8.9.11

É bom o défice ficar abaixo da meta?

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Parece cada vez mais óbvio que o propósito do governo ao "ir para além do compromisso com a troika" tem em vista não colmatar desvios que já se compreendeu não existirem mas proteger-se contra eventuais más surpresas, venham elas do lado das receitas ou das despesas.

Decorre daí que, se tudo correr dentro da normalidade, o défice será inferior à meta traçada.

Muita gente parece considerar isto uma coisa boa, na medida em que, ao reduzir as necessidades adicionais de financiamento do Estado português, permitir-nos-á voltarmos a conseguir crédito nos mercados internacionais.

Esta linha de raciocínio enferma de duas falhas.

Em primeiro lugar, o aperto adicional pode ajudar o governo a dormir melhor, mas piora dramaticamente a vida de muita gente, seja por ver o seu rendimento real reduzido, seja, pior ainda, por perder o seu posto de trabalho.

Em segundo lugar, a queda da procura interna provocada pelas medidas adicionais conduzirá a breve trecho à diminuição das receitas e também, nalguma medida, ao aumento dos encargos com prestações sociais, com consequências negativas para a consolidação orçamental.

É isso que em parte está a acontecer na Grécia, agravando os receios de que a ausência prolongada de crescimento desencadeie o incumprimento das suas obrigações financeiras.

Há boas razões para o objetivo do défice não ser mais baixo do que é em 2011. Elas têm a ver com a cuidada gestão dos equilíbrios financeiros, económicos e sociais que a presente situação exige.

Ao contrário do que à primeira vez possa parecer, ficar abaixo da meta pode, portanto, revelar-se tão mau como ficar acima dela.
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1 comentário:

António Parente disse...

A economia não é uma ciência exacta e eu compreendo a prudência do ministro das finanças. É preferível ficar abaixo da meta do que dar a imagem ao exterior de incapacidade de controlar as finanças públicas. Todavia, o ministro tem de ser suficientemente inteligente para conseguir atingir os objectivos e não atirar a economia para uma depressão profunda. Por isso, o "ir mais além" pode ser um erro político muito grave e conduzir à queda do governo apesar da maioria absoluta. Dependerá de como consegue gerir os equilíbrios financeiros, económicos e sociais.