10.2.10

O sólido e o gasoso

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A evidente carência de factos jurídicos do caso Sol é largamente compensada pela abundância de factos políticos.

Estes últimos podem ser divididos em factos gasosos e factos sólidos.

Os factos gasosos envolvem frases e meias frases supostamente escutadas e convenientemente fatiadas e embaladas por polícias e juízes, que, apesar do esmero posto na confecção, em si mesmas nada indiciam para além de business as usual.

Para dar sequência à narrativa foi-lhes acrescentada a voz-off dos despachos. Neles, e só neles, reside o enredo, e é essa interpretação que aponta para o alegado envolvimento do governo no negócio – uma dentre muitas possíveis – que querem por-nos a discutir.

Sem legenda não há lenda.

Mas, por outro lado, temos os factos sólidos, mais abundantes, mais indisputáveis e mais consistentes.

Incluem uma história persistente de investigações orientadas para perseguir o actual primeiro-ministro, quebrando sempre que necessário o segredo de justiça, pondo meio país sob escuta, desrespeitando sempre que possível os mais elementares direitos à privacidade e ao bom nome e valendo-se de uma teia de cumplicidades nos media e nos partidos da oposição que, a dada altura, envolveu a própria Presidência da República.

Isto a gente vê todos os dias na televisão, na rádio, nos jornais e na internet sem precisar (aliás, de preferência dispensando) alguém que nos explique.

Não falta, como se vê, matéria política para discutir neste triste caso. Por que haveremos então, pergunto eu, de concentrar as nossas atenções nos factos gasosos, se há matéria tão sólida para alimentar as almas sedentas de sonho e fantasia?

Fico a aguardar esclarecimentos do untuoso Rangel e do melífluo Louçã, auto-nomeados porta-vozes desta república dos bufos.
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2 comentários:

Anónimo disse...

Sinto que há aqui "socratite aguda".
Convém deixar de apostar nos cavalos que vão correr com as patas estropiadas...
Pensar com demasiada elevação pode impedir a visão do óbvio.
Enfim...

Francisco Gonçalves disse...

Há aqui um equívoco, a discussão nacional está num estado intermédio a que chamamos liquido, bastante viscoso, e a passagem ao estado sólido deverá passar pela redução da despesa publica e pelo investimento público rentável, que acrescente riqueza e não despesa (como muitos dos estádios do EURO – 20 milhões por ano suportados pelas câmaras…), acompanhada dum conjunto de leis que tragam justiça social como; a criação dum SNS único e igual para todos os Portugueses, idades de reforma iguais para profissões similares, sejam elas exercidas no público ou no privado, em tempos de crise aumentos escalonados e não de valor generalizado, chama-se a isto solidariedade, maiores impostos para a segunda habitação, montes, quintas… …
Quando se constrói uma casa começamos pelos alicerces, e na politica esses são representados pelo carácter de quem conduz o barco, por essa razão os elementos trazidos à baila pelo Sol merecem ser esclarecidos, pois caso não sejam contraditos, não serão tão comezinhos como muita gente faz crer, a não ser que ande para aí alguém a querer amnistiar os censores do antigo regime…