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Mais um extracto da entrevista de Louçã ao Jornal de Negócios de 4ª feira:
P - Esta "desprivatização" da Galp e EDP seria um confisco ou uma compra?R - Há várias formas possíveis. De Gaulle nacionalizou sem indeminização.
Reparem na subtileza. Se algo grave suceder, o responsável terá sido De Gaulle, não Louçã. (Poderia ter lembrado Vasco Gonçalves, mas, no momento, só lhe ocorreu De Gaulle.) Louçã não se pronuncia directamente pelo confisco: "há várias formas possíveis", constata o homem de ciência. Mas, se até o reaccionário do De Gaulle confiscou...
Em que circunstâncias isso sucedeu e o que confiscou De Gaulle, é algo que ao certo não se sabe. Nem de resto interessa, porque, bem vistas as coisas na sua adequada perspectiva histórica, De Gaulle só existiu para vindicar Louçã. A história é efectivamente, como recordarão alguns marxistas, uma velha toupeira.
De modo que Louçã confiscará, não por maldade, mas para não ficar atrás do defunto general. (E, já agora, admitamos que também para evitar que, como é usual em transacções bolsistas, os lucros futuros sejam implicitamente pagos adiantadamente por quem se propõe comprar uma empresa.)
Adiante. E depois?
Depois, perante a ameaça de futuras nacionalizações atribiliárias, a cotação de todas as acções cotadas na Bolsa de Lisboa descerá a pique. Os investidores estrangeiros, em particular, farão as malas no dia seguinte (ou mesmo, quem sabe, no dia anterior).
Que se lixem os grandes capitalistas, dirá Louçã. Sucede, porém, que, para além dos "grandes capitalistas" muitas outras pessoas e empresas detêm acções. Vai daí, descerá também o valor das empresas com capital empatado naquelas que forem nacionalizadas.
E a cadeia de efeitos não parará aí. Como a recente crise comorigemn nos EUA nos recordou, quando as grandes empresas começam a perder valor, às tantas há pessoas remediadas que vêem esfumar-se as poupanças de toda uma vida.
Não creio, porém, que isso apoquentasse Louçã. Uma tal eventualidade, gerando miséria e desemprego crescentes, servir-lhe-ia, aliás, para comprovar a intrínseca perversidade do sistema capitalista, eventualmente justificativa de novas nacionalizações, numa fúria crescente de ódio ao patronato explorador.
Quando dessemos por ela, estariamos a viver em Cuba.
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