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In illo tempore, tínhamos na instrução primária livros de estudo impregnados de bendita ruralidade, famílias à volta da lareira, santinhos patrióticos e heróicos guerreiros façanhudos.
As crianças reuniam-se nas eiras ao luar nocturno escutando os pais debitarem provérbios populares que ressumavam humildade natural e respeito pela autoridade.
Ao contrário das localidades e das habitações que conhecíamos, havia nessas páginas muitos animais de carga e nenhuns automóveis, nem cinema, nem rádios, nem jornais, nem qualquer espécie de electrodomésticos. Acima de tudo, não havia plásticos.
Segundo Crato e amigos, nessa época abençoada levava-se pancada da professora, fazia-se exames e aprendia-se a sério. Desse esforço desumano resultaram, como herança oferecida às novas gerações, milhões de cabeças brilhantes como a dele.
O bucolismo fifties está, evidentemente, out. As pessoas hoje precisam que lhes expliquem o que é aquele objeto recurvado que se vê na bandeira dos comunistas. (Refiro-me, é claro, à foice.)
A mentalidade retrógrada, porém, permanece viva, de modo que a utopia passadista que o ministro hoje se propõe implantar nas escolas inspira-se menos na agricultura de outrora e mais no artesanato industrial dos tempos felizes em que usava bibe e ia aos pardais.
Vamos, por isso, ter agora um ensino profissional inteiramente voltado para a caça do javali, a criação de gado, a pesca à linha, a carpintaria, a serralharia, a oficina automóvel (não esqueçam os bate-chapas!) e a soldadura.
Absolutamente out estarão a partir de agora os cursos de multimédia, informática, design, moda, marketing e animação cultural, actividades que, por não terem futuro e inocularem ideias malucas nas mentes infantis, passarão a ser ferozmente reprimidas pelo estado.
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22.5.12
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