Perante augúrios cada vez mais negros e disparatados, de que é exemplo aquele que hoje forneceu o título de primeira página ao Diário de Notícias, é obrigação moral de um economista explicar que não existe nenhuma forma científica de fazer previsões.
A bem dizer, os economistas não fazem previsões, mas sim projecções. Quer isso dizer que, admitindo como invariantes certos parâmetros, projectam para o futuro outras variáveis. Isto não é prever, mas balizar o que pode vir a acontecer a certos níveis se num plano mais profundo nada se alterar.
Em matéria de taxas de crescimento, o que acontece é que, quando ele é mais baixo num certo ano do que a média recente, presume-se que se tratou de uma anomalia e "prevê-se" no ano seguinte uma taxa de crescimento mais próxima do normal. Se for mais alto do que a média recente, faz-se o raciocínio inverso.
As previsões económicas das instituições mais reputadas falham sistematicamente, mas não de uma forma sistemática, o que seria o menor dos males. E nem sequer se prova que alguma acerte mais do que as outras. Tudo isto está muito bem documentado.
Há trinta anos, uma previsão suficientemente séria para ter sido mencionada no Economics de Samuelson asseverava que a URSS ultrapassaria os EUA até 2005. Anos depois, em pleno milagre japonês, prognosticou-se que afinal seria o Japão a deixar para trás os EUA antes do virar do século. Viu-se.
Tudo isto não valeria mais do que uma gargalhada à custa de quem assim nos ilude, não se desse o caso de as previsões publicadas poderem ter consequências desastrosas se as pessoas acreditarem nelas. Por exemplo, se os investidores estrangeiros acreditarem nos presságios publicados na nossa imprensa, é evidente que as mais sombrias perspectivas acabarão por confirmar-se.
A Espanha exibe actualmente um colossal défice da balança de transacções correntes, apenas ligeiramente inferior ao nosso em percentagem do produto. Felizmente para eles, o investimento estrangeiro tem tapado o buraco. Mas o que é que vocês imaginam que aconteceria se os jornais espanhóis se pusessem a berrar que o seu país está condenado a crescer claramente menos nos próximos anos do que o fez num passado recente?
(Corrigi um lapso da primeira versão deste post. Onde se dizia que a Espanha tem um défice da balança de transacções correntes ligeiramente "superior" ao nosso, diz-se agora que ele é ligeiramente inferior, que é o que está certo.)
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