30.11.05
29.11.05
Ota revisitada
Para começar, duas precisões:
1. Por razões profissionais e familiares, creio estar bastante melhor informado sobre os projectos da Ota e do TGV do que o cidadão comum. Em geral, sempre me senti inclinado a aprová-los, o que não me impediu de ter dúvidas e de ser sensível aos argumentos contrários.
2. Apesar dessa inclinação geral, não apreciei o modo como em Julho o Governo anunciou a sua decisão, e disse-o imediatamente. Foi por isso que apoiei com todo a naturalidade o movimento iniciado pelo Paulo Gorjão exigindo não só a divulgação de todos os estudos preparatórios como ainda uma fundamentação rigorosa da decisão tomada.
Por mim, considerando tudo o que se escreveu e disse sobre o tema da Ota na última semana, creio que as explicações dadas pelo Governo esclareceram adequadamente as principais questões levantadas pela opinião pública. Naturalmente, admito que outras pessoas pensem de outro modo. Todavia, quer-me parecer que muitos peremptórios opinadores, entre os quais é forçoso incluir Miguel Beleza, Carmona Rodrigues, Marques Mendes, António Borges, Cavaco Silva e tantos outros falaram de mais do que não sabiam e deveriam agora retratar-se.
Globalmente, temos razões para estar satisfeitos, pois os blogues desempenharam um notável papel de dinamização da opinião pública. O amplo debate que rodeou o projecto da Ota só pecou por tardio, mas é um sinal seguro de que estamos a progredir em matéria de maturidade democrática.
Como hoje bem recorda o Paulo, talvez fosse de aproveitar o balanço e discutir também a sério a anunciada entrada da TAP no capital da Varig...
1. Por razões profissionais e familiares, creio estar bastante melhor informado sobre os projectos da Ota e do TGV do que o cidadão comum. Em geral, sempre me senti inclinado a aprová-los, o que não me impediu de ter dúvidas e de ser sensível aos argumentos contrários.
2. Apesar dessa inclinação geral, não apreciei o modo como em Julho o Governo anunciou a sua decisão, e disse-o imediatamente. Foi por isso que apoiei com todo a naturalidade o movimento iniciado pelo Paulo Gorjão exigindo não só a divulgação de todos os estudos preparatórios como ainda uma fundamentação rigorosa da decisão tomada.
Por mim, considerando tudo o que se escreveu e disse sobre o tema da Ota na última semana, creio que as explicações dadas pelo Governo esclareceram adequadamente as principais questões levantadas pela opinião pública. Naturalmente, admito que outras pessoas pensem de outro modo. Todavia, quer-me parecer que muitos peremptórios opinadores, entre os quais é forçoso incluir Miguel Beleza, Carmona Rodrigues, Marques Mendes, António Borges, Cavaco Silva e tantos outros falaram de mais do que não sabiam e deveriam agora retratar-se.
Globalmente, temos razões para estar satisfeitos, pois os blogues desempenharam um notável papel de dinamização da opinião pública. O amplo debate que rodeou o projecto da Ota só pecou por tardio, mas é um sinal seguro de que estamos a progredir em matéria de maturidade democrática.
Como hoje bem recorda o Paulo, talvez fosse de aproveitar o balanço e discutir também a sério a anunciada entrada da TAP no capital da Varig...
27.11.05
Jornalismo marialva
O Miguel Sousa Tavares é o moço de forcados do jornalismo português. A pega de caras é a sua especialidade, o que lhe valeu uma justa reputação de coragem na frente do bicho.
Acontece, porém, que nem sempre escolhe bem o touro. Uma em cada duas vezes arremete contra temas em que é completamente ignorante, e o resultado não é famoso. Consegue-se a mesma probabilidade de êxito atirando uma moeda ao ar.
Esta semana, ao teimar em investir sem argumentos sólidos contra o aeroporto da Ota, pôs a nú as suas fragilidades. Também há grandeza em reconhecer o erro.
Acontece, porém, que nem sempre escolhe bem o touro. Uma em cada duas vezes arremete contra temas em que é completamente ignorante, e o resultado não é famoso. Consegue-se a mesma probabilidade de êxito atirando uma moeda ao ar.
Esta semana, ao teimar em investir sem argumentos sólidos contra o aeroporto da Ota, pôs a nú as suas fragilidades. Também há grandeza em reconhecer o erro.
Paradoxos
A direita, como se sabe, não acredita no progresso.
Todavia, vive obcecada com o Produdo Nacional Bruto, o qual não é senão uma forma naturalmente imperfeita de o medir na sua dimensão exclusivamente material.
Todavia, vive obcecada com o Produdo Nacional Bruto, o qual não é senão uma forma naturalmente imperfeita de o medir na sua dimensão exclusivamente material.
Populismo é...
O Paulo cita aqui uma das mais límpidas e extremistas declarações populistas que tenho lido nos últimos tempos.
Ele aprova. Eu desaprovo.
Ele aprova. Eu desaprovo.
26.11.05
25.11.05
25 de Novembro de 1975
Faz hoje trinta anos, saí às seis da tarde do escritório na 5 de Outubro. Sabia-se das movimentações em curso, não se fazia ideia do que aquilo iria dar. As informações eram escassas. (Será preciso lembrar que não havia telemóveis?) Dirigi-me à Baixa. Chegado à Rotunda, fiz um desvio para o Rato. Encontrei lá o César, oficial miliciano do RALIS. Nessa época, o César costumava passear-se por Lisboa de Chaimite, mas nesse dia isso não era conveniente. Informou-me com ar misterioso que tínhamos uma missão importante a cumprir. O meu Fiat 127 ficou logo ali requisitado. Disse-me para esperar, e voltou uns minutos depois com três padeiros jovens que eu nunca vira antes. Metemo-nos no Fiat e rumámos ao quartel do Lumiar. Chegados lá, o César mandou-me estacionar perto do portão. Explicou-me que ia falar com o sub-comandante, no dizer dele um democrata, e deixou-nos ali, a mim e aos três padeiros. Tentei meter conversa, mas eles, nitidamente assustados, permaneceram calados como ratos. Passado algum tempo, começaram a chegar outros carros, bastante melhores do que o meu, que estacionaram à frente e atrás dele. O César voltava de vez em quando no seu passo gingão e, com uma grave pose conspirativa apropriada à gravidade do momento, garantia-nos que estava tudo a correr bem. “Tudo, o quê?” Quem perguntava era eu, aos padeiros tanto se lhes dava. O César sorriu. Tirou uma fumaça e fez-nos a terrível revelação: “Vai haver distribuição de armas. Estamos aqui para isso.” Nem precisava de se virar no assento para desfrutar do pânico dos padeiros. Eu já vivera uma cena parecida no 11 de Março, dessa vez com o Freire Antunes. Perguntei: “Também é para isso que estão aqui estes carros todos?” “Quais carros?” O César, demasiado concentrado no papel que estava a desempenhar, não tinha reparado. Fiz-lhe sinal com a cabeça. Por essa altura, alguns dos “outros” também já estranhavam a nossa presença. Entre os sujeitos que andavam de um lado para o outro no passeio em frente do quartel reconhecemos dirigentes do PRP. Eles traziam nos carros armas de repetição bem à vista. “Estamos fodidos! Estes gajos não podem ver-nos!” O César saiu do carro. A noite estava fria. A nossa respiração dentro do carro embaciou os vidros, de modo que a malta que estava cá fora não conseguia ver-nos. Não abrimos as janelas sequer para sair o fumo. Assim, estávamos a salvo. Passado algum tempo, deu-se um acontecimento inesperado: um a um, os outros carros arrancaram e foram-se embora. Ao cabo de um quarto de hora, estávamos outra vez sozinhos junto ao quartel. Quanto ao César, nem vê-lo. Esperámos. Finalmente ele lá voltou. Explicou: “Isto hoje já não dá nada. Foi decretado o recolher obrigatório a partir das dez da noite.” Percebi então o que se passara. O pessoal do PRP tivera conhecimento do recolher e optara por obedecer imediatamente. As coisas não estavam a correr bem para eles. Entretanto, já passava das dez. Estávamos em infracção. Que fazer? Adiante, que um revolucionário nunca se atrapalha. Seguimos, pois, para o centro da cidade. Logo à entrada do Campo Grande, porém, deparámo-nos com uma barreira militar que nos apontou as armas e mandou parar. Saí do carro e fui falar com o comandante do grupo: “Soube agora mesmo do recolher e vou para a minha casa, que é ali adiante.” Mentira: a minha casa era perto, mas para trás. Deram-nos autorização para seguir. Seguimos pela cidade fora tranquilamente, em pleno recolher obrigatório. Fui despejar o César e devolver os três simpáticos padeiros. Não me recordo se foram pegar ao trabalho. O país, com revolução ou sem ela, precisava de tomar o pequeno almoço no dia seguinte, que era uma 4ª feira e, portanto, dia de trabalho. Passei o resto da noite à procura de amigos. Recolhi uns aqui e outros acolá. Fui comprar frangos assados e pão quente. Ficámos a noite toda de atalaia, mas de barriga reconfortada. Disse sempre às patrulhas militares que encontrei que morava já ali adiante, e sempre me deixaram passar. Boa gente, como se vê. No dia seguinte soubemos que, como esperávamos, tinham vencido as tropas leais. Eanes apareceu pela primeira vez. Alguma coisa acabara, alguma coisa começara.
Blogue com causa
Atrasadas, como é de norma neste blogue sempre desatento às efemérides, aqui ficam as felicitações ao Causa Nossa, pelo seu segundo aniversário. Pelo peso específico dos seus promotores, o Causa Nossa marcou um ponto de viragem no debate político da blogoesfera. Que contem muitos.
Ele vem aí
O politicamente correcto é uma coisa que não existe em Portugal. Deve ser por isso que conta com tantos e tão assanhados adversários.
Agora, no momento em que um tribunal vai primeira vez julgar seis estudantes acusados de terem humilhado violentamente uma colega no decurso de uma dessas pitorescas festas populares a que carinhosamente se chama "praxes", ele ameaça fazer a sua irrupção na pacata sociedade portuguesa.
Trata-se, indiscutivelmente, de um progresso.
Agora, no momento em que um tribunal vai primeira vez julgar seis estudantes acusados de terem humilhado violentamente uma colega no decurso de uma dessas pitorescas festas populares a que carinhosamente se chama "praxes", ele ameaça fazer a sua irrupção na pacata sociedade portuguesa.
Trata-se, indiscutivelmente, de um progresso.
24.11.05
Fugindo ao assunto
É interessante - mas talvez não excessivamente surpreendente - notar como, de há uns tempos para cá, a direita portuguesa se tem vindo a revelar cada vez mais anti-europeista.
Esta inclinação manifesta-se com toda a clareza, por exemplo, quando qualquer facto negativo ocorrido no nosso Continente - seja ele as bombas em Londres, o fracasso do tratado constitucional, as eleições na Alemanha, o novo estatuto da Catalunha, ou os motins em França - é imediatamente comentado em tons apocalípticos. O mais ínfimo pretexto serve para fazer soar as trombetas do Juízo Final e justificar a sentença que condena irremediavelmente a Europa às eternas penas do Inferno. Um jornalista mais atrevido chegou há dias ao ponto de afirmar na televisão que a Europa atravessa presentemente a mais grave crise da sua História!
É preciso ver as coisas em perspectiva, com a necessária distância histórica. Afinal, a nossa classe dirigente converteu-se à pressa ao europeismo para esconjurar o susto por que passou após 1974. Ela nunca apreciara demasiado a decadente Europa, no conjunto uma região que via como demasiado condescendente, tíbia, pretensiosa e mesmo snob. Em suma, uma gente efeminada com a qual nós, heróis do mar, pouco tínhamos em comum.
Esquecido o traumatismo, normalizado o país, anestesiada a arraia miúda, voltou à crença natural que a impele a fugir à Europa para ir fazer negócios no Brasil, em Angola, em Macau, no Iraque ou nalguma longínqua cleptocracia do Leste Europeu. Que a impele, afinal, a fugir ao assunto. A fugir sempre, sempre, ao assunto - ignorando, ou fingindo ignorar, que é aqui, na Europa, que ganharemos ou perderemos o nosso futuro.
Esta inclinação manifesta-se com toda a clareza, por exemplo, quando qualquer facto negativo ocorrido no nosso Continente - seja ele as bombas em Londres, o fracasso do tratado constitucional, as eleições na Alemanha, o novo estatuto da Catalunha, ou os motins em França - é imediatamente comentado em tons apocalípticos. O mais ínfimo pretexto serve para fazer soar as trombetas do Juízo Final e justificar a sentença que condena irremediavelmente a Europa às eternas penas do Inferno. Um jornalista mais atrevido chegou há dias ao ponto de afirmar na televisão que a Europa atravessa presentemente a mais grave crise da sua História!
É preciso ver as coisas em perspectiva, com a necessária distância histórica. Afinal, a nossa classe dirigente converteu-se à pressa ao europeismo para esconjurar o susto por que passou após 1974. Ela nunca apreciara demasiado a decadente Europa, no conjunto uma região que via como demasiado condescendente, tíbia, pretensiosa e mesmo snob. Em suma, uma gente efeminada com a qual nós, heróis do mar, pouco tínhamos em comum.
Esquecido o traumatismo, normalizado o país, anestesiada a arraia miúda, voltou à crença natural que a impele a fugir à Europa para ir fazer negócios no Brasil, em Angola, em Macau, no Iraque ou nalguma longínqua cleptocracia do Leste Europeu. Que a impele, afinal, a fugir ao assunto. A fugir sempre, sempre, ao assunto - ignorando, ou fingindo ignorar, que é aqui, na Europa, que ganharemos ou perderemos o nosso futuro.
18.11.05
"The one management thinker every educated person should read”
Quando se fala da Áustria como o epicentro cultural do século XX vêm-nos usualmente à cabeça nomes como Schoenberg, Wittgenstein ou Freud. Provavelmente, não o de Peter Drucker, o teórico e professor de gestão falecido na semana passada nos EUA com 95 anos de idade.
E, no entanto, a influência de Drucker não foi inferior à de nenhum dos outros.
Uma das coisas mais surpreendentes em Peter Drucker é o facto de se tratar de um outsider, um autor dificilmente catalogável nas grandes correntes do pensamento social contemporâneo.
Economista por formação, não atribuía grande relevância à ciência económica. Não era liberal. Não era empirista. A observação dos factos apenas lhe servia de vaga inspiração para estruturar com o máximo rigor um pensamento complexo que prezava a simplicidade pedagógica. Não valorizava o famigerado método dos casos. Não lhe interessavam nem as definições nem os modelos. Não tinha em grande conta as práticas mais correntes da gestão contemporânea. Desprezava os gurus da gestão, que apelidava de charlatães. Apesar de ter trazido respeitabilidade académica à gestão troçava das pretensões científicas dos departamentos de gestão contemporâneos. Nunca foi em modas, mas permaneceu sempre actual.
Drucker propôs um postulado segundo o qual uma empresa é uma coisa que tem clientes, e acrescentou que, por conseguinte, o seu propósito essencial é criar e manter clientes. Segue-se daí, por um raciocínio quase lógico, que uma empresa tem duas, e só duas, funções essenciais: a inovação e o marketing.
Todo o seu pensamento decorre dessas verdades que tomava como axiomáticas. O conceito de marketing, a gestão por objectivos, a ideia de gestão estratégica, o papel da inovação empresarial como invenção social, o empowerment, a gestão do conhecimento e dos trabalhadores qualificados - todas essas ideias decorrem de forma necessária desse núcleo central do seu pensamento.
Para compreender o homem, recomendo as "Adventures of a Bystander". Para entender as ideias, "The Practice of Management" (de 1954) ou, pela sua actualidade para o nosso país, "Innovation and Entrepreneurship". Quem, muito compreensivelmente, não estiver para aí voltado, deve ao menos ler o excelente artigo que The Economist esta semana lhe dedica: "Trusting the teacher in the grey-flannel suit", onde Drucker é apresentado como "The one management thinker every educated person should read." E é bem verdade.
Giogione: Vénus.
Não percebo como é que o Lutz tem deixado escapar esta playmate, que Marcel Proust achava parecida com a criada de quarto de Mme Putbus.
16.11.05
Da série "Grandes Mistérios da Humanidade"
Toda a história de Portugal é, segundo alguns místicos, um mistério só decifrável por quem consegue ler directamente na mente de Deus.
Um mistério particular da nossa existência colectiva é a atenção concedida às emaranhadas elocubrações de um tonto como Vasco Pulido Valente, que se contradiz constantemente no afã de se proclamar mais esperto e original do que o vulgar povoléu.
Não estou em condições de propor uma explicação que me satisfaça inteiramente para tão estranho fenómeno. Mas conjecturo que talvez o esmagador peso do analfabetismo nos incline ao embasbacamento perante alguém que consegue expor os seus pensamentos numa prosa viva e agressiva, coisa rara num país em que até os escritores profissionais escrevem no estilo rebuscado dos amanuenses.
Como paga pela destreza no uso da língua, perdoamos-lhe a insensatez e o absurdo dos propósitos.
Enfim, é uma hipótese...
Um mistério particular da nossa existência colectiva é a atenção concedida às emaranhadas elocubrações de um tonto como Vasco Pulido Valente, que se contradiz constantemente no afã de se proclamar mais esperto e original do que o vulgar povoléu.
Não estou em condições de propor uma explicação que me satisfaça inteiramente para tão estranho fenómeno. Mas conjecturo que talvez o esmagador peso do analfabetismo nos incline ao embasbacamento perante alguém que consegue expor os seus pensamentos numa prosa viva e agressiva, coisa rara num país em que até os escritores profissionais escrevem no estilo rebuscado dos amanuenses.
Como paga pela destreza no uso da língua, perdoamos-lhe a insensatez e o absurdo dos propósitos.
Enfim, é uma hipótese...
Paulo Pedroso
Pacheco Pereira gastou hoje trinta minutos na Quadratura do Círculo a tentar desvalorizar a gravidade política do que se passou há dois anos. Quem ainda se recordar do que ele escreveu na altura facilmente entenderá porquê.
Para falar com toda a clareza, o que os tribunais agora concluíram foi que a acusação contra Paulo Pedroso assentou numa completa fabricação.
Ainda assim, a tese dominante entre os comentadores bem-pensantes é que devemos atribuir apenas à incompetência dos investigadores a responsabilidade do sucedido. Não é fácil aceitar ingenuamente esta hipótese, tendo em conta que o resultado imediato do processo Casa Pia - se calhar, o seu único resultado - foi a decapitação do Partido Socialista.
Nestas condições, a única forma de provar que este processo não foi politicamente motivado consiste em investigar até ao fim a teia de cumplicidades que permitiu que as coisas tivessem chegado até onde chegaram.
Para falar com toda a clareza, o que os tribunais agora concluíram foi que a acusação contra Paulo Pedroso assentou numa completa fabricação.
Ainda assim, a tese dominante entre os comentadores bem-pensantes é que devemos atribuir apenas à incompetência dos investigadores a responsabilidade do sucedido. Não é fácil aceitar ingenuamente esta hipótese, tendo em conta que o resultado imediato do processo Casa Pia - se calhar, o seu único resultado - foi a decapitação do Partido Socialista.
Nestas condições, a única forma de provar que este processo não foi politicamente motivado consiste em investigar até ao fim a teia de cumplicidades que permitiu que as coisas tivessem chegado até onde chegaram.
15.11.05
One Down, One Up
Quarenta anos depois, foram finalmente editadas em CD as míticas sessões de John Coltrane gravadas no Half Note em Março e Maio de 1965.
O ponto alto é "One Down, One Up", com um solo de 28 minutos em que Coltrane, sem nunca se repetir uma só vez, arrasta o jazz para territórios desconhecidos.
Disse Elvin Jones, o baterista que, juntamente com McCoy Tyner no piano e Jimmy Garrison no baixo, completava o grupo: "I was more listening to him than trying to accompany as a drummer. I was just fascinated by this guy and the way he played. He had so many ideas."
Pró-americanismo
O maestro Lawrence Foster veio dar um abanão na sorumbática programação da Orquestra Gulbenkian, que raramente se aventurava pelo século XX adentro.
Este ano, quando ainda não se completou uma meia dúzia de concertos, já tivémos direito a Debussy, Ravel, Prokofiev, Hindemith, Bartok, Enescu, Emanuel Nunes e Boulez, sem falar do surpreendente Concerto para Violino de Luís Freitas Branco.
Educação popular
Uma coisa que todos pudémos ver foi que, à beira dos bairros pobres americanos, os franceses parecem condomínios de luxo.
Boa leitura
Hoje li o jornal que é distribuido gratuitamente no Metro de Lisboa.
Tem coisas boas: não escreve lá o Luís Delgado, nem o João Carlos Espada, nem o João Pereira Coutinho.
Tem coisas boas: não escreve lá o Luís Delgado, nem o João Carlos Espada, nem o João Pereira Coutinho.
Os insultos são para as ocasiões
Não vi o Portugal-Croácia porque, como quase sempre acontece quando joga a selecção, tinha coisas mais interessantes para fazer.
Mas foram-me servidos a posteriori alguns resumos televisivos que incluíam mais algumas ternurentas gaffes do Ricardo.
No final do jogo, Scolari denunciou os lóbis que perseguem incansavelmente o seu goleiro favorito. Porém, teve o bom-senso de acrescentar uma afirmação com a qual não posso deixar de concordar: "Se querem atacar alguém, não ataquem o Ricardo, ataquem-me a mim."
OK, então aí vai: Ó Scolari, tu és uma besta!
Mas foram-me servidos a posteriori alguns resumos televisivos que incluíam mais algumas ternurentas gaffes do Ricardo.
No final do jogo, Scolari denunciou os lóbis que perseguem incansavelmente o seu goleiro favorito. Porém, teve o bom-senso de acrescentar uma afirmação com a qual não posso deixar de concordar: "Se querem atacar alguém, não ataquem o Ricardo, ataquem-me a mim."
OK, então aí vai: Ó Scolari, tu és uma besta!
Subúrbios
As revoltas têm causas, mesmo quando não têm razões.
Cabe à política interpretá-las, dar-lhes um sentido e fazer algo com elas - se for capaz.
Nesse sentido, a política é a resposta civilizada aos surtos de irracionalidade que por vezes irrompem aqui ou ali.
O bastão, entendido como resposta final e suficiente, é a resposta bárbara à própria barbárie.
Cabe à política interpretá-las, dar-lhes um sentido e fazer algo com elas - se for capaz.
Nesse sentido, a política é a resposta civilizada aos surtos de irracionalidade que por vezes irrompem aqui ou ali.
O bastão, entendido como resposta final e suficiente, é a resposta bárbara à própria barbárie.
13.11.05
Desintegração comparada
Em França, filhos de imigrantes desenraizados deitam fogo a automóveis.
Em Inglaterra, filhos de imigrantes desenraizados fazem explodir bombas no metro.
Agora, decidam vocês qual dos dois países tem maior sucesso na sua política de integração.
Em Inglaterra, filhos de imigrantes desenraizados fazem explodir bombas no metro.
Agora, decidam vocês qual dos dois países tem maior sucesso na sua política de integração.
11.11.05
10.11.05
Estamos velhos, vírgula..
"Estamos velhos e com medo", conclui hoje Pacheco Pereira.
Velhos, estaremos - não há como desmentir o bilhete de identidade.
Mas o medo já é problema particular dele, como o prova o seu blogue cada vez mais caturra. Em chegando o Inverno, o estado geral de irritação só vai tender a piorar.
Cheguem-lhe a poltrona mais para a lareira, cubram-no com mantas, ponham-lhe ao lado o escarrador, vedem bem as janelas e, sobretudo, tranquem bem as portas. Ele anda por aí uma malandragem!
Velhos, estaremos - não há como desmentir o bilhete de identidade.
Mas o medo já é problema particular dele, como o prova o seu blogue cada vez mais caturra. Em chegando o Inverno, o estado geral de irritação só vai tender a piorar.
Cheguem-lhe a poltrona mais para a lareira, cubram-no com mantas, ponham-lhe ao lado o escarrador, vedem bem as janelas e, sobretudo, tranquem bem as portas. Ele anda por aí uma malandragem!
9.11.05
O que está em causa
Peço desculpa, mas não acompanho este raciocínio.
Se a coisa correr mal, será o fim da TAP. Nesse caso, não haverá lugar a qualquer privatização.
Em segundo lugar, o investimento financeiro não implica o interesse em investir na empresa. O primeiro está garantido por todas as formas e feitios; o segundo, está sujeito a todos os riscos.
Finalmente, a questão do novo aeroporto é razoavelmente independente da aliança entre a TAP e a Varig.
Em minha opinião, o que aqui está em causa é apenas, e só, a assunção pelo Estado de um elevado risco financeiro sem que seja claro o que tem o país a ganhar com isso.
Se a coisa correr mal, será o fim da TAP. Nesse caso, não haverá lugar a qualquer privatização.
Em segundo lugar, o investimento financeiro não implica o interesse em investir na empresa. O primeiro está garantido por todas as formas e feitios; o segundo, está sujeito a todos os riscos.
Finalmente, a questão do novo aeroporto é razoavelmente independente da aliança entre a TAP e a Varig.
Em minha opinião, o que aqui está em causa é apenas, e só, a assunção pelo Estado de um elevado risco financeiro sem que seja claro o que tem o país a ganhar com isso.
8.11.05
Bem-vindos ao maravilhoso mundo da pós-política
Com a política cada vez mais reduzida à gestão das coisas, tudo o que fica de fora, ou seja, o patético mundo dos homens, não tem o direito de exprimir-se públicamente senão através da violência como um fim em si mesma.
Eliminação progressiva da esfera pública, gestão orçamental implacável, intolerância cultural, mobilização total contra o inimigo invisível e controlo policial permanente - eis o programa de governo ideal da era pós-política.
"Exterminate all the brutes", como pedia Kurtz, o benemérito tresmalhado que perdeu a alma a lutar contra o mal.
Eliminação progressiva da esfera pública, gestão orçamental implacável, intolerância cultural, mobilização total contra o inimigo invisível e controlo policial permanente - eis o programa de governo ideal da era pós-política.
"Exterminate all the brutes", como pedia Kurtz, o benemérito tresmalhado que perdeu a alma a lutar contra o mal.
A questão
Para todos os efeitos práticos, a TAP é uma empresa do Estado. Para além disso, não tem, como se sabe, dinheiro para mandar cantar um cego.
Como pôde então envolver-se numa operação da dimensão da compra de uma parte da Varig? O que sucederá se a coisa correr mal?
Mais especificamente, o que todos nós temos o direito de saber é que garantias deu o Estado português para avalizar esta operação. Isto tornou-se ainda mais indispensável agora que se sabe que figuras gradas do PS (mais concretamente, Almeida Santos) se encontram envolvidas no negócio na qualidade de investidores privados.
Como pôde então envolver-se numa operação da dimensão da compra de uma parte da Varig? O que sucederá se a coisa correr mal?
Mais especificamente, o que todos nós temos o direito de saber é que garantias deu o Estado português para avalizar esta operação. Isto tornou-se ainda mais indispensável agora que se sabe que figuras gradas do PS (mais concretamente, Almeida Santos) se encontram envolvidas no negócio na qualidade de investidores privados.
Facciosos
Um leitor irritado com o meu post de há pouco em defesa do Vitinho escreveu-me um email exigindo que sejam igualmente investigadas as circunstâncias em que os miúdos Nuno Gomes, Sá Pinto e João Pinto deixaram de ser portistas.
Dêem-lhes tempo, dêem-lhes tempo
Não tarda muito, vai aparecer alguém a defender que a repressão dos motins em França deve ser encarada como uma nova frente da guerra contra o terrorismo.
O Público já se referiu à Intifada francesa, e Fukuyama fala da Jihad europeia...
O Público já se referiu à Intifada francesa, e Fukuyama fala da Jihad europeia...
Um tipo está sempre a aprender
Eu julgava que os motins raciais eram uma coisa relativamente frequente nos Estados Unidos, mas agora explicaram-me que o fenómeno tem as suas origens no modelo social europeu...
Assobiando para o lado
Como se não bastassem as investigações em torno de Karl Rove e Dick Cheyney relativamente à denúncia, por motivos de vingança política, da identidade de uma agente secreta da CIA, crescem também os indícios de que a Administração Bush se encontra envolvida ao mais alto nível em práticas de tortura, não só em Abu-Graib e em Guantanamo, como ainda em diversos outros países.
Cada vez se torna mais evidente, pois, que espécie de gente ocupa hoje a Casa Branca.
Nestas circunstâncias, não admira que, por estes dias, os bushistas cá da terra prefiram comentar os motins em França.
Cada vez se torna mais evidente, pois, que espécie de gente ocupa hoje a Casa Branca.
Nestas circunstâncias, não admira que, por estes dias, os bushistas cá da terra prefiram comentar os motins em França.
É preciso proteger as crianças
Todo eu tremo só de pensar nas inimagináveis pressões a que terá sido submetido o pequeno Vítor para aceitar trocar o Glorioso pelos Azuis Malvados!
Se repararem com muita atenção, ainda há no olhar deste homem vestígios do sofrimento a que foi sujeito em criança.
É urgente investigar.
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