17.6.04

Baixezas

Os telejornais de domingo anunciaram com grande fanfarra a prisão do filho de uma personalidade pública, acusado de pertencer a uma rede de tráfico de drogas.

Pelos vistos, só esse, dentre todos os detidos, tinha pai e mãe. Ora eu gostava de saber com que direito se enxovalha alguém publicamente pelo facto de um familiar seu poder eventualmente ter infringido a lei.

Que interesse público determina a relevância dessa informação? Nenhum, é claro, se não cairmos no equívoco de confundir o interesse público com os interesses de certos públicos.

Dir-se-á que o facto não deve ser escondido. E eu responderei que o que está em causa é não se entender porque deve ele ser exibido.

Naturalmente, tudo isto faz parte da guerra prolongada de alguns media (de cada vez mais media) contra os políticos, aos quais parecem querer disputar a legitimidade da representação popular.

Estava eu mergulhado neste pensamentos quando hoje, ao abrir o Público, dei de caras pela enésima vez com uma notícia sobre a já célebre acusação contra «o cunhado de Guterres». Mas a que propósito, pergunto eu, é que o nome de Guterres tem que ser invocado, se o dito cunhado tem um nome próprio que consta no seu bilhete de identidade?

Que estas coisas aconteçam no 24 Horas ou na TVI, ainda vá lá... Mas no Público?

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