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Ao cabo de largos meses de trabalho, a comissão de inquérito à malfeitoria que dá pelo nome de Magalhães concluiu aquilo que desde sempre toda a gente soube.
Em breves palavras, o governo lembrou-se de dar utilidade a uns dinheiritos acumulados por uma fundação comprando computadores para os meninos das escolas.
Como isso não bastasse, fez tudo o que estava ao seu alcance para que eles fossem produzidos em Portugal. Esta segunda parte é de uma perversidade incrível.
Note-se que não houve qualquer má vontade da parte da oposição. Tivessem os computadores sido importados da China, como é prática corrente da administração pública portuguesa, e não haveria problema nenhum. Para não prejudicar a economia portuguesa, a importação seria assegurada por uma piquena empresa devidamente certificada pelo PSD, e prontos.
É tão fácil fazer as coisas como deve ser...
Não tendo sido seguidos os procedimentos apropriados, a oposição é agora forçada a queixar-se à Comissão Europeia da escandalosa protecção atribuída à nossa indústria pelo governo e a solicitar a aplicação da respectiva multa ao Estado português.
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28.5.10
O perfeito fato para marrecos
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Desde que recomecei a andar de bicicleta, tive oportunidade de surpreender-me com a parafernália de adereços exibidos pelos ciclistas que, ao fim de semana, se passeiam à beira-rio, incluindo blusões, camisas e calças garridas, capacetes espampanantes, sapatos hi-tec e um nunca acabar de guiadores e selins especiais, luvas, óculos, lenços, pulseiras, fitas, cantis e bolsas.
Muitas vezes, o custo do merchandising ostentado excede claramente o da bicicleta elementar importada da China em que se empoleiram.
Confirma-se, portanto, que os pequeno-burgueses meus compatriotas são uns cagões, sempre dispostos a gastar pequenas fortunas em merdices com o único propósito de alardearem a sua suposta prosperidade.
Dito isto, não me impressiona menos escutar os insistentes apelos dirigidos pelos moralistas de serviço à moderação do consumismo e ao espírito de poupança como forma de ajudar o país a reduzir o seu endividamento. Não é que discorde do propósito, mas parece-me votado ao fracasso o meio escolhido, ou seja, o sermão apelando à reforma dos costumes e das mentalidades.
Primeiro, a necessidade de ostentação tem ela própria causas objectivas. Quanto mais acentuada a polarização social, maior o desejo que o cidadão comum sente de se demarcar dos pobres e de imitar o que considera ser o estilo de vida da mirífica "classe média". Logo, o apelo a que cada qual ajuste o seu nível de consumo às respectivas posses só acentua a vontade de se demonstrar que se tem essas ditas posses.
Segundo, salvo raras excepções, as pessoas que se endividam parece que têm de facto capacidade de endividamento, como se prova pelo facto de ser muito baixo o crédito mal-parado. Logo, perante apelos deste tipo, as famílias indignam-se com a irresponsabilidade das "outras" e continuam a consumir como sempre consumiram.
Porque a verdade é esta: os consumidores individualmente considerados têm capacidade de endividamento, o país é que não tem. E por quê? Ora, porque a zona euro nos impôs ao longo dos anos uma taxa de juro demasiado baixa para as realidades do nosso mercado, tal como impôs aos alemães uma taxa demasiado alta para as realidades do mercado deles.
Por outras palavras, a soma dos comportamentos microeconómicos determinado pelos incentivos à poupança, ao investimento e ao consumo é incompatível com os nossos condicionalismos macroeconómicos.
O perfeito fato para marrecos, portanto.
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Desde que recomecei a andar de bicicleta, tive oportunidade de surpreender-me com a parafernália de adereços exibidos pelos ciclistas que, ao fim de semana, se passeiam à beira-rio, incluindo blusões, camisas e calças garridas, capacetes espampanantes, sapatos hi-tec e um nunca acabar de guiadores e selins especiais, luvas, óculos, lenços, pulseiras, fitas, cantis e bolsas.
Muitas vezes, o custo do merchandising ostentado excede claramente o da bicicleta elementar importada da China em que se empoleiram.
Confirma-se, portanto, que os pequeno-burgueses meus compatriotas são uns cagões, sempre dispostos a gastar pequenas fortunas em merdices com o único propósito de alardearem a sua suposta prosperidade.
Dito isto, não me impressiona menos escutar os insistentes apelos dirigidos pelos moralistas de serviço à moderação do consumismo e ao espírito de poupança como forma de ajudar o país a reduzir o seu endividamento. Não é que discorde do propósito, mas parece-me votado ao fracasso o meio escolhido, ou seja, o sermão apelando à reforma dos costumes e das mentalidades.
Primeiro, a necessidade de ostentação tem ela própria causas objectivas. Quanto mais acentuada a polarização social, maior o desejo que o cidadão comum sente de se demarcar dos pobres e de imitar o que considera ser o estilo de vida da mirífica "classe média". Logo, o apelo a que cada qual ajuste o seu nível de consumo às respectivas posses só acentua a vontade de se demonstrar que se tem essas ditas posses.
Segundo, salvo raras excepções, as pessoas que se endividam parece que têm de facto capacidade de endividamento, como se prova pelo facto de ser muito baixo o crédito mal-parado. Logo, perante apelos deste tipo, as famílias indignam-se com a irresponsabilidade das "outras" e continuam a consumir como sempre consumiram.
Porque a verdade é esta: os consumidores individualmente considerados têm capacidade de endividamento, o país é que não tem. E por quê? Ora, porque a zona euro nos impôs ao longo dos anos uma taxa de juro demasiado baixa para as realidades do nosso mercado, tal como impôs aos alemães uma taxa demasiado alta para as realidades do mercado deles.
Por outras palavras, a soma dos comportamentos microeconómicos determinado pelos incentivos à poupança, ao investimento e ao consumo é incompatível com os nossos condicionalismos macroeconómicos.
O perfeito fato para marrecos, portanto.
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27.5.10
Inquérito às massas sedentas de saber
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Comecei ontem a fazer uma lista de possíveis temas para o meu artigo da próxima semana no Jornal de Negócios. Eis os que me ocorreram:
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Comecei ontem a fazer uma lista de possíveis temas para o meu artigo da próxima semana no Jornal de Negócios. Eis os que me ocorreram:
Terá fracassdo a nossa integração europeia?E vocês, o que me aconselham?
O abandono da política económica em Portugal
Centros de decisão nacional: que relevância têm e por quê
Pensar o impensável: e se saíssemos do euro?
Centro e periferia na UE
Redes instáveis: como os sítios mudam de sítio
Ir à frente como modo de vida: a experimentação como vocação nacional
O capitalismo a caminho de uma crise de legitimidade
Remunerações e prémios dos gestores
PIB não é igual a felicidade
Que relação há entre o défice público e o défice externo?
Educação e desenvolvimento: o que os economistas não sabem
O enigma alemão: por que a República Federal faz o que faz
Emigração e desenvolvimento: ameaças e oportunidades
Transaccionáveis ou não-transaccionáveis: um falso dilema
Elogio da incompetência como modo de vida
Vocabulário do gestor instantâneo ou gestão para tótós
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26.5.10
20.5.10
Novas revelações sobre o milagre irlandês
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Isto parece-me muito instrutivo:
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Isto parece-me muito instrutivo:
"Ireland’s problems are, sadly, far deeper than the need for simple fiscal austerity. The Celtic tiger’s impressive reported growth over the past decades was in part based on its aggressive attempts to help major corporations in the United States reduce their tax bills. The Irish government set corporate taxes at just 12.5 percent of profits, thus attracting all sorts of businesses — from computer services such as Google and Yahoo, to drug companies such as Forest Labs — that set up corporate bases and washed profits through Ireland to keep them out of the hands of the Internal Revenue Service.Aguardo ansiosamente os esclarecimentos dos nossos especialistas em economia irlandesa.
"The remarkable success of this tax haven means that roughly 20 percent of Irish gross domestic product (G.D.P.) is actually “profit transfers” that raise little tax for Ireland and are owned by foreign companies. Since most of these profits are subject to the tax code, they are accounted for in Ireland where they are lightly taxed; they should not be counted as part of Ireland’s potential tax base. A more robust cross-country comparison would be to examine Ireland’s financial condition ignoring these transfers. This is easy to do: a nation’s gross national product excludes the profits of foreign residents. For most nations, gross national product and G.D.P. are near-identical, but in Ireland they are not."
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19.5.10
Fogo amigo
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Eu tenho uma ideia gira para o Krugman: e que tal baixar entre 20 a 30% os salários americanos para os EUA melhorarem a sua competitividade face à China?
Eu sei a resposta. Não é preciso, porque os EUA podem desvalorizar a sua moeda.
Acontece, porém, que não podem, porque a China, comprando a dívida americana, não deixa.
Não tem de quê, ó Paul. Mas pensa nisso, pá.
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Eu tenho uma ideia gira para o Krugman: e que tal baixar entre 20 a 30% os salários americanos para os EUA melhorarem a sua competitividade face à China?
Eu sei a resposta. Não é preciso, porque os EUA podem desvalorizar a sua moeda.
Acontece, porém, que não podem, porque a China, comprando a dívida americana, não deixa.
Não tem de quê, ó Paul. Mas pensa nisso, pá.
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18.5.10
Mais tarde ou mais cedo, toda a gente vai perceber isto
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Edward Hugh:
"In fact, a rather weird circle has been created. The private sector (possibly as a result of the absence of adequate public vigilance) got itself into a huge mess of its own making. Governments all over the globe (understandably and correctly) rushed in to put the fire out, and in the process transferred the problem over to their own balance sheets. But what is most interesting to note about what happened next is how, given that the crisis itself means there are few positive investment outlets in the first world, the money generated by the bailouts is increasingly being used to encircle those very governments who initially made them. Basically a massive moral hazard conundrum has been created, as markets leverage a discourse which pressures governments for fiscal rectitude (which is contractionary - given the depth of the crisis - as far as aggregate demand is concerned), in the process creating the need for yet more bailouts, and so on (the possibility of ultimate Greek default being perhaps the clearest example here)."
E como irão as pessoas reagir quando perceberem?
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Edward Hugh:
"In fact, a rather weird circle has been created. The private sector (possibly as a result of the absence of adequate public vigilance) got itself into a huge mess of its own making. Governments all over the globe (understandably and correctly) rushed in to put the fire out, and in the process transferred the problem over to their own balance sheets. But what is most interesting to note about what happened next is how, given that the crisis itself means there are few positive investment outlets in the first world, the money generated by the bailouts is increasingly being used to encircle those very governments who initially made them. Basically a massive moral hazard conundrum has been created, as markets leverage a discourse which pressures governments for fiscal rectitude (which is contractionary - given the depth of the crisis - as far as aggregate demand is concerned), in the process creating the need for yet more bailouts, and so on (the possibility of ultimate Greek default being perhaps the clearest example here)."
E como irão as pessoas reagir quando perceberem?
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15.5.10
Ousar lutar, ousar vencer
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Durante o marcelismo, uma parte dos jovens, cansada da esquerda submissa das petições e abaixo-assinados, acreditava que, banindo o medo, seria possível fazer o regime passar um mau bocado.
O José Luís Saldanha Sanches, um militante em transição do PCP para o maoísmo, com uma já então larga história de detenções, destacou-se nessa circunstância. O culto da coragem física fomentou nesses tempos o activismo desmiolado, que ele inspirou mas não partilhou.
Chegado o 25 de Abril, a tal esquerda receosa tornou-se subitamente ameaçadora, de modo que, em Junho de 1974, Saldanha Sanches estava de novo na prisão. Foi-lhe atribuída por um jornal a declaração: “MFA é fascismo de luva branca.”
Encontrámo-nos pela primeira vez no Forte de Elvas. Embora ambos integrássemos a redacção de O Tempo e o Modo, nunca o vira antes de Abril porque estava preso, nem depois, porque a rapidez dos acontecimentos até à sua detenção não o permitira.
Esses tempos atribulados confirmaram-lhe a reputação de coragem física e moral, mas foi pessoalmente responsável por excessos que não podem ser desvalorizados nem esquecidos.
Os anos da revolução convenceram-no – a ele como a muitos outros – que o maoísmo não era uma cura, antes uma mutação da mesma doença. Estabilizada a democracia liberal, não tardou a descobrir outras formas de servir o seu país.
Como tantos outros da sua geração, a sua sensibilidade era mais cívica que política. Isso inspirava-lhe um saudável desprezo pela politiquice, mas ao mesmo tempo fomentava nele uma certa impaciência com a inevitável complexidade da vida política.
O seu pensamento permaneceu a meu ver sempre algo marcado por um certo maniqueísmo de raiz leninista. Censurava-me por entender que desvalorizava a importância da corrupção, eu temia que ele tendesse a reduzir a política a essa dimensão.
Certas embirrações – principalmente com o futebol e as autarquias, mas também com as pequenas empresas – toldavam-lhe por vezes o rigor do julgamento.
Era incapaz de esconder o que pensava, o que fazia dele a mais leal das pessoas. Como também gosto de dizer o que me vai na mente, o nosso convívio foi uma interminável discussão de quase quarenta anos.
O modo peremptório que usava para exprimir-se sugeria arrogância a quem o conhecia mal. Na verdade, era bastante paciente com opiniões contrárias.
Nunca o ouvi queixar-se de nada nem ninguém. Era um optimista natural, dado que essa atitude positiva não resultava de qualquer esforço particular, mas de uma forma instintiva de encarar as coisas.
Na palavra de ordem dos maoistas de Direito que titula este post – “Ousar lutar, ousar vencer” -, a segunda parte é a mais difícil e importante.
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Durante o marcelismo, uma parte dos jovens, cansada da esquerda submissa das petições e abaixo-assinados, acreditava que, banindo o medo, seria possível fazer o regime passar um mau bocado.
O José Luís Saldanha Sanches, um militante em transição do PCP para o maoísmo, com uma já então larga história de detenções, destacou-se nessa circunstância. O culto da coragem física fomentou nesses tempos o activismo desmiolado, que ele inspirou mas não partilhou.
Chegado o 25 de Abril, a tal esquerda receosa tornou-se subitamente ameaçadora, de modo que, em Junho de 1974, Saldanha Sanches estava de novo na prisão. Foi-lhe atribuída por um jornal a declaração: “MFA é fascismo de luva branca.”
Encontrámo-nos pela primeira vez no Forte de Elvas. Embora ambos integrássemos a redacção de O Tempo e o Modo, nunca o vira antes de Abril porque estava preso, nem depois, porque a rapidez dos acontecimentos até à sua detenção não o permitira.
Esses tempos atribulados confirmaram-lhe a reputação de coragem física e moral, mas foi pessoalmente responsável por excessos que não podem ser desvalorizados nem esquecidos.
Os anos da revolução convenceram-no – a ele como a muitos outros – que o maoísmo não era uma cura, antes uma mutação da mesma doença. Estabilizada a democracia liberal, não tardou a descobrir outras formas de servir o seu país.
Como tantos outros da sua geração, a sua sensibilidade era mais cívica que política. Isso inspirava-lhe um saudável desprezo pela politiquice, mas ao mesmo tempo fomentava nele uma certa impaciência com a inevitável complexidade da vida política.
O seu pensamento permaneceu a meu ver sempre algo marcado por um certo maniqueísmo de raiz leninista. Censurava-me por entender que desvalorizava a importância da corrupção, eu temia que ele tendesse a reduzir a política a essa dimensão.
Certas embirrações – principalmente com o futebol e as autarquias, mas também com as pequenas empresas – toldavam-lhe por vezes o rigor do julgamento.
Era incapaz de esconder o que pensava, o que fazia dele a mais leal das pessoas. Como também gosto de dizer o que me vai na mente, o nosso convívio foi uma interminável discussão de quase quarenta anos.
O modo peremptório que usava para exprimir-se sugeria arrogância a quem o conhecia mal. Na verdade, era bastante paciente com opiniões contrárias.
Nunca o ouvi queixar-se de nada nem ninguém. Era um optimista natural, dado que essa atitude positiva não resultava de qualquer esforço particular, mas de uma forma instintiva de encarar as coisas.
Na palavra de ordem dos maoistas de Direito que titula este post – “Ousar lutar, ousar vencer” -, a segunda parte é a mais difícil e importante.
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14.5.10
13.5.10
Injusto e inútil
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A descida do rating da dívida pública portuguesa foi justificada com a expectativa de um fraco crescimento em Portugal por comparação com a Irlanda.
Mas os últimos resultados confirmam que a economia portuguesa foi uma das que entraram mais tarde em recessão e mais cedo saíram dela, ao passo que a irlandesa não pára de afundar-se. Seja qual for a fundamentação da análise das agências, a realidade não é de certeza.
Agora, porém, o agravamento do IRS e do IVA prejudicará decerto o crescimento em 2010 e talvez em 2011. Ora, se o aumento do défice em 2009 se deveu esmagadoramente à quebra das receitas induzida pela recessão, parece claro que o crescimento é a via para voltar à situação de partida.
Será mais difícil reduzir o défice em proporção do produto se ele voltar a cair este ano. Tecnicamente, a subida de impostos hoje anunciada não é defensável: com a economia a crescer à roda de 1%, o sucesso do PEC recém-aprovado estaria garantido.
O novo pacote imposto no último fim de semana a Portugal e à Espanha como contrapartida da intervenção justifica-se apenas pela preocupação de castigar os pecadores e, assim, dar uma satisfação aos tablóides alemães. Mais um exercício de política pacóvia, pois.
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A descida do rating da dívida pública portuguesa foi justificada com a expectativa de um fraco crescimento em Portugal por comparação com a Irlanda.
Mas os últimos resultados confirmam que a economia portuguesa foi uma das que entraram mais tarde em recessão e mais cedo saíram dela, ao passo que a irlandesa não pára de afundar-se. Seja qual for a fundamentação da análise das agências, a realidade não é de certeza.
Agora, porém, o agravamento do IRS e do IVA prejudicará decerto o crescimento em 2010 e talvez em 2011. Ora, se o aumento do défice em 2009 se deveu esmagadoramente à quebra das receitas induzida pela recessão, parece claro que o crescimento é a via para voltar à situação de partida.
Será mais difícil reduzir o défice em proporção do produto se ele voltar a cair este ano. Tecnicamente, a subida de impostos hoje anunciada não é defensável: com a economia a crescer à roda de 1%, o sucesso do PEC recém-aprovado estaria garantido.
O novo pacote imposto no último fim de semana a Portugal e à Espanha como contrapartida da intervenção justifica-se apenas pela preocupação de castigar os pecadores e, assim, dar uma satisfação aos tablóides alemães. Mais um exercício de política pacóvia, pois.
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11.5.10
Santos e pecadores
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Num blogue perto de si, que vale a pena seguir diariamente:
Num blogue perto de si, que vale a pena seguir diariamente:
"But there’s also punishment for “profligate” borrowers, who are expected to slash their deficits; ministers agree that “plans for fiscal consolidation and structural reforms will be accelerated.” Remember, the bail-out addresses the liquidity problem, by ensuring there’ll be a market in PIIGS bonds but the solvency problem - that the PIIGS are borrowing heavily - remains..
"However, as I’ve pointed out, the “excess” government borrowing in southern Europe is, to some extent, the counterpart of “excess” private saving in the north. Which raises the possibility that PIIGS’ problems could be solved in part by reflation in the north. If northerners were to spend more, PIIGS would enjoy increased demand and thus tax revenues. And the problem of high relative unit wage costs in Portugal and Greece can, in theory, be addressed by reflation in the north, not just deflation in the south.
"This, though, is what the ECB is 100% against. Although it seems happy to bring credit risk onto its balance sheet by buying Greek debt, if necessary, it is opposed to monetary expansion - despite the fact that the euro area’s money stock is shrinking. It seems to be pursuing the course of virtue - monetary rectitude and protecting savers from inflation - even though this condemns Europe to deflation.
"For a project that is supposedly secular, this desire to pursue virtue and punish sinners, irrespective of consequences, seems rather Calvinist."
Alemães calaceiros
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Quem está mais endividado: a Grécia ou a Califórnia? Resposta: a Califórnia.
Por que é que o endividamento da Califórnia é grave, mas não dramático? Resposta: porque os EUA são uma união monetária bem constituída, com regras que penalizam os prevaricadores mas também mecanismos de auxílio aos estados em dificuldades.
Acontece que, em percentagem do respectivo produto, as dívidas dos estados alemães de Berlim, Bremen e Sachsen-Anhalt são quatro a seis vezes superiores às da Califórnia.
A dívida de Berlim deve-se ao massivo investimento ao longo das últimas duas décadas para dotar a RFA de uma verdadeira capital. A dos outros dois estados (mas também de cidades como Bochum, Dortmund, Essen e Duisburg) resultam dos custos de reconversão industrial, incluindo elevadas taxas de desemprego e quebra de receitas fiscais.
Como se vê, a Alemanha também tem dentro de portas gente tão "ndisciplinada"como os gregos. Ou talvez seja mais adequado dizer-se que a interpretação moralista das crises finaceiras talvez sirva para consolar preconceitos xenófobos, mas em nada contribui para compreender os problemas e, muito menos, para resolvê-os.
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Quem está mais endividado: a Grécia ou a Califórnia? Resposta: a Califórnia.
Por que é que o endividamento da Califórnia é grave, mas não dramático? Resposta: porque os EUA são uma união monetária bem constituída, com regras que penalizam os prevaricadores mas também mecanismos de auxílio aos estados em dificuldades.
Acontece que, em percentagem do respectivo produto, as dívidas dos estados alemães de Berlim, Bremen e Sachsen-Anhalt são quatro a seis vezes superiores às da Califórnia.
A dívida de Berlim deve-se ao massivo investimento ao longo das últimas duas décadas para dotar a RFA de uma verdadeira capital. A dos outros dois estados (mas também de cidades como Bochum, Dortmund, Essen e Duisburg) resultam dos custos de reconversão industrial, incluindo elevadas taxas de desemprego e quebra de receitas fiscais.
Como se vê, a Alemanha também tem dentro de portas gente tão "ndisciplinada"como os gregos. Ou talvez seja mais adequado dizer-se que a interpretação moralista das crises finaceiras talvez sirva para consolar preconceitos xenófobos, mas em nada contribui para compreender os problemas e, muito menos, para resolvê-os.
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Clube dos CEOs pobres
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John Mack (Morgan Stanley): 1,92 milhões de dólares
Jeff Bezzos (Amazon): 1,78 milhões de dólares
Gary Kelly (Sowthwest Airlines): 1,56 milhões de dólares
Eric Shmidt (Google): 243 mil dólares
Todos estes indigentes ganham menos que António Mexia.
Fonte: Bloomberg Businessweek de 10 de Maio
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John Mack (Morgan Stanley): 1,92 milhões de dólares
Jeff Bezzos (Amazon): 1,78 milhões de dólares
Gary Kelly (Sowthwest Airlines): 1,56 milhões de dólares
Eric Shmidt (Google): 243 mil dólares
Todos estes indigentes ganham menos que António Mexia.
Fonte: Bloomberg Businessweek de 10 de Maio
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6.5.10
Ai sim? Não me digam...
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"Central and east European markets yesterday felt the full force of the latest storms in the Greek crisis, aggravated today by the deaths of three people in riots in Athens. With the euro falling by as much as 1.4 per cent (before recovering slightly later), CEE currencies all fell, and stock markets plunged, notably in Prague, where equities ended down 4.9 per cent."
(...) "Meanwhile, the political arguments about the European Union’s role in the rescue continued with Slovakia voicing its frustration at having to bail out a richer euro zone country, the FT reports. It was not for this that Bratislava joined the common currency."
(...) "CEE European currencies reached multi-month lows. The zloty fell 1.6 per cent to 3.1495 to the dollar, the Hungarian forint 1.1 per cent to 215.44 against the dollar and the Czech koruna 1.3 per cent to 20.128 against the euro. The Czech central bank meets tomorrow for what might be an interesting session."
"As for stock markets, investors sold where they could, concentrating on liquid equities. Czech shares fell 4.88 per cent, Polish 1.56 per cent, Hungarian 2.0 per cent and Romanian per cent."
FT
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"Central and east European markets yesterday felt the full force of the latest storms in the Greek crisis, aggravated today by the deaths of three people in riots in Athens. With the euro falling by as much as 1.4 per cent (before recovering slightly later), CEE currencies all fell, and stock markets plunged, notably in Prague, where equities ended down 4.9 per cent."
(...) "Meanwhile, the political arguments about the European Union’s role in the rescue continued with Slovakia voicing its frustration at having to bail out a richer euro zone country, the FT reports. It was not for this that Bratislava joined the common currency."
(...) "CEE European currencies reached multi-month lows. The zloty fell 1.6 per cent to 3.1495 to the dollar, the Hungarian forint 1.1 per cent to 215.44 against the dollar and the Czech koruna 1.3 per cent to 20.128 against the euro. The Czech central bank meets tomorrow for what might be an interesting session."
"As for stock markets, investors sold where they could, concentrating on liquid equities. Czech shares fell 4.88 per cent, Polish 1.56 per cent, Hungarian 2.0 per cent and Romanian per cent."
FT
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Should Portugal and Greece take measures to reduce their deficits?
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Fernando Alexandre recorda, muito a-propósito, um ponto de vista com ampla aceitação em certos meios académicos há pouquíssimos anos sobre os défices externos excessivos de certos países da zona euro:
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Fernando Alexandre recorda, muito a-propósito, um ponto de vista com ampla aceitação em certos meios académicos há pouquíssimos anos sobre os défices externos excessivos de certos países da zona euro:
"The fact that Portugal and Greece are members of both the European Union and the euro area, and the fact that they are the poorest members of both groups, suggest a natural explanation for today’s current account deficits. They are exactly what theory suggests can and should happen (…).Os responsáveis pela afirmação são Olivier Blanchard (desde 2008 - excelente timing! - economista principal do FMI) e Francesco Giavazzi.
(…) we discuss whether the current attitude of benign neglect vis-à-vis the current account in the euro area countries is appropriate, or whether countries such as Portugal and Greece should take measures to reduce their deficits. We conclude that, as a general rule, they should not."
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5.5.10
Se a realidade não estiver à altura da ficção
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A resposta à crise internacional consistiu, desde finais de 2008, na transformação de dívida privada em dívida pública.
Este processo tem óbvios limites. Só poderia resultar se o sector privado retomasse rapidamente uma trajectória de crescimento, o que não aconteceu.
O tempo decorrido desde Agosto de 2007 desfez as esperanças de contínuo e crescente endividamento dos devedores. A fase em que agora entrámos convencerá os credores de que se enganaram ao pensar que poderiam recuperar com juros tudo o que emprestaram.
O socorro da União Europeia à Grécia foi na verdade um socorro aos bancos alemães, franceses e ingleses que corriam o risco de sofrer perdas colossais. Gasta toda a pólvora numa única salva, é normal que os investidores se interroguem: e se for preciso dinheiro para ajudar a Espanha, donde virá ele? A resposta curta e grossa é: não virá.
Estão esgotadas todas as políticas respeitáveis, fiscais e monetárias, de sustentação da procura agregada. Infelizmente, foram largamente insuficientes, como se verifica pelo estado anémico dos EUA, da UE e do Japão.
Se a realidade soubesse estar à altura da ficção, a China transformaria os seus créditos externos em activos nos países devedores, a começar pelas ilhas gregas e a continuar com a totalidade dos bancos americanos, ingleses e espanhóis.
A conclusão é que uma parte substancial das dívidas jamais será paga. Tal é a condição para que empresas e particulares possam voltar a respirar.
A forma mais justa de fazer isto seria a renegociação e o reescalonamento das dívidas. Mas trata-se de um processo demasiado moroso e complexo, com implicações e custos políticos difíceis de avaliar.
A outra forma de desvalorizar as dívidas é a inflação galopante. Aposto nisso.
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A resposta à crise internacional consistiu, desde finais de 2008, na transformação de dívida privada em dívida pública.
Este processo tem óbvios limites. Só poderia resultar se o sector privado retomasse rapidamente uma trajectória de crescimento, o que não aconteceu.
O tempo decorrido desde Agosto de 2007 desfez as esperanças de contínuo e crescente endividamento dos devedores. A fase em que agora entrámos convencerá os credores de que se enganaram ao pensar que poderiam recuperar com juros tudo o que emprestaram.
O socorro da União Europeia à Grécia foi na verdade um socorro aos bancos alemães, franceses e ingleses que corriam o risco de sofrer perdas colossais. Gasta toda a pólvora numa única salva, é normal que os investidores se interroguem: e se for preciso dinheiro para ajudar a Espanha, donde virá ele? A resposta curta e grossa é: não virá.
Estão esgotadas todas as políticas respeitáveis, fiscais e monetárias, de sustentação da procura agregada. Infelizmente, foram largamente insuficientes, como se verifica pelo estado anémico dos EUA, da UE e do Japão.
Se a realidade soubesse estar à altura da ficção, a China transformaria os seus créditos externos em activos nos países devedores, a começar pelas ilhas gregas e a continuar com a totalidade dos bancos americanos, ingleses e espanhóis.
A conclusão é que uma parte substancial das dívidas jamais será paga. Tal é a condição para que empresas e particulares possam voltar a respirar.
A forma mais justa de fazer isto seria a renegociação e o reescalonamento das dívidas. Mas trata-se de um processo demasiado moroso e complexo, com implicações e custos políticos difíceis de avaliar.
A outra forma de desvalorizar as dívidas é a inflação galopante. Aposto nisso.
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4.5.10
Manuscrito encontrado em Malpenza
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"É inútil tentar vencer o Barcelona jogando “melhor” que eles.
"O modelo do Barça inspirou-se no andebol de sete: a equipa concentra-se toda à volta da grande área do adversário e faz continuamente girar a bola de jogador para jogador e de um lado para o outro à espreita de uma distracção defensiva.
"É vital que os pivôs que coordenam a logística da operação sejam tão certinhos como um relógio suíço. Depois, a ciência estará toda em aproveitar a fenda que momentaneamente se abre e em desferir o golpe com a crueldade do relâmpago.
"Vendo as coisas do lado do opositor, torna-se evidente que o sistema só funciona se (e na medida exacta em que) ele se deixa hipnotizar. O movimento contínuo dos operários da bola na sua cadeia de montagem tem um poder soporífero equivalente ao da contemplação das deambulações de peixinhos tropicais coloridos num aquário.
"Experimentemos então algumas ideias radicais. Por exemplo: os jogadores da equipa que defende dispõem-se em duas filas de cinco cada sentados em cadeiras à entrada da área. A defesa consiste apenas em contemplar com ar desdenhoso as movimentações dos avançados do Barcelona. Ninguém se mexe, muito menos se ergue da cadeira, toda a acção se concentra em mirar a agitação circundante aplicando-se em evidenciar o seu enfado.
"Isto não pode deixar de confundir os catalães. Adversários assim jamais se deixarão hipnotizar, sentirão eles, é inútil persistir eternamente nesse propósito. Até a equipa psicologicamente mais forte do mundo desiste ao cabo de cinco minutos perante uma tal manifestação de confiança. Muito provavelmente, abandonarão o campo lavados em lágrimas e consolados pelo 4º árbitro, visto que, por esta altura, o próprio bandeirinha já terá dado entrada nas urgências.
"Parece-vos muito arriscado? OK, então agora vamos tentar a mesma coisa com uma pequena diferença: tira-se as cadeiras."
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"É inútil tentar vencer o Barcelona jogando “melhor” que eles.
"O modelo do Barça inspirou-se no andebol de sete: a equipa concentra-se toda à volta da grande área do adversário e faz continuamente girar a bola de jogador para jogador e de um lado para o outro à espreita de uma distracção defensiva.
"É vital que os pivôs que coordenam a logística da operação sejam tão certinhos como um relógio suíço. Depois, a ciência estará toda em aproveitar a fenda que momentaneamente se abre e em desferir o golpe com a crueldade do relâmpago.
"Vendo as coisas do lado do opositor, torna-se evidente que o sistema só funciona se (e na medida exacta em que) ele se deixa hipnotizar. O movimento contínuo dos operários da bola na sua cadeia de montagem tem um poder soporífero equivalente ao da contemplação das deambulações de peixinhos tropicais coloridos num aquário.
"Experimentemos então algumas ideias radicais. Por exemplo: os jogadores da equipa que defende dispõem-se em duas filas de cinco cada sentados em cadeiras à entrada da área. A defesa consiste apenas em contemplar com ar desdenhoso as movimentações dos avançados do Barcelona. Ninguém se mexe, muito menos se ergue da cadeira, toda a acção se concentra em mirar a agitação circundante aplicando-se em evidenciar o seu enfado.
"Isto não pode deixar de confundir os catalães. Adversários assim jamais se deixarão hipnotizar, sentirão eles, é inútil persistir eternamente nesse propósito. Até a equipa psicologicamente mais forte do mundo desiste ao cabo de cinco minutos perante uma tal manifestação de confiança. Muito provavelmente, abandonarão o campo lavados em lágrimas e consolados pelo 4º árbitro, visto que, por esta altura, o próprio bandeirinha já terá dado entrada nas urgências.
"Parece-vos muito arriscado? OK, então agora vamos tentar a mesma coisa com uma pequena diferença: tira-se as cadeiras."
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