Pelo que li, o encontro entre o Papa e os bispos portugueses deve ter sido uma conversa de surdos.
Ratzinger, que só conhece o mundo dos livros - ainda por cima santos - não suspeita que o catolicismo popular português é, para todos os efeitos, uma religião diferente daquela em que ele foi educado na sua Alemanha natal.
Com as suas promessas, benzeduras, relíquias, esconjuros, penitências, ex-votos, terços e procissões, a religião tradicional portuguesa deve ser a coisa mais parecida com o paganismo da Antiguidade Clássica que ainda se pode encontrar na Europa.
Acontece que, com o tsunami social que o país sofreu nos últimos anos, as condições sociais que davam sustentação a essas crenças despareceram de uma vez por todas. Tinha afinal razão Afonso Costa: o catolicismo que ele conheceu desapareceu para todos os efeitos práticos antes de terminado o século vinte.
A presença da Igreja portuguesa entre o povo reduz-se hoje aos terços pendurados nos retrovisores que constituem a verdadeira previdência rodoviária, às cerimónias de benção das pastas dos universitários finalistas e às faustosas festas de casamento e baptizados que sinalizam a ascensão social dos promotores.
Da vivência popular desapareceu qualquer traço de religiosidade genuína, para sobrar apenas a superstição.
De resto, a única coisa que parece mobilizar a Igreja é a moral sexual - um tema que, precisamente, pouco entusiasma os homens e as mulheres de hoje.
Alguém terá coragem para explicar isto a Bento XVI?
19.11.07
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