29.6.04

O princípio de Pedrito

(Há seis anos, o Público acolheu benevolamente nas suas páginas este artigo de opinião. Dada a sua manifesta actualidade, volto hoje a reproduzi-lo aqui sem alterações.)

Segundo o Princípio de Peter, todas as pessoas são promovidas até atingirem o seu nível de incompetência.

Como? Se uma pessoa se revelar competente no desempenho das suas funções, será promovida ao nível hierárquico imediatamente superior. Se voltar a cumprir nessas novas tarefas, será de novo promovida. E assim sucessivamente, até chegar ao ponto em que já não consegue dar conta do recado.

Terá, então, atingido o seu nível de incompetência. Chegada aí, não voltará a ser promovida e ficará estacionada num cargo para o qual, manifestamente, não se encontra preparada.

Assim se assegura que o mundo, nas suas múltiplas instâncias decisórias políticas, empresariais e culturais, é fundamentalmente governado por incompetentes.

Para obviar a este problema, inventou-se em Portugal, país engenhoso entre todos, um sistema melhor: o Princípio de Pedrito, expressamente concebido para evitar os malefícios decorrentes da aplicação do Princípio de Peter.

Manda o Princípio de Pedrito que, se alguém se revelar totalmente incompetente no desempenho das suas funções, não ficará eternamente acorrentado a essas funções, com manifesto prejuízo tanto para o bem-estar público como para o próprio. Pelo contrário, assegurar-se-á a transferência do incompetente para outro cargo onde possa fazer pelo menos tanto mal como no anterior - e, de preferência, bastante pior.

Suponhamos, por exemplo, que Pedrito, dada a sua pouca apetência pelo estudo, entra na escola do vício político pela porta das movimentações estudantis. E que começa logo a criar problemas como militante partidário, pela constante agitação que espalha entre as bases. Recruta-se então Pedrito para dirigente nacional, na sua qualidade de jovem e fanático seguidor do entretanto falecido fundador do partido. Se ele continuar, ainda assim, a revelar mais aptidão para perturbar os espíritos do que para dirigir qualquer coisa, será, na primeira ocasião, enfiado no parlamento à surrelfa do eleitorado, com o propósito de soltá-lo às canelas da oposição.

Se, no parlamento, passar mais tempo a incomodar os colegas de bancada do que a oposição, sugere-se ao prodígio que tente a vida empresarial. Se o projecto empresarial fracassar, convida-se Pedrito para membro do governo. Se, demonstrada a sua total ignorância na área de governação que teve a desgraça de lhe ir parar às mãos, e caído esse governo, ele se candidata a presidente do partido, e falha, ei-lo eleito presidente de um clube de futebol.

Depois de ajudar a afundar um pouco mais esse clube, eis que o seu momentaneamente reprimido sentido do dever o incita a procurar minar o poder do presidente eleito do partido e a iniciar uma guerrilha com o propósito de substituí-lo no momento mais oportuno.

Mas, se essa campanha falhar, haverá sempre a possibilidade de Pedrito se candidatar à Presidência de uma Câmara Municipal, seja ela a de Sintra, a da Figueira da Foz ou a de Saint-Denis. Caso também essa hipótese falhe, talvez a Presidência de uma corporação de bombeiros, combinada com a direcção de um novo jornal, possa servir de rampa de lançamento para uma eventual candidatura à Presidência da República.

Como se vê, não é fácil ganhar a vida nos tempos que correm. Para manter permanentemente as atenções da opinião pública focalizadas sobre si, Pedrito não se poupa a esforços para alcançar elevados níveis de notoriedade.

Para servir essa estratégia, ele trata de aparecer permanentemente no T-Club, na televisão, no Gigi da praia do Ancão, na televisão, no Diário de Notícias, na televisão, na TSF, na televisão, no Record, na televisão, na Nova Gente e na televisão. Ocasionalmente, uma revista de escândalos ou uma campanha publicitária utilizam abusivamente o seu nome, mas isso é irrelevante - o importante é aparecer, aparecer, aparecer sempre.

E, afinal, como está Pedrito de notoriedade?

Hoje em dia, há uma forma muito fácil e infalível de medir a notoriedade de alguém ou de alguma coisa. Basta ir à Internet, entrar num search engine como, por exemplo, o HotBot, e pesquisar quantas referências a essa pessoa se encontram em toda a Web.

Ora acontece que Pedrito, com referências em 88 sites da Internet, tem razões para estar satisfeito. A larga distância encontram-se Marcelo Rebelo de Sousa, com 36, e mesmo Mário Soares, com não mais de 65. Pedrito apenas é claramente batido por Jorge Sampaio, com um espantoso score de 516 referências!

Um dos pontos fracos desta estratégia de comunicação é que não é possível ser-se conhecido em abstracto. É-se sempre conhecido nalguma qualidade, como alguma coisa, e esse alguma coisa é sempre aquilo que destaca alguém face aos outros. Assim, Eusébio é conhecido como o maior futebolista português de todos os tempos. Alves dos Reis é conhecido como o maior vigarista português de todos os tempos. Álvaro Cunhal é conhecido como o único comunista vivo em todo o mundo.

E Pedrito, é conhecido como o quê? Como agitador estudantil? Como jovem político promissor? Como deputado? Como governante? Como único e legítimo herdeiro do fundador? Como dirigente desportivo? Como o eterno derrotado que sai sempre em ombros dos congressos? Como comentador político da televisão? Como comentador desportivo da televisão? Como figura proeminente do jet-set? Como banhista?

Ou, tão somente, como um tribuno de verbo fácil à procura de um lugar à medida das suas ambições?

Seja como for, a verdade é que, até hoje, só um tal Pacheco Pereira se atreveu a contestar a bondade do Princípio de Pedrito. Mas esse não é de confiança: lê muitos livros, é frequentemente acometido de opiniões e, ainda por cima, usa barba.

28.6.04

Profecia

Por cada carreirista que ascende há mil dispostos a tomar o seu lugar.

Descoligação

Estão muito divertidos, por estes dias, os bloges de direita. A leitura deste post, por si só, prova que a coligação já acabou.

Ó mar salgado, quanto do teu sal...

Imbatível saloice.

O ex-Grande Houdini



Esqueçam o que a antiga musa canta,
Que um novo Grande Houdini se alevanta.

(Palavras para quê? O novo Grande Houdini é português e em breve fará a sua reaparição triunfal em Bruxelas.)

26.6.04


O estado da Europa

Tanto o método usado para designar o novo Presidente da Comissão Europeia como a conclusão que o processo está em vias de ter são altamente reveladores do triste estado das instituições europeias.

Pois como é possível que a União Europeia se prepare para designar para o seu cargo político mais elevado alguém que, há apenas três semanas, sofreu no seu próprio país uma esmagadora derrota nas eleições para o Parlamento Europeu? Isto seria o equivalente a Jorge Sampaio resolver nomear Manuel Monteiro ou Garcia Pereira para formar governo em Portugal, e mostra a fraca conta em que o nosso voto é tido. Razão tiveram, ao que parece, os dois terços de eleitores que optaram por abster-se.

A segunda consideração que me vem à cabeça tem a ver com a qualidade política do indigitado, que não serve para nós mas serve para funções muito exigentes e complexas. Mais uma vez, seria como se alguém que não deu provas à frente de uma autarquia rural e periférica fosse escolhido para dirigir o governo do país.

Que ideias tem Durão Barroso para a Europa, que visão se lhe conhecesse, que pensamento original e inspirador alguma vez tornou público? - Mistério...

Parece que Chris Patten, um conservador independente e bem preparado, que múltiplas vezes exprimiu, contra o seu próprio partido, profundas convicções europeistas, que deu provas simultaneamente como scholar e homem de acção, designadamente na defesa das liberdades em Hong-Kong depois da transição para a soberania chinesas, parece que não servia porque era, enfim – inglês.

Mas então, porque não Aznar, que, para além de ser conservador, não só se encontra politicamente disponível como dispõe de um prestígio internacional muito superior ao de Durão Barroso?

A resposta – temo eu – é esta, tristemente esta: os grandes países europeus preferem um líder fraco, que poderão manobrar a seu bel-prazer. Arranjaram assim uma forma de desvalorizar o cargo de Presidente da Comissão no próprio momento em que, segundo tudo indicava, ele aumentaria de importância.

É este, em suma, o significado político deste extraordinário consenso gerado em torno de um político medíocre e marginal em relação à grande política europeia.

Mais uma razão para votarmos contra a Constituição Europeia no referendo do próximo ano? Não sei ainda: vou ter que pensar melhor nisso.

O que se espera de Jorge Sampaio

Nas actuais condições, agravadas pelo desastre eleitoral de há poucas semanas atrás, quem aceitar liderar um novo governo da coligação só pode ser: a) alguém com um elevadíssimo sentido do serviço público; b) um aventureiro oportunista.

Em teoria, há certamente muitas pessoas do tipo a) na área política do PSD. Na prática, porém, nenhuma delas se chegou à frente.

Resta, portanto, a solução tipo b), que é a que de facto está em cima da mesa.

As discussões a que até aqui assisti nos media encontram-se eivadas do estúpido formalismo que tantas vezes domina o debate público entre nós. Aparentemente, o que interessa saber é se o PSD tem ou não o direito de formar um novo governo dado que dispõe de uma maioria inquestionável no parlamento.

Peço muita desculpa, mas nada disso é relevante. A questão, a verdadeira questão, é que o primeiro-ministro que nos querem impingir – e que o Expresso e a SIC já se encarregaram de nomear – chama-se Santana Lopes. Ora é isso que eu - e, imagino, muitos como eu embora com diferentes inclinações políticas – não estão dispostos a aceitar, porque se trata de alguém que não tem as mínimas condições para dirigir nenhum governo deste país, por muito medíocre e desqualificado que ele seja.

Falta acrescentar que, nos termos constitucionais, a responsabilidade de designar o primeiro-ministro compete apenas e só ao Presidente da República, não a Durão Barroso nem ao PSD, e muito menos aos jornais que ele controla.

Que o primeiro vice-presidente do PSD seja Santana Lopes é lá um problema deles, que pelos vistos não têm respeito por si próprios. Já o chefe do governo é um problema de todos nós, que manifestamente não fomos de forma nenhuma escutados acerca dessa pretensão.

Em quem votámos, isso sim, foi no Presidente da República, pelo que temos o direito de esperar dele que não pactue com a contínua degradação da vida pública portuguesa sob pretextos irrelevantes, como seja o da alegada estabilidade governativa que, como é evidente, não pode existir quando vários dos actuais ministros se recusam a trabalhar com a figura que o seu partido se prepara para entronizar.

O Presidente da República tem o direito de exigir que o PSD lhe sugira nomes que mereçam um mínimo de credibilidade. Se assim não for, terá então o dever de convocar eleições antecipadas e de pôr fim a este carnaval. Se o Presidente da República for incapaz de se afirmar numa altura destas, então deveremos concluir que não serve para nada, e que a abstenção é a única atitude racional quando voltarem a pedir-nos para escolhermos um.

Vamos aguardar.

25.6.04

Vamos lá a acabar com esta...



Dizem que todos os homens têm o seu momento, e o do Ricardo foi ontem, pelas dez e pico da noite.

Por muito que tenha feito no passado e venha ainda a fazer no futuro, o que todos sempre recordaremos dele e contaremos aos nossos netos será o instante em que, depois de deitar fora as luvas e defender um penalty, gritou: «Esta é minha» e, com um pontapé convicto inspirado pelos deuses, mandou centenas de milhões de pessoas em dezenas de países fazer ó-ó.

I love the smell of napalm in the morning

24.6.04



Theo van Doesburg: Pure painting, 1920.

Desmentido oficial

A tribo dos moralistas arreganha-se por estes dias contra o facto de, segundo ela, o país inteiro só pensar em futebol quando há tantas outras preocupações sérias a requererem a sua atenção.

Curiosamente, passou deapercebida uma interessantíssima estatística divulgada pela Marktest, segundo a qual apenas 1 em cada 3 dos portugueses com mais de 15 anos assistiram à transmissão do Portugal-Espanha pela televisão.

Assim sendo, 2 em cada 3 -- uma esmagadora maioria -- marimbaram-se para o futebol, dedicando presumivelmente o seu tempo a matutar sobre os gravíssimos problemas que nesta hora grave afligem a Pátria.

(Cá por mim, porém, desconfio que os trinta e poucos por cento que assistiram ao jogo foram os mesmos que votaram nas últimas eleições europeias. Os outros estão demasiado mortos para fazer seja o que for!)

A bola induca

Alguns leitores deste blogue parecem desconfiar do potencial do futebol para instruir o público.

Ora vejam lá se eu não tenho razão:

1. Quando o Artur Jorge, já lá vão uns bons quinze anos, atribuiu ao Fernando Gomes uma excelente capacidade de "leitura do jogo", as massas amantes do futebol acederam à terminologia erudita da semiologia e do estruturalismo, hoje utilizada sem complexos pelo próprio Gabriel Alves.

2. Quando os portugueses começaram a ver por cá muitos jogadores com nomes como Balakov, Kostadinov, Mostovoi, Iuran, Kulkov ou Ovchinikov, tomaram finalmente conhecimento de que caíra o muro de Berlim e ruíra a União Soviética.

3. Quando os leitores da Bola se familiarizaram com as subtilezas do acórdão Bosmann, passaram a tratar por tu os intrincados temas do Mercado Único Europeu e da livre circulação dos cidadãos no espaço europeu.

4. Quando a SIC transmitiu em directo as Assembleias Gerais do Benfica, passou-se a discutir à mesa do café as diferenças entre activo bruto e activo líquido e a divagar sobre a capacidade do marketing para alavancar a capacidade de endividamento de uma empresa.

5. Quando Vale de Azevedo foi preso, até as crianças aprenderam o significado da palavra «peculato».

6. Quando as transferências dos jogadores passaram a ser feitas em euros, passou a ser mais fácil calcular a conversão para escudos.

7. Quando o Governo anunciou a decisão de restaurar os controlos das fronteiras durante o Euro 2004, toda a gente ficou finalmente a saber o que é o espaço de Schengen.

Vá lá, dêem a mão à palmatória...

Pula Pula Pula

Um blogue que se coloca sob a égide do Alexandre O'Neil merece sempre uma atenção especial.

22.6.04



Bram van Velde.

Diatribe

Certos excêntricos sentem-se no direito de não apreciar futebol, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.

«É uma questão de gosto, pronto, o que é que isso tem?», dizem eles.

Questão de gosto? E ser daltónico, também é uma questão de gosto?

Um sujeito daltónico não pode apreciar a Paula Rego. É um diminuído físico que, por esse facto não tem acesso a algumas das melhores coisas da vida.

Do mesmo modo, quem não gosta de futebol não pode entender muito do que se passa na sociedade que habita. É um tipo especial de handicapé que merece a nossa comiseração.

O gostar de futebol é fruto da curiosidade, que é filha da inteligência e mãe do saber.

A mim, o futebol, mais -- muito mais -- do que agradar-me, fascina-me, porque o que tem para ver é infinito. Inclusivamente, a necessidade de ver bem uma parte implica que não se vejam outras, por muitos replays que façamos.

As perspectivas possíveis são múltiplas e igualmente aliciantes. Há tipos que só se interessam pelas arbitragens e, assim, perdem o essencial do jogo. Se nos concentrarmos a seguir a bola, perdemos a movimentação geral dos jogadores. Quando seguimos o trajecto de um passe, ignoramos o passe alternativo que não foi feito. Se estamos atentos a uma marcação, desatendemos o espaço livre que se criou. E assim sucessivamente.

Muitos jogos têm pretendido ser metáforas da vida -- desde logo, em lugar proeminente, o xadrez. Mas o xadrez encerra uma concepção da vida idealista, puramente racional, que a mim me repugna e de que não quero partilhar.

Ignorem então o futebol, se assim preferirem, mas depois não se queixem de que a vida vos corre mal.


Uma bola cruzou um risco de tinta branca traçado sobre a relva

Ainda a bola não tinha propriamente cruzado a linha de baliza e já por toda a cidade se erguia, em perfeito uníssono, um súbito clamor que a todos envolvia e a todos abalava, um desabafo de milhões de peitos até aí oprimidos pela angústia.

Eu, que vivo a dois passos de Alvalade, estou habituado a escutar os golos do Sporting, mas desta vez não foi nada assim. Pareceu-se mais com um fenómeno natural, algo como um tremor de terra ou o rugido de um animal ferido que ameaça emergir das profundidades.

Uma nação é uma entidade abstracta, da qual se pode até duvidar legitimamente que tenha existência real fora das exaltadas fábulas patrióticas. Mas, no domingo, pelas nove da noite, ela tornou-se subitamente material e concreta, porque pudemos todos ouvir a sua voz.

As pessoas desgrudaram dos televisores e acorreram estupidamente às janelas, sem saberem exactamente porquê e para quê, acenar umas às outras sem receio do ridículo e, quem sabe?, tentar ver o corpo daquela voz.

Olha, o vizinho da frente do terceiro andar afinal também é boa pessoa, vejam como ele se ri, nunca o tinha visto tão bem disposto, ele que é usualmente tão carrancudo. Apenas o meu cão permanece alheio a este absurdo movimento de irmanação colectiva e ladra, confuso com o alarido que, no dicionário dele, só pode significar agressividade descontrolada. Algo de muito mau deve estar para acontecer, estou certo que é isso que ele pensa.

É lindo, e é assustador. Em suma, se formos capazes de vê-lo assim, um grande momento filosófico.

18.6.04

Crítica do hedonismo

É absolutamente inadmissível que o povo se divirta em vez de se aborrecer.

Pois ele não sabe que não foi para isso que foi inventado?


Braque: Pássaro 1.

As virtudes do infortúnio

Dizem que o Ferro Rodrigues só ganhou porque resistiu o tempo suficiente para beneficiar do descalabro do governo.

Pois é, pois é... Esquecem-se sempre de que a persistência é a mais subvalorizada das virtudes -- na política como no resto.

Meu dito, meu feito

Há escassos dias previ aqui que a derrota da coligação estimularia prontamente a sua tendência suicida para o disparate.

O Presidente Lopes, ao demitir inopinadamente a administração da EPUL devido ao seu excessivo zelo pela boa aplicação dos dinheiros a cargo da empresa, apressou-se a demonstrar que eu tinha razão.

Obrigado, ó Lopes. Os amigos são para as ocasiões!

«Eh pá, essa é forte!»

O facto de as mulheres andarem todas entusiasmadas com o Euro 2004 só prova que o futebol de selecções não é futebol a sério.

17.6.04



Paul Klee: Jardim tunisino.

Má onda

Fazemos parte, com os holandeses, os checos e poucos mais, daquele reduzido número de povos com um sentido de identidade suficientemente forte para não precisarmos de andar permanentemente a exibir os símbolos de identidade nacional.

(Tal como nós, os holandeses não aprendem o hino nacional, cuja letra é aliás, como a nossa, sumamente disparatada. Aqui há uns dois anos, quando alguém decidiu que a selecção nacional holandesa deveria cantá-lo antes dos jogos, foi um sarilho...)

Este fenómeno do nacional-bandeirismo que recentemente assolou as nossas ruas e praças não é pois, um sinal de força, mas de fraqueza.

Há no ar uma onda de desespero, de orfandade -- uma espécie de solidão colectiva -- que não auguram nada de bom.

O que inteligência de jogo quer dizer

Quem gosta de futebol não pode, supostamente, gostar de futebol alemão. Diz-se que é mecânico, frio, atlético, sem alma, sem talento, sem emoção.

Não vou recordar que o futebol é um jogo colectivo muito simples cujo intuito consiste apenas em fazer passar uma bola entre três paus.

Vou antes chamar a atenção para o que se passou no Holanda - Alemanha de há dias. A Holanda entrou a todo o gás, a praticar um futebol bonito e solto, metendo várias bolas com perigo nas costas da defesa alemã. Ao fim de quinze minutos, porém, secou. Porquê? Porque os jogadores alemães, sem esperarem ordens do manda-chuva sentado no banco, intrepretaram o jogo do adversário e reposicionaram-se no terreno para contrariá-lo. Por outras palavras: tomaram a iniciativa de adaptar o esquema táctico às circunstâncias.

Jogo mecânico? Pelo contrário, inteligência de jogo individual e colectiva -- o contrário do que se passou com Portugal na primeira parte do jogo contra a Grécia e na segunda do jogo contra a Rússia.

Surpreendidos por inesperados esquemas tácticos dos adversários, os «criativos» futebolistas portuguesas não têm a autonomia mental capaz de produzir soluções, ficam psicologicamente tolhidos e limitam-se a esperar as decisões ou as substituições do treinador.

Até para jogar à bola é preciso ter cabeça.

Diálogo escutado

- Dantes, os patrões davam o litro...

- Agora, nem os empregados fazem nada!

- O que está a dar cabo disto tudo são os computadores!

- ...e os telemóveis...

- Qualquer dia inventam umas impressoras para fazer pão.

- Mete-se tinta e sai pão.

- Já torrado e com queijo e fiambre!

- Pois é...

Café e cigarros

Quer dizer...

O dispositivo de base -- histórias quotidianas quase banais à volta de uma mesa envolvendo dois ou mais sujeitos que bebem café e fumam cigarros -- parece promissor.

A imaginação, todavia, não abunda. Tirando o diálogo entre Iggy Pop e Tom Waits e, até certo ponto, o sketch das primas reais e o dos supostos primos, os restantes arrastam-se penosamente sem chama nem ideias.

Quer dizer...

Baixezas

Os telejornais de domingo anunciaram com grande fanfarra a prisão do filho de uma personalidade pública, acusado de pertencer a uma rede de tráfico de drogas.

Pelos vistos, só esse, dentre todos os detidos, tinha pai e mãe. Ora eu gostava de saber com que direito se enxovalha alguém publicamente pelo facto de um familiar seu poder eventualmente ter infringido a lei.

Que interesse público determina a relevância dessa informação? Nenhum, é claro, se não cairmos no equívoco de confundir o interesse público com os interesses de certos públicos.

Dir-se-á que o facto não deve ser escondido. E eu responderei que o que está em causa é não se entender porque deve ele ser exibido.

Naturalmente, tudo isto faz parte da guerra prolongada de alguns media (de cada vez mais media) contra os políticos, aos quais parecem querer disputar a legitimidade da representação popular.

Estava eu mergulhado neste pensamentos quando hoje, ao abrir o Público, dei de caras pela enésima vez com uma notícia sobre a já célebre acusação contra «o cunhado de Guterres». Mas a que propósito, pergunto eu, é que o nome de Guterres tem que ser invocado, se o dito cunhado tem um nome próprio que consta no seu bilhete de identidade?

Que estas coisas aconteçam no 24 Horas ou na TVI, ainda vá lá... Mas no Público?

16.6.04



Fernand Léger: Le grand déjeuner, 1921.

Sina

Nunca compreendi essa ideia de procurar o destino na palma da mão. O destino de um homem lê-se na planta do pé.

Bom conselho

«You can't wait for inspiration. You must go after it with a club»
(Jack London)

15.6.04

O mistério do espírito europeu finalmente esclarecido

A UEFA, cujo aniversário hoje se assinala, tem sido, ao longo dos seus cinquenta anos de existência, o principal esteio da unidade europeia.

Buscam os filósofos incansavelmente a fugidia essência do espírito europeu, quando a verdade está afinal à vista de todos: ser-se europeu é ser-se cidadão de um país cujos clubes de futebol competem na Liga dos Campeões ou na Taça UEFA (em tempos romanticamente apelidada de Taça das Cidades com Feira). É esse, não duvidem, o genuíno espaço de afectos e cumplicidades em que regular e ritualmente nos encontramos para festejar e competir, e também porque não? para odiar.

Segundo este critério de demarcação, o mais perfeito que eu conheço, a Turquia faz parte da Europa, tal como faz Israel.

Alguma dúvida?

14.6.04



Paul Klee: Som antigo.

Como governar com uma picareta

Vê-se que Durão Barroso tem feito um bocado de media training. Assim, as suas primeiras palavras de ontem, após a divulgação dos resultados eleitorais, foram invulgarmente sensatas: «Nós ouvimos a mensagem», disse ele, mais ou menos por estas palavras.

Logo a seguir, porém, reafirmou a intenção de prosseguir, intensificar e acelerar a obra começada. Quer isto dizer que, após uma derrota destas proporções, o segundo mandato é hoje encarado pela coligação como uma miragem sem sentido, pelo que é necessário aproveitar o escasso tempo que falta para completar o trabalho de destruição a que lançou mãos.

Se esse entendimento prevalecer -- e não é impossível que isso aconteça -- vamos ter então mais do mesmo, e vamos, principalmente, assistir a uma tentativa desesperada de manipulação dos media directa ou indirectamente controlados para apoiar o governo.

As forças vivas que apoiam a coligação vão entrar em parafuso. Vão insistir na perseguição aos adversários políticos por meio de inquéritos, sindicâncias e o mais que adiante se verá. Vão desencantar mais affaires Casa Pia.

Entretanto, o porta-voz do PS diz que a colugação tem toda a legitimidade para governar e que não pede o seu derrube porque respeita as regras do jogo.

Muita gente não sabe, aparentemente, o que quer dizer legitimidade. Se soubesse, entenderia que a legitimidade do governo se reduziu drasticamente com estes resultados eleitorais e que, para o bem e para o mal -- repito: para o bem e para o mal -- todas as forças sociais e políticas que se lhe opoem por boas e más razões ganharam alento para lhe fazerem frente.

É claro que um governo assim isolado e enfraquecido não tem condições para prosseguir nenhuma espécie de acção reformista. Mas o confronto entre uma oposição fortalecida e um governo desnorteado auguram um período de grande agitação em todos os planos.

Quanto às «regras do jogo»... Vieira da Silva parece desconhecer que o derrube de um governo antes do final da legislatura pode ser considerado prejudicial para o país, mas está certamente previsto nas regras do jogo.

Um governo pode caír por falta de apoio parlamentar, em resultado, por exemplo, da ruptura da coligação. Ou pode ruir por impossibilidade de resistir aos ataques conjugados dos seus adversários, como sucedeu com o último executivo de António Guterres. Ou pode ser deposto pelo Presidente da República se a situação se lhe afigurar insustentável.

Tudo isso pode vir a acontecer nos próximos dois anos. Pela minha parte, parece-me muito pouco provável, nas circunstâncias actuais, que o governo PSD/PP resista até ao fim da legislatura.

E engana-se quem pensa que Durão Barroso pode vir a ser salvo in extremis por uma inversão da conjuntura económica. O que o dilúvio eleitoral de ontem revelou (a direita coligada teve pouco mais de um terço dos votos!) é que o país em geral, e os apoiantes do PSD em particular, perderam definitivamente a confiança nele.

Nestas circunstâncias, a recusa de afastar-se não demonstra coragem, mas mera falta de senso político. É muito ténue a linha que separa a persistência louvável da obstinação neurótica.

Em vez de se contentar com discursos de circunstância, o PS deveria começar imediatamente a preparar a alternativa. Porque e verdade é que, se por acaso a responsabilidade governativa lhe caísse amanhã ao colo, não saberia o que fazer com ela...

A mim não desiludem eles

«Eh, pá! Aquele Karagounis afinal joga no Inter!» «Já reparaste no grego que o Porto está a tentar contratar? Grande jogador...»

Estes e outros comentários similares mostram-nos que a empáfia e a ignorância nunca nos abandonam, nem mesmo no futebol. Os portugueses sabem que temos uns quantos futebolistas nalguns dos melhores clubes europeus, mas, sempre distraídos com o que se passa «lá fora», cuidam que os outros não têm.

Seguros de que dispomos dos melhores jogadores do mundo, esquecemo-nos de que muito poucos países europeus têm um palmarés de qualificação para os campeonatos da Europa e do Mundo tão mau como o nosso.

Ao ler e ouvir os nossos comentaristas desportivos, dir-se-ía que somos habitués da alta roda do futebol de selecções, ao contrário de coxos como os búlgaros, os romenos, os noruegueses, os dinamarqueses, os suecos, os noruegueses, os polacos, os checos ou até os russos. Ora a verdade é exactamente o contrário: somos nós que raramente nos qualificamos e eles que andam sempre por lá.

Pela amostra ninguém diria que, como agora se tornou moda afirmar, padecemos de baixa auto-estima.

Eu suporto bem as derrotas do meu clube, mas não as vitórias da nossa selecção, porque, embora raras, ainda mais raramente se devem ao mérito.

O método que preside à orientação da selecção nacional é o do «milagre de Fátima», o que, para além de não funcionar, ofende desnecessariamente os sentimentos dos católicos autênticos.

Começa tudo pela escolha do seleccionador. A opção recai usualmente sobre alguém sem as mínimas qualificações para o cargo.

Podem ser o Carlos Queirós ou o Humberto Coelho, por exemplo, que até ao momento dessa escolha nunca haviam orientado nenhuma equipa sénior de primeiro plano. (Mas com um bocadinho de sorte... quem sabe... vejam o brilharete do Humberto Coelho...) Ou pode ser o Scolari, cujo nome impressiona o público ignaro, embora o seu perfil não corresponda de modo algum ao que seria mais indicado.

Em seguida passa-se à escolha dos jogadores. Aqui há três critérios essenciais. Em primeiro lugar, chamam-se as vacas sagradas, e já está meia equipa feita: Baía, Couto, João Pinto, Rui Costa e Figo. Depois juntam-se alguns números de circo, que podem ser, por exemplo, o Quaresma ou o Cristiano Ronaldo. Finalmente, compõe-se uma linha que, para além de não irritar nenhum dos grandes clubes, satisfaça os agentes dos jogadores e as marcas patrocinadoras.

Mas é preciso pôr esta selecção de conveniência a jogar e, aí, as coisas começam a complicar-se, porque esta não é uma selecção para jogar -- é uma selecção para mostrar. Um bibelot, diria eu.

Este tipo não pode jogar, porque corre o risco de lesionar-se e o seu clube vai aborrecer-se com o seleccionador; aquele também não, porque pode fazer sombra a alguma das vacas sagradas. Chega-se assim a uma selecção de GRANDES NOMES acolitados por futebolistas de segundo plano que jogam no estrangeiro. A razão da chamada de sujeitos como o Boa-Morte é apenas que, como os seus clubes não estão filiados na Federação Portuguesa de Futebol, os seus protestos pela inoportunidade da convocatória não podem incomodar o Presidente.

As vacas sagradas não cedem o seu lugar na selecção, porque esse protagonismo impulsiona as suas carreiras, mas, super-desgastados por calendários exigentes nos clubes onde jogam e que lhes pagam, não só hesitam em pôr o pé quando correm o risco de lesionar-se como se comportam como donos da equipa que são supostos servir. (Em abono da verdade, devo dizer que o Figo é normalmente uma excepção a esta regra.)

Por isso mesmo, a selecção joga sempre mal nos jogos de qualificação. Mas há sempre a esperança de que faça um «brilharete» se por acaso conseguir chegar à fase final. Todavia, ao contrário do que os comentaristas apregoam, há mais justiça no futebol do que na vida que está para além dele.

Desta vez, os rapazes foram dispensados de se qualificarem pelo facto de sermos o país organizador. É claro que eles e o seleccionador entenderam isso como uma licença para não se ralarem desnecessariamente durante quase dois anos, gastos a fazer «experiências» irrelevantes sob o olhar condescendente dos comentaristas que se interessam mais por discutir os árbitros, o sistema, as transferências nunca concretizadas do Benfica ou as namoradas dos jogadores.

O problema, pelo menos para mim, não é que percam -- porque, enfim, no desporto isso é a coisa mais natural do mundo. O problema não é sequer que joguem mal -- porque já me habituei a considerar isso natural. O problema é que nada -- absolutamente nada -- é feito para que joguem bem, e, apesar disso, se alimente a doce ilusão de que, chegado o momento, os portuguesinhos valentes se encherão de brios e, entusiasticamente apoiados pela nação em pé de guerra, ganharão a taça para todos nós.

A derrota frente à Grécia foi a coisa mais normal do mundo, porque perder e jogar mal é a única coisa que a selecção tem feito de há dois anos a esta parte. Estranho e injusto seria que meia dúzia de rapazes talentosos mas atarantados, orientados por um treinador que continua a fazer experiências em pleno torneio, vencessem uma equipa (mediana mas, ainda assim, uma equipa) como a grega. Estranho e injusto, já agora, será que Portugal vença os russos e os espanhóis e passe à fase seguinte.

Obviamente, a revolução racionalista ainda não passou por aqui, de sorte que ninguém, nem os dirigentes, nem os técnicos, nem os jogadores, nem, acima de tudo, o público espectador entende que as mesmas causas tendem a produzir os mesmos efeitos.

A religião popular futebolística dominante tem como artigo de fé central a crença de que é tudo uma questão de adoptarmos comportamentos de sucesso. Basta que todos, do primeiro-ministro à Galp, passando pelos milhões de bandeirantes em que nos tornámos, insistam numa atitude psicológica positiva, queiram mesmo com muita força, apoiem sem restrições a selecção e o milagre acontecerá -- mais, será inevitável.

Esta gente está disponível para acreditar em tudo, menos no trabalho metódico, na disciplina e na organização. E disparam: «Se o Porto é campeão europeu, porque é que a selecção não pode sê-lo também?»

Pois, precisamente...

O império da tonteria

Alguém que todos semanalmente aturamos insurgiu-se há dias contra o facto de alguns media declararem Reagan uma personagem «controversa».

Decididamente, não se pode fazer concessões à direita: o adjectivo «controverso» é um eufemismo, dado que seria mais exacto chamar-lhe «simplório». (Pensando bem, este é outro eufemismo.)

Reagan surgiu no aftermath de uma época singularmente complexa, que reduziu a pó os velhos preconceitos e instaurou um ambiente de extraordinária inovação social. Nos espíritos mais frágeis instalou-se então uma perplexidade generalizada, até porque algumas das novas ideias levantavam legítimas desconfianças quanto à sua viabilidade prática.

O mundo em geral, e a América em particular, ansiavam por um Grande Simplificador, um ingénuo essencial repleto de certezas que lhe restituisse a tranquilidade de espírito. Quem melhor para desempenhar esse papel do que alguém que, no plano pessoal, era suficientemente ignorante para acreditar piamente nas trivialidades que proferia e, no plano simbólico, representava na perfeição o esplendoroso paraíso em écrã gigante e Technicolor em que os anos 50, vistos à distância, entretanto se haviam tornado?

Enquanto ícone da cultura popular americana, Reagan situa-se no mesmo plano que Elvis Presley, e a devoção que o povo lhe dedica é, aliás, do mesmo tipo. Nada de especialmente grave, dir-se-ia, não fosse dar-se o caso de o seu maniqueismo primário ter entretanto sido erigido em doutrina orientadora da política externa da maior potência mundial.

Diz-se agora (outro eufemismo) que Reagan não era um intelectual. A verdade é que tudo o que ele sabia sobre política aprendera-o nos filmes da série B. Gorbatchov conta como as conversas entre ambos começavam sempre pelos filmes de extra-terrestres e a necessidade de a América e a União Soviética se unirem para fazerem frente à ameaça dos homenzinhos verdes.

Que interessa isso hoje? Não se esqueçam que foi Reagan quem ordenou a entrega de armamento pesado a esse notório «combatente da liberdade» que dá pelo nome de Bin Laden.

8.6.04



Miró: Constelação, 1941.

O figurante

Os testemunhos de quem com que ele conviveu de perto, revelam sem margem para dúvidas que tomava as decisões mais graves da forma mais leviana.

Citar os seus discursos, como ontem fez o Director do Público, faz o mesmo sentido que citar os diálogos dos filmes em que participou, porque, num e noutro caso, ele só dizia o que lhe diziam para dizer.

Reagan inaugurou uma época de inacreditável degradação da vida política americana. Post-mortem, as centrais de intoxicação do costume querem-nos convencer de que lhe deve ao menos ser atribuido o mérito da ruina do império soviético.

Ora a União Soviética implodiu porque, quando Gorbachev chegou ao poder, em meados dos anos 80, ainda não se podia tirar uma simples fotocópia sem uma autorização escrita do KGB.

Reparem que estou a falar de fotocópias, não de faxes, de computadores em rede, de emails ou de internet. Nenhuma sociedade contemporânea resistiria a um absurdo destes.

2.6.04

Tanta glória também cansa

Esta época do ano, quando a temporada da Gulbenkian está a acabar e já terminaram as principais competições futebolísticas de clubes, costumo eu achá-la a mais sem graça do calendário.

Este ano, porém, pelo menos no que respeita à pausa do futebol, confesso que não sinto a mesma nostalgia.

É que nós, os portistas, já não temos saco para tanta vitória nacional, internacional ou trans-nacional. Uma pausa, por favor, que tanta glória também cansa!

Quero eu lá saber agora para onde vai ou não vai o Mourinho, se o Deco fica ou parte, quem vai ser o próximo treinador, como é que vão ser as finais da Super-Taça Europeia e da Taça Intercontinental... Se o Scolari vai para o Benfica... O próximo campeonato... A próxima Liga dos Campeões... Como tudo isso me parece neste momento longínquo e irrelevante...

Deixem-me que repouse um pouco o espírito assistindo, sem emoção nem sobressaltos, com todo o distanciamento, às desventuras da selecção nacional.

A felicidade é isto, estes breves momentos passageiros em que, de tanto se ter, já não apetece nada.

1.6.04

Apetece-me ser mauzinho

Eles fecham os blogues porque não têm mais nada para dizer - essa é que é essa!


Amadeo Souza-Cardoso: Pintura, 1914.