19.11.07

Homem ao mar

Por que será que o bacalhau desempenha um papel tão relevante na nossa gastronomia, quando para pescá-lo é preciso navegar milhares de quilómetros rumo ao Norte?

Primeiro, porque há séculos que aqui perto não há peixe suficiente para alimentar a população. Segundo, porque temos grandes reservas de sal para conservar o peixe seco.

Uma pessoa sente-se tentada a pensar que o mar que nos calhou em sorte não se destaca pela generosidade.

O mar tem inspirado em Portugal muita poesia, nem sempre de grande qualidade. Para além disso, tirando o já longínquo comércio do sal, a sua contribuição para o bem-estar do país reduz-se à qualidade das praias, a qual por sua vez originou, por via do turismo, o maior surto de prosperidade de todos os tempos.

Desgraçadamente, os portugueses acham pouco digno um turismo baseado em sol e praia, pelo que se esforçam por atrair visitantes com coisas em que o país é pobre, como sejam o património cultural e artístico. Deve ser por por isso que desdenham, como preocupação menor, limpar os areais de todas as lixeiras e construções clandestinas que os atulham do Minho ao Algarve.

Apesar de todas as evidências, não dá sinais de esmorecer o mito segundo o qual o mar é a nossa grande riqueza. O assunto excita particularmente Presidentes da República - em tempos Soares, agora Cavaco - sinal seguro de que não têm muito com que se ocupar.

Cavaco exige mais atenção ao Mar (assim mesmo, com maiúscula) e o assunto faz as parangonas dos jornais por um dia. Queremos apostar, ao que parece, na investigação oceanográfica, na biologia marinha, nas energias das marés. Na limpeza das praias e no ordenamento do litoral é que não.

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