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O comentário político é em Portugal altamente previsível, se calhar porque deveria antes ser classificado na categoria da ruminação.
O que nós temos de facto é um mantra repetido ad nauseam com ligeiríssimas e quase insensíveis adaptações à natureza do assunto em debate.
Assim, a preocupação de parecer "bom aluno", fazer o que nos mandam e jamais lançar a suspeita de que temos vontade própria encaixa belissimamente na regra de evitar todos os comportamentos que possam "parecer mal".
O grande argumento contra forçar a renegociação com a troika não é nem mais nem menos do que este: pode parecer mal e prejudica a imagem que temos lá fora. Como se nós tivéssemos lá fora alguma imagem.
Portugal assemelha-se àqueles adolescentes complexados que imaginam toda a gente a censurar-lhes com olho crítico as borbulhas, a caspa e os ridículos penteados, quando a triste verdade é que ninguém quer saber deles para nada ou dá sequer pela sua presença.
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25.6.12
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2 comentários:
O comentário político que prevalece é o alinhado pelo poder. Já assim era na primeira fase de José Sócrates. Se os ventos mudarem, muda o discurso. Verdadeiros independentes contam-se pelos dedos de uma mão e não são necessários todos os dedos. Nada de novo.
Tocou na ferida: que imagem pretendemos nós que prevaleça se, no meio desta história nem a sombra nos resta para dignificar. Mas, creio, é um mal genealógico da portugalidade – É mais importante parecer do que ser: foi nos descobrimentos, foi no Estado Novo, é agora na República.
Por isso se guarda tanta saudade de quem nunca chegou verdadeiramente a governar, pela eterna e etéria esperança do “poderia ser diferente, mas…”
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