31.3.08

A diferença entre direita e esquerda deixou de fazer sentido



Dani Rodrik comenta assim o gráfico acima, retirado do mais recente livro de Larry Bartel:
What it shows is the difference that the President's party affiliation makes to the distribution of income during the four years of the president's term. (The distributional outcomes are shown with one year's lag.) When a Republican president is in power, people at the top of the income distribution experience much larger real income gains than those at the bottom--a difference of 1.5 percent per year going from the bottom to the top quintile in the income distribution. The situation is reversed when a Democrat is in power: those who benefit the most are the lower income groups. If you are in the bottom quintile, the difference between having a Democratic or a Republican president in office is an income gain (or loss) of more than 2 percent per year!
A diferença entre direita e esquerda deixou de fazer sentido? Só contaram pra você!

27.3.08

A falência da Segurança Social terá que esperar mais um bocadinho



Paul Krugman faz notar no seu blogue que, segundo os cáculos mais recentes, o saldo da Segurança Social americana tem vindo a melhorar e não a piorar, como tantos e tantos comentadores auguravam:
"The actuarial balance has been improving rather than worsening. It's now better than it's been since 1993. What this tells us is that projections made in the mid-to-late 1990s were, in the light of subsequent revisions, way too pessimistic.

"Moral: Social Security's financial problem is relatively minor. It doesn't deserve the emphasis it receives from most pundits."

Frase do dia

"Segundo algumas estimativas, o sistema bancário norte-americano poderá perder todo o seu capital se os preços das casas caírem 20-25 por cento, como terá que acontecer para voltarem às valorizações médias anteriores à bolha especulativa."

Daniel Gros, Director do Centre for European Policy Studies, no Financial Times de 26.3.08

26.3.08

25.3.08

O flagelo da adolescência



Não se percebe como é que sociedades pretensamente civilizadas persistem em contemporizar com esse costume bárbaro que dá pelo no nome de adolescência.

Durante esse período de transição, crianças adoráveis soltam-se dos colos das mães, largam os jogos inocentes e transformam-se subitamente em selvagens intratáveis que ganham acne, caspa e má educação. Repudiam os papás, os vóvós e os titios que os levavam aos desenhos animados, ao rinque de patinagem e ao jardim zoológico, e passam a acamaradar com gangues de desordeiros que escorropicham cervejolas e fumam ganzas pelas esquinas.

Todos, sem excepção, se transformam em delinquentes juvenis. Os mais cordatos atêm-se à fornicação descontrolada, os outros insultam os velhinhos que os empatam na bicha do Multibanco, roubam os telemóveis aos professores, empenham as pratas da família para comprar o produto, aceleram nos sinais vermelhos, espancam membros isolados de claques rivais, arremessam garrafas de Coca-Cola sobre a plateia do cinema, picham as carruagens do Metro, organizam corridas de mota em jardins repletos de crianças, furam os pneus à vizinhança, fogem das bombas de gasolina sem pagar ou criam blogues anónimos onde podem escrever ordinarices à vontade e postar videos que mostram as namoradas a fazer strip-tease ao som do “é o bicho, é o bicho”.

Leis utópicas (para não dizer totalitárias) forçam estes energúmenos a frequentarem escolas públicas onde são obrigados a permanecerem diariamente sentados durante horas escutando condenados às galés a arengarem sobre temas tão irresistíveis como o teorema de Pitágoras ou a lei de Boyle-Marriott. Tendo em conta que toda a sexualidade reprimida mergulhada numa banheira de água gelada sofre uma impulsão de baixo para cima igual à massa do líquido deslocado, só admira que em 2007 não se tenha registado nas escolas portuguesas um único caso de canibalismo comprovado.

Pretendem alguns sábios que o problema se resolveria acorrentando os animais às carteiras das salas de aula. Outros, de inclinação mais humanista, exigem a expropriação dos telemóveis, a reintrodução dos castigos corporais, o armamento dos professores, a colocação no pelourinho dos reincidentes ou o arrasamento das residências familiares. Sem esquecer, claro está, a revisão da Constituição para viabilizar essas medidas caridosas.

Estão todos errados. A praga que nos aflige – lamento dizê-lo – só poderá ser definitivamente erradicada proibindo de uma vez por todas a adolescência, essa chaga social com que todos há demasiado tempo pactuamos, nem que para isso seja necessário abolir a causa última do mal, ou seja a procriação. Talvez se trate de uma medida impopular, mas, dentro de alguns anos, ao escutarmos o silêncio que então reinará nas nossas ruas e nas nossas escolas, até os mais renitentes reconhecerão que essa terá sido, efectivamente, a melhor decisão.

Há gente que não percebe quando está a ser gozada



Scolari convocou Carlos Martins, desterrado por indecente e má figura para um clube espanhol que já é de segunda ainda antes de descer de divisão. Chamou também Miguel Veloso, presumivelmente por estar tão gordo que já ninguém o quer para manequim. E voltou a não esquecer os dois coxos do Valência.

Ronaldo foi dispensado não se sabe bem porquê, o mesmo acontecendo a Nani pela mesma razão. Na próxima jornada, lá estarão a jogar pelo Manchester.

Como Maniche, Tiago, Pedro Mendes e Pélé não têm categoria para jogar na selecção, teremos ao que tudo indica no meio-campo Fernando Meira, Miguel Veloso e Carlos Martins. Comecem já a chorar.

Fontes geralmente bem informadas confidenciaram ao Público que "Scolari quer ver se esta selecção também funciona sem Ronaldo e Deco". Está mal visto: se a ideia é essa, dever-se-ia aproveitar para ver se ela funciona também sem Pepe, Simão e Quaresma. Isso, sim, seria um teste e peras.


Henry Darger.

24.3.08

Telemóveis, histerias e video

Foi no "Antologia do Esquecimento" que descobri o post mais equilibrado acerca da metonímia em forma de video que tem trazido numa fona os pescadores de águas turvas. É um tanto longo, mas assuntos complexos como este não admitem sound-bytes. Aqui fica ele, sem tirar nem pôr:
Depois de muito ter lido e ouvido sobre o caso do vídeo divulgado no Expresso, onde se vê uma aluna "brutalizando" uma professora na Escola Carolina Michaëlis, quero clarificar alguns pontos que ficaram por clarificar no post anterior:

1. A minha manifestação de solidariedade para com a professora Adonzinda Cruz é independente de qualquer julgamento acerca dos méritos ou deméritos da mesma na forma como encarou a situação. Em nenhuma circunstância podemos admitir que um professor seja tratado daquela forma por um aluno. Ponto final. Penso que isto não merece qualquer discussão;

2. O facto daquela situação ter sido gravada, as circunstâncias que permitiram que tal acontecesse, é, já por si, algo que nunca deveria acontecer. O uso dos telemóveis dentro de uma sala de aula é inadmissível. Impedi-lo deve ficar estipulado num conjunto de regras estabelecidas por toda a comunidade escolar;

3. Para muitos adolescentes, o telemóvel é hoje um objecto de afirmação da personalidade. Devo dizer que em vários questionários que fiz aos meus alunos e formandos, uma das perguntas era sobre um objecto que considerassem muito importante na vida deles. A esmagadora maioria respondia o telemóvel. A histeria da aluna, apesar de inaceitável, é compreensível à luz destes novos paradigmas;

4. Aquela situação não configura um caso de violência escolar. É uma situação de indisciplina, obviamente, que, por isso mesmo, deve ser punida. Desde logo, na avaliação da aluna. Refiro isto porque este aspecto é negligenciado amiúde. A avaliação de um aluno deve ter em conta múltiplos aspectos, não deve resultar de uma média aritmética onde apenas contam as notas dos testes (o que, diga-se, acontece quase sempre);

5. Situações de indisciplina não são de agora. É absolutamente ridículo relacionar aquele caso com alegadas tentativas de desprestigiar a classe docente, assim como fazer dele uma consequência directa das reformas que têm sido levadas a cabo pelo actual Ministério da Educação. Referi casos de indisciplina vividos quando eu era aluno. Outros já fizeram o mesmo: aqui, aqui e aqui;

6. A indisciplina nas escolas nunca tem um único culpado. Ela resulta de múltiplos factores, onde estão implicados alunos, pais, professores, várias instituições... Não é a culpa que deve ser discutida, mas sim a forma como se lida com a indisciplina. Naquele caso em concreto, tudo me parece muito estranho. Mais estranho que a professora não tenha apresentado queixa da aluna. Digamos que esta flexibilidade só terá uma consequência: mais desrespeito;

7. O respeito não é um dado adquirido, conquista-se. Como? Dando o exemplo é um bom caminho. Se queremos ser respeitados, devemos, antes de mais, dar-nos ao respeito. Lembro-me agora de situações de indisciplina, não dos alunos, mas dos próprios professores. E pergunto: pode, por exemplo, um professor que utiliza o telemóvel no decorrer das aulas exigir a um aluno que não o utilize? Pode. Mas será muito mais difícil ver a sua exigência respeitada;

8. Evitando abstracções em demasia, regresso à Escola Carolina Michaëlis. Aqueles telemóveis não podiam estar ligados. É uma regra básica: estipular, logo na primeira aula, que os telemóveis devem ser desligados quando se entra numa sala de aula. É como ir ao cinema. A professora nunca deveria ter descido ao nível da aluna, caindo no ridículo de medir forças com a mesma. Abria a porta e pedia à aluna que saísse, pedia ajuda a um auxiliar, qualquer coisa menos o que sucedeu. Tendo acontecido o que aconteceu, o Conselho Executivo deveria ter sido imediatamente avisado. E, seguidamente, os encarregados de educação. O resto é conversa;

9. Quando estas situações acontecem lá vem o argumento reaccionário de que "isto hoje é tudo uma bandalheira". Já nos encarregámos de dizer que "a bandalheira" não é de hoje, que a indisciplina e, nos piores casos, a violência escolares são típicas das sociedades abertas e democráticas (talvez na China não seja assim). É o preço a pagar por uma escola também ela aberta e democrática. Haverá colégios privados com características diferentes. As escolas públicas não podem ser senão democráticas. O que pretendem? Escolas ditatoriais em regimes democráticos? Seria uma contradição do sistema. O que me parece fundamental é que a democracia não descambe no laxismo, na ausência de autoridade, numa escola do desrespeito. Para que tal não aconteça, apenas se exige que todos cumpram competentemente as suas funções. Está claro que não foi isso que sucedeu: a professora não apresentou queixa no Conselho Executivo. E só depois de as imagens terem sido publicadas no YouTube é que o caso foi tornado público e aberto um inquérito.

22.3.08

Os anjinhos dos bons velhos tempos

Fiquei chocadíssimo ao aperceber-me de que, afinal, só a minha turma do liceu é que gozava perdidamente com os professores.

Recordo-me do J. e do S. a emitirem um programa radiofónico lá da última fila nas aulas daquele professor de História surdo; da professora de Português estrábica a quem nunca respondia o aluno que interrogava, mas outro sentado no lado oposto da sala; ou da turma toda a uivar quando a professora de Inglês que usava mini-saia se esticava toda, de costas para nós, para escrever no alto do quadro. E fico-me por aqui.

Castigue-se quem deve ser castigado, mas poupem-me às prédicas sobre o respeito dos alunos pelos professores nas escolas do antigamente.

(Última hora: há mais alguém que também recorda "situações complicadas" na escola que frequentou. O eufemismo sabe-me a pouco, mas a declaração é refrescante no meio de tanta hipocrisia.)

(Olha outro . A coisa está-se a compor.)

The Animals: It's My Life

The Animals: Babe Let Me Take You Home

Pathé News 1963

Crispian St. Peters: You Were on My Mind

We Five: You Were on My Mind

21.3.08

Produtividade



De regresso do liceu, disse-me o Manuel João ao passarmos por um calceteiro: "Enquanto houver escravos em Portugal há-de haver calceteiros". O comentário, saído da boca de um miúdo de 11 anos, surpreendeu-me tanto que nunca mais o esqueci. Um ano depois, o pai dele foi preso pela PIDE.

A calçada à portuguesa é um resquício de tempos de escravatura e servidão. Muitas pessoas acham muito típico e bonito. Se abrissem os olhos veriam antes passeios permanentemente esburacados, lesões nas pernas dos transeuntes e saltos de sapatos de senhoras rebentados.

É natural, visto que, mesmo baixos, os actuais salários dos calceteiros são demasiado dispendiosos para permitirem a adequada conservação da calçada à portuguesa. Reparem: as pedras de calcário são facetadas, alinhadas e colocadas uma a uma; a postura do trabalhador é desconfortável em extremo, o que o força a interromper a sua tarefa de vez em quando; no final, ainda é preciso calcar as pedras sobre a cama de areia.

Comecem a fazer as contas a quanto custa o metro quadrado de calçada à portuguesa. Uma loucura, evidentemente.

Em muitas cidades do Norte do país, a calçada à portuguesa só se mantém nas suas zonas nobres. A tradição é mantida valorizando esteticamente as principais praças e artérias e a sua conservação é cuidada.

Lisboa, porém, apesar do descalabro financeiro da autarquia, permanece apegada a uma prática que desfeia os passeios, castiga os músculos dos transeuntes e pesa desnecessariamente sobre as despesas camarárias. O que será preciso para que finalmente alguém abra os olhos e ponha termo ao disparate?

Quando, à frente de todos, se evidencia uma tão evidente desprecupação com a produtividade, como duvidar que quem nos governa não decidiu ainda declarar guerra ao desperdício?

20.3.08

Política de saúde aos repelões

Terá ontem dito José Sócrates na Assembleia da República para justificar a decisão de fazer regressar a gestão do Hospital Amadora-Sintra ao Estado:
"As parcerias público-privado são úteis para a construção. A gestão hospitalar deve permanecer pública."
O contrato de gestão privada do Amadora-Sintra foi uma experiência destinada a avaliar a bondade da solução. No final do período acordado, o Estado português deveria proceder a um balanço dos resultados e tirar as suas conclusões.

Quais foram essas conclusões? Por que decidiu o Estado não prorrogar o contrato? O que é que correu mal? Que objectivos não foram alcançados? As falhas estiveram do lado dos custos ou dos benefícios? Creio que temos o direito a conhecer as respostas a estas perguntas.

Ora, a declaração do primeiro-ministro não esclareceu nada. Pior ainda, logo a seguir ele anunciou aos deputados que, no que respeita aos novos hospitais em construção por privados, os seus contratos serão denunciados daqui a dez anos, mal acabe a respectiva concessão, caso o PS nessa altura se encontrem no governo.

Isto leva-nos a crer que Sócrates não está interessado em avaliar os resultados das experiências. Para ele, a gestão directa dos hospitais públicos parece ser uma questão de princípio, embora eu e muitos outros portugueses ignoremos que princípio é esse.

Certo certo é que as empresas às quais foi entregue a gestão de quatro novos hospitais perderam ontem o incentivo para fazerem o melhor de que são capazes, tendo em conta a sentença já anunciada de lhes retirar a concessão ao fim de dez anos, por muito excelente que seja o seu desempenho.

19.3.08

Anfield Road: You'll Never Walk Alone

Gerry & The Pacemakers: You'll Never walk Alone

Elvis Presley: You'll Never walk Alone

Pavarotti, Carreras & Domingo: You'll Never Walk Alone

Funambulismo

Se tivesse de facto algo a dizer sobre o tema da raça, Obama tê-lo-ia dito de forma mais breve e, sobretudo, mais clara.

A sua preocupação central é descolar-se da questão racial para agradar a brancos, hispânicos e asiáticos, sem todavia desfazer as ilusões dos negros na sua candidatura. Um difícil exercício de equilibrismo, como se vê.

O ponto alto do discurso foi aquela frase em que recordou que a sua avó tinha receio de se cruzar com negros na rua. Se non è vero, è ben trovato. Muito bom.

Quanto ao resto, ficámos a saber que Obama aceita, no essencial, a ideologia oficial americana, tal como é inoculada nos programas da Oprah Winfrey: se uma pessoa é pobre, discriminada ou oprimida, algum mal há-de ter feito; está nas mãos dela salvar-se com a ajuda do Senhor.

18.3.08

Ligeti: Artikulation

No país das maravilhas

McCain compromete-se a manter as tropas americanas no Iraque tanto tempo quanto for preciso para assegurar uma vitória completa e definitiva.

Obama e Hilary aliciam o eleitorado pobre com ambiciosos programas sociais.

Mas com que dinheiro - meu Deus! - irão eles fazer isso, se a economia americana mergulha dia a dia numa crise mais profunda? Onde estão os recursos para esses mirabolantes programas de gastos públicos que todos os candidatos prometem?

Muita água correrá sob as pontes daqui até às eleições de Novembro.


Henry Darger.

O combustível político contra-ataca

No momento em que se anuncia o regresso do combustível político, embora numa versão suavizada, é oportuno recordar que foi com um subsídio semelhante que começou a derrapagem das despesas públicas no tempo de Guterres. Não tarda, outros grupos de interesses reclamarão também um tratamento especial para as suas actividades, sem dúvida com os mais comoventes argumentos.

O que é meu é meu, o que é teu é nosso

As intervenções dos diversos bancos centrais para acudirem a instituições financeiras incapazes de satisfazerem os seus cumprimentos implicam, na maior parte dos casos uma socialização das perdas. Para além disso, a ganância de alguns está a causar o sofrimento de muitos sob a forma de perda de emprego, rendimentos, propriedades e poupanças.

O argumento para justificar a chocante caridade com que são tratados os banqueiros prevaricadores é que, se os poderes públicos deixassem falir os bancos em apuros, as consequências seriam muito piores para todos nós. Poderiamos aceitá-lo, se, para além das acções de emergência, as autoridades fizessem alguma coisa para resolver o problema de fundo. Como não fazem, os mesmos espertos que arruinaram o sistema financeiro mundial aproveitam agora o crédito adicional que lhes foi concedido para especularem com petróleo e bens alimentares.

Alan Greenspan, um dos grandes responsáveis pelo caos actual, veio ontem recomendar confiança nos mercados livres. Diz ele que, se tivermos paciência para esperar, tudo voltará ao sítio. É caso para recordar, com Keynes, que a longo prazo estaremos todos mortos.

De modo que as perguntas que temos que fazer são estas:

1. Que esperam os governos e as autoridades monetárias para começarem a organizar os mecanismos de regulação financeira nacional e internacional que agora quase toda a gente com alguma responsabilidade entende necessária?

2. Que esperam os governos dos principais países para porem termo à instabilidade monetária que ameaça minar o comércio internacional?

3. Que esperam os governos para ilegalizarem os off-shores que facilitam a vida ao crime organizado, ao terrorismo, à fuga aos impostos em larga escala e à especulação financeira?

4. Finalmente, que esperam os governos para estabelecerem procedimentos de penalização dos executivos e das empresas que, abusando da boa-fé de investidores e depositantes, destruiram economias de uma vida inteira ao mesmo tempo que se reformam com bónus insultuosamente milionários?

Sem isso, é difícil acreditar que possa ser restaurada a confiança pública seja nos bancos seja nos seus putativos reguladores.

Preparem-se para o próximo estouro

Os investidores mais astutos deslocaram enquanto era tempo os seus capitais dos periclitantes mercados financeiros para os títulos sobre matérias-primas.

Mas a fome era muito maior do que as vitualhas disponíveis, visto que a capitalização bolsista mundial é uma dez vezes superior ao valor nominal dos derivados de commodities. O resultado foi a actual escalada especulativa dos preços do petróleo,dos metais preciosos e não-preciosos e dos principais bens alimentares.

Tendo em conta o actual abrandamento da economia mundial, nenhuma causa objectiva justifica os níveis atingidos nas últimas semanas por esses preços. Mais umas semanas, e será o colapso.

O 22 de Março de 1968

As raparigas podiam visitar os rapazes nas suas residências universitárias, mas os rapazes não podiam entrar nas das raparigas.

A luta pela abolição desse regulamento prolongou-se por um ano, culminando na ocupação da Universidade de Nanterre em 22 de Março de 1968. A subsequente invasão policial foi determinante na evolução dos acontecimentos que culminaram na revolta de Maio.

Hoje, o Presidente da República francesa pode sem excessivo escândalo receber meninas no Eliseu. Essa é a parte da herança de Maio de 68 que nem Sarkozy renega. Fosse, porém, o Presidente uma Presidenta, e é natural que tivesse que introduzir os seus soupirants no Palácio às escondidas.

Os memorialistas antigos não subestimavam a importância dos assuntos de saias no curso da história dos homens. Já os historiadores contemporâneos querem tudo explicar pelas estruturas sociais, os sistemas produtivos, os conflitos de classes, as derivas ideológicas ou os confrontos religiosos.

O 40º aniversário do 22 de Março recorda-nos que a coisinha apetitosa continua a ter força bastante para despoletar revoluções, fragilizar governos e abalar impérios.

16.3.08

Anátema

Há dias, Geraldine Ferraro foi afastada da campanha de Hilary Clinton por ter afirmado que parte do sucesso de Obama se deverá ao facto de ele ser negro. Dir-se-ia uma mera opinião, de resto com laivos de verosimilhança. Mas não: é racismo.

Chegou agora a vez de Barack Obama ser obrigado a ostracizar o seu líder espiritual por anos atrás ele ter alegadamente dito o seguinte a propósito do 11 de Setembro:
"Apoiámos o terrorismo de Estado contra os palestinianos e os sul-africanos negros; e agora estamos indignados porque o que fizemos no estrangeiro nos
aparece à porta".
Parece que comentários como este - certamente discutível, mas não descabido - são anátema nos EUA. Qualquer pessoa pode sem dúvida dizer o que pensa, desde que pense no quadro dos estreitos limites do permitido. Caso contrário, será banida dos media e excluída de toda e qualquer forma de intervenção política.


Henry Darger: Battle Picture.

13.3.08

Que espera o PSD para sair do PSD?

A cena da apresentação do novo logo, com Menezes a comparar-se a Obama, deve ter dissipado as dúvidas a quem ainda as alimentasse: o homem tem um parafuso a menos.

Sucede, porém, que o controlo que está a criar sobre o partido tornará muito difícil, senão impossível, a sua remoção - com o inconveniente adicional de que, se isso vier a acontecer, o vencedor herdará apenas um monto de escombros.

Estou consciente de que as declarações de preocupação de alguns dirigentes do PS acerca do estado a que chegou o PSD não passam de hipocrisia mal embrulhada num simulacro de sentido de Estado. A visão deles não enxerga além das próximas legislativas, e sabe-se como acima de tudo ambicionam um segundo mandato com maioria absoluta.

Mas é um facto que em democracias formais como o México, o Japão e a Índia a supremacia de um só partido permitiu a sua perpetuação no poder por meio século ou mais. O mesmo pode vir a suceder em Portugal, tanto mais que o caldo de cultura tendencialmente unanimista favorece uma deriva desse tipo.

Que esperam aqueles que, dentro do PSD, se escandalizam com o actual estado de coisas para tomarem a iniciativa? Aparentemente, aguardam um movimento de regeneração interna que dia a dia se afigura mais improvável.

O caminho da criação de um novo partido parece cada vez mais inevitável, e este é capaz de ser o momento ideal.

É claro que as próximas eleições estão perdidas. Mas o prestígio mais ou menos merecido de que os dissidentes por enquanto desfrutam na opinião pública deverá assegurar ao novo partido uma votação entre os 12 e os 15%, valor mais que suficiente para estruturarem uma oposição consistente e prepararem uma candidatura com legítimas pretensões no horizonte de 2013.

Cheira-me que é agora ou nunca.

12.3.08

Beatles: Twist and Shout

Beatles: Twist and Shout

The Who: Twist and Shout

Trabalhadores, uni-vos

Não vejo qualquer sentido em discutir-se se os professores em concreto são ou não madraços.

Em Portugal, há muita gente que não faz praticamente nada, sem distinção de profissões, sexo, raça ou credo religioso. Tampouco noto grandes diferenças entre sector público e privado ou entre dirigentes e dirigidos.

Certas pessoas não têm sequer ânimo para se levantarem da cama todos os dias. Mas não penso principalmente nessas, antes nas que, cumprindo embora os rituais que usualmente associamos à actividade laboral, na verdade não produzem pevas.

Um exemplo prático talvez ajude a entenderem o que eu digo:
Pergunta: Uma vitória...

Resposta: Estamos todos de parabéns. Temos trabalhado muito todos os dias para darmos uma satisfação aos adeptos, cumprimos as indicações do mister, e, quando assim é, estamos todos de parabéns.

Pergunta: Mas estão ainda a seis pontos do líder...

Resposta: É um facto, não vamos negá-lo. Temos que continuar a trabalhar todos os dias, a seguir o que o mister nos transmite, para agradar aos adeptos que tanto nos têm apoiado, que os resultados hão-de acabar por aparecer.

Pergunta: Hoje regressou aos golos...

Resposta: Trabalho muito para isso. Às vezes a bola não quer entrar, mas nós temos que nunca desistir. Eu sou sempre o mesmo, tenho esta ilusão de marcar golos e os golos hão-de acabar por aparecer. Enquanto o mister confiar em mim, cá estarei para dar o meu contributo.
Fizeram mal se se concentraram nas respostas do futebolista, porque o interessante aqui são as perguntas do entrevistador.

Reparem: ele compareceu ao serviço no estádio à hora acordada, no final dirigiu-se à zona de entrevistas e falou com o jogador. Numa palavra, cumpriu o ritual. E, no entanto, é evidente que ele não prestou atenção ao jogo, nem se inteirou do que nele se passou, de modo que, a falar verdade, nem sequer fez perguntas, limitou-se a emitir alguns murmúrios vagamente assemelhados à fala humana. O resultado não seria diferente se tivesse passado o tempo que durou o jogo a emborcar umas cervejolas no bar do estádio.

Este desgraçado não tem o menor interesse por aquilo que faz, de modo que se esforça por fazê-lo o piorzinho que consegue. Para sermos justos, não parece ter a mínima ideia do que poderia ser fazer um bom trabalho.

Todos assistimos a este número semana após semana. Todos - inclusive o seu compreensivo patrão - constatamos que ele não faz o seu trabalho. Apesar disso, nada muda.

Este é, note-se, um trabalho que se faz à frente de dez milhões de potenciais espectadores, ou seja, perante o escrutínio público. Imaginemos agora o que se passa por detrás das cameras ou dos bastidores. Imaginemos o que se passa em todas aquelas profissões em que nem nós nem o patrão vemos o que um sujeito está a fazer.

Tendemos a encarar sujeitos como este que vos apresentei como doentes, mas essa opinião é talvez precipitada. É possível que eles sejam antes uma espécie de deuses que estão para além do trabalho e do lazer, da vida e da morte, do prazer e do sofrimento, habitando um mundo de tranquila e eterna beatitude que o ruído do mundo não alcança. Sabem que tudo é vão e agem em conformidade.

Inquiridos sobre a motivação do seu comportamento, olharão para nós com condescendência e, se se dignarem conceder-nos a esmola de uma resposta, será possivelmente qualquer coisa deste género: "Estás nervoso? Acalma-te que isso faz-te mal à saúde."

Pergunta da semana

Filipe Nunes Vicente no Mar Salgado:
"Os criativos jornalistas mudam todos de opinião ao mesmo tempo?"
Quando a manada se põe a pensar...

Petula Clark: I Couldn't Live Without Your Love

Petula Clark: Downtown

Petula Clark: I Know a Place

Petula Clark: Si Tu Prenais le Temps

11.3.08

Más notícias

As importações voltaram a crescer acima (e muito acima) das exportações no último trimestre de 2007, invertendo a tendência dos dois últimos anos. Foi o suficiente para que o desequilíbrio da balança externa se situasse nos 8,6% do produto, uma situação equivalente à da Espanha e muito mais grave do que a dos EUA. Nenhum progresso, portanto, em relação a 2006.

Como o investimento directo estrangeiro permaneceu muito baixo, voltou a aumentar o endividamento face ao estrangeiro. Isso só não seria muito grave se ele tivesse servido exclusivamente para financiar a aquisição de máquinas e equipamentos, isto é, se representasse uma promessa de produção futura. Mas não parece ter sido o caso.

Parece claro, portanto, que a aceleração do crescimento do produto no último trimestre de 2007 desencadeou imediatamente um agravamento do desequilíbrio externo. Parece que, na actual conjuntura internacional de incerteza e contenção, a economia portuguesa está condenada a crescer abaixo dos 2%.

A única boa notícia é que, estando uma parte significativa da dívida externa titulada em dólares, a sua desvalorização implicou uma desvalorização da dívida.

Seja como for, uma coisa é certa: o governo não poderá reduzir os impostos antes das eleições de 2009, sob pena de agravar ainda mais a situação por via do fomento das importações.

10.3.08

Não há forma de evitar a resistência dos professores

Escreve o Lutz:
"Mas mesmo se todos esses erros tivessem sido evitados, tenho para mim que a contestação por parte dos professores teria sido enorme. Porque é um facto que ela [a reforma] visa retirar privilégios à generalidade dos professores, com a contrapartida da promessa de melhores condições de progresso na carreira para poucos. É seguro presumir que a maioria dos professores, tal como qualquer outro grupo de pessoas, optaria pelo conhecido, que é seguro, do que pelo desconhecido que comporta riscos."
Certíssimo. Só não o querem entender os treinadores de bancada e os reformistas da treta que debandam à primeira contrariedade.


Banksy.

9.3.08

O fio da navalha

Escreve Tomás Vasques:
Daqui para a frente, como as coisas estão, ou o país que ganha menos que os professores, que trabalha mais horas e que não participou na definição dos critérios que o avaliam diariamente dá sinais que está cansado da luta dos professores, ou o primeiro-ministro pede eleições antecipadas, como tira-teimas democrático ou, pior ainda, o poder cai na rua. Estarei a ser catastrofista ou esta mobilização dos professores é meramente táctica, do ponto de vista dos comunistas, e apenas serve uma prolongada estratégia de desgate do governo (deste e dos que vierem) e da democracia? A ver vamos.
Vislumbro outras alternativas, mas não há dúvida que o governo se encontra sobre o fio da navalha.

Em Marcha

Dois comentários pertinentes de Sofia Loureiro dos Santos:

Em Marcha:
À boleia da demissão de Correia de Campos, reuniram-se as forças mais conservadoras da sociedade, à esquerda, à direita e ao centro, para remar contra as indispensáveis reformas do sistema educativo.

Vale tudo, desde a desinformação até às teorias da conspiração em que não faltam polícias à paisana a indagar o número dos professores de uma determinada escola que irão à marcha da indignação.

De facto os professores deviam estar indignados com a falta de qualidade do ensino, com o absentismo, com a ausência de participação dos pais e encarregados de educação no processo educativo, com o desrespeito de que são alvo, com a falta de disciplina, com a falta de rigor, com a ausência de formação, com a falta de dignificação da profissão docente, com o as promoções automáticas, com a inadequação de muitos profissionais, com a falta de exigência, com a normalização medíocre, com a ausência de prémio a quem merece.
Beco Sem Saída:
Foi verdadeiramente uma manifestação da classe média contra o governo, o desemprego, a redução do poder de compra e a crise que nunca mais acaba, a reboque do protesto de uma corporação que não quer mudar o que é obrigatório que mude.

(...)

Sócrates colocou-se num beco sem saída ao demitir Correia de Campos. Repentinamente, aquele que se autoproclamava o reformador, contra os interesses que identificou no seu discurso de posse, caiu pela base. A política de saúde antes existia agora está em ponto morto.

Se Sócrates demitir a Ministra o governo acabou como tal, pois frustra-se e desautoriza-se a si próprio. Para além disso, daqui para a frente não haverá ninguém com alguma vontade política para actuar que aeite assumir pastas como esta.

Se Sócrates não demite a Ministra, vai ter que aguentar a multiplicação e a ampliação dos descontentamentos vários, com as várias caixas de ressonância de todos os partidos políticos, que aproveitam estas ondas pois eles próprios não têm qualquer capacidade para gerar alternativas, por um longo período já em fase de campanha.

Este governo foi eleito por uma maioria absoluta, para cumprir um programa de 4 anos, para mudar, reformar, inverter o sentimento de inevitabilidade da mediocridade. Espero que cumpra esse mandato.

A fragilidade da política da indignação

A gigantesca manifestação dos professores terá juntado 100 mil pessoas na capital. O que irá seguir-se?

A jornada de ontem foi convocada sob a ambígua bandeira do direito à indignação. O que significa isso ao certo? Qual o objecto exacto da indignação? Que pretendiam os manifestantes?

Ouvindo as declarações recolhidas pelos repórteres ficámos a saber que os professores não são contra a avaliação, que a aceitam mas não desta maneira e que a recusam sob qualquer forma. Muito esclarecedor.

Não restam porém, grandes dúvidas sobre o sentimento geral. Os professores, que foram forçados a trabalhar mais horas, como se prova pela drástica redução do absentismo no ano passado, montaram agora a sua última barricada em torno dos temas cruciais da avaliação e do sistema de gestão das escolas.

É o cancelamento dessas reformas que vão exigir? À primeira vista, dir-se-ia que sim, mas não foi isso que ouvimos da boca dos dirigentes sindicais. Carvalho da Silva e de Mário Nogueira decidiram nos seus discursos elevar a fasquia, exigindo, não a revogação das políticas, mas a demissão da Ministra.

É isso que interessa à Intersindical e ao PCP, embora não seja isso que une os professores. Logo, não creio que arrisquem a covocação de uma greve com esse objectivo.

A ambiguidade da convocatória foi o que permitiu mobilizar toda aquela multidão, mas essa mesma ambiguidade é, no dia seguinte, quando se procura tirar conclusões do acontecido, a sua grande debilidade. A política da indignação não é política nenhuma, e é por isso que se pode afirmar sem demagogia que os manifestantes foram instrumentalizados por desígnios políticos cujo sentido último lhes escapa.

Que vão exigir os partidos da oposição? Sabemos o que esperar do PCP, e, talvez, do Bloco, que a cada momento confirma a sua ausência de projecto próprio. E o PSD, e o PP, o que irão dizer? Que argumentos poderão usar para se poderem opor às reformas da educação?

Por conseguinte, tem o governo a faca e o queijo na mão, desde que, em vez de se limitar a reafirmar a continuidade da política educativa, retome a iniciativa e revele capacidade para conduzir o processo com mais inteligência e sensibilidade.

Se o essencial é retirar a gestão das escolas da alçada do poder dos sindicatos e devolvê-la ao governo legítimo, às comunidades locais e aos pais, então o essencial - a única coisa que verdadeiramente interessa - é o modelo de gestão das escolas. É com isso que a Ministra deverá preocupar-se, apoiando-se nas autarquias e nas associações de pais e sem se deixar distrair por questões acessórias.

7.3.08

Ma Liberté



Ide, ide todos à manifestação. Levantai o rabo da cadeira, nem que seja para fazer asneiras, que é o que esta manif é. Mas ide, porque como diria o outro:
"Where am I, I don't know, I'll never know, in the silence you don't know, you must go on, I can't go on, I will go on."


Henry Darger: Tríptico Religioso.

Ninguém mete na ordem este palhaço?

6.3.08

Psicodrama

Eis as linhas mais histéricas que já foram escritas sobre os Clinton nesta campanha:
"At the core of this is their totally dysfunctional relationship. We - even those like me who really do believe in the privacy of public figures - learned over eight years that you cannot ignore this dynamic, because they have put it into the center of the public square. That is why you can confidently predict that the marital dramas will not be over either. If you think there is not another sex scandal to drop, to create another psychodrama, you are a more hopeful person than I am. The Clinton pattern is to gain some momentum in the polls or the campaign before triggering such a scandal themselves. As soon as they feel success in their wings, they self-sabotage, because they need that kind of drama to have meaning."
O autor? Vejam aqui.

Donovan: Colors

Os sempre-em-festa

Nota bem Medeiros Ferreira:
"A moda pegou. Qualquer data serve para comemorar. O cinquentenário da RTP, os vinte anos da TSF, os dezoito do jornal Público. Tudo muito festivo, todos muito épicos e contentes. Ainda dizem que não há auto-estima. A imprensa é o espelho da nação?"
É isso mesmo: que fenómeno tão estranho.

E, pensando melhor, que ideia foi esta de festejar o 18º aniversário do Público? Temerão eles já não poderem vir a comemorar o 20º? Ou terá sido a última oportunidade de o seu Director assinalar um aniversário?

Seja como for, esqueçam as agruras da vida e preparem-se: já não tarde o 5º aniversário do bl-g--x-st-.

Morbidez

No essencial, concordo com o Rui: há algo de doentio nesta pressa de aniquilar qualquer coisa que mexa. Esta gente não tem mais nada que lhe ocupe a cabeça, uma agenda própria e não meramente reactiva, sei lá?...

É mesmo isto que os chineses pensam

É grave, doutor?

Houve um silêncio embaraçado à volta da mesa quando o Eduardo perguntou:

- Mas, afinal, quem é esse Mourinho de quem vocês estão a falar?

O Eduardo não usa telemóvel, mas até os eremitas sabem quem é o Mourinho. Estaria ele apenas a ser snob?

Há dias foi a minha vez de sentir a perplexidade crescer em meu redor quando, numa reunião em que se falava do próximo Rock in Rio de Lisboa, perguntei:

- Mas, afinal, quem é esse Lenny Kravitz de quem vocês estão a falar?

Vá, consolem-me, digam-me que não é grave.

5.3.08

Óbvio

Tomás Vasques, no Hoje Há Conquilhas:
"No dia 15 de Março, ou o PS faz uma demonstração de rua que deixa o país de boca aberta, o que não creio ser possível, ou é o PS que fica de boca aberta."

Obama salva



É muito frequente alguém desmaiar nos comícios de Obama. Sempre atento, o candidato interrompe o seu discurso, pergunta se há algum médico ou enfermeiro na assistência e oferece uma garrafa de água. Tudo espontâneo.

Este video mostra algumas dessas situações.

Iconografia política









4.3.08



Banksy.

O sistema

Sejam ou não as opiniões da Confederação Nacional de Pais (Confap) condicionadas pelo subsídio que desde 1997 recebe anualmente do Estado, do que não há dúvida é que a credibilidade do seu apoio à Ministra da Educação sai muito enfraquecida da divulgação pública do facto.

Em Portugal, inúmeras associações empresariais, sindicais, estudantis, culturais e recreativas subsistem quase essencialmente dos financiamentos mais ou menos discricionários que recebem do Estado. Convertem-se, por essa via, em órgãos informais do seu aparelho.

Daí resultam múltiplos inconvenientes.

Primeiro, é subvertida a lógica de funcionamento de uma democracia liberal, a qual pressupõe um razoável grau de autonomia dos cidadãos e sua auto-organização face ao Estado.

Segundo, não sendo as associações financiadas pelos seus "associados", é menor o incentivo para que fiscalizem a utilização dos dinheiros ao seu dispor e é favorecida a constituição de camarilhas que se perpetuam no comando das organizações desta simulada sociedade civil.

Terceiro, o dinheiro que deveria servir para acudir aos cidadãos necessitados é desviado em proveito de uma peculiar classe de empreendedores especializados no assalto ao orçamento geral do estado.

Eis uma matéria em que eu gostaria de ver um compromisso entre os nossos partidos políticos tendo em vista o progressivo e implacável desmantelamento deste sistema.

3.3.08

Serão para trabalhadores





Escutem o 3º andamento da Sinfonia de Berio, dirigida por Simon Rattle: trata-se de uma colagem de trechos de Mahler, Stravinsky, Debussy, Ravel, Schoenberg, Alban Berg e do próprio Luciano Berio. O texto é de Samuel Beckett.

Por um lado, por outro lado...

O Filpe faz notar, com muita razão, que "o Hamas só está em baixo na contabilidade macabra porque não tem as armas de Israel".

Por outro lado, se o Hamas tivesse aviões de caça, talvez se pudesse dar ao luxo de só atingir alvos militares.

Não sei, é tudo muito confuso...


Henry Darger: Angel with American Flag Wings.

Teoria dos anjos para escravos

Este Vieira às vezes parece-me que era um bocadinho ignorante:
"Dizei-me: que cousa é um anjo? - Os anjos não são outra cousa senão homens com asas." (do Sermão ao Pretos de um Engenho)
Homens com asas, os anjos? E andou um homem anos a fio a ler as Escrituras para escrever barbaridades destas? Eu explicava-lhe com todo o gosto o que é um anjo, mas infelizmente não tenho tempo.

De quem é a mão que todos querem tocar?



Bento XVI que se acautele, é Ele o verdadeiro sucessor de João Paulo II.

Os sofrimentos do jovem Rufino

Já conhecem o jovem Rufino, aquele que chumbou por faltas no primeiro dia de aulas? Não? Mas deviam.