8.12.07
A Cimeira
O Reino Unido é, hoje, o país europeu com maior influência cultural, económica e militar em África. Qualquer iniciativa conjunta europeia em relação a esse continente é naturalmente encarada como uma ameaça à sua própria posição. Toda a gente compreende isto, tirando os jornalistas portugueses.
Apesar do seu passado colonial, Portugal tende a perder terreno em África: nos países de língua portuguesa porque eles procuram, como seria de esperar, novos parceiros; nos outros, porque não tem dimensão para, isoladamente, fazer seja o que for de relevo. Tem tudo a ganhar, por conseguinte, com a Cimeira Europa-África.
Encontros do género daquele que neste fim de semana tem lugar em Lisboa limitam-se a afirmar, em circunstâncias que propiciam grande visibilidade, um propósito e um compromisso. Neste contexto, há espaço para declarações de circunstância, salamaleques, abraços hipócritas, reivindicações, remoques, ameaças veladas, negociações agressivas, acordos de bastidores e muito mais. Numa palavra, para tudo aquilo em que consiste a diplomacia.
Entre a Europa e a África há uma evidente continuidade geográfica e relacionamentos históricos de séculos ou milénios, a par de esperanças e ameaças comuns. Para além disso, todos os anos, a miséria que grassa a Sul do Mediterrâneo traz-nos vagas crescentes de imigrantes em número superior àquele que conseguimos integrar.
Deveremos esperar que sobre o continente africano brilhe o sol radioso da democracia e dos direitos humanos para encetar o diálogo com África?
Choca-nos a brutalidade das ditaduras que sobrevivem na maioria dos países africanos, mas a verdade é que, há apenas dois séculos atrás (e, nalguns casos, há apenas algumas décadas), não era muito diferente a situação na Europa.
É de esperar que os países africanos, cujas estruturas sociais foram estraçalhadas pela colonização, farão o seu caminho natural, tal como nós o fizémos, sem imposições externas. Mas agradecer-nos-ão sem dúvida que, ao contrário do que tantas vezes aconteceu no passado um pouco por todo o Mundo, a Europa e os Estados Unidos não prejudiquem a afirmação das forças democráticas quando elas tiverem poder para tal.
Primeiro, não fazer mal: é esse o lema dos médicos, e deve ser também o da União Europeia no seu relacionamento com África. Outro é, já se sabe, o entendimento daqueles que gostariam de transformar a cimeira numa espécie de exame oral em que os líderes africanos viriam prestar publicamente contas às antigas potências do que têm andado a fazer.
O egoísmo de roupagem humanista que se converteu desde o início dos anos 90 no discurso oficial dos Estados Unidos e dos seus seguidores europeus em relação aos países subdesenvolvidos não passa de uma forma hábil de reciclar numa linguagem aceitável para a consciência contemporânea a velha agressividade dos imperialistas que queriam e querem submeter o Mundo inteiro aos seus interesses mesquinhos.
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