Certos excêntricos sentem-se no direito de não apreciar futebol, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.
«É uma questão de gosto, pronto, o que é que isso tem?», dizem eles.
Questão de gosto? E ser daltónico, também é uma questão de gosto?
Um sujeito daltónico não pode apreciar a Paula Rego. É um diminuído físico que, por esse facto não tem acesso a algumas das melhores coisas da vida.
Do mesmo modo, quem não gosta de futebol não pode entender muito do que se passa na sociedade que habita. É um tipo especial de handicapé que merece a nossa comiseração.
O gostar de futebol é fruto da curiosidade, que é filha da inteligência e mãe do saber.
A mim, o futebol, mais -- muito mais -- do que agradar-me, fascina-me, porque o que tem para ver é infinito. Inclusivamente, a necessidade de ver bem uma parte implica que não se vejam outras, por muitos replays que façamos.
As perspectivas possíveis são múltiplas e igualmente aliciantes. Há tipos que só se interessam pelas arbitragens e, assim, perdem o essencial do jogo. Se nos concentrarmos a seguir a bola, perdemos a movimentação geral dos jogadores. Quando seguimos o trajecto de um passe, ignoramos o passe alternativo que não foi feito. Se estamos atentos a uma marcação, desatendemos o espaço livre que se criou. E assim sucessivamente.
Muitos jogos têm pretendido ser metáforas da vida -- desde logo, em lugar proeminente, o xadrez. Mas o xadrez encerra uma concepção da vida idealista, puramente racional, que a mim me repugna e de que não quero partilhar.
Ignorem então o futebol, se assim preferirem, mas depois não se queixem de que a vida vos corre mal.
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