7.12.06

Um filme frívolo

Com notável espírito de observação, Daniel Mendelssohn sugere que em "Maria Antoinette" Sofia Coppola volta a contar a mesma história que já nos propusera em "Lost in Translation", ou seja, a de uma mulher jovem confrontada com um mundo regido por absurdas convenções sociais que não entende, incapaz de comunicar com as pessoas que a rodeiam e tolhida por problemas amorosos que não sabe como resolver.

Só que, desta vez, a realizadora saíu-se mal. Na raíz do fracasso está o facto de Maria Antonieta não ter sido uma rapariga qualquer, mas antes alguém cuja personalidade e comportamento foram em grande parte determinados pelos acontecimentos históricos em que inevitavelmente se viu envolvida.

Como essa parte de Maria Antonieta não interessa a Sofia Coppola, o filme ignora-a:
"Coppola's apparent lack of interest in anything outside of the cocooned and photogenic private world of the doomed Queen is evident in the desultory quality of the many stilted moments designed to convey what's going on in the world beyond Versailles—the kind of clanking scene in which someone says to the King at a meeting of his council, «The Americans are asking for help with their revolution,» or, worse, when we see someone rush up to the King and announce, «The Bastille has been stormed!»"

Aparentemente, a cineasta não conseguiu erguer-se acima da perspectiva limitada da própria rainha, e isso apesar de, ao contrário dela, ter sabido antecipadamente como viria a acabar a história:
"There is something Marie Antoinette-ish about the director's impatient disdain for the outside world, for the history that was going on all around her sensitive and troubled heroine."

E conclui Mendelssohn:
"To be so unreflective, to want to make a film about Marie Antoinette that ignores who she was in history, seems shockingly naive, intellectually. It's like wanting to make a film about what it's like to be a starving artist and deciding to have your hero be the young Adolf Hitler."

Nem mais. E talvez essa "chocante ingenuidade", cada vez mais comum, nos diga algo sobre a dificuldade que, em geral, a época que vivemos, tão apaixonada por si mesma, tão impregnada da ilusão do eterno presente, tão incapaz de conceber formas diferentes de viver e sentir, tem em relacionar-se com o passado histórico.

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