6.4.11

Elevação, sentido de responsabilidade e outras lérias

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Podendo, não perco um jogo de futebol na TV. Mas, desenganado pelos detractores, jamais me dera ao trabalho de sintonizar um desses programas em que comentadores adeptos dos três principais emblemas se esgadanham a propósito dos casos da última jornada.

Há dias, porém, manifestando o seu desagrado perante o nível reles a que desceram os debates políticos, um amigo comentou: “Isto está pior que as peixeiradas da bola!”

Estaria? Fui ver.

E tenho uma boa nova para vos dar. Ao lado do Bagão Félix, o Vieira é um cavalheiro. Comparado com o Miguel Relvas, o Rui Santos é um crâneo. Depois de se ouvir o Martim Avilez Figueiredo, o Fernando Seara revela-se um modelo de clarividência.

Nos debates futebolísticos, os cartões amarelos e os eventuais penalties são analisados à luz crua dos factos e com recurso a imagens não falseadas nem truncadas.

Os participantes procuram pelo menos simular as regras de uma controvérsia civilizada a partir de conflitos de uma tal gravidade que o modo mais natural de resolvê-los seria ao murro e a pontapé. Ao invés, estando em causa dissensões políticas, os arguentes esforçam-se por seguir o caminho oposto, caminhando da divergência intelectual para a agressão verbal, enquanto ansiosamente aguardamos o dia em que eles passarão a formas superiores de luta.

Os programas eleitorais dos candidatos à Presidência do Sporting são escrutinados ponto a ponto. A sua coerência é sistematicamente questionada. A credibilidade das promessas eleitorais é investigada. Tudo isto com recurso a argumentos lógicos laboriosamente testados que só não esclarecem os eleitores mentecaptos. Quase um modelo de democracia ateniense.

Outro exemplo. Os repórteres dos programas de informação política perguntam a Dilma Rousseff se vai enviar dinheiro para salvar Portugal e ao servente de pedreiro se deveríamos chamar o FMI. Têm razões para invejar o profissionalismo dos repórteres desportivos que, sensatamente, se limitam a interrogar os benfiquistas por quantos vai o seu clube vencer o Porto e quem marcará os golos.

Libertem-se de vez dos preconceitos dos intelectuais de pacotilha. Elevação, inteligência e sentido de responsabilidade, hoje em dia, só no futebol. Turn on, tune in, drop out.
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