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Diz-se às vezes que
tudo o que é bom ou faz mal ou é pecado. Do mesmo modo, parece que tudo o que
nos torna felizes tarde ou cedo se revelar mau para a competitividade da economia.
Os feriados são
maus, as férias são más, os fins de semana são maus, o serviço nacional de
saúde é mau, os salários altos são maus, os contratos de trabalho são maus, a segurança
laboral é má, as reformas são más, as auto-estradas são más, os aeroportos são
maus, a limpeza das ruas é má, as escolas bonitas são más.
Isto só nos parece
aceitável porque se tornou habitual encarar a economia como algo não só
distinto como até alheio ou mesmo hostil à nossa vida individual e colectiva.
O passo seguinte
é falar da economia como se ela fosse uma pessoa dotada de identidade física, personalidade
própria e sentimentos. “A economia está frágil, mas poderá eventualmente recuperar”.
“A saúde da economia justifica toda a nossa preocupação”. “Temos todos de fazer
sacrifícios para que a economia cresça”. A economia é provavelmente o mais
desfavorecido dos cidadãos.
O estádio supremo
desta fantasmagoria envolve a crença na existência de entidades divinas
ontologicamente subordinadas à economia conhecidas pela designação genérica de “mercados”.
Incumbe a certas pitonisas com coluna nos jornais fazerem o favor de nos dar regularmente
conta dos seus estados de alma: umas vezes, os caprichosos mercados estão
satisfeitos, declaram confiança nos homens e prometem-lhes mel e maná; outras, estão
nervosos e ameaçam terríveis vinganças.
Se isto não é uma
religião, o que será uma religião?
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3 comentários:
por acaso são os economistas mais beatos que fazem o sermão do "viveram acima das vossas possibilidades" -a luxuria como culpa- e a remissão pela frugalidade. Talvez as pessoas projectem os seus valores (ou a ausência deles) sobre a economia?
A conclusão a tirar da primeira parte do artigo é que Economy is bad for you...
Quanto à religião.
A principal diferença entre ciência e religião é que a ciência prevê e a religião explica.
De uma forma geral a religião ou não prevê ou falha a previsão mas, depois dos factos acontecerem explica-os todos.
É o que acontece com a economia.
Creio que foi um filósofo do Século XIX que disse que uma ciência só atingia a maioridade quando assumia formalismo matemático.
Se considerarmos que esta frase também se aplica à religião, temos que a economia é a única religião que atingiu a maioridade pois é a única que assumiu formalismo matemático...
A economia nao e ciencia. E um ramo de engenharia.
O unico motivo que justifica esta constante tentativa de transformar a coisa naquilo que nao e a tentativa de ganhar primazia no espaco politico.
Exemplos de outras disciplinas promovidas a "ciencias" por forma a justificar a sua primazia politica do passado:
- tactica e estrategia militar
- teologia
- retorica
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