das pessoas."<br />
<br />
"Para dizer a verdade, eu cá continuo a não acreditar que ele tenha
feito as coisas que se diz que ele fez. Ou, se fez, foi porque alguém o
empurrou para fazer isso. Eu cá não acredito."<br />
<br />
"Eu até disse à minha comadre: 'Era um bom partido para a sua Amelinha'.
'Jesus, valha-nos Deus!', disse-me ela, e afinal tinha razão."<br />
<br />
"Tem aquela fala monocórdica e a gente sentia receio de conversar com ele, mas, tirando isso, é uma pessoa como as outras."<br />
<br />
"Uma pessoa muito normal em tudo, muito amigo do seu amigo, com uma
maneira de ser muita própria. As pessoas se calhar não acreditam, mas
ele uma vez estava tão bem disposto que até o vi a rir-se."<br />
<br />
"Uma vez houve um incêndio aqui no prédio que nunca se soube como
começou. Ele ficou sempre muito calmo, mas não ajudou a apagá-lo, só
olhou."<br />
. João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-69492355813075572242013-02-25T11:29:00.002+00:002013-02-25T11:30:18.822+00:00Aforismos tempestivos de Friedrich Nietzsche<!--[if gte mso 9]><xml>
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</xml><![endif]-->.<br />
Quem luta com monstros deve ver se, ao fazê-lo, não se torna
também um monstro. E quando olhas durante muito tempo para um abismo, também o
abismo olha para dentro de ti.
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A objecção, a injúria, a alegre desconfiança, o gozo de
troça são sinais de saúde; tudo o que é incondicionado releva da patologia.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A loucura é rara nos indivíduos, mas é a regra nos grupos,
partidos, povos e épocas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não se odeia quando se considera alguém inferior, mas
somente quando se o considera igual ou superior.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“Ele desagrada-me” “Porquê?” “Não estou à altura dele.” Já alguma
vez alguém respondeu assim?</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
(Extraídos do Quarto Capítulo de <i>Para Além do Bem e do Mal</i>,
Ed. Relógio d’Água)</div>
<div class="MsoNormal">
. </div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-80732421729284906752013-02-22T17:07:00.001+00:002013-02-22T17:07:19.136+00:00Direito à revolta e liberdade de expressão<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal">
No ano lectivo de 1969-70 foi a academia portuguesa varrida
por uma vaga de contestação que ainda não vi relatada em qualquer livro de
história sobre a época. Consistia o movimento na iniciativa que muitos
estudantes de várias escolas tomaram de questionarem de viva voz o que os
mestres lhes ensinavam, designadamente no que tocava aos pressupostos
ideológicos e políticos subjacentes a esse saber.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Descontando a surpresa ou mesmo o choque de que uma coisa
assim pudesse ter lugar num país que, para todos os efeitos práticos, vivia em
ditadura, o debate processou-se durante algum tempo num clima notavelmente
civilizado, apenas ameaçado pelas pressões que o governo exercia sobre as
direcções académicas para que pusessem cobro à subversão.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Foi então que, na Faculdade de Direito de Lisboa, alguém, que
eu aliás muito bem conhecia dos bancos do Liceu, introduziu um estilo novo e
mais excitante de contestação consistente em insultar os mestres e
arremessar-lhes tomates e ovos quando o debate não evoluía a seu contento. Como
talvez fosse de esperar naquele contexto, o estilo pegou, alastrou a outras
escolas e motivou uma escalada de violência que não mais recuou até ao 25 de Abril.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Consumada a revolução, os debates em assembleias populares
começaram por decorrer num geral ambiente de fraternidade e respeito pelas
opiniões alheias, que todavia não durou mais que escassas semanas. Logo que se
tratou de eleger direcções de sindicatos, de comissões de trabalhadores ou de
comissões de moradores, os comunistas e alguns grupos esquerdistas recorreram
prontamente ao método de intimidação dos opositores, muitas vezes coadjuvados
por membros do MFA que acorriam às assembleias para impor respeito.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os acontecimentos desta semana no ISCTE trouxeram-me de imediato
à memória essas recordações ao mesmo tempo que me confirmam na ideia de que comunistas
e esquerdistas pouco ou nada evoluíram desde então.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como tentei mostrar, aprendi muito novo que a afirmação do nosso
direito à liberdade de expressão facilmente entra em confronto com a liberdade
de expressão dos outros. Ao contrário do que à primeira vista se poderia
pensar, a liberdade de expressão é um bem rival, na medida em que os
antagonistas entre si disputam o tempo e o espaço de que dispõem para se
manifestarem perante uma dada audiência recorrendo a um determinado medium.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É evidente que Relvas beneficia da vantagem de poder
exprimir-se recorrendo a meios muito mais poderosos do que aqueles que estão ao
alcance do comum cidadão. Vai daí, os anónimos humilhados e ofendidos sentem-se
no direito de silenciar o ministro numa situação particular sob o pretexto de
que ele tem outras oportunidades para falar.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas a liberdade de expressão não pode admitir tais entorses.
Relvas não tem apenas um direito genérico e abstracto a exprimir-se, ele tem o
direito a exprimir-se onde e quando entender, especialmente quando foi
expressamente convidado a fazê-lo. De outro modo, um direito genérico poderia
ser sempre negado em condições particulares – estratégia que, de resto, sempre
foi a aplicada nos países comunistas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Entendo a revolta de quem é diariamente espezinhado da forma
mais cruel por este governo, carecendo de meios para se defender, e entendo
também que é dessa violência objectiva que por fim emerge a violência subjectiva
de grupos mais ou menos organizados. Em última análise, a responsabilidade do
que se está a passar é, pois, de Passos, Relvas e Gaspar, ou seja, da troika
interna.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas isso não me fará aplaudir a utilização da violência,
pelo menos enquanto houver formas civilizadas de manifestar por muitos e vários
meios a nossa oposição a este revoltante estado de coisas.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tudo poderia ser aceitável nas manifestações das últimas
semanas – as manifestações, os discursos inflamados, as canções, mesmo os
insultos, por descabidos que sejam – tudo, menos as intimidações físicas e a
negação do direito à palavra dos adversários. No que toca aos insultos, a única
coisa que me desagrada é que sejam tantas vezes absurdos (“fascistas!” “bandidos!”
“ladrões”) quando tantos bem mais contundentes seriam na ocasião apropriados.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Se os excessos não forem atalhados a tempo, temo bem que a
resistência popular vá por mau caminho.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-90599910926116702762013-02-20T15:08:00.000+00:002013-02-20T17:41:32.723+00:00O estado vai ter que gastar mais.<br />
No Negócios de ontem dou o meu modesto <a href="http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/detalhe/a_maldicao_do_estado_social.html">contributo</a> para a reflexão sobre a reforma de estado:<br />
<blockquote>
A perspectiva da subida contínua dos preços relativos dos serviços pessoais trabalho-intensivos resistentes à automação afigura-se, à primeira vista, algo assustadora. Segundo algumas estimativas, se os custos dos cuidados de saúde continuarem a subir como até agora, saltarão de 15% do rendimento do americano médio em 2005 para 62% em 2105, um século depois. Nessas condições, uma vez pagas essas e outras despesas com serviços essenciais, pouco sobrará para tudo o resto, incluindo coisas tão vitais como habitação, transporte, alimentação e vestuário. Note-se, além disso, que esta previsão em nada depende de a prestação dos serviços de saúde ser pública ou privada. </blockquote>
<blockquote>
Como corolário desta dinâmica dos custos, caso uma parte substancial da saúde e da educação continue a ser assegurada pelo estado, a despesa pública representará uma parte cada vez maior do rendimento nacional, certamente muito superior aos 50% que já hoje são comuns nos países mais desenvolvidos e que tanto alarmam muito boa gente. </blockquote>
<blockquote>
Sucede, porém, que a generalizada preocupação com este problema resulta em boa parte de um mal-entendido e que a cura usualmente proposta para o resolver pode ter resultados bem mais graves que a doença. Desde logo, embora uma parte cada vez mais reduzida do rendimento seja dedicada à aquisição de bens físicos, o crescimento sustentado da produtividade agrícola e industrial significa precisamente que essa parcela, embora menor, nos permite comprar cada vez mais alimentos, automóveis, roupas ou computadores. De modo que poderemos ter ao mesmo tempo acesso a mais bens produzidos tanto pelo sector crescentemente automatizado da economia como pelo de produtividade estagnada.</blockquote>
. João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-48176459211150582282013-02-06T10:48:00.003+00:002013-02-06T10:48:28.734+00:00Como tornar-se um sem-abrigo de sucessoDo <a href="http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/detalhe/como_tornar_se_um_sem_abrigo_de_sucesso.html">meu artigo</a> desta 3ª feira no Negócios:<br />
<blockquote>
Atente-se em Nicolas Berggruen, que, embora dono de uma fortuna avaliada em 2,2 mil milhões de dólares, decidiu em 2002 vender o seu apartamento em Manhattan e a sua ilha na Florida, mantendo apenas o jacto pessoal Gulfstream e deslocando-se permanentemente de hotel em hotel. Nas suas frequentes entrevistas, exorta toda a gente a abraçar o seu projecto de libertação dos bens materiais e busca espiritual. Tecnicamente, trata-se sem dúvida de um "homeless". </blockquote>
<blockquote>
Entretanto, a Sociedade São Vicente de Paulo da Austrália convida desde 2006 os CEO do país a viverem a experiência dos sem-abrigo num "sleepout" que tem lugar em Junho de cada ano. O sucesso da iniciativa não decorre, é óbvio, de esses executivos recearem ver-se um dia, por infortúnio, despromovidos à condição de sem-abrigo, antes de um desejo reprimido de ensaiarem uma experiência que lhes tem sido vedada pelos preconceitos sociais dominantes. </blockquote>
<blockquote>
A constatação do fascínio que a vida dos sem-abrigo exerce sobre tantos altos executivos coloca às empresas que eles dirigem um angustioso dilema. Não é ético condicionar a liberdade de alguém, mais a mais quando está em causa a tentativa de dar significado espiritual à sua vida. Porém, a dificuldade que os aspirantes a sem-abrigo têm em assumir a sua vocação pode prejudicar o seu desempenho enquanto hesitam e, por isso, inibir a criação de valor para os accionistas. Eventualmente, a neurose (que é só um problema do próprio) pode evoluir para psicopatia (que ameaça os outros). Que fazer? </blockquote>
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-36508421045197995672013-01-25T15:11:00.000+00:002013-01-25T15:13:26.562+00:00Troika foreverO quase simultâneo "regresso aos mercados" (designação ambígua servida à opinião pública) de Espanha, Irlanda e Portugal marcou uma nova viragem na zona euro com consequências vastas, duradouras e difíceis de entender.
Convém por isso que tentemos compreeender o que de facto mudou.<br />
<br />
A primeira transformação é da ordem do simbólico, com imediatas repercussões no contexto político. Como uma parte substancial dos opositores e dos comentadores cépticos apostou abertamente na impossibilidade de Portugal "regressar aos mercados" em Setembro de 2013, é inevitável que o governo disfrute deste momento de glória para argumentar a favor das escolhas que fez nos últimos 18 meses.<br />
<br />
Há, por conseguinte, uma vitória clara do governo, faltando saber-se quanto tempo ela resistirá à inevitável constatação de que vêm aí mais desemprego, mais recessão e mais penalizações para os pobres e para a classe média. Há também uma vitória para Durão e para a Comissão Europeia, que não se têm cansado de anunciar que a crise do euro está "ultrapassada". Finalmente, também Merkel reforça a sua imagem interna de chanceler que evitou uma pesada factura a pagar pelos contribuintes alemães. O maior vencedor, porém, foi o Banco Central Europeu.<br />
<br />
Para Portugal, Espanha, Irlanda e Itália nada de substancial mudou. Na verdade, até piorou um nadinha, quando substituiram dívida mais barata por dívida mais cara só para se gabarem de poderem financiar-se directamente nos mercados.<br />
<br />
Mas a questão fulcral, como o Ministério das Finanças prontamente fez notar, é que a austeridade não será de forma alguma aliviada. Convém perceber porquê.<br />
<br />
A melhoria da situação na zona euro, anunciada pela drástica e rápida descida dos juros das dívidas soberanas nos mercados secundários, em nada se deve a um progresso nos países mais fragilizados no que toca aos seus défices, às suas dívidas e às suas perspectivas de solvabilidade - bem pelo contrário.<br />
<br />
Qualquer observador isento reconhece que o que fundamentalmente mudou foi a atitude do BCE (mais precisamente desde o Verão passado), ao anunciar que não hesitaria em intervir directamente em socorro dos países em dificuldades para assegurar a salvação e a integridade da zona euro. Espanta um bocadinho como essa promessa foi considerável credível, mas a verdade é que foi mesmo.<br />
<br />
A contrapartida desta mudança de política, assumida por Draghi contra a inepta herança de Trichet, é que o apoio do BCE está agora directamente dependente da avaliação que o banco central faz da bondade das políticas orçamentais anuncidas pelos estados, sem necessidade da presença directa de troikas ou da assinatura de memorandos de entendimento.<br />
<br />
Este novo método foi experimentado com êxito na Itália e na Espanha. Tem, para os respectivos governos, a grande vantagem de evitar a entrada de um corpo expedionário de ocupação financeira (vulgo troika) e a explicitação de condições humilhantes e ofensivas para o patriotismo dos indígenas.<br />
<br />
Mas tem também o grandíssimo incoveniente de ser menos transparente, mais discricionário e virtalmente perpétuo. A submissão temporária aos ditames da troika que calhava em sorte a cada país e que era reduzida a escrito num documento minimamente fundamentado e negociado foi desde agora substituída por outra permanente e ilimitada, de tal modo que cada país fica à mercê das declarações públicas de Draghi favoráveis ou desfavoráveis ou mesmo, quando isso lhe der mais jeito, de um mero telefone ao respectivo ministro das finanças.<br />
<br />
Ademais, estamos perante uma transferência de poder e soberania da Comissão Europeia para o BCE. Não era bem deste tipo federalismo comandado por banqueiros que estavam à espera, pois não?
João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-10367079834176693102013-01-23T13:23:00.002+00:002013-01-23T13:24:10.752+00:00Se os portugueses tivessem um governo próprio.<br />
Do meu <a href="http://www.jornaldenegocios.pt/opiniao/colunistas/joao_pinto_e_castro/detalhe/2013_01_22_se_os_portugueses_tivessem_um_governo_proprio.html">artigo de ontem</a> no Negócios:<br />
<blockquote>
"Como compreendem, a opinião pública portuguesa fica confusa ao escutar estas afirmações dos dirigentes da União Europeia e do FMI, tão evidentemente opostas àquelas que até há pouco lhe eram apresentadas como indiscutíveis artigos de fé - e que nós próprios, aliás, aceitámos assumir perante os nossos concidadãos como inevitáveis e sem alternativa. Assim sendo, não poderemos estranhar que os portugueses comecem a perguntar-se se o governo que elegeram não terá andado a enganá-los no último ano e meio. </blockquote>
<blockquote>
"Ora, se um povo desconfia da boa-fé do seu governo e se sente atraiçoado por ele, corre-se o maior dos riscos, que é o de uma irreversível e completa ruptura entre eleitos e eleitores, desembocando na perda de legitimidade e no caos político. </blockquote>
<blockquote>
"Dito isto, somos forçados a perguntar-vos: quem representam os senhores nesta reunião? A União Europeia e o FMI ou apenas e só as vossas peculiaríssimas opiniões pessoais? Como é possível que representem essas instituições, se é público e notório que as únicas pessoas inequivocamente autorizadas para falarem em nome delas contrariam em público de forma clara e taxativa o que os senhores aqui procuram impor-nos?</blockquote>
. João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-53756687220355092252013-01-18T10:30:00.002+00:002013-01-18T10:30:49.815+00:00Vejam como caem os juros de Portugal! Espera aí, afinal são os da Grécia....<br />
<img src="http://aspirinab.com/ficheiros/Gr%C3%A9cia.jpg" /><br />
<br />
Via <a href="http://aspirinab.com/">Aspirina B</a>.<br />
.João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5505345.post-90344227311063341062013-01-12T19:07:00.000+00:002013-01-12T19:07:03.116+00:00Se os portugueses tivessem um governo próprio<div class="posttext">
.<br />
Se tivéssemos um governo próprio, eis o que ele diria à troika da próxima vez que nos visitasse:<br />
<br />
“Meus senhores, escutámos nas últimas semanas declarações altamente
relevantes de, por um lado, Christine Lagarde (Presidente do FMI) e
Olivier Blanchard (economista principal do FMI), por outro, Durão
Barroso (Presidente da Comissão Europeia), Claude Juncker (Presidente do
Ecofin) e Martin Schulz (Presidente do Parlamento Europeu).<br />
<br />
“Todas estas individualidades - de quem decerto já terão ouvido falar
- convergem de modo inequívoco na conclusão de que as políticas de
austeridade que têm vindo a ser aplicadas na Europa em geral e em
Portugal em particular são erradas, destrutivas e contrárias aos
propósitos declarados de controlar os défices públicos, conter o
crescimento das dívidas soberanas, promover o crescimento e gerar
emprego.<br />
<br />
“Dito isto, somos forçados a perguntar-vos: quem representam os
senhores nesta reunião? A União Europeia e o FMI ou apenas e só as
vossas peculiaríssimas opiniões pessoais? Como é possível que
representem a União Europeia e o FMI, se é público e notório que as
únicas pessoas idóneas para representarem essas instituições contrariam
com a máxima clareza o que procuram impor-nos aqui?<br />
<br />
“Têm os senhores a certeza de estarem mandatados para fazerem o que
fazem? Estão seguros de que a vossa actuação é apoiada pelas
organizações a que pertencem? Não vos incomoda pessoal, profissional e
institucionalmente a ambiguidade desta situação?<br />
<br />
“Não nos levem a mal. Porém, nessas circunstâncias, somos forçados a
suspender todos os contactos convosco até que Christine Lagarde, Durão
Barroso e Claude Juncker clarifiquem de uma vez por todas, de
preferência por escrito, qual é de facto a orientação das instituições a
que presidem. Até lá, desejamo-vos uma estadia agradável no nosso
bonito país.”<br />
<br />
Mas é claro que, sendo Vítor Gaspar funcionário da União Europeia,
jamais fará ou dirá algo que possa embaraçar a sua futura carreira
técnica.<br />
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João Pinto e Castrohttp://www.blogger.com/profile/03140629356680919506noreply@blogger.com0