7.1.06

Uma fábula para adultos



Na semana passada, Joaquim Aguiar contou por duas vezes a mesma fábula na televisão para justificar o nosso atraso económico em relação à Espanha. No seu entender, o drama explica-se pelo desmantelamento dos grupos económicos portugueses após a revolução, trauma a que teriam sido poupados os seus congéneres espanhóis.

Eu percebo que a juventude actual, que não conheceu em primeira mão esses famosos grupos económicos, aceite como boa essa versão nostálgica dos acontecimentos. Mas não Joaquim Aguiar, que já tem idade para ter juízo.

O mínimo que se pode dizer é que, á data do 25 de Abril, os grupos económicos portugueses deixavam muito a desejar. É verdade que haviam contribuído para criar alguns centros de excelência em certas áreas da engenharia, mas eram muito fracos do ponto de vista da sua gestão. Tendo em conta o clima geral de condicionamento e proteccionismo económico, isso compreende-se, pois não é de esperar que um tal enquadramento estimule o empreendedorismo, a visão estratégica, a inovação ou o marketing.

Eram criaturas do Estado Novo, não órgãos da sociedade. Não admirou, por isso, que tivessem declarado desde o primeiro minuto uma guerra surda ao novo regime e que, em consequência da sua cegueira, acabassem por ruir com ele, vítimas das contradições políticas em que se haviam enredado.

Não fomos nós que os destruímos, foram eles que se desfizeram.

Qualquer comparação com os grupos espanhóis releva de pura ignorância. Em Portugal, a siderurgia existia há uma dúzia de anos à data do 25 de Abril, e a moderna indústria de construção e reparação naval tinha acabado de emergir. Em Espanha, uma e outra existiam na Catalunha e no País Basco há mais de um século.

Será preciso explicar mais?

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