4.2.10

A União Europeia em causa

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Quem quer que tenha escutado o que Almunia ontem disse ao anunciar o apoio da União Europeia à Grécia, entendeu que a insólita referência a Portugal serviu apenas o propósito de desvalorizar os problemas da Espanha.

Aparentemente, os espanhóis acreditam, ao contrário de nós, que: a) as opiniões das agências de rating e das autoridades comunitárias não são "inevitáveis como a chuva no inverno"; b) é mais apropriado falar a uma só voz para o exterior do que minar os esforços do governo nacional com declarações incendiárias.

Seja, como for, o episódio revela mais uma vez as contradições actuais da União Europeia: no mesmíssimo momento em que intervém para pôr cobro à especulação contra um país membro, a União Europeia fomenta-a contra outro, ainda por cima por iniciativa da própria Comissão Europeia. Não se esqueçam de agradecer a Barroso quando ele reaparecer por cá como candidato a Presidente da República.

Decididamente, o que está mesmo em causa é o arranjo institucional europeu. Como ontem Roubini recordou nas páginas do Financial Times, não pode haver união monetária estável e duradoura sem união fiscal e política.
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1 comentário:

jj.amarante disse...

Tens uma muito boa série de posts. É bem provável que a união monetária precise de uma maior união fiscal e política. Mas é também papel da união monetária criar a convicção nos europeus que precisam de maior coerência fiscal e política. Tem sido assim que a União Europeia tem sido construída, primeiro umas instituições económicas depois as instituições políticas que a certa altura se tornam muito necessárias para a continuação das primeiras.