12.12.07

Vómito e direitos correlativos

O vómito não é propriamente uma opinião, é uma revulsão. É a rejeição extrema, espontânea, involuntária e descontrolada de algo ou alguém.

Embora a CIA não reconheça que se trata de uma forma de tortura, impedir uma pessoa de vomitar é sem dúvida alguma uma crueldade. Não se diz a uma pessoa: "Eh pá, não vomites!"; diz-se-lhe, quando muito: "Vomita para o outro lado". O direito ao nojo é universal e inalienável, faz parte do núcleo central dos valores de qualquer nação civilizada.

Eu enojo-me com caracóis; o Tiago Mendes, pelos vistos, com os posts do André Azevedo Alves.

Nos bons tempos em que as crianças eram educadas com severidade, um castigo frequente para aquelas que vomitavam consistia em obrigá-las a comer o seu próprio vomitado. Algumas pessoas opinam que o Tiado deveria ser obrigado a engolir o seu vómito; outras, mais moderadas, que ele deveria ter tido o bom senso de vomitar para o outro lado.

O assunto pode ainda ser analisado de uma perspectiva distinta. Se eu acho que fulano é uma besta e escrevo: "Fulano é uma besta!", posso ter muita razão, mas a expressão literária do meu sentimento é frustre porque não transmite nada para além da minha irritação. O mais provável é que desperte escassa simpatia entre os destinatários do comentário, que eu precisamente teria interesse em atrair para o meu lado.

Do mesmo modo, se sicrano me dá vómitos e eu escrevo: "Sicrano dá-me vómitos!", não é certo que tenha dito algo de relevante, ou sequer que de facto tenha algo para dizer. Onde eu quero chegar, se ainda não me fiz compreender, é à conclusão de que a intervenção do Tiago pode e deve ser asperamente criticada de uma perspectiva estritamente estética.

Imaginemos que ele tinha antes escrito algo deste género:

"Os posts do André Azevedo Alves provocam-me uma reacção quase-alérgica: dores de cabeça, cólicas violentas, comichão em todo o corpo, vómito espesso e esverdeado exalando um odor sulfuroso a inferno, altas temperaturas durante dias a fio, estado de prostração e debilidade extrema que me impedem de sair da cama. Ainda por cima, a Junta Médica recusa dar-me baixa. O médico de família, alarmado com a repetição destes episódios, proibiu-me de me aproximar a menos de 20 metros dos posts do André Azevedo Alves sem tapar o nariz com um lenço."

Digam-me agora, consideradas as coisas sob esta nova perspectiva: será justo, humano e cristão castigar, banindo-o do convívio humano, quem assim sofre?

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