31.12.07

Mais forte do que nunca

Na viragem do século o tradicional padrão de especialização da economia portuguesa sofreu um abalo final com o início da recuperação das economias do Leste após uma década de colapso e a penetração dos produtos chineses no mercado europeu.

Não houve nisso nada de imprevisível, mas, como o Estado português optara por tentar adiar a agonia de sectores de actividade sem futuro, a reacção foi tardia e demorada.

De modo que estamos todos em Portugal há uns oito anos a assistir pacientemente à morte de uma economia e à afirmação de outra.

Não por mérito dos governos - como se prova pelo facto de tudo ter sucedido numa situação de quase total paralisia do Ministério da Economia - mas em resultado das iniciativas de inúmeras empresas, o essencial da transformação está agora completado, de tal modo que as indústrias de têxteis e calçados foram já substituídas pelas de máquinas e equipamentos no primeiro lugar das actividades exportadoras.

Isso permite-nos afirmar que, mau-grado as aparências, e independentemente das incidências conjunturais, a economia portuguesa está hoje mais forte do que nunca. Para terem uma ideia mais adequada do que está a suceder recomendo o dossier de hoje do DN dedicado ao surto de empreendedorismo nas indústrias de base biotecnológica.

Quem irão eles financiar?

Resumindo a coisa ao essencial, o que se passou na última década na economia mundial foi o seguinte:

1. Alguns países do Terceiro Mundo (com a China e os produtores de petróleo à cabeça) estavam ansiosos por emprestar os excedentes financeiros gerados pelas suas economias.

2. Os EUA estavam ansiosos por endividarem-se.

Juntando-se a fome com a vontade de comer tivemos assim na América uma bolha económica prolongada que os especuladores se empenharam em fazer crer eterna. Aos financiadores convinha-lhes também acreditar nisso na ilusão de que as suas exportações beneficiariam de uma procura em perpétua expansão.

A crise do sub-prime foi o sinal de que, tendo o último tolo pedido emprestado o último dólar, a capacidade de endividamento da América se esgotara.

De modo que, agora, as coisas põem-se nestes termos:

1. Os países excedentários hesitaram por muito tempo em deixar cair o dólar, porque isso implicaria a desvalorização dos seus activos naquela moeda. Mas renderam-se por fim ao inevitável, e procuram agora aplicações alternativas para o seu dinheiro.

2. Porém, a menos que o crescimento europeu acelere, não haverá mercado nem para a indústria chinesa nem para o petróleo russo, iraniano e venezuelano. A prazo, os excedentes financeiros no passado gerados por esses países secarão.

Logo, a questão é esta: para onde irão agora os imensos capitais que durante anos fluiram para os EUA?

Convém notar que os movimentos de capitais das últimas duas décadas foram uma aberração em termos históricos. Usualmente - era a isso que se chamava imperialismo - o capital deslocava-se dos países ricos para os países pobres; no passado recente passou-se o contrário, com as multidões miseráveis a financiarem o consumo da maior potência económica do mundo.

Os movimentos de capitais sempre tiveram consequências políticas. Agora terão também motivações políticas directas, dadas as ambições de afirmação internacional da China, da Rússia, do Irão e da Venezuela e dados os sistemas de poder político-económico vigentes nesses países.

Poucas vezes o futuro da economia mundial esteve tão dependente de decisões directamente inspiradas em considerações de política internacional e em alianças geo-estratégicas à escala mundial.

Correr duas vezes mais depressa

João César das Neves contesta no DN de hoje a ideia segundo a qual "a economia é a força mais poderosa do mundo":
Um princípio básico da economia, a "lei da utilidade marginal decrescente", diz que quanto mais temos, menos o valorizamos. Só a escassez faz subir o valor. Como vivemos a maior prosperidade de sempre, a própria ciência económica ensina que seria de esperar menor preocupação com o dinheiro. Afinal, quem tem fome é que vive obcecado com isso. Como pode este tempo ser mais, e não menos, dirigido pela economia?
Esta é, sem dúvida, uma pergunta pertinente, mas não me parece que a resposta que César das Neves ensaia esclareça inteiramente o problema.

A verdade é que, do modo que as nossas economias estão hoje arranjadas, ninguém pode esperar ter o mínimo para viver se não esfalfar para ganhar cada vez mais.

Isso mesmo nos é recordado todos os dias: o desemprego só poderá diminuir se a economia crescer pelo menos 2% ao ano; mas, para que isso suceda, é preciso que a produtividade e a população activa aumentem sem parar.

Como lembrava a Rainha de Copas imaginada por Lewis Carroll: "para ficar no mesmo sítio é preciso correr duas vezes mais depressa".

Boas notícias para Portugal

Segundo o Diário de Notícias, José Milhazes assevera de Moscovo que, afinal, Rasputine não foi envenenado com vinho da Madeira. A pouco e pouco vamos ficando com uma imagem mais compostinha lá fora.

Ameaças para 2008

Parece confirmar-se que a TAP vai autorizar o uso dos telemóveis a bordo dos seus aviões.

30.12.07

Superdotada do Ano 2007



Foi revelado que Paris Hilton tem um QI de 132 (muito próximo dos 150 de Einstein), o que vem mais uma vez confirmar a tese de James Watson da superioridade da raça branca.

29.12.07

Azelha do Ano 2007

Cassandra do Ano 2007

Desempregado do Ano 2007

Político do Ano 2007

Publicitário do Ano 2007

Pensador do Ano 2007

Eminência Parda do Ano 2007

Comunicador do Ano 2007

Desaparecido do Ano 2007

Conversa da Treta do Ano 2007

Jovem Promessa do Ano 2007

Cadeleiro do Ano 2007

Faccioso do Ano 2007

Gestor do Ano 2007

Dragão do Ano 2007



John Chamberlain
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28.12.07

À saúde do BCP

Aceito que se bata no ceguinho quando ele é um safado matreiro que não hesitará em rachar-nos a cabeça com a bengala se nos apanhar distraídos.

Não sendo esse o caso, incomoda-me ver tanta gente que durante anos adulou o fundador do BCP colaborar na sua diabolização quando sabe que já nenhuma benesse poderá esperar daquelas bandas. Ai dos vencidos|

É, também por isso, este o momento ideal para dizer que admiro Jardim Gonçalves e o modo como em pouco mais de uma década pôs de pé o maior banco privado português e revolucionou o nosso sistema financeiro.

Sinto a obrigação de afirmar isto, em primeiro lugar, porque, ao longo de uma meia dúzia de anos, coincidentes com o período heróico do banco, uma parte substancial do meu ordenado foi indirectamente pago pelo BCP, e eu tenho por princípio não morder a mão que me alimentou.

Mas digo-o também porque é bom não esquecer que o banco de Jardim Gonçalves foi durante muito tempo um caso aparte de profissionalismo e capacidade empresarial num país em que eles tanto escasseiam.

Quem, como eu, trabalha na prestação de serviços de marketing às empresas, pergunta-se frequentemente se ficará algum rasto daquilo que anda a fazer. Na esmagadora maioria dos casos, a resposta é um enfático e melancólico não; mas recordarei sempre com orgulho e satisfação aqueles anos em que dei a minha modesta contribuição para ajudar o BCP a trucidar a concorrência, de forma metódica e implacável, introduzindo sucessivas inovações que facilitaram a vida a todos nós.

Para quem já não se lembra: foi preciso aparecer a NovaRede para toda a gente ter direito a usar um cartão Multibanco no seu dia a dia sem discriminações nem complicações burocráticas.

Eu sei que, com o tempo, o BCP tornou-se num banco como os outros. É natural e compreensível: também eu, com a idade, me tornei mais como os outros.

Acredito também que deverão ter fundamento algumas das acusações de irregularidades que agora são dirigidas contra a administração do BCP, e, muito embora eu permaneça disposto a pôr as mãos no fogo por alguns dos actuais suspeitos, espero que seja punido quem deve ser punido.

Seria porém lamentável que a opinião pública se resignasse a deitar fora o bébé com a água do banho. Jardim Gonçalves não era um anjo, o BCP nunca foi perfeito e as circunstâncias políticas ajudaram muito ao seu êxito. Tudo isso e muito mais é verdade. Ainda assim, só temos todos que esperar que o seu exemplo faça escola.

Este é um daqueles casos em que o respeitinho é muito lindo.

25.12.07

The Pogues: Fairytale of New York

22.12.07

O hipotético ímpeto empresarial do Dr. Miranda

Se o economista de proveta João Miranda decidisse criar uma empresa - que Deus o defenda! - seria forçado a contratar logo à cabeça um consultor para ajudá-lo a determinar o salário de equilíbrio para os diversos tipos de trabalhadores de que iria necessitar. Em seguida, pedir-lhe-ia para estimar também o produto marginal de cada tipo de trabalho para compará-lo com o respectivo custo.

Alguns consultores conseguem, com algum esforço, saber que salários são correntemente pagos, mas a descoberta do salário de equilíbrio envolveria imenso tempo e dinheiro. O mesmo se diga em relação à determinação do produto marginal do trabalho.

Admitindo, porém, que Miranda arranjava alguém capaz de executar a tarefa, precisaria ainda de saber o salário de equilíbrio no mercado de consultores para determinar quanto deveria pagar à sumidade. Mas, dado o evidente conflito de interesses, teria de contratar para isso um novo consultor, e assim sucessivamente, numa regressão ad infinitum.

De modo que a minha previsão - talvez não excessivamente surpreendente - é que João Miranda desistiria do seu projecto de criar uma empresa. Excepto se o Estado fixasse tarifas salariais para tarefas de todo o género, ao jeito de uma economia centralmente dirigida, caso em que Miranda teria mais facilidade em tomar uma decisão.

21.12.07

Paul Krugman sobre a crise financeira nos EUA



Demora uma hora, mas, quem sabe? talvez possa ajudar a dissipar o tédio natalício.


Robert Longo
: Dancing Trio, 2003.

Factos teimosos

jdc começou por exibir um gráfico representando a evolução do desemprego em Espanha entre 1976 e 2006 e sugeriu que ela foi determinada pela variação do salário mínimo.

Instado a justificar a sua afirmação, ofereceu-nos em seguida um outro gráfico com a marcha do salário mínimo real no mesmo país entre 1963 e 2003.

Se se desse ao trabalho de olhar para os bonecos que afanosamente colecciona, notaria talvez que, mesmo a olho nu, sem necessidade de análise econométrica, os dados revelam não existir qualquer correlação entre, por um lado, a dinâmica do salário mínimo e, por outro, a do desemprego.

Note-se, por exemplo, que o salário mínimo real cresceu aceleradamente em Espanha entre 1967 e 1979, e que, desde então, estacionou ou baixou ligeiramente. Quanto ao desemprego, só começou a crescer em 1979 (exactamente o ano em que o salário mínimo estabilizou) e prosseguiu nesse rumo até 1985, altura em que começou a baixar, para depois retomar a tendência ascendente em 1992 e atingir o máximo absoluto em 1995. De então para cá tem vindo sempre a descer.

Repito: as estatísticas apresentadas negam a existência de qualquer correlação entre salário mínimo e desemprego, ao contrário da tese proposta por jcd. O que falta ao autor dos posts em rigor argumentativo sobra-lhe, porém, em palavreado vazio.

PS - Num outro post, jcd insinua que a política de forte aumento do salário mínimo iniciada pelos governos de Franco terá tido inspiração marxista. Hilariante!

20.12.07

Isto está, como convém, a tornar-se extremamente confuso

O facto de o Tratado de Lisboa ser ilegível não é razão para que não possa ser referendado. Afinal, nós passamos o tempo a votar coisas de que possuímos apenas a mais vaga das ideias. Mas já é mais preocupante constatarmos que muitos daqueles que se propõem orientar o nosso sentido de voto na eventualidade de ser convocado o dito referendo manifestamente não entendem de que trata a tal resma de papel. De modo que, inevitavelmente, o voto acabará por ser, na sua essência, a favor ou contra a União Europeia. Valerá a pena?

Para variar

Se jcd está muito informado sobre o que se passou em Espanha no que toca à relação entre salário mínimo e desemprego, talvez seja de presumir que, não se encontrando essa informação em segredo de justiça, quererá ter a bondade de partilhá-la connosco. Quem sabe se, desenganando Stiglitz, Arrow, Samuelson e outros infelizes do género, não poderia até aspirar ao Nobel da Economia. Mas aposto que, para variar, ele não sabe do que fala.

19.12.07

Ninguém tem uma segunda oportunidade de causar uma primeira impressão

Quando lá fui, no sábado passado, a Byblos não tinha assim tantos livros, a alta tecnologia não estava a funcionar, a baixa também não (daí as filas nas caixas), a decoração pareceu-me fatela e, em geral, não entendi o conceito.

Passava-se um bocado de frio na loja.

Se somarmos a frustração resultante do confronto da realidade oferecida com a excitação que emanava dos press-releases reproduzidos nos jornais e nos blogues, parece-me problemático augurar um grande sucesso a uma livraria onde não dá jeito nenhum ir.

Imaginam eu ir a uma livraria e não me apetecer comprar lá nada? Eu também não.

E, agora, uma mensagem do nosso patrocinador

A teoria e a prática

Não se pode criticar demasiado o João Miranda. Afinal, ele é apenas uma vítima inocente da forma inaceitável como a teoria económica é ensinada um pouco por todo o mundo, sem referência (ou com escassa referência) aos factos que pretende explicar.

O Daniel Oliveira desafiou o João Miranda a apresentar um só estudo sério provando que o aumento do salário mínimo conduzirá em Portugal ao aumento do desemprego. O João Miranda, como esperaria qualquer pessoa que entenda o modo como ele pensa, respondeu-lhe com um gráfico.

Como bom escolástico, o que lhe interessa são as teorias, não os factos empíricos. Ele deduz a verdade dos axiomas que se lhe afiguram intuitivos, porque julga que a teoria económica funciona como a geometria.

E que nos dizem, afinal, as investigações empíricas acerca da relação entre, por um lado, a existência ou o aumento do salário mínimo e, por outro lado, o desemprego? Em muitos casos, talvez a maioria, não identificam relação alguma. Noutros, sugerem que o desemprego aumenta; noutros ainda, que o desemprego diminui (!).

As únicas conclusões sólidas que se podem tirar serão talvez estas:

1. O impacto do aumento do salário mínimo sobre o desemprego depende das circunstâncias;

2. A representação abstracta do mercado do trabalho reproduzida pelo João Miranda no seu post é errada ou, pelo menos incompleta.

Alguns economistas acreditam que o modelo falha por não ter em conta a capacidade negocial das partes em confronto, mas isso já é uma conversa mais complicada.

PS: No mesmo sentido da opinião aqui expressa, ler também João Rodrigues.

Jacto de um buraco negro está a destruir galáxia vizinha. Portugal poderá ser o país mais afectado.



Os astrónomos da NASA afirmaram peremptoriamente que nada nem ninguém poderá sobreviver a uma torrente de partículas deste género. "A quantidade de radiação emitida pelos buracos negros é fatal", confessaram.

Apesar de alguns especialistas por nós contactados acreditarem que Portugal se encontra especialmente desprotegido perante fenómenos deste género, o Governo não considera necessário rever as previsões económicas para 2008. Segundo Teixeira dos Santos "o Governo não tenciona desviar-se um milímetro do rumo traçado, diga a NASA o que disser." Luis Filipe Menezes classificou já esta declaração do Ministro das Finanças como "uma irresponsabilidade, própria de quem não vive no mundo de hoje e julga poder continuar a ignorar olimpicamente o que se passa no resto do universo".

Também o chefe dos bombeiros da capital acredita que "estamos a incorrer numa situação desnecessária por não ter sido implementado o plano de prevenção de emergências proposto há oito anos" pela corporação que dirige. E rematou: "O ministro foi informado por nós da catástrofe que pode ocorrer a qualquer instante, mas, derivado ao economicismo que tem implementado, o mesmo nunca teve resposta".

Baker, Bruce, Clapton: White Room

Turner, Clapton: Tearing Us Apart

Stones, Hooker, Clapton: Boogie Chillin

Waters, Clapton: I'm a Man, Steppin' Out & etc.

King, Collins, Guy, Beck, Clapton: Sweet Little Angel

Dylan, Clapton: Crossroads

Harrison, Clapton

Perkins, Cash, Clapton: Matchbox

Winwood, Clapton: In the Presence of the Lord

18.12.07



Moholy-Nagy.

Naufrágio na Costa Ocidental

Diz Pedro Bidarra, Vice-Presidente da BBDO, em entrevista à Briefing de 14 de Dezembro:
"O Ministro da Economia - e o Governo - depois de verem muitos dados sobre o diagnóstico e sobre esta ideia - e a solução - decidiram avançar. Escolheram dois temas: as energias renováveis, uma área onde o país, inesperadamente, lidera, e os jovens talentos, pessoas que ajudaram, lá fora, a mudar a maneira como se pensa Portugal. Estas são ideias do ministro, é estratégia política."
Na minha maneira de ver isto não é mera estratégia política, é estratégia de comunicação. Logo, o que Bidarra eufemisticamente me parecer insinuar aqui é que o ministro Manuel Pinho é o autor da estratégia de comunicação da campanha de promoção do país - digamos assim - que o Governo pôs no ar no dia da assinatura do Tratado de Lisboa.

Percebe-se: criticado em vários quadrantes pela fragilidade e inconsequência da sua acção governativa, ocorreu a Pinho brindar-nos com uma campanha de publicidade. Não é caso virgem.

Olhando para as peças que integram a campanha vemos lá - em segundo plano e quase só para fazer bonito - algum mar e uma pouca de areia, mas o que mais ressalta são as chamadas "personalidades": um futebolista, um treinador e uma fadista mundialmente conhecidos. Para a trilogia fado-Fátima-futebol estar completa falta a vidente, de que actualmente não possuímos nenhum espécime com repercussão internacional.

Completam o ramalhete algumas pessoas que, sem desprimor para os próprios, pouco ou nada contam em termos de saliência ou projecção aquém ou além fronteiras. E o que é que tudo isto tem a ver com o conceito "Europe's West Coast"? Mistério.

Um país que sente a necessidade de agitar sistemática e freneticamente uns quantos talentos de renome mundial mais não faz senão chamar a atenção para a escassez de exemplares apresentáveis. O caso torna-se mais grave quando a gente do futebol e do fado é o melhor que há para exibir.

Finalmente, a campanha diz ainda a quem a quiser ouvir que Portugal tem cantores, desportistas e até, imagine-se! um cientista, mas não um fotógrafo suficientemente bom para usar na campanha. Estamos, pois, de volta à saloice que há escassos anos levou o Governo português a colocar a foto do Figo à entrada de uma exposição dedicada à cultura portuguesa em Madrid.

Tal como aqueles anúncios e suplementos ridículos que o governo português insiste em inserir de vez em quando no Economist, esta campanha posiciona-nos de facto ao nível do Azerbeijão, sem ofensa para esse país maravilhoso.

Que espécie de efeito se espera de iniciativas como esta? É difícil dizê-lo se optarmos pela análise racional do fenómeno - e aqui entramos decidamente na parte mais desagradável de tudo isto, que é a da falta de critério com que sistematicamente se esbanja o dinheiro dos contribuintes.

Na semana passada, a cidade de Lisboa deparou-se ao acordar com telas gigantescas colocadas em locais estratégicos exibindo os familiares retratos de Cristiano Ronaldo e Mourinho, uma iconografia que em si mesma já enjoa. Algumas pessoas viram também a campanha nos exemplares de algumas publicações estrangeiras que vêm para Portugal, ignorando que esses anúncios não aparecem nas edições distribuídas noutros países.

Quase todos acreditam que a campanha está a passar com a mesma força, ou até com maior intensidade, no estrangeiro. Estão redondamente enganados: trata-se de uma campanha para português ver, pela simples razão de que o Estado português não dispõe de uma verba suficiente para veiculá-la em larga escala nos Estados Unidos, no Reino Unido, na França e na Alemanha, para não ir mais longe. Na verdade, nem sequer tem dinheiro para fazer uma campanha de razoável impacto em Espanha.

De modo que decidiu cingir-se a Lisboa e arredores e convocar a imprensa para ajudar a criar uma ilusão de grandiosa ambição internacionalista. Nestas condições, como pode o Ministro da Economia pretender que "o objectivo é reposicionar a marca e aumentar a notoriedade de Portugal no estrangeiro"?

O menos que os jornalistas portugueses poderiam fazer seria perguntar-lhe como tenciona ele medir objectivamente o contributo desta campanha para a concretização desses objectivos.

17.12.07

Modalidades de carneirada

Num passado bem distante, quando se discutia se Mourinho seria ou não o próximo treinador da selecção inglesa (ou seja, há uma semana atrás, mais precisamente no dia 5 de Dezembro), Simon Kuiper afirmou no Financial Times que o problema do futebol do seu país é ser essencialmente estúpido. E explicou-se:
The English game follows an old-fashioned military model: managers command, players obey. Mr. Eriksson discovered this in his pre-match chats with individual players. After outlining the opposition's tactics in the player's zone of the field, he would ask: "What would you do?" Often players would reply: "I don't know. You're the boss, Boss."
Dir-se-á que isto não é nenhuma novidade para nós, visto que manifestamente a mesma mentalidade prevalece no futebol português, onde, por muito evidente que seja uma falha de posicionamento dos jogadores no campo, eles só se deslocam se o treinador, ou, quando muito, o capitão, mandar.

O problema é que Simon fala-nos da Inglaterra, um país onde supostamente as pessoas desfrutam de largas liberdades e são, por isso mesmo, estimuladas a pensar com a sua própria cabeça.

É claro que essas liberdades existem, mas é também claro que os ingleses, em vez de agirem com autonomia, preferem seguir o sentimento da manada. Basta ver como eles adoram viver em bairros, às vezes gigantescos, compostos de habitações que repetem até ao infinito o mesmo modelo. E isto passa-se não só nos subúrbios habitados pelas classes trabalhadoras, como também nas zonas abastadas de Londres - ou até numa estância de veraneio da nobreza do século XVIII como Bath.

É muito mais fácil conceder total liberdade a um povo quando se sabe de antemão que ele é demasiado medroso para usá-la.

Que posicionamento para Portugal?

Façamos de conta que as minhas objecções em relação à Marca Portugal não faziam nenhum sentido. Qual deveria então ser o posicionamento mais indicado para o país?

Quando foi convidado a trabalhar para o Governo português, há uns bons 15 anos atrás, Wally Olins notou certa vez, ao ver um mapa de Europa virado ao contrário (ou seja, com o Norte virado para o Sul e vice-versa) algo que até aí lhe passara despercebido: Portugal é o único país Atlântico do Sul da Europa.

É claro que a Espanha também tem uma costa atlântica, mas não só ela está no essencial virada ao Norte, como de facto o país é no seu núcleo definidor mediterrânico e continental.

Perguntar-se-á que relevância tem isso. Ora a localização geográfica não é no caso de Portugal - como não o é no de nenhum outro país - uma mera curiosidade sem consequências. A situação que ocupa teve e tem um papel determinante na sua história e na sua cultura, como zona de transição entre o Mediterrâneo e o Atlântico (logo de relação marítima entre o Sul e o Norte da Europa), entre a Europa e a África e entre a Europa e as Américas.

Logo, é correcto, como tentou Olins, fazer assentar o posicionamento do país nessa dupla condição de país meridional e atlântico.

Mas é evidente que o desdobramento deste conceito de partida numa comunicação bem concebida e eficaz teria de estribar-se num entendimento aprofundado da relação histórica entre a posição geo-estratégica compreendida em sentido amplo e a nossa originalidade cultural. Note-se, de passagem, como esse conceito é simultaneamente válido para promover o turismo, estimular as exportações e atrair o investimento estrangeiro.

Sabe-se que isso nunca aconteceu, tanto por incapacidade das pessoas e instituições à época incumbidas de trabalhar no projecto como por facciosismo partidário dos governos posteriores, de modo que a Marca Portugal andou perdida pelos arquivos do Ministério da Economia durante muitos anos.

Em 2002, porém, o tema foi ressuscitado pela BBDO, a agência de publicidade que por essa altura propôs o conceito "Europe's West Coast" como o mais apropriado para posicionar Portugal. As suas razões foram expostas num inteligente e bem argumentado artigo que Pedro Bidarra deu à estampa no Público em 2003.

Resumindo, o que aí se dizia era que a percepção de Portugal como um país do Sul não é positiva para o país, visto que não só o Sul conota ideias negativas tais como sub-desenvolvimento e atraso cultural, como as coisas boas usualmente associadas ao Sul existem mais na Itália, na Espanha e na Grécia.

Logo, seria mais indicado insistirmos na dimensão ocidental da nossa identidade, muito mais autêntica e relevante do que a mediterrânica. Acresce que a expressão "West Coast" faz lembrar a Califórnia, a costa ocidental americana, que além do sol e da praia tem também a tecnologia e o cinema. Portugal deveria então promover-se externamente como a "Europe's West Coast".

À primeira vista, a recomendação da BBDO parece enquadrar-se, com algumas nuances, nas ideias de Wally Olins.

Detecto nela, todavia, alguns inconvenientes. O primeiro é a presunção de que toda a gente em todo o mundo pensa na Califórnia quando se fala de West Coast. Ora o Mundo está cheio de costas ocidentais, pelo que a associação está mais na cabeça de quem a propõe do que no espírito de quem é suposto fazê-la.

Em segundo lugar, a ideia de fazer de Portugal a Califórnia da Europa não só é velhíssima como, por razões que talvez não seja necessário detalhar, me parece descabida.

Por último - e este é o ponto mais importante - reduzir a identidade do país à sua ocidentalidade é obviamente amputá-la de um componente essencial. Portugal não é só um país ocidental, tal como não é só um país meridional: é, repito-o, o único país atlântico do Sul da Europa.

Se Portugal fosse só um país meridional não seria o que é, tal como não o seria se a sua essência se reduzisse à ocidentalidade. Afinal, nós não somos a Irlanda, que, quer se queira quer não, mais milha menos milha, é de facto, no plano simbólico se não exactamente no dos factos, o extremo ocidental da Europa.

A clivagem

Escreveu Nuno Artur Silva no Público de ontem:
"Na televisão, como na sociedade, o risco é o de passar a haver dois mundos: o dos mais endinheirados, que podem aceder ao cabo e à banda larga e suportar o preço da escolha personalizada, e o dos pobres, a quem resta o fluxo reality-show/ novelístico das "generalistas", a água da torneira do entretenimento básico."
Quem só conhece Nuno Artur Silva do Eixo do Mal não suspeita que se trata de uma das pessoas com um pensamento mais inteligente e estruturado sobre a situação dos media em Portugal. Vale a pena ler o artigo na íntegra.

"...e depois eu é que sou o maluco!"

Ao Maradona deu-lhe agora para polemizar com o Rui Santos. O príncipe dos comentadores desportivos nacionais não deveria jamais descer tão baixo. Haja decoro!

16.12.07

Knopfler, Clapton: Cocaine

Lennon, Richards, Clapton: Yer Blues

Outra vez a Marca Portugal

O grande argumento a favor da Marca Portugal é este: se os espanhóis têm uma marca país, nós também devemos tê-la.

Ora eu discordo da ideia por razões de princípio.

Comecemos pela confusão terminológica. Quando eu admito que Portugal tem necessariamente uma carga simbólica associada não tenho que admitir que se trata de uma marca. Por outras palavras, nem todos os símbolos hão-de ser marcas.

É intrínseco ao conceito de marca ela ter um dono. Acontece que o nosso país, hoje, não tem dono.

Houve um tempo em que teve, e houve também por isso um tempo em que teve uma Marca Portugal. Refiro-me ao trabalho realizado pelo Secretariado Nacional para a Propaganda (depois Secretariado Nacional para a Informação, apreciem o eufemismo) e pelo seu líder António Ferro, que, em estreita associação com Salazar, concebeu não só a Exposição do Mundo Português como o melhor slogan de promoção do país no exterior jamais inventado: "Portugal, o segredo mais bem guardado da Europa".

Se tivéssemos memória colectiva conheceriamos o que esses homens fizeram e saberiamos que eram gente competente e tecnicamente bem preparada.

Hoje, porém, nas nossas sociedades abertas e plurais, consideramos justamente inadmissível que alguém defina o que o país é e como deverá ele apresentar-se exteriormente, pois é nisso mesmo que consiste a selecção de um posicionamento nacional. Como pode então o Governo, ou o AICEP, ou seja lá quem for, obrigar milhares de empresas e milhões de portugueses a comunicarem a uma só voz? Absurdo, não é verdade?

Há dois anos, quando convivi ao longo de vários dias com Wally Wolins - um dos profetas das marcas país e a pessoa que há década e meia foi chamada pelo governo português para orientar um projecto desse tipo - coloquei-lhe precisamente essa questão.

Estava à espera de uma acesa disputa, mas, para minha grande surpresa, concordou logo comigo. "É evidente que numa sociedade livre", disse-me ele, não necessariamente por estas palavras, "ninguém tem o poder de impor aos outros uma ideia do país. A única possibilidade consiste em construir sobre o que é consensual, ou seja, sobre uma ideia do país com a qual quase todos possam estar de acordo."

Bom, isto é desanimador para nós, pois Portugal é precisamente aquele país no qual o exacerbado e quase doentio sentido crítico dos seus habitantes impede que se ponham de acordo sobre o que quer que seja.

"Então", alvitrou ele, "talvez seja esse o ponto de partida sobre o qual se deva construir a Marca Portugal. Mas notem que os irlandeses também são assim!"

15.12.07

Sumário executivo

A bem do país, não posso furtar-me ao desafio que o Luis me lançou. Se bem compreendi, foi isto que se passou:

14.12.07

Ponto de viragem

Martin Wolf no seu artigo desta semana no Financial Times:
"What is happening in credit markets today is a huge blow to the credibility of the Anglo-Saxon model of transactions-orientated financial capitalism. A mixture of crony capitalism and gross incompetence has been on display in the core financial markets of New York and London. From the "ninja" (no-income, no-job, no-asset) subprime lending to the placing (and favourable rating) of assets that turn out to be almost impossible to understand, value or sell, these activities have been riddled with conflicts of interest and incompetence."

Onde está o Gordon?



O Reino Unido é hoje talvez o exemplo mais acabado de plutocracia (ou governo dos muito ricos) legitimada pela aparência de respeito pelo sentimento da plebe que o populismo mediático encena.

O país é efectivamente governado pelos tablóides, sempre prontos a exigirem a cabeça de qualquer governante que não alinhe pela sua raivosa e primária propaganda.

Gordon Brown parece ser um homem intelectual e eticamente bem mais sólido do que Tony Blair, e é essa porventura a sua desgraça. Blair nunca teve medo dos media - muito pelo contrário - porque a sua intuição o ajudava a entendê-los e a pensar como eles, e só quem intuitivamente simpatiza com o seu modo de actuar pode manipulá-los.

Brown, que é um intelectual, pensa de mais. A lógica da imprensa repugna-lhe, por isso teme-a. Não sendo suficientemente corajoso para enfrentá-la, procura fazer-lhe a vontade contrafeito, e é sistematicamente cilindrado perante a opinião pública.

A ausência de Brown na foto que os líderes europeus ontem tiraram em Lisboa tem como única justificação a tentativa de evitar a crítica chauvinista dos media britânicos. A decisão foi patética e o resultado final será ainda pior do que ele temia.

Crónica de uma crise

O Tiago Mendes resolveu - a meu ver, bem - relatar exaustivamente o desenrolar da polémica que estalou na sequência das intolerantes reacções a um seu post visando as opiniões extremistas do André Azevedo Alves e que levou ao seu afastamento do blogue Atlântico e da revista homónima. A frio, os acontecimentos ficam mais claros e as lições são mais evidentes. A direita supostamente moderna em geral e algumas pessoas em particular não ficaram bem no retrato.

13.12.07

Distracções

Filipe Nunes Vicente faz o comentário que faltava para se perceberem os ajustes de contas na noite portuense:
"Nos últimos dez anos, Portugal, juntamente com a Espanha e Holanda, tornou-se no destino privilegiado da entrada de cocaína na Europa. Enquanto as pessoas se excitam com um punhado de seringas trocadas nas prisões, a cocaína movimenta milhões de euros. Estas coisas não se passam sem consequências. (...) Só um ingénuo pensa que se mata alegremente pelo direito a controlar as receitas do consumo mínimo de casas de diversão nocturna."

Cream: Tales of Brave Ulysses

Cream: I Feel Free

Cream: Strange Brew

12.12.07

Cream: Steppin' Out



Man Ray.

Vómito e direitos correlativos

O vómito não é propriamente uma opinião, é uma revulsão. É a rejeição extrema, espontânea, involuntária e descontrolada de algo ou alguém.

Embora a CIA não reconheça que se trata de uma forma de tortura, impedir uma pessoa de vomitar é sem dúvida alguma uma crueldade. Não se diz a uma pessoa: "Eh pá, não vomites!"; diz-se-lhe, quando muito: "Vomita para o outro lado". O direito ao nojo é universal e inalienável, faz parte do núcleo central dos valores de qualquer nação civilizada.

Eu enojo-me com caracóis; o Tiago Mendes, pelos vistos, com os posts do André Azevedo Alves.

Nos bons tempos em que as crianças eram educadas com severidade, um castigo frequente para aquelas que vomitavam consistia em obrigá-las a comer o seu próprio vomitado. Algumas pessoas opinam que o Tiado deveria ser obrigado a engolir o seu vómito; outras, mais moderadas, que ele deveria ter tido o bom senso de vomitar para o outro lado.

O assunto pode ainda ser analisado de uma perspectiva distinta. Se eu acho que fulano é uma besta e escrevo: "Fulano é uma besta!", posso ter muita razão, mas a expressão literária do meu sentimento é frustre porque não transmite nada para além da minha irritação. O mais provável é que desperte escassa simpatia entre os destinatários do comentário, que eu precisamente teria interesse em atrair para o meu lado.

Do mesmo modo, se sicrano me dá vómitos e eu escrevo: "Sicrano dá-me vómitos!", não é certo que tenha dito algo de relevante, ou sequer que de facto tenha algo para dizer. Onde eu quero chegar, se ainda não me fiz compreender, é à conclusão de que a intervenção do Tiago pode e deve ser asperamente criticada de uma perspectiva estritamente estética.

Imaginemos que ele tinha antes escrito algo deste género:

"Os posts do André Azevedo Alves provocam-me uma reacção quase-alérgica: dores de cabeça, cólicas violentas, comichão em todo o corpo, vómito espesso e esverdeado exalando um odor sulfuroso a inferno, altas temperaturas durante dias a fio, estado de prostração e debilidade extrema que me impedem de sair da cama. Ainda por cima, a Junta Médica recusa dar-me baixa. O médico de família, alarmado com a repetição destes episódios, proibiu-me de me aproximar a menos de 20 metros dos posts do André Azevedo Alves sem tapar o nariz com um lenço."

Digam-me agora, consideradas as coisas sob esta nova perspectiva: será justo, humano e cristão castigar, banindo-o do convívio humano, quem assim sofre?


Cecil Beaton.

Gente arejada

"Comprei duas vezes a revista Atlântico. O giro é que, apesar de se armar noutra coisa qualquer, é uma revista fiel aos valores tradicionais. Os homens tratam dos assuntos sérios. Política e coisas assim. As mulheres, duas ou três que por lá andam, escrevem umas coisitas sobre a vida mundana. Blogues, espectáculos, filmes, relações e coisas assim. E os homens atlânticos aplaudem-nas como cãezinhos, neste caso cadelinhas, amestradas que brilham com os seus truques de circo. Bravo."

Ana de Amsterdam

10.12.07

Picuinhices

José Reis no Jornal de Negócios, ainda a propósito do milagre de Alcochete:
"Sabe-se a que cota teriam de ser construídas as pistas em Alcochete, num sítio em que o nível freático está tão perto do solo? Não. Sabe-se que trabalhos de deslocação de terra e de compactação têm de ser feitos? Não. Sabe-se quanto custa a descontaminação de uma zona de uso militar para poder ter uso civil? Não. Os custos directos estão, pois, longe de serem conhecidos."
Um picuinhas, este Professor José Reis.

Aprofundamento do debate

Se os insultos de Tiago Mendes serão comparáveis aos de Churchill, Nélson Rodrigues e João Pereira Coutinho (o Churchill português) e outras considerações de fino recorte sobre a "arte da rudeza" no 31 da Armada:
Alguém sequer concebe um Churchill, um Nélson Rodrigues, um João Pereira Coutinho a dizerem de um adversário polemista que as ideias deste lhes dão "vómitos"?
É só rir.

9.12.07



Richard Avedon.

Para o Zé Manel, que me incentivou a persistir na via do pecado.

8.12.07

Exploração visual do conjunto de Mandelbrot

A Cimeira



O Reino Unido é, hoje, o país europeu com maior influência cultural, económica e militar em África. Qualquer iniciativa conjunta europeia em relação a esse continente é naturalmente encarada como uma ameaça à sua própria posição. Toda a gente compreende isto, tirando os jornalistas portugueses.

Apesar do seu passado colonial, Portugal tende a perder terreno em África: nos países de língua portuguesa porque eles procuram, como seria de esperar, novos parceiros; nos outros, porque não tem dimensão para, isoladamente, fazer seja o que for de relevo. Tem tudo a ganhar, por conseguinte, com a Cimeira Europa-África.

Encontros do género daquele que neste fim de semana tem lugar em Lisboa limitam-se a afirmar, em circunstâncias que propiciam grande visibilidade, um propósito e um compromisso. Neste contexto, há espaço para declarações de circunstância, salamaleques, abraços hipócritas, reivindicações, remoques, ameaças veladas, negociações agressivas, acordos de bastidores e muito mais. Numa palavra, para tudo aquilo em que consiste a diplomacia.

Entre a Europa e a África há uma evidente continuidade geográfica e relacionamentos históricos de séculos ou milénios, a par de esperanças e ameaças comuns. Para além disso, todos os anos, a miséria que grassa a Sul do Mediterrâneo traz-nos vagas crescentes de imigrantes em número superior àquele que conseguimos integrar.

Deveremos esperar que sobre o continente africano brilhe o sol radioso da democracia e dos direitos humanos para encetar o diálogo com África?

Choca-nos a brutalidade das ditaduras que sobrevivem na maioria dos países africanos, mas a verdade é que, há apenas dois séculos atrás (e, nalguns casos, há apenas algumas décadas), não era muito diferente a situação na Europa.

É de esperar que os países africanos, cujas estruturas sociais foram estraçalhadas pela colonização, farão o seu caminho natural, tal como nós o fizémos, sem imposições externas. Mas agradecer-nos-ão sem dúvida que, ao contrário do que tantas vezes aconteceu no passado um pouco por todo o Mundo, a Europa e os Estados Unidos não prejudiquem a afirmação das forças democráticas quando elas tiverem poder para tal.

Primeiro, não fazer mal: é esse o lema dos médicos, e deve ser também o da União Europeia no seu relacionamento com África. Outro é, já se sabe, o entendimento daqueles que gostariam de transformar a cimeira numa espécie de exame oral em que os líderes africanos viriam prestar publicamente contas às antigas potências do que têm andado a fazer.

O egoísmo de roupagem humanista que se converteu desde o início dos anos 90 no discurso oficial dos Estados Unidos e dos seus seguidores europeus em relação aos países subdesenvolvidos não passa de uma forma hábil de reciclar numa linguagem aceitável para a consciência contemporânea a velha agressividade dos imperialistas que queriam e querem submeter o Mundo inteiro aos seus interesses mesquinhos.

É ou não é?

Pergunta Pedro Caeiro no Mar Salgado:
A categoria do "politicamente correcto" continua a fascinar-me. É politicamente correcto dizer bem ou dizer mal de Mugabe e de Chávez? E o que dizem os que execram o politicamente correcto?
Ser ou não ser "politicamente correcto" não tem originariamente nada a ver com "parecer bem" ou "parecer mal" (nem tampouco, acrescente-se com "bem pensante" ou "convencional"), embora no linguajar português tais expressões sejam cada vez mais utilizados como sinónimas. Nos EUA, "politicamente correcto" será, por exemplo, proibir as praxes académicas - uma ideia repugnante, como todos sabemos.

7.12.07



Hyeronimus Bosch.

Um homem simples

Súbito ataque de lucidez de Vasco Pulido Valente no Público de hoje: "Se, de facto, sou 'pessimista', parece que nisso, pelo menos, não sou diferente do resto país."

Tirando saber ler e escrever - prenda que, na presente conjuntura cultural, não pode nem deve ser subestimada - VPV é de facto um típico português.

E, na realidade, para identificarmos os traços mais marcantes da alma lusitana basta darmos uma olhada à prosa que hoje nos serve. Vejam só:

1. Resignação: "Ninguém, ou quase ninguém, acredita no futuro." (Ele não acredita, logo quase ninguém acredita.)

2. Choraminguice: "De onde vêm estas trevas? Primeiro, de onde sempre vieram - da miséria." (Quem não chora, não mama.)

3. Manha: "Costumo ser descrito como 'pessimista', uma palavra que irrita e que não sei exactamente o que significa, como coisa distinta de 'crítico' ou de 'realista'." (Truque para fugir ao assunto.)

4. Desprezo pelos factos: "Os portugueses preferem [segundo o estudo citado] a honestidade ao poder. Por outras palavras, não querem mudar o mundo, porque desconfiam da mudança." (Repare-se como a conclusão não tem nada a ver com a premissa.)

5. Auto-satisfação: "A 'Europa' continua longe, o país continua 'fechado', a desigualdade aumenta. Pessimismo ou realismo?" (Ele bem avisou.)

Resta, é claro, como inconfundível traço de portugalidade, uma má educação tão ingénua, tão espontânea, tão pura, tão genuina, tão pouco ensaiada, que chega a comover. Mas não se pode fazer-lhe justiça citando frases isoladas.

"Explica-me como se eu fosse muito estúpido"

Imaginem um blogue colectivo de esquerda onde alguém, digamos A., tem dúvidas sobre se a Coreia do Norte deverá ser considerada uma ditadura, adora Hugo Chavez, justifica os crimes cometidos pelas FP 25 e, em noites de lua cheia, chega a entoar odes a Staline. Suponham agora que um outro colaborador do mesmo blogue, chamemos-lhe T., se insurge contra a complacência dos seus companheiros em relação às opiniões de A. e faz notar que isso descredibiliza os ideais que partilham.

Em consequência, T. é afastado e A. adquire maior peso. Os restantes membros do blogue, evitando tomar posição sobre a substância das opiniões de T., resmungam que não perceberam onde ele quis chegar, que os posts dele são trapalhões e que, ademais, como toda a gente sabe, trata-se de um maçador.

Que conclusão tirar sobre a natureza e as inclinações desse blogue e de quem lá escreve?


Cecil Beaton.

Estamos a progredir

O Maradona, que "não tinha percebido nada" do que o Tiago Mendes escreveu, foi finalmente iluminado com este resumo da minha modesta autoria.

Pois é, pois é: esse meu post sob forma de diálogo não pretendeu exprimir o meu pensamento sobre o assunto. Limita-se a condensar o do Tiago, de tal forma que em vários pontos reproduz frases inteiras palavra por palavra.

Por que me dei eu a esse trabalho? Precisamente para que as pessoas interpeladas pelas afirmações do Tiago Mendes não possam, com os pretextos mais diversos (falta de clareza, ataques pessoais, mania de embirrar, etc.), continuar a alegar não terem percebido o que foi dito para se furtarem ao debate.

Como, modéstia à parte, a capacidade de síntese é um dos meus pontos fortes, pareceu-me tratar-se de uma tarefa talhada à minha medida. Porém, como só ao Tiago caberá decidir se o resumo é ou não fiel ao que ele pensa, é claro que a responsabilidade do texto não pode ser-lhe atribuída.

Que tive êxito no meu propósito, eis o que parece óbvio. Não só o Maradona viu a luz, como por aqui também já houve quem entendesse. Estamos a evoluir.

Quanto ao resto, o post do Maradona não passa de um arrazoado sem propósito nem método que certamente não deixará de dispor bem quem, antes de mais, quer evitar as questões que tão oportunamente foram postas sobre a mesa.

Resumindo (cá vou eu outra vez), o Maradona só tem para nos servir o estafado e oportunista argumento da simetria: quem são vocês para criticar, se à esquerda também há tanta flor que não se cheira?

Ora a questão não é reconhecer-se que na nossa área política genericamente considerada haja posições que nos repugnam política e eticamente, mas sim saber-se se podemos e devemos calar-nos quando elas são expressas com crescente impudor. Aceitamos ser confundidos com elas? Optamos, em nome da unidade, por silenciar as divergências? Mas não correremos, desse modo, o risco de comprometer os ideais que verdadeiramente nos importam?

Estas são, a meu ver, as questões que o Tiago Mendes colocou. Muito mais determinantes do que elas, porém, foi a incomodada reacção que suscitaram. Porque demonstrou à evidência a decisão que certas pessoas tomaram de persistirem contra ventos e marés no rumo que ele veio a público criticar.

E é isso que, provavelmente, fará deste episódio um momento de viragem.

Última hora: mais gente que viu a luz.

6.12.07

Assobiar para o ar

João Galamba, no Metablog:

"O simples facto de a maioria das pessoas que reagiram negativamente ás críticas do Tiago terem ignorado a substância daquilo que foi realmente escrito, revela que uma parte significativa da Direita a que o Tiago pensava pertencer não está interessada em clarificações ideológicas e debates internos estruturais."


Richard Avedon
.

Eles sabem-na toda

- Certa direita, embora goste de se proclamar liberal, não faz senão envergar roupas novas para disfarçar ideias e gestos antigos. O resultado é uma mistura confusa e intragável de saudosismo, conservadorismo moral e libertarianismo económico. Isto torna-se evidente na sua ambiguidade em relação ao PNR; nas tiradas boçais em relação a Pinochet, Salazar ou McCarthy; na crueldade e insensibilidade perante o sofrimento alheio; ou ainda no mal disfarçado entusiasmo perante supostas confirmações científicas da existência de raças inferiores. Não, não se trata de meras excentricidades ou de elementos acessórios em relação a uma posição de direita respeitável, séria, educada, bem fundamentada, coerente e intelectualmente "brilhante". Não basta defender-se "menos estado" e "mais liberdades económicas" para se ser liberal, menos ainda quando as motivações para essa defesa são, no mínimo, pouco claras. Que direita europeia respeitável é que, hoje em dia, olha para as mudanças que vão ocorrendo na economia e na sociedade desta forma dogmática, tão pouco compassiva e inclusiva? E não, as diferenças não se reduzem aos ditos "temas fracturantes" - apesar disso facilitar muito o contra-ataque de alguns cérebros muito pouco potentes, que, nos seus patrulhamentos, cheios de processos de intenção, quando não má criação, vêem "politicamente correcto" em tudo quanto é sítio.

- Não percebi nada...

- Eu também não. Este tipo é um chato!


Richard Avedon.

5.12.07

Quente, quente...

Pedro Lomba - membro do Conselho Editorial da Revista Atlântico - numa caixa de comentários do Blogue Atlântico:

"Chego tarde a esta polémica. Nem percebi nada. Mas gostava de dizer que o Tiago [Mendes] é uma das boas razões (e eu que sou um individualista radical) que me fazem continuar a querer pertencer a um grupo a que temos vindo a chamar “a direita” mas a que, se calhar, devíamos chamar outra coisa."

Bem visto. Se calhar, deveriam mesmo chamar-lhe outra coisa - até porque já toda a gente percebeu que vocês são mesmo outra coisa.

Os novos inocentes úteis

"A propósito da cimeira UE-África que amanhã começa em Lisboa, vários escritores subscrevem uma carta aberta denunciando o facto dessa reunião magna não ter inscrito, e cito, «duas das piores tragédias humanitárias do mundo, a do Zimbabwe e a do Darfur», na sua ordem de trabalhos." Ler o resto do comentário de Eduardo Pitta intitulado "Tudo no mesmo saco?" aqui.


Irving Penn.

Nota 20

Luis Jorge, no Vida Breve:

"Ao Tiago Mendes resta um consolo: não é só ele que sai, o engenheiro Jardim Gonçalves também. Até breve, darling."

O fado do moralista

Um moralista é um sujeito implacável em relação à fraquezas alheias, mas muito compreensivo para com as suas próprias falhas. É por isso mesmo que o moralismo não deve ser confundido com o comportamento ético.

No seu editorial de hoje, o Director do Público argumenta, a propósito da patética manchete do seu jornal na 2ª feira passada:

1. Que houve mais ("Estado de São Paulo") quem se enganasse;

2. Que o seu amigo e jornalista brasileiro Alberto Dines escreveu um artigo sobre o assunto;

3. Que as críticas que recebeu são ideologicamente motivadas;

4. Que o erro cometido é inerente ao risco de fazer jornalismo;

5. Que a responsabilidade do erro foi de "um dos membros da direcção com mais experiência", não dele;

6. Que os escrúpulos do jornal têm-no inibido de comentar assuntos como a composição da futura administração da RTP ou a antecipada remodelação do Governo;

7. Que tem também evitado especular em torno do caso Maddie.

Infelizmente para o argumento de Fernandes, o caso é que o Público deu uma notícia falsa, quando poderia ter dado uma verdadeira, bastando para isso que, em vez de anunciar o pretenso resultado final do referendo, anunciasse a previsão das sondagens.

Por que não o fez? Porque se desabituou do rigor informativo. É esta, creio eu, a lição a tirar do sucedido.

A vida é dura

Extracto do Estatuto Editorial do Blogue Atlântico:

"É aceitável insultar-se Maomé ou o Príncipe herdeiro de Espanha, mas não o André Azevedo Alves."

Por que será? Pensem.

4.12.07

Isto não promete nada de bom

António Costa quase se limitou, nas eleições intercalares para o município lisboeta, a pedir que lhe passassem um cheque em branco. Tudo indica que a sua ideia é voltar a pedir outro no próximo acto eleitoral.

Digo isto porque, independentemente das trapalhadas do PSD, Costa não tem de facto o direito de propor à Assembleia Municipal o recurso a um empréstimo de 500 milhões de euros (ou 400, pelos vistos tanto faz) sem primeiro esclarecer como tenciona pagá-lo.

Posso ter andado distraído, mas quer-me parecer que, passado meio ano, a nova vereação não só não nos explicou como tenciona reduzir as despesas da Câmara Municipal de Lisboa como, ao endossar o megalómano projecto de recuperação da Baixa-Chiado, parece disposta a aumentá-las ainda mais.

Já se percebeu que Costa contava com o ovo no cú da galinha. Para ser mais explícito, apostava na transferência de terrenos ribeirinhos hoje sob a alçada do Porto de Lisboa para a tutela da Câmara, antecipando receitas capazes de tirá-la do buraco financeiro em que João Soares a enfiou.

Felizmente para todos nós, essa operação revelou-se bem mais complicada do que estava planeado - e digo felizmente porque temo que a Câmara faça à beira-rio o que fez nos últimos vinte anos ao resto da cidade -, pelo que António Costa vai ter que inventar algo mais sólido.

A minha esperança é que António Costa e a sua equipa se decidam finalmente a começar a trabalhar, mas não tenho muita esperança. Estas coisas, quando começam tortas, é muito difícil irem ao sítio.

Desprazer em conhecer

Palavras de Tiago Mendes na sua despedida do Blogue Atlântico:
"Como escrevi, há uma ‘fractura’ indisfarçável nos liberais (repito, não me refiro à Atlântico) e que com essa confusão "continuaremos a confundir liberalismo com os gestos antigos e mal reciclados dos que tudo fazem para que a liberdade não sobreviva em nenhuma das suas várias dimensões".(...)

"O que escrevi sobre o que tem escrito o André Azevedo Alves não foi motivado por "um" post dele recente, mas sim por um acumular de escritos na blogosfera que primam pelo saudosismo, conservadorismo moral e libertarianismo económico - um estado ausente que seja um menor impedimento ao "programa moral" da instituição que inspira o André. Nem a "direita sociológica" de que fala (e que ninguém lhe desdenhe a autoridade) Jaime Nogueira Pinto será tão extremista e conservadora como esta."(...)

"A ambiguidade em relação ao PNR, as tiradas boçais em relação a Pinochet, Salazar ou McCarthy, a crueldade e insensibilidade perante o sofrimento alheio (os incontáveis post dele sobre os palestinianos são exemplo disto, como seria a série anti-LGBT), os links "anódinos" sobre a ciência que talvez "mostre" que os pretos são menos inteligentes, não são "meras excentricidades" ou elementos acessórios em relação a uma posição de direita respeitável, séria, educada, bem fundamentada, coerente e intelectualmente "brilhante" que o André Azevedo Alves supostamente representa." (...)

"Não basta defender-se "menos estado" e "mais liberdades económicas" para se ser liberal ("adjectivo"), menos ainda quando as motivações para essa defesa são, em parte, oriundas de um grandioso projecto religioso. Que direita europeia respeitável é que, hoje em dia, olha para as mudanças que vão ocorrendo na economia e na sociedade daquela forma, dogmática, tão pouco compassiva e inclusiva? E não, as diferenças não se reduzem aos ditos "temas fracturantes" - apesar disso facilitar muito o contra-ataque de alguns cérebros muito pouco potentes, que, nos seus patrulhamentos, cheios de processos de intenção, quando não má criação, vêem "politicamente correcto" em tudo o que é sítio. Tratam-se de escolas liberais muito diferentes, com fundações muito distintas. São as diferenças nas raízes que importam, não podemos olhar apenas para os ramos e para as flores."(...)
Isto da direita, digo eu, não há nada como conhecê-la pessoalmente.

O tempo circular

Cem anos depois, na Rússia, o Partido Comunista volta a ser a principal força de oposição ao poder czarista.

30.11.07

The Hollies: Look Through Any Window

The Hollies: Bus Stop

The Hollies: Stop Stop Stop

The Hollies: Here I Go Again




Hans Knoll.

29.11.07

A língua a quem a trabalha

O galaico-português é uma língua enjeitada que tem tido a sorte de encontrar bons pais adoptivos.

Os galegos, que a inventaram, abandonaram-na ainda novita e nunca mais quiseram saber dela. Por sorte, foi encontrada pelos portugueses, que, levando-a pela sete partes do Mundo, lhe asseguraram um bom futuro.

Cresceu e tornou-se a sexta língua mais falada do planeta. Hoje, são os portugueses que pouco dela curam, mas, mais uma vez, teve a boa sina de ser adoptada, agora pelo Brasil, um país com uma batelada de gente lá dentro que, ainda por cima, lhe faz o favor de reinventá-la todos os dias.

O galego passou a português e, um dia, chamar-se-á brasileiro, porque uma língua é de quem a trabalha. O melhor que temos a fazer é apanhar esse comboio e ir negociando com os brasileiros acordos ortográficos - enquanto eles tiverem pachorra para nos aturar.

Por cá, a habitual caterva de mandriões andou a dormir durante duas décadas - tal qual como no caso da Ota - para agora, à ultima hora, barafustar argumentos insensatos contra a uniformização ortográfica.

Força com o acordo!

Sobressaltos da badalhoquice



Oh, a poesia do uísque marado, da bola de berlim rançosa, do salpicão apodrecido, da ginginha clandestina, da febre de Malta, do excremento de cão no passeio, da roupa suja à janela, dos despejos lançados pela varanda, da unha comprida a coçar o ouvido, da barraca com vista para a lixeira - nos meus bloges inflamados, nos meus discursos na Assembleia, nos meus artigos de opinião, eu digo o teu nome: Liberdade!

28.11.07

Andar de Volkswagen dá de comer a um milhão de portugueses



Os publicitários têm o hábito admirável de só consumirem as marcas suas clientes naquelas categorias de produto em que elas competem. Não podia concordar mais com o princípio.

Primeiro, é uma boa maneira de conhecerem mais intimamente essas marcas.

Segundo, é um acto de boa educação.

Terceiro, é uma prova de inteligência. Afinal, são elas que lhes pagam o pão que comem.

Depois, isso não implica necessariamente grandes sacrifícios. David Ogilvy foi votado o homem mais bem vestido da América no ano em que a sua agência ganhou a conta da Sears Roebuck, um retalhista bem popular. Mas é claro que ficou bem mais feliz por seguir a regra quando a Rolls-Royce aterrou na agência.

Penso que os portugueses em geral deveriam adoptar a mesma regra. Por quê comprar Renaults, se a Renault se portou tão mal com o país? Por que é que não há mais gente a comprar Volkswagens, Seats, Skodas, Audis ou, se querem coisa mais fina, Bentleys, Porsches, Lamborghinis ou Bugattis se é o Grupo Volkswagen que demonstra gostar de nós investindo e criando postos de trabalho na Auto-Europa e em todos os fornecedores nacionais de peças e acessórios que adquire? Outro comportamento parece-me pura e simplesmente estúpido.

(Cá por mim, para a lista atrás ser completa só faltam os Maserattis. Mas, enfim, ninguém é perfeito.)

Na foto: o Bugatti Veyron.

27.11.07

The Flying Burrito Brothers: Lazy Day

The Flying Burrito Brothers: Six Days on the Road

26.11.07



Frank Horvat
: Very similar.

"It is better when physicians worry too much about a patient's health than when they worry too little"

Reflexões de Paul Samuelson sobre a actual crise financeira:
Today, central bankers and U.S. Treasury cabinet officers cannot know whether current interest rates are too high or too low. This is surprising, but true. The safest bond interest rates are indeed low. But financial panic engendered by the burst bubble of unsound U.S. and foreign mortgage lending means that even a mammoth corporation like General Electric would find it expensive now to finance a loan needed to build a new and efficient factory.

(...) Here are my tentative suggestions:

Watch developments closely. If America's Christmas retail sales fail badly - as they could when high energy prices and high mortgage costs pinch consumers' pocket books - then be prepared to accelerate credit infusions by central banks on the three main continents.

Keep in mind threats of excessive inflation. But be aware that the skies will not fall if the price-level indices blip up from 1.9 to 2.6 percent per annum. What worsens the public's expectations about price instability are excessive spikes in the cost of living.

Esse troféu não é teu

"Sou a pessoa que eu conheço menos capaz de ver um filme em dvd do princípio ao fim", diz o Ivan. Estás enganado, pá, estás enganado.


Frank Horvat: Very similar.

Imaturidade política

"O Partido Socialista está objectivamente a enfraquecer a nossa democracia permitindo e patrocinando o que de pior há entre os seus piores apoiantes envolvidos no aparelho do Estado. Temo que estejamos a caminhar no sentido oposto ao indispensável à maturidade política do nosso regime. Um processo cujo tempo e urgência percebo como comparáveis aos do tão acarinhado desafio de equilíbrio orçamental."

Rui Branco, no Adufe.

Os mitos da economia portuguesa



Li ontem à noite, de um fôlego, este livro altamente recomendável de Álvaro Santos Pereira, blogger e Professor de Economia.

Estribado nos factos relevantes e suportado por uma evidente familiaridade com a teoria económica relevante, Santos Pereira desmonta eficazmente uma boa parte da conversa da treta sobre competitividade externa, níveis salariais, produtividade, ameaça espanhola, fundos estruturais e temas similares com que todos os dias somos bombardeados.

A ler por toda a gente que se interessa por assuntos económicos, e, antes de mais, pelos jornalistas da especialidade.

25.11.07



Irving Penn.

À atenção de Bento XVI

Interrogado pelo Diário Notícias sobre qual é, para ele, o objecto indispensável, Ricardinho, a estrela da selecção nacional de futsal, não só se esqueceu de mencionar o preservativo, como respondeu isto:

"O telemóvel e o crucifixo."


Na crença de Ratzinger, a afirmação roça a blasfémia. Um sacerdote dessa persuasão admoestaria severamente Ricardinho e condená-lo-ia a um Padre-Nosso e três Avé-Marias. Se fosse mais caridoso, dar-se-ia ao trabalho de explicar-lhe em que consistira o pecado e o artista da bola prometeria não reincidir.

Na religião popular portuguesa, a contradição resolver-se-ia com o download para o telemóvel de um écrã representando Nossa Senhora e de um toque polifónico do hino "13 de Maio".

É só uma ideia

Se o Kadafi pede para ser instalado numa barraca, se calhar podemos invocar o precedente para alojar o Mugabe na Pedreira dos Húngaros.

23.11.07

Campos e Cunha e a Estradas de Portugal SA

Já aqui confessei que não entendo as explicações do Governo para a passagem da Estradas de Portugal a sociedade anónima de capitais públicos.

É justo acrescentar que, em matéria de obscuridade, Luis Campos e Cunha não fica a dever nada ao executivo.

O seu artigo de hoje no Público é uma trapalhada confrangedora, sobretudo tendo em conta que quem o assina é um professor universitário de créditos firmados. Sim, aparentemente é possível uma pessoa ser altamente competente e inteligente, apesar de não saber escrever. Como é complicado este mundo!

21.11.07

O empate foi um resultado honroso

Se vi o jogo? Eu não preciso de ver aquilo que consigo perfeitamente imaginar.


Frank Horvat.

20.11.07

Ainda sobre os rankings

Há dias, o Abel Baptista fez-me notar em conversa que é possível treinar-se as criancinhas para obterem melhores resultados em testes sem que isso implique uma melhoria da sua educação. Imaginem o meu sobressalto quando há dias li este parágrafo nas páginas 146 e 147 do Modern Firm: Organizational Design for Performance and Growth de John Roberts, Professor de Economia, Gestão Estratégica e Negócios Internacionais na Graduate School of Business da Universidade de Stanford:
A popular proposal would pay US public teachers more if their students do better on standardized tests. In contrast, teachers' pay is now usually based on credentials and experience, so the explicit, financial incentives for performance are quite weak (although intrinsic motivation is obviously real and important). Proponents of the proposed reform argue that providing stronger incentives would lead to better performance by teachers and their pupils. In all likelihood it would, in fact, lead teachers to do more of whatever it takes to help their students do well on tests, particularly if the performance element of pay were substantial. However, it would also likely lead them to spend much less time and effort on things that are not measured on the tests. Indeed, in California, where schools' fundings is tied to student performance on standardized tests of mathematics and reading, there are claims that teachers have de-emphasized teaching other sibjects, even though their pay is not directly affected by the test results. Some of these other things may be very important. They include not only other academoc subjects (which could possibly be included in the testing), but also things hard to measure, like helping develop students' characters, teaching ethical behavior, and encouraging good citizenship. Measuring what teachers do on these dimensions in a relatively precise and timely fashion seems very problematic. So merit pay based on test performance is likely to drive these out, although they are provided in the absence of explicit incentives. Even worse, it might lead the least scrupulous teachers to fund inappropriate ways to ensure their students succeed, such as getting hold of the test questions in advance. There actually have been some instances of such behavior in New York state, where performance on the state examinations at the end of high school is hugely important.
Para que não haja dúvidas, o que ele aqui nos diz é que não só a remuneração dos professores em função dos resultados dos testes dos seus alunos, como a mera valorização das escolas com base nesse indicador conduzirá, muito provavelmente, a resultados perversos. Para ser mais específico, provocará a degradação da escola pública.

Convém também perceber o contexto em que surge esta informação. John Roberts não é um economista qualquer: trata-se de um dos maiores especialistas mundiais em economia das organizações e, muito em particular, na teoria dos incentivos. A citação que aqui deixo foi extraída precisamente do capítulo "Motivation in the Modern Firm", no qual ele discute o modo como os incentivos podem ou não funcionar e e em que condições. Portanto, Roberts não é, bem pelo contrário, alguém que se oponha por razões de princípio à gestão por objectivos ou à utilização de incentivos monetários para premiar o esforço nas organizações.

A obra citada supera muito provavelmente neste momento tudo o que se encontra publicado sobre o tema, razão pelo qual foi considerada em 2004 pelo Economist como o melhor livro de gestão do ano.

Pois é, isto da gestão por objectivos é mais complicado do que parece. Nas mãos de gente dada ao honesto estudo e à ponderação, pode contribuir para melhorar a situação de partida. Nas mãos de selvagens ignaros, pode conduzir à barbárie.


Robert Longo: Hell's Gate.

19.11.07



Richard Avedon.

Dizes-lhe tu ou digo-lhe eu?

Pelo que li, o encontro entre o Papa e os bispos portugueses deve ter sido uma conversa de surdos.

Ratzinger, que só conhece o mundo dos livros - ainda por cima santos - não suspeita que o catolicismo popular português é, para todos os efeitos, uma religião diferente daquela em que ele foi educado na sua Alemanha natal.

Com as suas promessas, benzeduras, relíquias, esconjuros, penitências, ex-votos, terços e procissões, a religião tradicional portuguesa deve ser a coisa mais parecida com o paganismo da Antiguidade Clássica que ainda se pode encontrar na Europa.

Acontece que, com o tsunami social que o país sofreu nos últimos anos, as condições sociais que davam sustentação a essas crenças despareceram de uma vez por todas. Tinha afinal razão Afonso Costa: o catolicismo que ele conheceu desapareceu para todos os efeitos práticos antes de terminado o século vinte.

A presença da Igreja portuguesa entre o povo reduz-se hoje aos terços pendurados nos retrovisores que constituem a verdadeira previdência rodoviária, às cerimónias de benção das pastas dos universitários finalistas e às faustosas festas de casamento e baptizados que sinalizam a ascensão social dos promotores.

Da vivência popular desapareceu qualquer traço de religiosidade genuína, para sobrar apenas a superstição.

De resto, a única coisa que parece mobilizar a Igreja é a moral sexual - um tema que, precisamente, pouco entusiasma os homens e as mulheres de hoje.

Alguém terá coragem para explicar isto a Bento XVI?

Homem ao mar

Por que será que o bacalhau desempenha um papel tão relevante na nossa gastronomia, quando para pescá-lo é preciso navegar milhares de quilómetros rumo ao Norte?

Primeiro, porque há séculos que aqui perto não há peixe suficiente para alimentar a população. Segundo, porque temos grandes reservas de sal para conservar o peixe seco.

Uma pessoa sente-se tentada a pensar que o mar que nos calhou em sorte não se destaca pela generosidade.

O mar tem inspirado em Portugal muita poesia, nem sempre de grande qualidade. Para além disso, tirando o já longínquo comércio do sal, a sua contribuição para o bem-estar do país reduz-se à qualidade das praias, a qual por sua vez originou, por via do turismo, o maior surto de prosperidade de todos os tempos.

Desgraçadamente, os portugueses acham pouco digno um turismo baseado em sol e praia, pelo que se esforçam por atrair visitantes com coisas em que o país é pobre, como sejam o património cultural e artístico. Deve ser por por isso que desdenham, como preocupação menor, limpar os areais de todas as lixeiras e construções clandestinas que os atulham do Minho ao Algarve.

Apesar de todas as evidências, não dá sinais de esmorecer o mito segundo o qual o mar é a nossa grande riqueza. O assunto excita particularmente Presidentes da República - em tempos Soares, agora Cavaco - sinal seguro de que não têm muito com que se ocupar.

Cavaco exige mais atenção ao Mar (assim mesmo, com maiúscula) e o assunto faz as parangonas dos jornais por um dia. Queremos apostar, ao que parece, na investigação oceanográfica, na biologia marinha, nas energias das marés. Na limpeza das praias e no ordenamento do litoral é que não.

Confusões

"Eu posso achar que Hitler segue mau caminho. Mas todos os sinais dizem que os alemães estão satisfeitos com a sua escolha. A democracia é isto."

Faz algum sentido? Pois é, e isto também não.

16.11.07

The Righteous Brothers: You've Lost That Lovin' Feeling

The Righteous Brothers: Unchained Melody

15.11.07

O que representa Hugo Chavez



Sim, é verdade: eu não compreendo a compreensão que algumas pessoas se esforçam a todo o custo por manifestar em relação a Hugo Chavez.

Reservem essa compreensão, se quiserem, para com o povo venezuelano; mas, por favor, não a estendam ao seu Presidente.

Política e ideologicamente, Chavez é um nacional-socialista, o que significa que é primeiro nacionalista, e só depois socialista.

Ganhou eleições como Hitler no seu tempo as ganhou. Isso não faz dele um democrata, porque as liberdades de expressão e de associação, entre outras, foram apenas instrumentos que usou habilmente para chegar onde chegou. Hoje, pode dar-se ao luxo de deitar fora a escada.

Dêem-lhe tempo, e ele inevitavelmente encontrará os seus judeus, muito provavelmente quando o preço do petróleo se afundar e se tornar para todos evidente que, presentemente, a Venezuela não tem mais recursos para alimentar o seu povo.

Recordar é viver

As palavras e os actos

Argumentando que certas coisas não se negoceiam, Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, anunciou que, embora não tencione punir os médicos que pratiquem abortos nas condições previstas na lei, o organismo a que preside recusa-se a mudar o seu Código Deontológico.

Compreendo: para a Ordem, como para um certo catolicismo que preza mais os rituais do que o respeito por Deus e pelos homens, a ética é aquilo que se diz e escreve, não aquilo que se faz. De modo que estará tudo bem, na condição de que o discurso moralista não saia beliscado.

Não há por que nos admirarmos. Esta tomada de posição está de acordo com a prática a que a Ordem nos habituou: muito firme nas declarações abstractas, descontraída em extremo quando se trata de punir as violações dos princípios deontológicos de que se diz guardiã.

"Sepulcros caiados de branco" - não era assim que S. Paulo lhes chamava?

14.11.07

Algumas perguntas sobre a Estradas de Portugal

O facto de a oposição não parecer capaz de dizer qualquer coisa de sério sobre o projecto do Governo para a Estradas de Portugal não o converte automaticamente numa boa ideia.

Começando pelo princípio, desentendo os propósitos e fundamentos do que agora se pretende fazer.

Se a ideia não é esconder défices - e eu estou inclinado a acreditar nisso - qual será ela então?

O que é que se ganhou em transformar o anterior instituto em empresa pública e, agora, em sociedade anónima de capitais públicos?

Que sentido faz, em geral, criar empresas públicas cujas receitas resultam, na totalidade ou quase, de transferências provenientes do orçamento de Estado?

Qual a motivação de concessionar a exploração das estradas à empresa a criar ao mesmo tempo que se admite a possibilidade de abri-la à participação de capitais privados?

Que ganhos de eficiência se esperam dessa abertura ao capital privado?

Alguém acredita que um monopólio privado funciona melhor do que um monopólio público?

Como resistir, depois de implantado o modelo, à tentação de proporcionar à empresa novas fontes de receita para ajudá-la a assegurar a sua rentabilidade? Não teremos nós já no país exemplos que bastem desse efeito perverso?

Acima de tudo, como espera o Governo estimular os capitais privados a assumirem riscos investindo em projectos inovadores e de valor acrescentado para o país, se o mesmo Governo insiste - como o comprovam este caso e o da adjudicação da construção e exploração do novo aeroporto de Lisboa - na prática tradicional de lhes arranjar negócios altamente rentáveis e de risco nulo?

Parece-me difícil contestar que, ao enveredar pelo caminho anunciado, o Governo escolheu uma via de consequências imprevisíveis mas potencialmente graves para o país, que, pior ainda, ficarão connosco por muitas gerações.

Pode ser que o executivo tenha boas razões para isso. Por mim, só vislumbro uma: a eventualidade de se prever um agravamento tão dramático da situação financeira da Estradas de Portugal que se torna inevitável uma injecção urgente de vultuosos capitais, sendo que, não querendo ou não podendo o Estado assumir essa responsabilidade, não lhe resta outra opção senão pedir a ajuda dos privados.

Se é isso, torna-se imperativo que seja dito com toda a clareza. Por duas razões: para podermos responsabilizar as políticas e os políticos que nos conduziram a esta situação; e para podermos avaliar com perfeito conhecimento de causa os fundamentos da nova política que agora nos é proposta.

Haverá vida depois do défice?

Com o défice das contas públicas em 3% e a inflação também próxima dos 3%, é claro que, mesmo que o produto estagne, o endividamento público não cresce em proporção do PIB. Crescendo a produção, mesmo que pouco, ele começará a diminuir. Acresce que, encontrando-se uma parte da dívida pública denominada em dólares, a desvalorização da moeda americana implica a sua redução em euros.

Moral da história: o papão do défice estatal tem os seus dias contados, de modo que a insistência nessa tecla para justificar a contenção a todo o custo das despesas públicas, ou, alternativamente, a manutenção dos impostos s um nível elevado, deixou, dessa perspectiva, de fazer sentido.

Vale a pena recordar que, quando subiu ao poder, o PS criticava com razão a excessiva concentração das atenções no défice orçamental em detrimento da falta de competitividade das empresas portuguesas. Aparentemente, perdeu de vista essa perspectiva no momento em que ela mais falta nos faz.

Porque o que se passa é que, embora o défice estatal se encontre controlado, pouco se progrediu ainda do lado da balança externa das transacções correntes (exportações menos importações de bens e serviços), cujo défice, se não me engano, continua a rondar os 8% do PIB. Não se vislumbrando a possibilidade de esse saldo negativo ser nos tempos mais próximos coberto pelo investimento directo estrangeiro, o seu financiamento implica o crescente endividamento externo privado.

Ora o que isto significa é que só após um período longo de forte crescimento das exportações será possível o Estado estimular o consumo interno sem correr o risco de fomentar um novo agravamento das contas externas e, por decorrência, também do desemprego.

Dionne Warwick: Walk on By

13.11.07

Liberdade de expressão

O Presidente da Rave pronunciou-se publicamente sobre as consequências da localização do novo Aeroporto de Lisboa em Alcochete para a ligação da capital ao Porto por TGV.

José Manuel Fernandes, especialista em armas de destruição massiva, suspeita obscuras conspirações e escandaliza-se por a RAVE vir dizer o que tem para dizer.

Francisco Van Zeller, Presidente da CIP, cujo envolvimento na promoção do estudo da localização do novo aeroporto continua por explicar, denuncia as manobras da Rave para descredibilizar a opção Alcochete.

Rui Moreira, mais conhecido como comentador desportivo do que como Presidente da Associação Comercial do Porto, adepto do 4-3-3 e da Portela+1, "não admitirá" que a Rave tente desqualificar o estudo que, não se sabe a que propósito, a associação que dirige vai apresentar até ao fim do mês.

Com tudo isto, não lhes sobrou infelizmente tempo para responderem às objecções da Rave.

José Manuel Fernandes vs. Público

No Domingo, na colorida linguagem a que ultimamente nos habituou, o Público afirma que a RAVE "arrasa" o estudo da CIP para o aeroporto em Alcochete na parte relativa à rede de Alta Velocidade e às travessias do Tejo, evidenciando a sua "ligeireza" e os seus "erros crassos".

Na 2ª feira, o Director do Público arrasa implicitamente o artigo publicado na véspera, atribuindo a origem da informação nele contido a uma sórdida manobra de bastidores do Ministro Mário Lino apostado em desacreditar a alternativa Alcochete.

Problemas no balneário? Mas não seria mais apropriado lavar a roupa suja dentro de casa?

12.11.07

Esquerda moderna é...

...assistir à humilhação do republicano pelo rei e aplaudir o rei.

The Byrds: All I Really Want to Do

The Byrds: Goin' Back

The Byrds: We'll Meet Again

8.11.07

Practice makes perfect



O Binya tem vindo a praticar esta jogada nas últimas semanas no campeonato português perante a indiferença generalizada da crítica. Um amigo meu acha que, infelizmente, para um artista ver ser reconhecido o seu valor tem que ir lá para fora, de outro modo nunca conseguirá que neste país ingrato lhe mostrem um cartão vermelho.

Mas a mim parece-me que, para sermos justos, haveremos de convir que, até agora, ele não atingira ainda este grau de brilhantismo. Os grandes executantes motivam-se mais para partir pernas quando defrontam grandes adversários - nas Antas ou em Glasgow, por exemplo.


El Lissitzky.


Rodchenko.


Pevsner: Espírito.


Tatline: Monumento à 3ª Internacional, 1920.

7.11.07



Rodchenko.


Rodchenko.


Maiakovski.