13.12.06

O estado do ensino superior

Na opinião de Manuel Castells, expressa aquando da sua última passagem por Portugal, o único factor comum a todos os surtos de desenvolvimento que estudou foi o papel central desempenhado pelas universidades.

Se ele estiver certo, é caso para dizer que estamos bem lixados, visto que as universidades são, em termos relativos, aquilo que pior funciona em Portugal. E o mais grave é que, ao contrário do que se passa em áreas como a saúde ou a justiça, nesta não foi ainda traçada qualquer linha de rumo estruturada e coerente tendo em vista a transformação do actual estado de coisas.

Os problemas do ensino superior público têm semelhanças com os dos tribunais e dos hospitais, mas fala-se pouco deles. Será porque a grande maioria dos comentadores com assento nos media são professores universitários?

Em Portugal temos muitos casos de professores catedráticos não doutorados. Muitos professores do quadro quase não dão aulas nem fazem investigação. As aulas são dadas por professores jovens, muitas vezes mal preparados e sem vínculo. Faz-se muito trabalho de consultoria a coberto das universidades, usando as suas instalações, os seus equipamentos e os seus funcionários, mas as universidades quase não ganham nada com isso. Resumindo:

1. As universidades ensinam pouco e mal

2. As universidades investigam pouco e mal

3. As universidades são um óptimo negócio para muita gente, mas não para elas próprias

Suponho que o ministro conhecerá este estado de coisas. Aparentemente, o seu plano é obrigar as universidades a emendarem-se restringindo o financiamento público. Creio que pensa mal: quem dirige as universidades públicas tenderá a cortar no essencial e a conservar o supérfluo, porque é isso que corresponde aos seus interesses e porque sabe que não terá que prestar contas a ninguém. Por este caminho, o mais natural é que boa parte das nossas instituições universitárias entre em processo de decadência progressiva e acabe por extinguir-se.

Outra ideia do ministro é que as universidades poderão ir buscar o dinheiro de que necessitam candidatando-se ao financiamento de programas de investigação científica. É certo que não há boas universidades sem investigação, mas não o é menos que, pelo menos a curto prazo, pode haver investigação sem universidades. Por este caminho, triunfará a segunda alternativa.

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