27.5.09

Friedman, responsabilidade, caridade e faz-de-conta

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No meu artigo de hoje no Jornal de Negócios saio em defesa do Milton Friedman a propósito da responsabilidade social das empresas. Se não gostarem, paciência.
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3 comentários:

Luis M. Jorge disse...

Interessante.

B. disse...

Actualmente ninguém nega que a função de uma empresa consista em maximizar o seu lucro. Muito estranho seria se uma empresa comercial não estivesse vocacionada para gerar dinheiro; tem tanta lógica culpar uma empresa comercial por desejar gerar dinheiro como culpar uma instituição de caridade social por querer atenuar o sofrimento dos mais carenciados. A questão consiste em aquilatar os critérios de acordo com os quais o lucro haverá de ser avaliado.

A afirmação de Friedman tem que ser contextualizada. Na altura em que Friedman escreveu isso, as grandes empresas norte-americanas tinham um capital muito disperso (como ainda hoje) e não existia um investidor ou grupo de investidores que controlassem a acção dos administradores. Se aliarmos a isto a falta de uma enunciação dos deveres dos administradores para com a sociedade (que é diferente das pessoas dos sócios) naquela época poderemos adivinhar o problema: os administradores não tinham quaisquer mecanismos de controlo e muitas vezes adoptavam comportamentos lesivos dos interesses da sociedade (como violação de normas de segurança) que causavam danos enormes aos accionistas nas acções de responsabilidade emergentes (convém dizer que nos EUA vigora o regime dos "danos punitivos" em alguns estados mediante o qual a indemnização é multiplicada por X, de acordo com o tamanho da empresa, para dissuadir danos futuros). O problema de Friedmann era o mesmo de Berles e Means -> a falta de controlo dos administradores.

Ao forçar os administradores a promover o lucro da sociedade Friedman pretendia maximiar o bem estar social que as acções dessa empresa suscitassem. O objectivo da Friedman era evitar que a empresa fosse mal gerida por administradores que não tinham quaisquer mecanismos de controlo e com isso causassem danos à sociedade. Por exemplo se uma empresa adoptasse um comportamento estratégico ruinoso (daí causando uma externalidade negativa na sociedade ao não aproveitar devidamente os recursos de que se apropriou e que poderiam ser utilizados muito melhor) então os seus administradores seriam responsabilizados perante os accionistas. Daí é que vem a ideia de Friedman: obrigar os administradores a utilizar os recursos da forma mais eficiente possível daí promovendo o bem estar agregado.

O problema reside no critério com o qual avaliar o lucro: durante os anos 80 e 90 vigorou um critério estritamente aritmético de lucro de acordo com o qual lucro seria idêntico à maximização dos investimentos dos accionistas. Era uma teoria adequada ao ambiente macro-económico da época alicerçado numa lógica de financialização da economia.

Os escândalos Enron e Parmalat do início do séc.XXI mostraram que essa lógica faliu. O lucro dos accionistas (que deve ser o objectivo da empresa) tem que ser um lucro sustentável, alicerçado numa perspectiva de longo prazo, e tomando em conta os interesses dos terceiros (nomeadamente trabalhadores) assim como as externalidades da empresa. As reformas societárias mais recentes da Europa têm-se orientado nesse sentido ao enunciar expressamente os deveres fiduciários dos administradores de acordo com uma lógica de "enlightned shareholder value" - o lucro accionista prudente, sustentável!

João Pinto e Castro disse...

Embora tenha optado por não ir por aí, eu não só nego que a função de uma empresa seja maximizar o seu lucro, como sustento que essa afirmação não tem grande sentido para um gestor.