31.12.06

A minha mensagem de Ano Novo

"Deixai vir o futuro, que alguma coisa haveremos de fazer com ele."

Chaim Azriel Weizmann (Primeiro Presidente do Estado de Israel)

Maluquinhos

Não sei porquê, o balanço de 2006 proposto por Vasco Pulido Valente fez-me lembrar aquele moderno Jeremias que, não há muito tempo, costumava instalar uma banquinha pejada de cartazes e folhetos na extrema do Rossio que conduz à Rua do Carmo. De megafone em punho, ameaçava os passantes com o eminente Fim do Mundo e instava-os a fazerem penitência para se prepararem para o Dia do Juízo Final.

Por mim, prefiria o maluquinho do Rossio. Não invocava nenhum conhecimento privilegiado da política internacional, mas tão somente uma íntima familiaridade com a palavra de Deus. De modo que os transeuntes se sentiam mais à vontade para ignorarem aquelas terríveis profecias com um encolher de ombros e irem às suas vidas, limitando-se a deixarem cair de passagem um caridoso desabafo de comiseração: "Coitadinho!"
60s Crash Course - Tony Williams
60s Crash Course - Tony Williams

O baterista Tony Williams toca aqui com Dizzy Gillespie, Freddie Hubbard, Ron Carter e McCoy Turner. Como se compreende, a ordem não tem qualquer significado.

30.12.06

Não reconciliados



"Departed" é um dos melhores Scorsese desde há um porradão de tempo. Mas é preciso reconhecer que, depois de fitas tão medíocres como "Gangs de Nova Iorque" e "O Aviador", também não era difícil.

Os primeiros minutos são quase mágicos: a rápida e subtil definição dos principais personagens, os inteligentes movimentos de camera, a acumulação de detalhes significativos definidores de um ambiente, e, é claro, a banda sonora, tudo contribui para nos mergulhar prontamente no cerne da intriga.

Em menos de um fósforo, damos por nós de pés e mãos atados à mercê do capricho artístico do realizador.

O fim do filme, porém, é desastroso. Quando tudo parecia apontar para um desenlace perturbadoramente amoral, em que os maus triunfam e os bons são castigados, uma disparatada série de assassinatos conduzem a história para um desenlace que, no dia em que fui ao cinema, pôs parte da plateia a rir.

E é claro que, quando um realizador falha o final de uma forma tão estrondosa, muito dificilmente poderemos considerar estarmos perante um grande filme.
60s Crash Course - Gene Pitney: Something's Gotten Hold of My Heart

Durante algum tempo estiveram na moda estas vozinhas de falseto, em descarado e agressivo contraste com as dos crooners machões que até então faziam lei no segmento das canções lamechas. Que me recorde, ninguém batia Gene Pitney nessa especialidade.

Pensando melhor

Durante breves dias, o tempo pára de correr: O Natal é um anti-acontecimento. Eis a prova: os próprios centros comerciais chegam a encerrar por um dia, como se o mundo tivesse fechado para limpezas.

Interrompido o curso normal do quotidiano, abate-se sobre o país um estado geral de auto-satisfeita sonolência.

Recomendam-se para a ceia bacalhau ou outros pratos pesados que, dificultando a digestão, estimulam o embotamento das almas, demasiado prazeirentas para reagirem a estímulos.

O álcool em quantidade reforça o efeito. O calor da lareira, preferentemente excessivo, prolonga-o. Conversas indiferentes, sem objecto nem sentido, consolidam-no.

Pensando melhor, o verdadeiro espírito natalício é o torpor.

O século dos barretes



Primeiro foi a ameaça do bug do milénio, que pôs o mundo inteiro na expectativa de uma catástrofe económica de proporções inomináveis. Na data aprazada, porém, nada sucedeu, excepto meia dúzia de indivíduos terem enriquecido à custa de centenas de milhões de tansos.

Depois, veio o susto das armas de destruição massiva, a breve trecho transformado em guerra contra o terror. Vale a pena dizer mais?

Seguiu-se uma distracção fabricada para exclusivo consumo doméstico. O processo Casa Pia foi anunciado como uma investigação destinada a desmantelar uma rede internacional de pedofilia envolvendo gente muito poderosa. Saldo final: a expectável condenação de um bode expiatório, a decapitação do principal partido da oposição e a colocação sob escuta do Presidente da República.

De regresso às grandes produções à escala global, fomos em seguida introduzidos à gripe das aves, uma pandemia vinda, como convém, do Oriente, que ameaçava varrer de um sopro uma grande parcela da humanidade. Passados dois anos, das aves nem pio.

O barrete que se segue chama-se nuclearização do Irão, e é o pretexto mais expedito para resolver o conflito do Iraque alargando o teatro das operações de guerra.

Anestesiado por tanto alarme gratuito, e descrente dos líderes que regularmente lhe atenazam os miolos com catástrofes anunciadas que os factos logo se encarregam de desmentir, o público acaba, como na história do pastorinho e do lobo, por encarar com descabida bonomia o aquecimento global do planeta que, esse sim, parece configurar uma ameaça séria e global para todos nós.

Mas - perguntarão - como é que eu sei que o aquecimento global não é apenas mais um barrete a juntar à longa (mas, ainda assim, incompleta) série que mencionei? Ora, porque, ao contrário do que sucedeu em todos os outros casos, este não é glosado em tons apocalípticos pelo Pacheco Pereira.
60s Crash Course - Simon & Garfunkel: Richard Cory

29.12.06

60s Crash Course - João XXIII e o Concílio Vaticano II

Para Portugal, este foi um dos acontecimentos internacionais mais determinantes, devido ao fosso que a partir do Vaticano II progressivamente se foi cavando entre um crescente número de católicos e o regime salazarista.

O bom gosto do Rod Stewart



Num comentário colocado na caixa correspondente, o Ivan Nunes questiona a minha opinião sobre aquilo a que chamei o "bom gosto musical" do Rod Stewart.

O post que escrevi limita-se a dar conta da perplexidade que a música dele sempre suscitou em mim. Por um lado, as canções transmitem-me invariavelmente um sentimento de energia que me põe de bem comigo próprio; por outro, repele-me o personagem meio aparvalhado que ele compõe. É isso que sinto, e os sentimentos não podem negar-se.

Acredito que o Rod Stewart tira o melhor partido possível das peculiaridades da sua voz, sabe escolher o seu reportório, rodeia-se de músicos e arranjadores capazes. Numa palavra: tem bom gosto musical.

Dito isto, gostaria de destacar alguns pontos. Primeiro, quero esclarecer que a minha simpatia pela música que o Rod Stewart faz nunca chegou ao extremo de me levar a comprar um disco dele. Ouço-o de vez em quando na rádio, e isso basta-me.

Segundo, estou consciente de que, tal como o Mick Jagger é um tipo muito mais sensato do que a imagem pública de Mefistófeles que construíu para si mesmo pretende fazer crer, o Rod Stewart não é certamente o cretino que aparenta. Note-se, por exemplo, como as mulheres que exibe em público - perfeitamente alinhadas pelo estereótipo da espampanante "mulher de jogador de futebol" - se encaixam às mil maravilhas na máscara que procura projectar para o seu público.

Para concluír: Deus, na sua infinita misericórdia, abriu-me o espírito para a música pop no breve intervalo de tempo decorrido entre, digamos, 1963 e 1972. De então para cá, o meu interesse restringiu-se a uma mão cheia de artistas: Smiths, Pogues, Prince, REM, Bjork e pouco mais. Por conseguinte, não só não fazia a menor ideia de que (segundo me informa o Ivan) o Rod Stewart gravou um disco de standards de jazz, como estou perfeitamente disposto a aceitar a opinião dele de que se trata de uma pepineira monumental. E, já agora, gostaria de lembrar que músicos muito mais importantes do que este escocês esgrouviado também debitam regularmente a sua chumbada.
60s Crash Course - Malcolm X em Oxford


Roy Lichtenstein: Brush Stroke, 1965.
60s Crash Course - Rod Stewart: Maggie May

Depois de falhar como futebolista, Rod Stewart tornou-se coveiro. Expulso de Espanha por vagabundagem, tentou a música como tantos outros vadios. Esteve perto de integrar os Kinks e os Fleetwood Mac. Acabou por ser aceite pelos Small Faces, de onde saíu para iniciar uma carreira a solo que dura vai para quatro décadas. Como é que este bardinas foleirão consegue ter tão bom gosto musical? Mais um Grande Mistério do Universo.
60s Crash Course - Fellini dirigindo Satyricon

28.12.06

60s Crash Course - Bob Dylan: Entrevista à Time Magazine

Há alturas em que mil palavras dizem mais que mil palavras.


Victor Vasarely: AMBIGU-B, 1970.
60s Crash Course - Norman Mc Laren: Le Merle


Bridget Riley: Arrest 1, 1966.

27.12.06

60s Crash Course - Norman McLaren: Synchromy

Norman McLaren, a figura mais importante da história da animação, só começou a ser conhecido nos anos 60, embora por essa altura já estivesse activo há duas décadas no National Film Board do Canadá. A primeira vez que de facto pude assistir a alguns dos seus filmes foi numa sessão organizada na Sociedade Nacional de Belas-Artes em finais dos anos 60. "Synchromy", a pequena maravilha que aqui se pode ver, foi realizada em 1971.
60s Crash Course - Peter, Paul & Mary: Early Morning Rain
60s Crash Course - Julie Driscoll, Brian Auger and the Trinity: This Wheel's On Fire
60s Crash Course - The Fosbury flop

Dick Fosbury deixou toda a gente de boca aberta quando, nas Olimpíadas de 68, desdenhando o rolamento ventral, optou antes por saltar de costas. Ganhou a medalha de ouro e nunca mais ninguém pulou de outra maneira. Enfim, a maior invenção desde a lâmpada eléctrica.
60s Crash Course - Visconti: O Leopardo

Recordando a lapidar frase do Príncipe de Salinas: "É preciso que alguma coisa mude para que tudo possa ficar na mesma."
60s Crash Course - Michel Polnareff: Love Me, Please Love Me

26.12.06

A essência do Natal

Ainda para aí certa gente a perguntar se fará sentido separar-se o Natal da sua originária essência cristã.

Ora o que comprova sem margem para dúvidas a evolução nestes últimos dias da actividade dos blogues e das visitas que eles recebem é que a essência do Natal é a modorra.

Hoje já aliviou um bocadito.

Falso alarme

Estará o liberalismo condenado se se vier a confirmar, como sugere a moderna neurociência, que o livre arbítrio não existe? Eis a pergunta lançada num dos leaders do Economist desta semana.

A resposta depende do tipo de liberalismo de que estivermos a falar.

O liberalismo de inspiração pluralista ao estilo de John Stuart Mill sustenta que a competição entre diversas alternativas produz melhores resultados na política, na economia, na cultura, na ciência e, se quisermos, até na religião e na moral, porque obriga as ideias, práticas e formas de vida a demonstrarem a sua superioridade.

Não vejo como é que esta variante quasi-empírica do liberalismo pode ser afectada, para o bem ou para o mal, pelas mencionadas descobertas científicas.

Mas é evidente que o mesmo não sucederá com o liberalismo doutrinário que prega a liberdade de escolha e o primado da responsabilidade individual. Não precisaremos, aliás, de esperar pela evolução da neurociência para chegar a um veredicto, dado que toda a investigação realizada nas últimas décadas demonstra que a escolha individual ou é um fenómeno muito raro ou não existe de todo.

Infelizmente, a teoria económica, frequentemente apresentada como a teoria da escolha, não se tem revelado disponível para incorporar essas descobertas. Problema dela.


Martial Raysse: Life Is So Complex, 1966.
60s Crash Course - Little Richard: Lucille

Mais uma pequena amostra do talento do rei do Rhythm n' Blues.
60s Crash Course - Little Richard: Tutti Frutti

Toda a vida, o sonho nunca concretizado de John Lennon foi chegar-lhe aos calcanhares
60s Crash Course - The Association: Along Comes Mary

Os Association eram o segundo melhor grupo vocal da Costa Oeste. O relativo esquecimento que os vitimou confirma que nunca é bom ser-se o número dois em qualquer coisa. Em me apetecendo, é possível que eu reincida na reprodução de videos deles. Porque merecem.
60s Crash Course - Spencer Davis Group: Gimme Some Lovin'

O prodigioso Steve Winwood, então com apenas 18 anos, roubou instantaneamente o protagonismo ao patrão - e nunca mais ninguém quis saber quem seria o tal Spencer Davis.


Yves Klein: Anthropométries.
60s Crash Course - Yves Klein: Anthropométries

25.12.06

The Pogues: A Fairytale Of New York

Ia deixando passar esquecida esta canção de Natal, uma das poucas verdadeiramente indispensáveis.
60s Crash Course - James Brown: Sex Machine

Recordo-me perfeitamente de ter achado isto uma coisa abaixo de cão da primeira vez que a ouvi quando o meu tio trouxe o single dos Estados Unidos. Não tinha melodia. Não tinha harmonia. Tampouco era algo que eu quisesse ou soubesse como dançar.
60s Crash Course - Pierre Henry: Psyché Rock

Livros paralelos



Por que é que abundam os bons livros de divulgação científica e escasseiam os que se esforçam por popularizar a teoria económica? Este é um mistério tanto mais difícil de explicar quanto é certo que a economia desempenha hoje um papel central em tantas discussões sobre a situação do mundo em que vivemos e o que poderia ser feito para melhorá-lo.

"Freakonomics", de Steven D. Levitt e Stephen J. Dubner, veio ocupar esse espaço vazio no mercado livreiro. O livro é antes de mais um testemunho da qualidade da edição americana. Mediante uma selecção arguta de exemplos de grande apelo para o grande público - entre os quais se contam a relação entre o dinheiro e a política, a corrupção no desporto ou a influência da legalização do aborto sobre a criminalidade - o leitor é introduzido a alguns dos métodos de investigação correntemente utilizados pelos economistas.

Todavia, "Freakonomics" não trata verdadeiramente de teoria económica. Limita-se a demonstrar convincentemente a utilidade da análise estatística para esclarecer assuntos controversos deslindando relações inesperadas entre fenómenos económicos e sociais.

Pelo contrário, "The Undercover Economist", de Tim Harford, apresenta de uma forma acessível ideias centrais da teoria económica, entre elas o papel da escassez na distribuição dos recursos, os traços distintivos do funcionamento dos mercados, o modo correcto de corrigir as externalidades, os problemas que resultam das assimetrias de informação e os princípios da divisão do trabalho e das vantagens comparativas.

Infelizmente, o livro situa-se sempre a um nível mais abstracto do que "Freakonomics", o que o torna relativamente menos acessível aos leigos.

Recomendação final: leiam "Freaknomics" pelo prazer e "The Undercover Economics" para aprender.

Nota: Ambos os livros se encontram traduzidos para português.

24.12.06

Bruce Springsteen & Family Santa Claus Is Coming To Town
Bing Crosby - White Christmas
60s Crash Course - Jean-Luc Godard: Trailer de La Chinoise

Perder o fio à meada



Estou disposto a crer que algumas raras pessoas talvez consigam entender os cada vez mais intrincados argumentos dos thrillers, mas posso garantir-vos que nenhuma delas faz parte do círculo das minhas relações. Fazer o espectador sentir-se muito estúpido aparenta ser o propósito essencial de tais exercícios.

Parece-me que estamos agora a entrar numa nova fase, em que já nem o próprio argumentista percebe a teia que urdiu. Os últimos quinze minutos de Déjá Vu, por exemplo, são absolutamente patéticos - e este é o mais suave eufemismo que de momento me ocorre - no modo como desafiam toda a lógica na vã tentativa de salvarem um enredo cujo sentido entretanto em absoluto se perdeu.

23.12.06

Allen Ginsberg & Paul McCartney - Ballad of the Skeletons

Isto não vem a propósito de nada. Mas, como achei piada, aqui fica.

22.12.06

60s Crash Course - Friz Freleng: Pink Panther

Como é diferente o politicamente correcto em Portugal

No editorial de hoje do Público, Nuno Pacheco insurge-se contra a "rejeição de símbolos natalícios" nos EUA e em Inglaterra.

Na página 5 do mesmo jornal, Constança Cunha e Sá defende a mesma opinião na sua crónica.

Na página 8 do mesmo jornal, Esther Mucznik defende a mesma opinião na sua crónica.

Na página 48 do mesmo jornal, Vasco Pulido Valente defende a mesma opinião na sua crónica.

É caso para dizer que o pluralismo está bem assegurado no Público.

O politicamente correcto é a tentativa de impor a opinião bem-pensante, de modo que pareça mal alguém ser visto em público a defender ou a fazer algo diferente.

O Público de hoje confirma que, ao contrário do que sucede nos EUA, em Portugal o que parece bem é ser-se reaccionário.

Um traço comum a todos os comentadores horrorizados com a terrível ofensa à civilização ocidental que neste Natal teve lugar num certo número de empresas inglesas e americanas é a grosseira falsificação dos factos.

Assim, Pulido Valente garante que é hoje "quase criminoso festejar o Natal". Nuno Pacheco afirma que "se ocultam os símbolos ou as histórias associados ao nascimento de Cristo". Constança Cunha e Sá sustenta que Mozart foi censurado. Esther Mucznik entende que "o laicismo exerce (...) uma função persecutória".

Tudo isto é - pura e simplesmente - mentira.

Quanto ao que de facto se está a passar nas empresas britânicas e americanas, os comentários ficam para outro dia.
60s Crash Course: Hannah & Barbera: Top Cat

Joseph Barbera, uma figura central da animação pós-Disney, morreu esta semana.

Notícias sem ponta de interesse

Notícia de primeira página do Público de hoje:
"Certidões do caso "Apito Dourado" "perdidas" entre Gondomar e Lisboa"

Notícia colocada na página 40 (quinta e última da Secção de Economia):
"Os sinais de aceleração da economia em Portugal foram ontem confirmados mais uma vez pelo INE e pelo Banco de Portugal (...) Segundo os dados divulgados ontem, a economia portuguesa registou mesmo a sua melhor performance dos últimos dois anos."

Na mesma página lê-se ainda:
"O número de inscritos nos centros de emprego e formação profissional dimnuiu 5,9% em Novembro, face a igual mês do ano passado, informou ontem o IEFP."

Fico à espera do comentário de Eduardo Cintra Torres sobre uma eventual manipulação da informação do Público pelos partidos da Oposição. Ninguém lhe soprou nada?
60s Crash Course - Sam Peckinpah: The Wild Bunch

The Wild Bunch (A Quadrilha Selvagem) era um filme de uma violência inaudita. Hoje este tiroteio pode parecer trivial, mas, até então, nunca ninguém fizera nada assim.
60s Crash Course - Entrevista de Andy Warhol
60s Crash Course - Bob Dylan: Subterranean Homesick Blues

O barbudo à esquerda, no passeio, é o Allen Ginsberg.

21.12.06

60s Crash Course - Stanley Kubrick: Dr. Strangelove

Introdução à Teoria dos Jogos, especialmente útil para o entendimento da lógica da estratégia de dissuassão conhecida como MAD (Mutual Assured Destruction).
60s Crash Course - Rolling Stones: Play with Fire

Parafraseando alguém que não vem ao caso: uma canção é ela própria mais a sua circunstância. Esquecida a circunstância que motivou a preferência, fica a canção como sinal de que algo importante deve ter acontecido.
60s Crash Course - Antonioni: Blow-up

A banda são os Yardbirds e o guitarrista é o Jeff Beck.
60s Crash Course - David McWilliams: The Days Of Pearly Spencer

De vez em quando aparece caído do céu um desconhecido que se sai com uma canção surpreendente e logo depois desaparece sem deixar rasto. Golpe de sorte? Capricho dos deuses? Estes mistérios do universos deixam-nos a vaga ilusão de que, se calhar, se ele conseguiu, também nós poderíamos ter sido capazes.

20.12.06

60s Crash Course - Pier Paolo Pasolini: La Ricotta

Os ansiados galardões do bl-g--x-st-

Melhor blogue do ano: Mãos ao Ar

Melhor blogue humorístico do ano: Mãos ao Ar

Melhor blogue desportivo do ano: Mãos ao Ar

Melhor blogue de futebol do ano: Mãos ao Ar

Melhor blogue sportinguista do ano: Mãos ao Ar

Melhores bloggers do ano: Bulhão Pato e Sancho Urraco ex-aequo
60s Crash Course - Jean-Luc Godard: Pierrot le Fou

19.12.06

60s Crash Course - The Doors: Strange Days

Os Doors no seu melhor. E não tenho mais nada a acrescentar.

Por que há-de o Estado ter universidades?

Na medida em que contribui para aumentar a produtividade do país, a educação não beneficia apenas aqueles que directamente a recebem.

Esse ganho social ocorre em todos os escalões do ensino, mas muito mais no elementar do que no superior, no qual os ganhos revertem proporcionalmente mais para o estudante do que para a comunidade.

Por esse motivo, são muito discutíveis as vantagens da presença directa do Estado no ensino superior.

Entende-se que o Estado deva desempenhar uma função reguladora, autorizando a abertura de universidades e de cursos e instituindo padrões de exigência mínimos que garantam a qualidade do ensino ministrado. Entende-se ainda mais que proporcione condições de acesso às universidades aos alunos que não têm recursos para suportar o seu custo. Entende-se também que fomente activamente a investigação científica universitária.

Mas nada isso exige que o Estado seja proprietário e gestor de universidades, sobretudo quando se limita a pagá-las sem dispor de poderes para controlar efectivamente o modo como o dinheiro é gasto. Ao contrário do que sucede nos escalões elementar e secundário do ensino, a lógica de subsidiar o estudante em vez de subsidiar o estabelecimento faz aqui todo o sentido.

É curioso que, sendo o argumento a favor da privatização das universidades muito mais convincente do que o argumento a favor da privatização das auto-estradas, dos hospitais ou das águas, haja tão escassa mobilização em seu favor. Se calhar, é porque as universidades não se afiguram um negócio suficientemente atraente para grandes grupos financeiros.

Falha de mercado

A proposta de aumento das tarifas eléctricas no próximo ano proposta por Jorge Vasconcelos, o Presidente cessante da ERSE, pode não ter parecido muito sensata. Mas é preciso recordar que não foi ele quem criou o problema que desse modo procurava resolver.

Por outro lado, é evidente que o Ministro Manuel Pinho não estará cá para ser penalizado pela opinião pública quando chegar a hora de pagarmos os juros acumulados que o diferimento do pagamento da dívida por ele decidido implicará.

Perante tão evidente falha do mercado político, exigir-se-ia que o primeiro-ministro intervisse no assunto. Até porque, previsivelmente, as consequências do que agora foi feito hão-de sobrar para ele.
60s Crash Course - Jefferson Airplane: White Rabbit

Em "White Rabbit" os Jefferson Airplane misturaram a Alice de Lewis Carroll, acordes de flamenco, rock estridente e cogumelos alucinogénicos:
One pill makes you larger
And one pill makes you small
And the ones that mother gives you
Don't do anything at all
Go ask Alice
When she's ten feet tall

And if you go chasing rabbits
And you know you're going to fall
Tell 'em a hookah smoking caterpillar
Has given you the call
Call Alice
When she was just small

When men on the chessboard
Get up and tell you where to go
And you've just had some kind of mushroom
And your mind is moving low
Go ask Alice
I think she'll know

When logic and proportion
Have fallen sloppy dead
And the White Knight is talking backwards
And the Red Queen's "off with her head!"
Remember what the dormouse said:
"Feed your head
Feed your head
Feed your head"
Não admira que, muito anos depois, interrogada sobre as suas memórias de São Francisco em 1968, Grace Slick, a vocalista do grupo, tenha respondido: "Se alguém disser que se lembra do que se passou é porque não esteve lá."

18.12.06

60s Crash Course: Cream: Crossroads

Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker tiveram o grande descaramento de se auto-denominarem "a nata" do blues-rock. Crossroads, uma composição do bluesman Robert Johnson, resgatado do esquecimento por um punhado de devotos adolescentes britânicos, dentre os quais se destacaram o próprio Clapton, Keith Richards e Jeff Beck, é a mais notável performance ao vivo dos Cream registada em disco (Wheels of Fire, de 1969).

Aos bloggers desprezados

A imprensa séria e maçadora, dita "de referência", adora blogues sérios e maçadores, pelo que é a esses, e só a esses, que rende as suas homenagens.

Mas essa côterie exclusiva não conta ao todo, bem vistas coisas, mais do que uns cinquenta blogues.

A grande maioria dos bloggers activos, pouco inclinada a perorar sobre os grandes mistérios do universo, dedica-se antes aos temas verdadeiramente importantes da vida, que é como quem diz: "gajas e futebol". Operam, porém, em regime de tolerada semi-clandestinidade, ignorados pela opinião pública bem pensante e, logo, sem direito a citações no Diário de Notícias ou no Público.

Ora aquilo que distingue a boa escrita não é o assunto sobre o qual se exerce, mas o modo como o trata.

De modo que é altura de alguém romper uma lança em favor desses bloggers desprezados, injustadamente arrumados numa prateleira cuja designação apenas sugere vulgaridade.

Venham daí visitar o Cafajeste para melhor entenderem do que estou a falar.
60s Crash Course: Johnny Cash: I Walk the Line

O que mais me surpreendeu neste video do início dos anos 60 foi constatar como Johnny Cash se esforçava aplicadamente na época por imitar Leonard Cohen que, todavia, só se revelaria uma meia dúzia de anos depois. Isso fez-me lembrar a pergunta colocada há algum templo pelo Ivan Nunes sobre como seria o mundo antes do cantor canadiano. Como se pode constatar, era mais ou menos assim.
60s Crash Course: Dave Clark Five: Because

Durante alguns meses discutiu-se se seriam ou não melhores do que os Beatles. Esclarecida em definitivo essa dúvida, só resta decidir quem na época imitava quem.
60s Crash Course - Sun Ra: Space Is the Place, Part 1


Sun Ra, nativo do planeta Saturno da raça dos Anjos, chegou à Terra algures entre 1913 e 1918, onde se estabeleceu como jazzman e comediante até à sua morte em 1994.

17.12.06

Anais da Verdade Desportiva: A Mão de Vata


Faltavam 6 minutos para o termo da 2ª mão da meia final, quando Vata marcou com a mão este golo que eliminou o Olympique de Marselha e colocou o Benfica na final da Taça dos Campeões Europeus de 1990.
60s Crash Course - Them: Mystic Eyes / Gloria

O rapazinho que aqui vemos cantar e tocar harmónica chama-se Van Morrison.

15.12.06

60s Crash Course - Lovin' Spoonful: Summer In the City

Os Lovin' Spoonful eram John Sebastian - compositor, cantor e músico de variados talentos - e mais três. Summer in the City é, para mim, o mais perfeito single jamais produzido, onde não há nada a mais nem a menos. O video-clip está bem apanhado, mas é preciso fazer notar que não respeita o espírito da canção.

Perigos do tudo ou nada

O João Miranda acredita que a liberdade é primordial em relação à democracia. O Pedro Arroja acha o contrário.

Cá para o meu gosto, estão ambos enganados. Democracia sem liberdade é tirania, situação que o regime soviético exemplifica na perfeição. Liberdade sem democracia é injustiça, e abundam as ilustrações.

A inovação específica das sociedades contemporâneas é a democracia liberal, ideia que num passado não muito distante era unanimemente considerada pela gente sensata um rematado disparate.

A convivência entre liberdade e democracia é sempre difícil, instável e provisória. Por conseguinte, se quisermos que vingue, terá por força que ser periodicamente reinventada.

Para a democracia liberal funcionar, ambos os princípios que a regem cedem qualquer coisa. Ou seja, aceitam ser imperfeitamente concretizados, desistem do tudo ou nada doutrinário.

Se conseguissemos concordar nisto, metade das nossas querelas ficariam resolvidas.
60s Crash Course - Buffalo Springfield: For What It's Worth


A motivação imediata desta canção foi a morte de quatro estudantes no tiroteio que se seguiu à invasão da Universidade de Chicago pelo exército em 1967. A letra desvia-se da tradição da protest song na medida em que, embora condene a violência da repressão,
Paranoia strikes deep
Into your life it will creep
It starts when you're always afraid
You step out of line, the man come and take you away

pede que não se responda na mesma moeda e que se pare para pensar. É, pois, uma canção subtilmente pacifista:
I think it's time we stop, hey, what's that sound
Everybody look what's going down

Os Buffalo Springfield tiveram vida curta. Neil Young saíu para se dedicar a uma carreira a solo que dura até hoje, embora durante algum tempo se tenha reencontrado com Steve Stills nos Crosby, Stills, Nash & Young.

Colarinhos sebentos

A Maria José Morgado tornou-se conhecida do grande público por denunciar o escasso entusiasmo que entre nós é colocado na repressão do crime de colarinho branco.

De então para cá, ela foi afastada dos cargos que ocupava, o país andou entretido com o affaire Casa Pia e o colarinho branco só teve que se preocupar em apresentar-se bem engomado.

Renasce agora a preocupação, não propriamente com o colarinho branco, mas com o colarinho sebento dos dirigentes desportivos. É melhor que nada, mas, ainda assim, uma distracção em relação ao essencial.

É de esperar que, com o seu apurado sentido do serviço público, a Maria José Morgado faça um trabalho sério e competente. Apenas necessita de ter cuidado para não se deixar envolver nos julgamentos na praça pública que tanto gáudio provocam nos media - mas, também aí, suponho que ela terá aprendido bastante nos últimos anos.

Assuntos internos

Se está preocupado com "a situação do futebol", o PSD não precisa de pedir novas leis. Basta-lhe emitir uma circular interna ou, quando muito, convocar um Congresso Extraordinário para tratar do assunto.

Para quê promover a ingerência da Polícia Judiciária nos assuntos internos do partido? Só se for para ajudar a direcção a ver-se livre de opositores indesejáveis...

14.12.06

60s Crash Course - The Animals: House Of The Rising Sun


Mais outro grupo que contribuíu decisivamente para a fama de Dylan, apesar de "The House of the Rising" ser um tema tradicional e de a versão que gravou não ser da sua autoria. A voz de Eric Burdon não era inferior em nada às de Mick Jagger ou Van Morrison. A dependência do álcool, porém, liquidou-lhe cedo a carreira. Os New Animals tiveram vida curta e pouco relevante. Entretanto, o teclista Alan Price saira para formar o Alan Price Set de boa memória e Chas Chandler dedicara-se em exclusivo à produção discográfica.
60s Crash Course - Byrds: Eight Miles High


Os Byrds começaram por ser a resposta americana à invasão do rock britânico. Partindo de um folk electrificado evoluiram progressivamente para uma música de crescente complexidade. Foram os primeiros responsáveis pela divulgação de Dylan ao transformarem várias das suas canções, a começar por Mr. Tambourine Man, em grandes sucessos populares. Depois de Fifth Dimension a banda foi-se desagregando com a saída progressiva dos membros originais. Quando, por fim, se transformou nos Flying Burrito Brothers quase nada restava do brilhantismo original. Dave Crosby, o músico mais interessante do grupo, continuou a sua carreira nos Crosby, Stills, Nash & Young.


Amadeu Souza-Cardoso: Pintura, 1914.

13.12.06

O estado do ensino superior

Na opinião de Manuel Castells, expressa aquando da sua última passagem por Portugal, o único factor comum a todos os surtos de desenvolvimento que estudou foi o papel central desempenhado pelas universidades.

Se ele estiver certo, é caso para dizer que estamos bem lixados, visto que as universidades são, em termos relativos, aquilo que pior funciona em Portugal. E o mais grave é que, ao contrário do que se passa em áreas como a saúde ou a justiça, nesta não foi ainda traçada qualquer linha de rumo estruturada e coerente tendo em vista a transformação do actual estado de coisas.

Os problemas do ensino superior público têm semelhanças com os dos tribunais e dos hospitais, mas fala-se pouco deles. Será porque a grande maioria dos comentadores com assento nos media são professores universitários?

Em Portugal temos muitos casos de professores catedráticos não doutorados. Muitos professores do quadro quase não dão aulas nem fazem investigação. As aulas são dadas por professores jovens, muitas vezes mal preparados e sem vínculo. Faz-se muito trabalho de consultoria a coberto das universidades, usando as suas instalações, os seus equipamentos e os seus funcionários, mas as universidades quase não ganham nada com isso. Resumindo:

1. As universidades ensinam pouco e mal

2. As universidades investigam pouco e mal

3. As universidades são um óptimo negócio para muita gente, mas não para elas próprias

Suponho que o ministro conhecerá este estado de coisas. Aparentemente, o seu plano é obrigar as universidades a emendarem-se restringindo o financiamento público. Creio que pensa mal: quem dirige as universidades públicas tenderá a cortar no essencial e a conservar o supérfluo, porque é isso que corresponde aos seus interesses e porque sabe que não terá que prestar contas a ninguém. Por este caminho, o mais natural é que boa parte das nossas instituições universitárias entre em processo de decadência progressiva e acabe por extinguir-se.

Outra ideia do ministro é que as universidades poderão ir buscar o dinheiro de que necessitam candidatando-se ao financiamento de programas de investigação científica. É certo que não há boas universidades sem investigação, mas não o é menos que, pelo menos a curto prazo, pode haver investigação sem universidades. Por este caminho, triunfará a segunda alternativa.

O affaire Carolina explicado às crianças

Tudo o que é necessário entender sobre o affaire Carolina está explicado aqui no Mãos ao Ar, um blogue onde, desde há algumas semanas, me abasteço de humor e inteligência.

11.12.06

Ficou lá perto



Amadeu Souza-Cardoso: Cavaleiros, 1913.

O percurso mágico de Amadeu Souza-Cardoso nos anos que antecederam a Grande Guerra não pode ser interpretado como um mero processo de absorção de "influências" externas - como erradamente poderá tender a inferir-se da exposição que a Gulbenkian por estes dias nos oferece.

Na medida em que encerra e torna manifesta uma coerência própria, cada um dos vários estilos de Amadeu é tão genuinamente seu como os restantes.

Como Pessoa, também Souza-Cardoso tinha, entre 1910 e 1013, várias vozes dentro de si. Ao contrário dele, porém, recusou-se a assumir essa pluralidade.

Resolveu optar por uma delas, e optou mal.

Em 1913, Amadeu encontrava-se no limiar da abstracção. Chegado aí, não ousou dar o passo seguinte, recuando nos seus últimos anos para um cubismo algo tardio, que, embora competente, não se destaca pela originalidade.

Nunca saberemos o que poderia ter vindo depois.

7.12.06

Um filme frívolo

Com notável espírito de observação, Daniel Mendelssohn sugere que em "Maria Antoinette" Sofia Coppola volta a contar a mesma história que já nos propusera em "Lost in Translation", ou seja, a de uma mulher jovem confrontada com um mundo regido por absurdas convenções sociais que não entende, incapaz de comunicar com as pessoas que a rodeiam e tolhida por problemas amorosos que não sabe como resolver.

Só que, desta vez, a realizadora saíu-se mal. Na raíz do fracasso está o facto de Maria Antonieta não ter sido uma rapariga qualquer, mas antes alguém cuja personalidade e comportamento foram em grande parte determinados pelos acontecimentos históricos em que inevitavelmente se viu envolvida.

Como essa parte de Maria Antonieta não interessa a Sofia Coppola, o filme ignora-a:
"Coppola's apparent lack of interest in anything outside of the cocooned and photogenic private world of the doomed Queen is evident in the desultory quality of the many stilted moments designed to convey what's going on in the world beyond Versailles—the kind of clanking scene in which someone says to the King at a meeting of his council, «The Americans are asking for help with their revolution,» or, worse, when we see someone rush up to the King and announce, «The Bastille has been stormed!»"

Aparentemente, a cineasta não conseguiu erguer-se acima da perspectiva limitada da própria rainha, e isso apesar de, ao contrário dela, ter sabido antecipadamente como viria a acabar a história:
"There is something Marie Antoinette-ish about the director's impatient disdain for the outside world, for the history that was going on all around her sensitive and troubled heroine."

E conclui Mendelssohn:
"To be so unreflective, to want to make a film about Marie Antoinette that ignores who she was in history, seems shockingly naive, intellectually. It's like wanting to make a film about what it's like to be a starving artist and deciding to have your hero be the young Adolf Hitler."

Nem mais. E talvez essa "chocante ingenuidade", cada vez mais comum, nos diga algo sobre a dificuldade que, em geral, a época que vivemos, tão apaixonada por si mesma, tão impregnada da ilusão do eterno presente, tão incapaz de conceber formas diferentes de viver e sentir, tem em relacionar-se com o passado histórico.

6.12.06

Perguntar não ofende

O Perguntar Não Ofende é um dos meus blogues preferidos. Sinto-me sempre mais inteligente depois de o ter lido, mas deve ser só impressão.

Eis uma selecção de perguntas intrigantes que recentemente lá encontrei:
Não há homens com anorexia?

Quanto mais gente no elevador, maior o silêncio?

É apenas uma questão de tempo até que todas as bebés em Portugal se chamem Beatriz e Mariana ?

Porque é que as consultas são por ordem de marcação quando sou dos primeiros a chegar, mas quando me atraso são por ordem de chegada?

Um blog cheio de "sexo", "orgasmos", "prazer" "tesão", "três seguidas", "queca" e "ejacular" é invariavelmente escrito por uma mulher?

Em caso de ameaça de bomba no Jardim Zoológico, para onde são evacuados os animais?

Um mundo sem armas nucleares e umas escadas rolantes sem ninguém do lado esquerdo a impedir o caminho são sonhos impossíveis?

"Queres que eu estacione?" é um insulto disfarçado de ajuda?

O capachinho penteia-se antes ou depois de colocado?

4.12.06

A grande mistificação

Extracto do editorial do Economist desta semana, confirmando ideias que aqui tenho repetidamente exposto de há algum tempo a esta parte:
The main reason for the dollar’s strength has been the widespread belief that the American economy vastly outperforms the world’s other rich country economies in recent years. But the figures do not support the hype. Sure, America’s GDP growth has been faster than Europe’s, but that is mostly because its population has grown more quickly too. Dig deeper, and the difference shrinks. Official figures of productivity growth, which should in theory be an important factor driving currency movements, exaggerate America’s lead. If the two are measured on a comparable basis, productivity growth over the past decade has been almost the same in the euro area as it has been in America. Even more important, the latest figures suggest that whereas productivity is now slowing in America, it is accelerating in the euro zone.
Tendo em conta que o próprio Economist se empenhou durante anos em alimentar as confusões que agora denuncia, o que isto parece sugerir é que não é possível continuar a alimentar-se por mais tempo a ilusão da superioridade da economia americana em relação à europeia.

Ainda assim, alguns parágrafos adiante escreve-se no mesmo editorial:
As for Europe, the old continent is hobbled by inflexible product and labour markets. But that, paradoxically, is an advantage: it means that the place has a lot of scope for a lot of improvement.
Como se explica isto? Se o produto per capita europeu tem crescido a um ritmo similar ao americano, se a produtividade cresce mais depressa, se a zona ainda por cima tem uma balança de transacções correntes equilibrada e as finanças em ordem, para que necessitamos então dessas "reformas" que visam tornar a Europa "tão competitiva" como os EUA?