21.9.12

Inferência estatística

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"Desde a morte de Sá Carneiro que se provou e tornou a provar que um primeiro-ministro que não aparecesse ao público como o inequívoco responsável pela vitória da maioria não conseguia, por mais que se esforçasse, adquirir a autoridade para governar o seu partido, o Estado e o país. A fraqueza original de Balsemão e Santana Lopes vem daí." (VPV no Público de hoje)

Há um ramo da estatística dedicado às pequenas amostras, mas apenas dois eventos seria sempre demasiado escasso para autorizar verdades tão absolutas e definitivas.

(Assessorado por um Ministro das Finanças de Boliqueime, Sá Carneiro arruinou em ano e meio as finanças do país para ganhar uma eleição presidencial, que aliás perdeu. Se acaso não tivesse perecido em Camarate, o mais natural é que tivesse sido forçado a reformar-se prematuramente da política, como sucedeu a Balsemão, que herdou a enorme trapalhada por ele produzida.)
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14.9.12

September Song

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11.9.12

O governo que doou o seu povo à ciência

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Do meu artigo de hoje no Negócios:
Este extremismo ideológico – que, obviamente, ninguém sufragou – é o aliado natural da pulsão neurótico-depressiva de que a troika se alimenta. Afigura-se portanto plausível que o governo tenha conseguido a indulgência em relação ao fracasso do défice para 2012 a troco da garantia de redução da TSU para as empresas tão acarinhada por uma das mais retrógradas escolas do pensamento económico.

Sabe-se como a teoria da desvalorização interna é cara ao FMI e aos doutrinários do Banco de Portugal. Sabe-se também que, até hoje, ela só foi experimentada na Letónia, e que os seus resultados foram, numa avaliação caridosa, inconclusivos. Faz-lhes falta, pois, testá-la num país de razoável dimensão e complexidade económica como o nosso.

Com a colaboração do governo português, o FMI, que gosta de fazer experiências com animais vivos, encontrou neste povo o ratinho de laboratório ideal.
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8.9.12

O ratinho de laboratório

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Quando o Tribunal Constitucional condenou a injustiça do programa de austeridade e toda a gente se perguntava o que faria o governo em resposta, previ meio a brincar no twitter que Passos optaria por insistir na ilegalidade e esperar que a avaliação voltasse a demorar o tempo suficiente para na prática ser irreversível.

Curiosamente, foi isso mesmo o que aconteceu.

Reparem agora em duas ou três coisas que não têm sido suficientemente destacadas.

Em primeiro lugar, não só o governo desistiu (ao contrário do que poucos dias antes jurara Passos) de cumprir o objectivo do défice para este ano, como as decisões comunicadas têm um impacto reduzidíssimo na despesa do próximo ano. Logo, o pacote para 2013 ainda vai ser drasticamente agravado.

Já sabemos que haverá mexida nos escalões do IRS, e que isso implicará um agravamento generalizado do IRS. Mas podemos contar também com penalizações adicionais, incluindo despedimentos massivos nas empresas públicas e em partes da função pública, encerramento de serviços públicos (principalmente na saúde e na educação), agravamento de taxas diversas (incluindo taxas moderadoras no SNS) e o mais o que o diabo decida inspirar às criaturas que nos governam.

Se as medidas anunciadas não reduzem o défice de 2012 e só marginalmente o fazem em 2013, como se explica então o desvario de ontem?

Desde há uns tempos a esta parte, parece que o défice e o endividamento deixaram de ser tão importantes como até há pouco se dizia. Ás vezes até parece que se tornaram irrelevantes.

A única coisa que importa é aplicar a todo o custo a receita mágica das reformas estruturais. Mesmo aqui, porém, as preocupações foram consideravelmente restringidas. Já ninguém quer saber das reformas da justiça ou do poder autárquico, por exemplo.

Na prática, o que conta é apenas e só a precarização crescente das relações laborais e a contracção dos custos salariais, na crença ou obsessão de que daí resultará um economia mais sólida e competitiva.

De modo que a interpretação política da triste figura ontem feita por Passos Coelho - e, com ele, de Vítor Gaspar - é que conseguiram a indulgência da troika em relação ao fracasso do défice para 2012 a troco da garantia de redução da TSU há tão tempo exigida pelo alemão, pelo etíope e pelo careca.

Sabe-se como a desvalozarição interna é cara ao FMI. Sabe-se também como ele deseja testar a teoria num país de razoável dimensão e complexidade económica como o nosso. O FMI encontrou no povo português o ratinho de laboratório ideal. Eles gostam de fazer experiências com animais.
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7.9.12

Bluff?

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Henry Farrell clarifica, no blogue Crooked Timber, a complexidade das expectativas que a UE tem que gerir neste momento:
On the one hand, the EU wants to convince financial markets that this is all going to work – that the ECB will do whatever is needed to keep EU going, in the hope that this calms down expectations, so that it doesn’t actually have to use the big bazooka. On the other, the EU (and in particular Germany) wants to convince countries such as Spain that ECB support is conditional on politically ruinous austerity measures. The Bundesbank’s public disavowal of ECB policy arguably makes the latter argument a little more credible, by signalling that this is the best deal that Spain is likely to get. However, by hinting at the limits of German support, it also suggests that the ECB’s ‘unlimited support’ may in practice be more limited than it sounds, generating the risk of market uncertainty.
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6.9.12

Educação para a liberdade

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Michael Roth assina hoje no New York Times um excelente artigo de que extraí este pedaço:
To be sure, Dewey recognized the necessity of gainful employment. “The world in which most of us live is a world in which everyone has a calling and occupation, something to do,” he wrote. “Some are managers and others are subordinates. But the great thing for one as for the other is that each shall have had the education which enables him to see within his daily work all there is in it of large and human significance.”

Education should aim to enhance our capacities, Dewey argued, so that we are not reduced to mere tools. “The kind of vocational education in which I am interested is not one which will ‘adapt’ workers to the existing industrial regime; I am not sufficiently in love with the regime for that.” Are we?

Who wants to attend school to learn to be “human capital”? Who aspires for their children to become economic or military resources? Dewey had a different vision. Given the pace of change, it is impossible (he noted in 1897) to know what the world will be like in a couple of decades, so schools first and foremost should teach us habits of learning.

For Dewey, these habits included awareness of our interdependence; nobody is an expert on everything. He emphasized “plasticity,” an openness to being shaped by experience: “The inclination to learn from life itself and to make the conditions of life such that all will learn in the process of living is the finest product of schooling.”

The inclination to learn from life can be taught in a liberal arts curriculum, but also in schools that focus on real-world skills, from engineering to nursing. The key is to develop habits of mind that allow students to keep learning, even as they acquire skills to get things done. This combination will serve students as individuals, family members and citizens — not just as employees and managers.(...)

In a nation that aspires to democracy, that’s what education is primarily for: the cultivation of freedom within society. We should not think of schools as garrisons protecting us from enemies, nor as industries generating human capital. Rather, higher education’s highest purpose is to give all citizens the opportunity to find “large and human significance” in their lives and work.
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5.9.12

Muito bom

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Estamos tão habituados ao baixo nível da propaganda política que quotidianamente nos é arremessada que não pode deixar de surpreender nesta intervenção concebida por estudantes de Belas-Artes de Lisboa. Bom gosto, sensibilidade e respeito pela inteligência alheia, eis o que eu encontro neste murais de protesto contra o despejo dos habitantes do Bairro de Santa Filomena.

Mais fotos podem ser vistas aqui.
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3.9.12

Casos de estudo

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Certos jornalistas provincianos gostam de citar determinada empresa, marca ou projeto português como sendo "caso de estudo" nesta ou naquela universidade de renome, querendo com isso dizer que são recomendados como exemplo de boas práticas a seguir em todo o mundo.

Assim, de repente, lembro-me do papel higiénico preto da Renova e das redes elétricas inteligentes da EDP.

Mas caso de estudo não significa caso exemplar. Entendamo-nos: caso de estudo (ou estudo de caso) é o nome que se dá a uma metodologia de investigação de ampla utilização nas ciências sociais (aliás, uma das mais difíceis e exigentes).

Certos casos de estudo são preparados tendo em vista o seu potencial pedagógico, designadamente em cursos de gestão. A sua utilidade consiste em familiarizar os estudantes com o tipo de problemas e decisões com que os gestores são confrontados na vida real, não em levá-los a admirar estas ou aquelas opções de gestão.

Para que esse intuito fique bem claro, é uso o caso ser acompanhado de uma advertência, de que é exemplo esta usada em Harvard: "This case is intended as a basis for class discussion rather than to illustrate either effective or ineffective handling of a business situation".

Assim, se o INSEAD constrói um caso em torno do papel higiénico preto da Renova, isso não significa de modo algum que recomende a estratégia da empresa portuguesa. Entendidos?
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1.9.12

Conforme previsto

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