Título de uma notícia publicada no Negócios online: "Krugman recomenda corte de 20% nos salários da periferia do euro".
Vai-se procurar a entrevista no Le Monde, e o que se lê? Isto:
"Pour restaurer la compétitivité en Europe, il faudrait que, disons d'ici les cinq prochaines années, les salaires baissent, dans les pays européens moins compétitifs, de 20 % par rapport à l'Allemagne. Avec un peu d'inflation, cet ajustement est plus facile à réaliser (en laissant filer les prix sans faire grimper les salaires en conséquence)."Um bocado diferente, certo? Para começar, nem neste trecho nem em qualquer outro da entrevista Krugman "recomenda", "sugere" ou "propõe" o que lhe é imputado.
Concordaria a jornalista que eu resumisse assim as ideias do entrevistado: "Krugman recomenda aumento de 20% nos salários da Alemanha"? Note-se bem que, como se fala de movimentos relativos, tanto faz, desse ponto de vista, que os salários desçam cá ou subam lá. Embora, é claro, as consequências económicas e políticas - já para não falar da factibilidade - das duas alternativas sejam muito diferentes.
O que Krugman tem repetidamente defendido é que seria bom que a taxa de inflação aumentasse significativamente na zona euro. Por um lado, isso facilitaria o processo de ajustamento salarial relativo que ele entende apropriado ao longo de um período dilatado de cinco anos; por outro, desvalorizaria o endividamento que presentemente sufoca as famílias, as empresas e os estados.
O que a jornalista nos transmite no citado título não é, pois, a opinião de Krugman, mas a sua. Tem naturalmente todo o direito a fazê-lo, mas não assim.
A minha opinião também diverge um tanto da de Krugman, mas isso é problema meu.
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