29.9.09

A mão que atirou a pedra

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Cantam os passarinhos na paisagem económica como se despontasse a Primavera após um Inverno frio e rigoroso, mas breve. Esquecem-se rapidamente as almas cândidas que o sistema financeiro mundial faliu efectivamente há apenas um ano, no sentido rigoroso em que as responsabilidades assumidas superaram largamente os activos existentes.

Ora o milagre que travou a descida aos abismos consistiu essencialmente em os estados taparem o buraco aberto pelo recuo do consumo e do investimento privado injectando verbas colossais nas economias, o que, por sua vez, determinou um aumento brutal do endividamento público.

Até aqui, tudo bem - ou quase.

Porém, ignoramos ainda se as intervenções já realizadas terão sido suficientes para repor a economia mundial nos carris. Em caso positivo, os governos poderão em breve começar a reduzir os défices á medida que recupera o sector privado.

Se isso não acontecer... Se isso não acontecer, das duas uma: ou se repete o erro que conduziu Á Grande Depressão, com os estados a retirarem cedo de mais os estímulos criados; ou se mantêm os níveis presentes de intervenção, com o inevitável agravamento da dívida pública.

Nesta última eventualidade, teremos mais inflação, mais impostos ou, com toda a probabilidade, uma combinação de ambos. Muita gente está consciente desta eventualidade.

Não deixa de ser curioso notar, nestas circunstâncias, a veemência com que tais perigos são denunciados por aqueles mesmos cujo irresponsável e mais ou menos interessado desleixo nos conduziu à situação em que hoje nos encontramos, um pouco como aqueles miúdos que escondem atrás das costas a mão com que atiraram a pedra que partiu a vidraça.
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