22.3.05

Formas erradas de estar certo

Um dos princípios da arte de resolver problemas é a delimitação da área de ataque.

Algumas pessoas muito inteligentes têm dificuldade em fazer isso. A sua tendência natural, quase irresistível, é para considerarem outras facetas do problema, enquadrá-lo numa perspectiva mais vasta, considerar progressivamente mais e novos aspectos. Ao fazê-lo, ampliam mais e mais o âmbito de análise. Em vez de concentrarem esforços, dispersam-se e perdem de vista a questão inicial.

O problema acaba por atingir uma tal complexidade que se torna verdadeiramente irresolúvel. Chegado esse momento, ele é abandonado e esquecido. Em resultado, tudo fica como inicialmente se encontrava.

Ouvi uma vez um alemão residente em Portugal afirmar que o nosso defeito é sermos demasiado inteligentes. Sofremos de uma tendência para problematizar em excesso. Buscando a solução ideal e definitiva, acabamos por ficar paralizados sem sequer percebermos o que nos aconteceu.

Está outra vez na moda a afirmação de que os problemas profundos do país têm profundíssimas raízes cultural. É bem possível - mas o que é que se segue daí? A pretensão de transformar o país através de uma reforma de mentalidades é tão antiga como ineficaz. Mas, ao que parece, a sua inexequibilidade só a torna ainda mais atraente para certos espíritos.

Um problema que não tem solução não é um problema. É uma perda de tempo.

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