Marcello e Santana são dois dos mais destacados carreiristas da República.
No entanto, Marcello falha sistematicamente, enquanto que Santana vai trepando inexoravelmente de degrau em degrau.
Porquê?
Marcello perdeu a Câmara de Lisboa contra Sampaio. Em seguida, perdeu a Presidência do PSD, primeiro para Durão, depois para Santana. A sua arrevezada tentativa de posicionar-se como candidato a Belém não deu em nada. Apesar de todo o tempo de antena de que dispõe, a ninguém pareceu que fosse uma boa alternativa a Santana para a chefia do Governo. Por este andar, nem a Presidente do Sporting de Braga poderá aspirar.
Os raciocínios de Marcello são demasiado rebuscados, fazem lembrar aqueles futebolistas tão habilidosos que acabam por se fintar a si próprios. O seu jogo não tem objectividade porque, acima de tudo, ele tem sempre que provar a todos como é inteligente. Que querem, foi um tique que lhe ficou de pequenino. Pode ser um intelectual de pacotilha, mas sempre é um intelectual; talvez por isso, dá demasiada importância ao que se passa dentro da sua cabeça.
Toda a gente, excepto ele, percebe que não merece confiança. Está bem assim como está: entertainer principal dos serões dominicais da TVI.
Santana deve-se rir com os seus botões quando o Professor lhe dá más notas: «Tá bem, filho. Quem sabe, faz; quem não sabe, ensina!»
Santana, pelo seu lado, põe o pé na porta, vai entrando sempre, distribui piropos e lisonjas, beija a mão às senhoras, não hesita em impôr a sua presença em todos os momentos e em todos os lugares. O seu estilo é muito mais simples, descarado, ignorante e directo. Diz claramente ao que vem e o que quer.
Ele aprendeu que o atrevimento atrapalha as pessoas mais ponderadas, que ficam literalmente sem saber o que dizer perante as suas investidas. A timidez nunca compensa, ou, por outras palavras: «Quem não chora, não mama» - daí ele fazer tão bem aquele beicinho.
Por sobre os cadáveres de adversários mais púdicos, ele avança, avança sempre, sem nunca curar de olhar para trás. Não perde tempo com balanços, interpretações ou análises, porque o passado não interessa a ninguém. O que lá vai, lá vai.
Embora tenha pouco jogo de cabeça, não hesita em rematar à baliza sempre que vê uma oportunidade. Muitas vezes marca golos só porque o guarda-redes está distraído e dá um frango de todo o tamanho.
Se tivesse cultura para isso, faria sua a divisa de Frederico da Prússia: «De l'audace, toujours de l'audace.»
19.7.04
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