3.1.12

A linguagem da força

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Li ontem no Twitter esta frase, escrita não interessa por quem:
"Se os contribuintes individuais pudessem mudar o endereço fiscal para a Holanda e pagar menos 10 ou 20% de IRS não o fariam? Claro que sim."
A palavra chave nesta frase é "pudessem", a terceira pessoa do plural do verbo "poder" na sua forma condicional.

A questão de saber se se deve é subrepticiamente substituída pela de saber se se pode, como se fosse a mesma coisa. A insinuação é clara: se se pode, não faz sentido perguntar se se deve. "Se tens poder, usa-o": é este o conselho, a moral e a lei.

Ora a civilização consiste nada mais nada menos que na contenção do poder, a qual inclui como elemento essencial a auto-contenção. Inversamente, quem entende que o poder sobreleva quaisquer outras considerações coloca-se ipso facto do lado da força bruta.

Cheira-me, porém, que não agradará muito àqueles que hoje podem o que um dia poderão vir a poder aqueles que, de momento, não podem.
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1 comentário:

mifune disse...

Se me é permitida a impertinência "pudessem" é pretérito imperfeito do conjuntivo, que não faz senão reforçar o seu texto.
Cumprimentos,
PG