Argumentando que certas coisas não se negoceiam, Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, anunciou que, embora não tencione punir os médicos que pratiquem abortos nas condições previstas na lei, o organismo a que preside recusa-se a mudar o seu Código Deontológico.
Compreendo: para a Ordem, como para um certo catolicismo que preza mais os rituais do que o respeito por Deus e pelos homens, a ética é aquilo que se diz e escreve, não aquilo que se faz. De modo que estará tudo bem, na condição de que o discurso moralista não saia beliscado.
Não há por que nos admirarmos. Esta tomada de posição está de acordo com a prática a que a Ordem nos habituou: muito firme nas declarações abstractas, descontraída em extremo quando se trata de punir as violações dos princípios deontológicos de que se diz guardiã.
"Sepulcros caiados de branco" - não era assim que S. Paulo lhes chamava?
15.11.07
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