26.6.04

O que se espera de Jorge Sampaio

Nas actuais condições, agravadas pelo desastre eleitoral de há poucas semanas atrás, quem aceitar liderar um novo governo da coligação só pode ser: a) alguém com um elevadíssimo sentido do serviço público; b) um aventureiro oportunista.

Em teoria, há certamente muitas pessoas do tipo a) na área política do PSD. Na prática, porém, nenhuma delas se chegou à frente.

Resta, portanto, a solução tipo b), que é a que de facto está em cima da mesa.

As discussões a que até aqui assisti nos media encontram-se eivadas do estúpido formalismo que tantas vezes domina o debate público entre nós. Aparentemente, o que interessa saber é se o PSD tem ou não o direito de formar um novo governo dado que dispõe de uma maioria inquestionável no parlamento.

Peço muita desculpa, mas nada disso é relevante. A questão, a verdadeira questão, é que o primeiro-ministro que nos querem impingir – e que o Expresso e a SIC já se encarregaram de nomear – chama-se Santana Lopes. Ora é isso que eu - e, imagino, muitos como eu embora com diferentes inclinações políticas – não estão dispostos a aceitar, porque se trata de alguém que não tem as mínimas condições para dirigir nenhum governo deste país, por muito medíocre e desqualificado que ele seja.

Falta acrescentar que, nos termos constitucionais, a responsabilidade de designar o primeiro-ministro compete apenas e só ao Presidente da República, não a Durão Barroso nem ao PSD, e muito menos aos jornais que ele controla.

Que o primeiro vice-presidente do PSD seja Santana Lopes é lá um problema deles, que pelos vistos não têm respeito por si próprios. Já o chefe do governo é um problema de todos nós, que manifestamente não fomos de forma nenhuma escutados acerca dessa pretensão.

Em quem votámos, isso sim, foi no Presidente da República, pelo que temos o direito de esperar dele que não pactue com a contínua degradação da vida pública portuguesa sob pretextos irrelevantes, como seja o da alegada estabilidade governativa que, como é evidente, não pode existir quando vários dos actuais ministros se recusam a trabalhar com a figura que o seu partido se prepara para entronizar.

O Presidente da República tem o direito de exigir que o PSD lhe sugira nomes que mereçam um mínimo de credibilidade. Se assim não for, terá então o dever de convocar eleições antecipadas e de pôr fim a este carnaval. Se o Presidente da República for incapaz de se afirmar numa altura destas, então deveremos concluir que não serve para nada, e que a abstenção é a única atitude racional quando voltarem a pedir-nos para escolhermos um.

Vamos aguardar.

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