22.7.10

Desportivismo à portuguesa

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Em 1955, eu esperava no Velódromo do Lima, com o meu avô, a chegada da última etapa da Volta à Portugal.

Grande expectativa, lá vem o pelotão à desfilada, Ribeiro da Silva isolado, sprint emocionante - mas onde está o camisola amarela? A multidão esperou ansiosamente um minuto, dois minutos - o tempo a passar, o primeiro lugar em perigo - cinco minutos, dez minutos...

Nesse dia, o camisola amarela Alves Barbosa nunca chegou.

Tinha sido atacado nos Carvalhos por uma chusma que lhe derrubou a bicicleta, o agrediu e o deteve pelo tempo necessário para assegurar que o vencedor da Volta não seria ele, mas o Ribeiro da Silva.

Nessa época, o ciclismo era um jogo tradicional português que não excluía umas valentes pauladas se isso se revelasse necessário.

Não me entendam mal: o Ribeiro da Silva era um ciclista de mão cheia. Em 1957, com apenas 22 anos de idade, ficou em 4º lugar na Volta à Espanha e ganhou a etapa do Tourmalet no Tour.

No ano seguinte morreu atropelado. Ninguém diga que foi castigo.
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