Eu estaria inclinado a concordar com o Rui: "estudar compensa".
Mas, por outro lado, temos que admitir que ao Vasco Pulido Valente não lhe fez bem nenhum, visto que ele nem sequer é capaz de ler um ranking, quanto mais interpretá-lo...
31.10.05
Devagar, devagarinho e parado
Rompendo um longo silêncio de cerca de um mês, o Público, pela voz do seu Director, reafirma hoje ter indicações seguras de que dois membros do Secretariado do PS terão estado envolvidos em negociações relacionadas com o regresso de Fátima Felgueiras a Portugal.
Li e reli com atenção a prosa do Público - confusíssima e longuíssima, note-se - e não dei conta de nenhum facto novo.
Se era só para dizer que o Público mantém o que afirmou na altura, porque é que demorou tanto tempo?
Pelos vistos não são só os tribunais portugueses que são lentos. O Público segue velozmente na sua peúgada.
Entretanto, um caso que, a confirmar-se, será extremamente grave, continuará a alimentar todas as suspeições imagináveis por tempo indeterminado.
Próxima etapa: lá para Fevereiro?
Li e reli com atenção a prosa do Público - confusíssima e longuíssima, note-se - e não dei conta de nenhum facto novo.
Se era só para dizer que o Público mantém o que afirmou na altura, porque é que demorou tanto tempo?
Pelos vistos não são só os tribunais portugueses que são lentos. O Público segue velozmente na sua peúgada.
Entretanto, um caso que, a confirmar-se, será extremamente grave, continuará a alimentar todas as suspeições imagináveis por tempo indeterminado.
Próxima etapa: lá para Fevereiro?
A esperteza saloia do PSD e o referendo
Recapitulando. Em tempos que já lá vão, António Guterres cometeu uma das maiores asneiras do seu consulado, ao decidir submeter a referendo o tema da interrupção voluntária da gravidez.
O referendo não foi válido, dado não ter votado a percentagem mínima de eleitores prevista na lei e, por esse motivo, as coisas ficaram como estavam.
Embora considere um erro a decisão inicial de referendar a interrupção voluntária da gravudez, concordo que, tendo sido esse o caminho escolhido, não é agora correcto a Assembleia legislar sobre o assunto enquanto não tiver lugar um novo referendo.
Por conseguinte, fez bem Sócrates quando, na sequência da decisão do Tribunal Constitucional, optou por esperar pela próxima sessão legislativa para desencadear o processo.
Dito isto, é preciso acrescentar que, ao contrário do PS, o PSD não está a jogar limpo, persistindo nas manobras dilatórias a que tem recorrido de há dez anos a esta parte para evitar que o problema seja resolvido de uma vez por todas. A esperteza saloia é a única arte em que Marques Mendes verdadeiramente se sente à vontade.
Nesse sentido, seria bom que fosse avisado de que, se o PSD não abandonar essa atitude - e há-de haver sempre pretextos para adiar uma e outra vez o referendo - o PS poderá nalgum momento ver-se forçado a mudar de ideias, aprovando uma nova lei na Assembleia da República sem mais demoras.
O referendo não foi válido, dado não ter votado a percentagem mínima de eleitores prevista na lei e, por esse motivo, as coisas ficaram como estavam.
Embora considere um erro a decisão inicial de referendar a interrupção voluntária da gravudez, concordo que, tendo sido esse o caminho escolhido, não é agora correcto a Assembleia legislar sobre o assunto enquanto não tiver lugar um novo referendo.
Por conseguinte, fez bem Sócrates quando, na sequência da decisão do Tribunal Constitucional, optou por esperar pela próxima sessão legislativa para desencadear o processo.
Dito isto, é preciso acrescentar que, ao contrário do PS, o PSD não está a jogar limpo, persistindo nas manobras dilatórias a que tem recorrido de há dez anos a esta parte para evitar que o problema seja resolvido de uma vez por todas. A esperteza saloia é a única arte em que Marques Mendes verdadeiramente se sente à vontade.
Nesse sentido, seria bom que fosse avisado de que, se o PSD não abandonar essa atitude - e há-de haver sempre pretextos para adiar uma e outra vez o referendo - o PS poderá nalgum momento ver-se forçado a mudar de ideias, aprovando uma nova lei na Assembleia da República sem mais demoras.
30.10.05
Encontros de Outono
Les beaux esprits se rencontrent. Mesmo que, às vezes, só de nariz tapado.
Esta recomendação assemelha-se bastante a uma ofensa, não acham?
Esta recomendação assemelha-se bastante a uma ofensa, não acham?
28.10.05
Nós e Israel
O incitamento a varrer Israel do mapa mostra que o actual Presidente do Irão ou é fanático, ou é estúpido, ou é simultaneamente fanático e estúpido. Inclino-me para a terceira hipótese.
Admito que estas declarações serão predominantemente para consumo interno, mas isso não nos dá o direito de subestimá-las.
Por isso, também eu pergunto: porque se calou o Governo portguês?
Admito que estas declarações serão predominantemente para consumo interno, mas isso não nos dá o direito de subestimá-las.
Por isso, também eu pergunto: porque se calou o Governo portguês?
27.10.05
O cavaquismo é o sistema em que vivemos
A partir de meados dos anos 80, com a adesão à UE, começou a chover dinheiro em Portugal.
O cavaquismo foi o sistema que organizou a contento a distribuição desses dinheiros, incluindo alguns que sobraram para caridade.
A sua ideia central, podemos hoje entendê-lo melhor à distância, era conseguir fazer entrar o país na modernidade sem pôr em causa a sua ancestral tacanhez.
Assim, a tradicional estrutura de poder económico-social, articulando sabiamente os pequenos e médios poderes locais com as grandes empresas encostadas à sombra do Estado, foi ciosamente reconstituída com alguns arranjos mínimos.
Seria de esperar que a abertura à concorrência externa, as reprivatizações, a expansão do investimento estrangeiro e o grande aumento da escolaridade tivessem conduzido a um crescimento espectacular da produtividade. Nada disso aconteceu.
Os grupos económicos concentraram a sua actividade em sectores protegidos da concorrência externa: finança, imobiliário, obras públicas, telecomunicações, grande retalho e auto-estradas, por exemplo. As PMEs receberam fortunas em subvenções provenientes da Europa para finalidades de interesse altamente duvidoso.
No essencial, muito pouco de essencial mudou. Muito em particular, os governos de Cavaco Silva foram de uma ineficácia total e absoluta nos domínios da justiça, da saúde e do ensino, já para não falar da reforma administrativa. Para complicar ainda mais as coisas, inventaram maravilhas como a progressão automática nas carreiras dos funcionários públicos e uma miríade de sub-sistemas especiais de privilégios que hoje estamos a descobrir.
Quando já estava tudo farto dos cavaquistas, veio o guterrismo que, mau grado as boas intenções iniciais, acabou por não ser mais que a continuação do cavaquismo por outros meios.
E é nisto que ainda hoje estamos, ou seja, no sistema instaurado sob a égide do professor Cavaco Silva. Talvez ele, que nos trouxe para cá, saiba como se sai daqui.
Acham?
O cavaquismo foi o sistema que organizou a contento a distribuição desses dinheiros, incluindo alguns que sobraram para caridade.
A sua ideia central, podemos hoje entendê-lo melhor à distância, era conseguir fazer entrar o país na modernidade sem pôr em causa a sua ancestral tacanhez.
Assim, a tradicional estrutura de poder económico-social, articulando sabiamente os pequenos e médios poderes locais com as grandes empresas encostadas à sombra do Estado, foi ciosamente reconstituída com alguns arranjos mínimos.
Seria de esperar que a abertura à concorrência externa, as reprivatizações, a expansão do investimento estrangeiro e o grande aumento da escolaridade tivessem conduzido a um crescimento espectacular da produtividade. Nada disso aconteceu.
Os grupos económicos concentraram a sua actividade em sectores protegidos da concorrência externa: finança, imobiliário, obras públicas, telecomunicações, grande retalho e auto-estradas, por exemplo. As PMEs receberam fortunas em subvenções provenientes da Europa para finalidades de interesse altamente duvidoso.
No essencial, muito pouco de essencial mudou. Muito em particular, os governos de Cavaco Silva foram de uma ineficácia total e absoluta nos domínios da justiça, da saúde e do ensino, já para não falar da reforma administrativa. Para complicar ainda mais as coisas, inventaram maravilhas como a progressão automática nas carreiras dos funcionários públicos e uma miríade de sub-sistemas especiais de privilégios que hoje estamos a descobrir.
Quando já estava tudo farto dos cavaquistas, veio o guterrismo que, mau grado as boas intenções iniciais, acabou por não ser mais que a continuação do cavaquismo por outros meios.
E é nisto que ainda hoje estamos, ou seja, no sistema instaurado sob a égide do professor Cavaco Silva. Talvez ele, que nos trouxe para cá, saiba como se sai daqui.
Acham?
Amaral, o conformado
Há escassas semanas, Luciano Amaral pedia abertamente que, uma vez eleito, Cavaco Presidente se empenhasse em mudar o "regime".
Quando Cavaco tornou claro que não tencionava fazê-lo, mostrou-se desapontado.
Hoje, no DN, ficamos a saber que já superou a desilusão adolescente. Venha de lá então esse Cavaco Silva semi-presidencialista, cooperante com o Governo, dialogante, social-democrata e tudo...
É o que acontece quando a direita se sente encostada à parede.
Quando Cavaco tornou claro que não tencionava fazê-lo, mostrou-se desapontado.
Hoje, no DN, ficamos a saber que já superou a desilusão adolescente. Venha de lá então esse Cavaco Silva semi-presidencialista, cooperante com o Governo, dialogante, social-democrata e tudo...
É o que acontece quando a direita se sente encostada à parede.
Três candidatos
No plano puramente simbólico, o quadro geral das eleições presidenciais está perfeitamente definido.
Soares ocupa o território da política.
Cavaco, o da economia.
Alegre, o da cultura.
Nas actuais condições de alarme económico generalizado, o espaço de Cavaco Silva é inevitavelmente sólido.
Nas actuais condições de desprestígio da política, o espaço natural de Soares é perigoso.
Nas actuais condições de desorientação ideológica, o espaço de Alegre estimula o sonho.
Soares ocupa o território da política.
Cavaco, o da economia.
Alegre, o da cultura.
Nas actuais condições de alarme económico generalizado, o espaço de Cavaco Silva é inevitavelmente sólido.
Nas actuais condições de desprestígio da política, o espaço natural de Soares é perigoso.
Nas actuais condições de desorientação ideológica, o espaço de Alegre estimula o sonho.
23.10.05
22.10.05
Pequeno mundo
Os tribunais funcionam devagar e não fazem justiça. Os polícias ameaçam fazer greve e os juízes fazem mesmo. Os doentes esperam eternidades por uma operação. As farmacêuticas conspiram para manter artificialmente elevados os preços dos medicamentos. Os miúdos acabam o ensino obrigatório sem saberem escrever e contar decentemente. Os patos bravos destroem livremente a paisagem. A floresta arde ano após ano sem surpresa perante a impotência dos poderes públicos. Crianças entregues à guarda do Estado são abusadas durante anos a fio. As televisões promovem diariamente a estupidez. A burocracia desfaz-nos a paciência. A corrupção toma conta do dia a dia dos negócios.
A acreditar no seu discurso de candidatura, porém, a única coisa que rala Cavaco é a economia e as finanças públicas.
Como se explica uma coisa dessas?
É que a economia e as finanças públicas traçam os limites do pequeno mundo mental em que ele se move. Fora disso, quase nada sabe, e, sobretudo, quase nada lhe interessa.
A acreditar no seu discurso de candidatura, porém, a única coisa que rala Cavaco é a economia e as finanças públicas.
Como se explica uma coisa dessas?
É que a economia e as finanças públicas traçam os limites do pequeno mundo mental em que ele se move. Fora disso, quase nada sabe, e, sobretudo, quase nada lhe interessa.
Debicando os fígados de Prometeu
A cartilha reaccionária consente ser resumida em apenas dois artigos de fé:
1. Este mundo é um vale de lágrimas feio, porco e mau, mas, no essencial, é impossível mudá-lo para melhor.
2. Quando se procura mudá-lo para melhor, o resultado final é ainda pior que a situação de partida.
No seu artigo estampado no Público de ontem e reproduzido no Abrupto, retoma essas teses sob uma forma contemporânea.
O que alega é que, apesar dos progressos da ciência e da medicina modernas, estamos hoje ainda mais expostos aos perversos ataques da Natureza, na medida em que as mutações vão tornando os virús cada vez mais resistentes aos antídotos que inventámos para combatê-los.
Será impressão minha, ou não haverá aqui um secreto regozijo perante a eventualidade dos milhões de mortes que a gripe das aves alegadamente poderá causar?
E morrerão as vítimas mais felizes por saberem que o seu sacrifício corroborá as teses do reverendo Malthus de que, pelos vistos, Pacheco Pereira comunga?
1. Este mundo é um vale de lágrimas feio, porco e mau, mas, no essencial, é impossível mudá-lo para melhor.
2. Quando se procura mudá-lo para melhor, o resultado final é ainda pior que a situação de partida.
No seu artigo estampado no Público de ontem e reproduzido no Abrupto, retoma essas teses sob uma forma contemporânea.
O que alega é que, apesar dos progressos da ciência e da medicina modernas, estamos hoje ainda mais expostos aos perversos ataques da Natureza, na medida em que as mutações vão tornando os virús cada vez mais resistentes aos antídotos que inventámos para combatê-los.
Será impressão minha, ou não haverá aqui um secreto regozijo perante a eventualidade dos milhões de mortes que a gripe das aves alegadamente poderá causar?
E morrerão as vítimas mais felizes por saberem que o seu sacrifício corroborá as teses do reverendo Malthus de que, pelos vistos, Pacheco Pereira comunga?
21.10.05
Pilares da economia
Têm estado atentos às investigações de eventuais operações de fraude fiscal e branqueamento de capitais conduzidas à sombra de importantes instituições bancárias?
A pouco e pouco vamos começando a perceber quais são as verdadeiras causas do miserável estado em que se encontra a economia portuguesa.
A pouco e pouco vamos começando a perceber quais são as verdadeiras causas do miserável estado em que se encontra a economia portuguesa.
20.10.05
Intelligentzia
Há apenas três mesitos, os inteligentes de serviço explicaram-nos que, com a saída de Campos e Cunha, o governo abandonara o seu programa de contenção da despesa pública.
Uma dessas cabeças, segundo a qual o "verdadeiro teste" seria o OGE para 2006, limpa-se agora alegando que, afinal, o "verdadeiro teste" será o OGE para 2007. Sempre ganha um anito para pensar no que terá que inventar a seguir.
Uma dessas cabeças, segundo a qual o "verdadeiro teste" seria o OGE para 2006, limpa-se agora alegando que, afinal, o "verdadeiro teste" será o OGE para 2007. Sempre ganha um anito para pensar no que terá que inventar a seguir.
16.10.05
O cão mordeu o homem
A vitória do Benfica no Dragão ao fim de 14 anos seria, em circunstâncias normais, uma notícia surpresa.
Excepto que, tendo sido anunciada pelo próprio Adriaanse dois dias antes, na verdade não houve surpresa nenhuma.
O holandês voltou a aplicar a táctica que tem usado com tanto sucesso na sua já longa carreira: o 4-0-6, com a peculiaridade de os 4 de trás também serem uns zeros.
Aconteceu que Koeman, num golpe de génio, optou por colocar 11 jogadores em campo, uma decisão arguta, traiçoeira e inteiramente inesperada.
Desta vez, os prognósticos puderam ser adiantados ainda antes do princípio do jogo. Tudo se limitou afinal a isto: o cão mordeu o homem.
Excepto que, tendo sido anunciada pelo próprio Adriaanse dois dias antes, na verdade não houve surpresa nenhuma.
O holandês voltou a aplicar a táctica que tem usado com tanto sucesso na sua já longa carreira: o 4-0-6, com a peculiaridade de os 4 de trás também serem uns zeros.
Aconteceu que Koeman, num golpe de génio, optou por colocar 11 jogadores em campo, uma decisão arguta, traiçoeira e inteiramente inesperada.
Desta vez, os prognósticos puderam ser adiantados ainda antes do princípio do jogo. Tudo se limitou afinal a isto: o cão mordeu o homem.
Um mestre-escola na Presidência
A perspectiva de um mestre-escola poder chegar a Belém traz em grande alvoroço o Portugal dos Pequeninos.
15.10.05
Vamos lá a saber
É indispensável que Cavaco se pronuncie sobre estas declarações de Morais Sarmento.
Diversos políticos e comentadores que se apresentam como apoiantes de Cavaco Silva têm vindo a dizer coisas semelhantes, tornando manifesto o propósito de usar a Presidência da República para subverter o regime constitucional.
Ou bem que Cavaco se distancia destas posições, ou bem que, calando-se, consente ser essa de facto a sua agenda oculta.
Temos todos o direito de saber o que pretende ele com a sua candidatura presidencial. Fico à espera que os jornalistas façam as perguntas que se impõem.
Diversos políticos e comentadores que se apresentam como apoiantes de Cavaco Silva têm vindo a dizer coisas semelhantes, tornando manifesto o propósito de usar a Presidência da República para subverter o regime constitucional.
Ou bem que Cavaco se distancia destas posições, ou bem que, calando-se, consente ser essa de facto a sua agenda oculta.
Temos todos o direito de saber o que pretende ele com a sua candidatura presidencial. Fico à espera que os jornalistas façam as perguntas que se impõem.
14.10.05
Agora ou nunca
Aos benfiquistas tanto se lhes dá, porque o que mais os excita no futebol é a arbitragem, mas, se o Simão e o Nuno Gomes estiverem em dia sim (os outros nove servem principalmente para distrair o adversário) o seu clube tem este fim de semana uma oportunidade única de golear o FC Porto no Dragão.
Concluí isto depois de saber que, segundo o Adriaanse, a sua equipa tem de jogar como se o adversário não existisse. O futebol onanista é, pelos vistos, uma modalidade muito popular na Holanda.
Elogio das rotundas
Acreditem se quiserem, mas a verdade é que eu estava a projectar escrever um post a dizer isto mesmo. E até o título era igual.
Moral da história: quando se deixa para amanhã o que se pode fazer hoje, pode acontecer que, com um bocado de sorte, alguém o faça por nós.
Moral da história: quando se deixa para amanhã o que se pode fazer hoje, pode acontecer que, com um bocado de sorte, alguém o faça por nós.
13.10.05
Coerências
Pacheco Pereira criticou, com toda a razão, a excessiva cobertura televisiva das eleições de Amarante, Gondomar, Felgueiras e Oeiras.
Mas, ao mesmo tempo, opinou que Sócrates deveria ter ido a Felgueiras.
Para quê? Para envolver o primeiro-ministro numa arruaça? Mas que grande momento de televisão não teria sido!
Ora, boa noite!
Mas, ao mesmo tempo, opinou que Sócrates deveria ter ido a Felgueiras.
Para quê? Para envolver o primeiro-ministro numa arruaça? Mas que grande momento de televisão não teria sido!
Ora, boa noite!
As causas das coisas
Uma análise original das últimas autárquicas, onde é capaz de haver algo de verdade.
12.10.05
11.10.05
Que fazer?
Se o PP não apresentar um candidato às próximas eleições presidenciais, corre o risco de desaparecer da cena política e, por conseguinte, ser condenado à irrelevância nos próximos anos.
Por outro lado, se o PP apresentar um candidato às próximas eleições presidenciais, corre o risco de ser cilindrado e, por conseguinte, ser condenado à irrelevância nos próximos anos.
Damned if you do, damned if you don't.
Que fazer?
Para provar que o PSD não pode fazer nada sem ele, o PP não precisa de ter um bom resultado. Basta-lhe impedir que Cavaco o tenha, designadamente na primeira volta. Ora, para lograr esse propósito, tirar-lhe 3% dos votos é absolutamente suficiente para estragar-lhe a vida.
Depois, na segunda volta, logo se verá...
O problema é que, mesmo assim, o mais provável é que Cavaco ganhe na segunda volta. Ora, nessas circunstâncias, com Cavaco em Belém durante 10 anos a tutelar o PSD, o PP pode dizer adeus a qualquer nova grande coligação à direita num horizonte longo.
A questão, porém, é que o mesmo acontecerá se Cavaco ganhar e o PP não apresentar candidato. De Cavaco, o PP não pode esperar nada. Quer apresente candidato, quer prescinda de o fazer.
Logo, apresentar candidato é uma estratégia recomendável para o PP, dado que, faça o que fizer, nunca poderá contar com a benevolência de Cavaco.
Conclui-se, então, que o PP pode fazer uma de duas coisas:
a) Apresentar um candidato que, ao contrário de Cavaco, proponha abertamente a mudança do regime.
b) Usar a ameaça de apresentar candidato para conseguir posições de destaque na candidatura de Cavaco.
A alternativa b) tem, porém, dois grandes inconvenientes. Primeiro, como se sabe, Cavaco não cede a pressões... Segundo, uma candidatura com um peso significativo do PP desloca-se para a direita e faz Cavaco perder votos.
Por outro lado, se o PP apresentar um candidato às próximas eleições presidenciais, corre o risco de ser cilindrado e, por conseguinte, ser condenado à irrelevância nos próximos anos.
Damned if you do, damned if you don't.
Que fazer?
Para provar que o PSD não pode fazer nada sem ele, o PP não precisa de ter um bom resultado. Basta-lhe impedir que Cavaco o tenha, designadamente na primeira volta. Ora, para lograr esse propósito, tirar-lhe 3% dos votos é absolutamente suficiente para estragar-lhe a vida.
Depois, na segunda volta, logo se verá...
O problema é que, mesmo assim, o mais provável é que Cavaco ganhe na segunda volta. Ora, nessas circunstâncias, com Cavaco em Belém durante 10 anos a tutelar o PSD, o PP pode dizer adeus a qualquer nova grande coligação à direita num horizonte longo.
A questão, porém, é que o mesmo acontecerá se Cavaco ganhar e o PP não apresentar candidato. De Cavaco, o PP não pode esperar nada. Quer apresente candidato, quer prescinda de o fazer.
Logo, apresentar candidato é uma estratégia recomendável para o PP, dado que, faça o que fizer, nunca poderá contar com a benevolência de Cavaco.
Conclui-se, então, que o PP pode fazer uma de duas coisas:
a) Apresentar um candidato que, ao contrário de Cavaco, proponha abertamente a mudança do regime.
b) Usar a ameaça de apresentar candidato para conseguir posições de destaque na candidatura de Cavaco.
A alternativa b) tem, porém, dois grandes inconvenientes. Primeiro, como se sabe, Cavaco não cede a pressões... Segundo, uma candidatura com um peso significativo do PP desloca-se para a direita e faz Cavaco perder votos.
Nobel para Strangelove
A Teoria dos Jogos recorre a modelos matemáticos de elevada complexidade para estudar os fenómenos de conflito.
Todavia, os livros de Thomas Schelling - um especialista do tema a quem, juntamente com Aumann, foi ontem atribuído o Nobel da Economia - podem ser lidos por qualquer pessoa capaz de seguir um raciocínio complexo.
Melhor ainda, a parte mais original das investigações de Schelling sobre as jogadas estratégicas que visam alterar as expectativas das partes em conflito é apresentada e discutida no filme "Dr. Strangelove - Or How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb" de Stanley Kubrick.
Se já viu o filme, reveja-o agora, porque esta é uma oportunidade única de discutir com os amigos a teoria dos jogos.
Além disso, recomendo vivamente dois livros de Schelling: "The Strategy of Conflict", sobre as jogadas estratégicas, com grande aplicação à estratégia política e militar; e "Micromotives and Macrobehavior", onde se mostra como pequenos desvios do comportamento dos indivíduos em relação à norma podem conduzir a resultados desastrosos em larga escala, uma perspectiva muito útil para a compreensão de uma grande variedade de problemas, incluindo a degradação do ambiente natural ou a discriminação social, racial e sexual.
Ideia para uma micro-causa
Que tal lançar-se uma campanha para obrigar o Scolari a pôr o Ricardo fora da selecção?
Antes que seja demasiado tarde...
10.10.05
Vencidos e vencedores
As vitórias retumbantes de Isaltino e Valentim também significam, não o esqueçamos, que segue o seu curso a cisão no interior do PSD.
Por outro lado, a candidatura de Cavaco à Presidência pode ser vista como uma tentativa in extremis de reconciliar a família social-democrata desavinda.
Por outro lado, a candidatura de Cavaco à Presidência pode ser vista como uma tentativa in extremis de reconciliar a família social-democrata desavinda.
As fontes
Quem argumenta deve procurar fazê-lo com um mínimo de lógica. Ora, do que eu gostaria era que o amigo Crítico me explicasse como é que a revelação dos nomes dos dois membros do Secretariado do PS que alegadamente negociaram com Fátima Felgueiras poderia pôr em risco as tais fontes da notícia.
É que, note bem, se a notícia for verdadeira, os dois membros saberão perfeitamente o que fizeram e saberão a quem terão falado do caso. Logo, desconfiarão já de quem poderá ter contado a história ao Público. Em que é que a publicação dos nomes os ajudará a identificar o informador? Não percebo, e aposto que o Crítico também não.
Não estará o Crítico já arrependido de ter escrito o que escreveu?
É que, note bem, se a notícia for verdadeira, os dois membros saberão perfeitamente o que fizeram e saberão a quem terão falado do caso. Logo, desconfiarão já de quem poderá ter contado a história ao Público. Em que é que a publicação dos nomes os ajudará a identificar o informador? Não percebo, e aposto que o Crítico também não.
Não estará o Crítico já arrependido de ter escrito o que escreveu?
O chimpanzé sueco
Tendo em conta o medíocre desempenho dos fundos de investimento portugueses nos últimos anos, a resposta a esta questão é que, muito provavelmente, o pedreiro ganharia, desde que seleccionásse os títulos de uma forma aleatória.
Em linguagem técnica, chama-se a isso, sem ofensa, o método do "chimpanzé sueco".
Em linguagem técnica, chama-se a isso, sem ofensa, o método do "chimpanzé sueco".
Endogamia
O descontentamento de uma parte não negligenciável da população contra a política do governo funciona como circunstância agravante.
Mas o eleitor comum não afasta ou recusa um autarca capaz apenas por se dar o caso de ele ser membro do partido no poder.
À segunda banhada consecutiva em apenas quatro anos, é altura de se reconhecer que o fulcro do problema é que o PS não tem candidatos autárquicos à altura para nos propor.
O PS é, de há anos a esta parte, o mais fechado dos partidos portugueses. Os seus militantes vivem em circuito fechado: fora das sedes, ninguém os conhece. Assim, o mais provável é que os favoritos do aparelho não passem de uns medíocres cá fora.
Vendo as coisas com realismo, o PS está a morrer porque é incapaz de se reproduzir. Perguntem-se onde está a próxima geração de políticos socialistas, e a resposta é que, ou não existem, ou são demasiado maus para querermos conhecê-los.
A endogamia do PS produziu monstros. Acontece que os eleitores, com toda a razão, não gostam deles.
Mas o eleitor comum não afasta ou recusa um autarca capaz apenas por se dar o caso de ele ser membro do partido no poder.
À segunda banhada consecutiva em apenas quatro anos, é altura de se reconhecer que o fulcro do problema é que o PS não tem candidatos autárquicos à altura para nos propor.
O PS é, de há anos a esta parte, o mais fechado dos partidos portugueses. Os seus militantes vivem em circuito fechado: fora das sedes, ninguém os conhece. Assim, o mais provável é que os favoritos do aparelho não passem de uns medíocres cá fora.
Vendo as coisas com realismo, o PS está a morrer porque é incapaz de se reproduzir. Perguntem-se onde está a próxima geração de políticos socialistas, e a resposta é que, ou não existem, ou são demasiado maus para querermos conhecê-los.
A endogamia do PS produziu monstros. Acontece que os eleitores, com toda a razão, não gostam deles.
9.10.05
Será normal?
Conversa da treta: "Ai, e tal, porque as eleições decorreram em absoluta normalidade democrática..."
Realidade: Tanto quanto me lembro, foi esta a primeira vez que ocorreram erros em larga escala na impressão de boletins de voto. Mais grave ainda, o STAPE permaneceu engasgado até às dez da noite.
Diga-me, doutor, será normal este desleixo em questões de tamanha importância?
Realidade: Tanto quanto me lembro, foi esta a primeira vez que ocorreram erros em larga escala na impressão de boletins de voto. Mais grave ainda, o STAPE permaneceu engasgado até às dez da noite.
Diga-me, doutor, será normal este desleixo em questões de tamanha importância?
Já estou melhor, obrigado
A derrota de Carrilho em Lisboa é uma muito boa notícia.
Primeiro, pelo personagem em si mesmo. Se o eleitorado lisboeta não o tivesse travado agora, a sua ambição não conheceria limites. Pela prepotência que exibiu enquanto mero candidato, podemos adivinhar o que sucederia se se apanhasse no poder.
Depois, e principalmente, pelo que representa, ou seja, pela forma vazia de fazer política pela televisão e para a televisão. Não tenham dúvidas: quem o escolheu para candidato do PS à Presidência da Câmara de Lisboa fê-lo porque achava que ele teria o apoio dos media.
Eu andava meio enojado. Mas agora já me sinto um bocadinho melhor, obrigado.
Primeiro, pelo personagem em si mesmo. Se o eleitorado lisboeta não o tivesse travado agora, a sua ambição não conheceria limites. Pela prepotência que exibiu enquanto mero candidato, podemos adivinhar o que sucederia se se apanhasse no poder.
Depois, e principalmente, pelo que representa, ou seja, pela forma vazia de fazer política pela televisão e para a televisão. Não tenham dúvidas: quem o escolheu para candidato do PS à Presidência da Câmara de Lisboa fê-lo porque achava que ele teria o apoio dos media.
Eu andava meio enojado. Mas agora já me sinto um bocadinho melhor, obrigado.
Digam lá
Como eu próprio lancei esse desafio ao Público no passado dia 29 de Setembro, faz todo o sentido que, seguindo o apelo do Bloguítica, aqui pergunte mais uma vez:
PODE O JORNAL «PÚBLICO» SFF ESCLARECER COM QUEM É QUE FÁTIMA FELGUEIRAS MANTEVE CONTACTOS NO SECRETARIADO NACIONAL DO PS? QUANDO É QUE ESSES CONTACTOS TIVERAM LUGAR? QUEM É QUE INFORMOU JAIME GAMA PREVIAMENTE DA LIBERTAÇÃO DE FÁTIMA FELGUEIRAS?
PODE O JORNAL «PÚBLICO» SFF ESCLARECER COM QUEM É QUE FÁTIMA FELGUEIRAS MANTEVE CONTACTOS NO SECRETARIADO NACIONAL DO PS? QUANDO É QUE ESSES CONTACTOS TIVERAM LUGAR? QUEM É QUE INFORMOU JAIME GAMA PREVIAMENTE DA LIBERTAÇÃO DE FÁTIMA FELGUEIRAS?
Margens de dúvida
Quando o debate político tende a ser substituído pela discussão das sondagens - certos jornalistas chegam quase ao ponto de perguntar aos candidatos: "Se as sondagens mostram que vai perder, porque é que insiste?" - torna-se indispensável que todos nós, e principalmente aqueles que assumem a responsabilidade de divulgá-las ou discuti-las, entendam bem as suas virtudes e limitações.
É também por isso que o Pedro Magalhães deve ser felicitado pelo contributo ímpar que o seu blogue deu para a elevação do debate em torno destas eleições autárquicas, agora prestes a chegar ao fim.
É também por isso que o Pedro Magalhães deve ser felicitado pelo contributo ímpar que o seu blogue deu para a elevação do debate em torno destas eleições autárquicas, agora prestes a chegar ao fim.
O que já sabemos sobre o caso Media Capital
Tenho estado atento ao caso da eventual tomada de controlo do grupo Media Capital - e, logo, da TVI - pelo grupo Prisa.
Um tal Van Zeller, administrador não-executivo que as trocas e baldrocas em torno do capital da empresa ocorridas nos últimos 10 anos não haviam conseguido tirar do sério, alegou publicamente perversas manobras políticas para se demitir. Chamado a depor, confessou que de facto não sabia nada. Para ser mais claro: admitiu que não sabia o que estava a dizer.
Depois, um membro da AACS queixou-se de estar a ser pressionado por um ministro que terá lembrado os prazos para a entrega de um parecer. É de facto, intolerável.
Por outro lado, Cintra Torres, um comentador muito dado à politiquice, usa regularmente a sua coluna no Público para desfiar as mais fantásticas acusações contra a alegada conspiração socialista tendo em vista a tomada de poder na TVI.
Finalmente, Marques Mendes não perde uma oportunidade para alertar os portugueses contra o risco da ocupação da nossa televisão pelos espanhóis.
Que posso, para já concluir? Por um lado, que, quanto ao envolvimento do PS e do Governo no negócio, ainda é preciso esperar para ver se essa acusação tem algum fundamento. Por outro lado, que não existe qualquer dúvida quanto à existência de manobras do PSD para impedi-lo.
Um tal Van Zeller, administrador não-executivo que as trocas e baldrocas em torno do capital da empresa ocorridas nos últimos 10 anos não haviam conseguido tirar do sério, alegou publicamente perversas manobras políticas para se demitir. Chamado a depor, confessou que de facto não sabia nada. Para ser mais claro: admitiu que não sabia o que estava a dizer.
Depois, um membro da AACS queixou-se de estar a ser pressionado por um ministro que terá lembrado os prazos para a entrega de um parecer. É de facto, intolerável.
Por outro lado, Cintra Torres, um comentador muito dado à politiquice, usa regularmente a sua coluna no Público para desfiar as mais fantásticas acusações contra a alegada conspiração socialista tendo em vista a tomada de poder na TVI.
Finalmente, Marques Mendes não perde uma oportunidade para alertar os portugueses contra o risco da ocupação da nossa televisão pelos espanhóis.
Que posso, para já concluir? Por um lado, que, quanto ao envolvimento do PS e do Governo no negócio, ainda é preciso esperar para ver se essa acusação tem algum fundamento. Por outro lado, que não existe qualquer dúvida quanto à existência de manobras do PSD para impedi-lo.
8.10.05
Santa Claus is coming to town
Este ano, com a ajuda do Google Earth, é que o Pai Natal vai saber mesmo quem foram os meninos que se portaram mal.
A rainha guerreira
Raramente concordo com o que escreve. Mas valorizo na Joana a vasta cultura, o cuidado posto na argumentação e o facto de usualmente falar daquilo que entende. Em contrapartida, desgosta-me algum facciosismo.
Há algum tempo tive ocasião de lhe dizer como aprecio o seu blogue, mas acho que ela não acreditou. Agora, que o Semiramis completou o seu segundo aniversário, aqui ficam os meus parabéns.
Há algum tempo tive ocasião de lhe dizer como aprecio o seu blogue, mas acho que ela não acreditou. Agora, que o Semiramis completou o seu segundo aniversário, aqui ficam os meus parabéns.
7.10.05
Recordar é viver
Há algo de comovente na atitude daqueles sujeitos que, detestando um blogue, não conseguem deixar passar um dia sem lá irem religiosamente depositar um insulto na caixa dos comentários. E que saudades eu tenho dessas torpes homenagens, desde que a minha misteriosamente se finou!
6.10.05
A falência da indignação
Francisco José Viegas no JN de hoje:
"A vida política precisa de um pouco de racionalidade, evidentemente. De contrário, qualquer um teria o direito de desatar à gargalhada depois de ver Bárbara Guimarães e Carilho distribuindo rosas em Lisboa. Coisas sérias: se Isaltino ganhar em Oeiras, se Fátima Felgueiras regressar à câmara, se Valentim Loureiro se mantiver em Gondomar, isso não significa que esse risco de racionalidade foi pisado. Significa, sim, que a justiça andou mal e que não andou a tempo. Podemos indignar-nos, sim, mas a indignação banalizou-se e é conveniente que sejam mesmo os tribunais a tomar as decisões que alguns gostariam de tomar nas ruas. Até lá, aguentem-nos. Votem neles, ou não. É a vida."
Certíssimo.
"A vida política precisa de um pouco de racionalidade, evidentemente. De contrário, qualquer um teria o direito de desatar à gargalhada depois de ver Bárbara Guimarães e Carilho distribuindo rosas em Lisboa. Coisas sérias: se Isaltino ganhar em Oeiras, se Fátima Felgueiras regressar à câmara, se Valentim Loureiro se mantiver em Gondomar, isso não significa que esse risco de racionalidade foi pisado. Significa, sim, que a justiça andou mal e que não andou a tempo. Podemos indignar-nos, sim, mas a indignação banalizou-se e é conveniente que sejam mesmo os tribunais a tomar as decisões que alguns gostariam de tomar nas ruas. Até lá, aguentem-nos. Votem neles, ou não. É a vida."
Certíssimo.
Fuga aos impostos
Toda a gente o diz. Muita gente o escreve. Mas não conheço nenhuma prova séria de que a fuga ao fisco seja em Portugal mais grave no que na generalidade dos restantes países europeus.
Por isso julgo fantasiosa a ideia, popular em meios de esquerda, segundo a qual o combate à evasão fiscal pode ser um instrumento central de combate ao desequilíbrio das contas públicas.
Hoje em dia, só conheço duas formas importantes de se evitar pagar impostos:
a) Recorrer aos subterfúgios permitidos pela lei;
b) Aderir ao crime organizado.
A quem souber de outras - mas souber mesmo! - rogo esclarecimentos.
Por isso julgo fantasiosa a ideia, popular em meios de esquerda, segundo a qual o combate à evasão fiscal pode ser um instrumento central de combate ao desequilíbrio das contas públicas.
Hoje em dia, só conheço duas formas importantes de se evitar pagar impostos:
a) Recorrer aos subterfúgios permitidos pela lei;
b) Aderir ao crime organizado.
A quem souber de outras - mas souber mesmo! - rogo esclarecimentos.
5.10.05
O desejo de ser falado
"A ambição, o interesse, o desejo de fazer falar de mim triunfaram; e a guerra foi decidida." Assim explicou Frederico da Prússia a guerra contra Maria Teresa, rainha da Boémia e da Hungria.
Voltaire, que o persuadira a eliminar esta frase do manuscrito, explica nas suas Memórias porque se arrependeu de o ter feito:
"Uma confissão tão rara deveria passar à posteridade, e servir para fazer ver em que se baseiam quase todas as guerras. Nós, gente de letras, poetas, historiadores, declamadores de academia, celebramos essas proezas: e eis que um rei que as faz as condena."
Hoje, em sociedades em que reina a democracia, os "Presidentes da Guerra" não podem dar-se ao luxo de uma confissão destas, mas acredito que os motivos permanecem, no essencial os mesmos.
5 de Outubro
Se o anti-clericalismo nos parece hoje absurdo, é porque já ninguém faz ideia do que foi o clericalismo.
Em todos os países de tradição católica, a democracia liberal só conseguiu triunfar ao cabo de uma luta prolongada contra o poder hegemónico da Igreja. Como ele se encontrava estreitamente associado à monarquia, isso implicou a implantação da República.
Com isso ganharam também os próprios católicos, dado que, agora, é comparativamente muito menos provável que alguém use a sua religião como mero instrumento para alcançar o poder e subir na vida.
Em todos os países de tradição católica, a democracia liberal só conseguiu triunfar ao cabo de uma luta prolongada contra o poder hegemónico da Igreja. Como ele se encontrava estreitamente associado à monarquia, isso implicou a implantação da República.
Com isso ganharam também os próprios católicos, dado que, agora, é comparativamente muito menos provável que alguém use a sua religião como mero instrumento para alcançar o poder e subir na vida.
4.10.05
Crime e castigo
Devem as empresas que exploram as auto-estradas compensar os utentes pelos incómodos causados por obras prolongadas baixando os preços das portagens?
O António Amaral acha que não, dado que essa medida faria crescer a procura, o que agravaria ainda mais os problemas de circulação. Eis um argumento interessante.
Se o nível de serviço da auto-estrada em reparação baixa, afirma ele que isso afasta alguns automobilistas e que, por conseguinte, a empresa concessionária é penalizada pela consequente quebra de receitas. Logo, ela terá um incentivo para completar as obras no mais curto prazo possível.
A questão está, pois, em saber duas coisas:
a) Se a procura se reduz de facto significativamente no curto prazo em resposta à degradação das condições de circulação;
b) Se a procura aumentaria sigificativamente em resultado da proposta descida do preço.
A primeira questão pode ser esclarecida analisando as receitas da concessionária. A segunda exige estudos da elasticidade da procura em relação ao preço.
Tem António Amaral dados de facto sobre o assunto? Se tiver, e se corroborarem o seu ponto de vista, eu calo-me. Todavia, o que tenho lido sobre o assunto faz-me crer que, em ambos os casos, a elasticidade da procura deverá ser elevada no longo prazo, mas insignificante no curto, que é aquele que nos interessa.
Se assim for, forçoso será reconhecer que, por um lado, a concessionária não tem um forte incentivo para concluir com celeridade as obras de reparação; e que, por outro, a redução do preço não piorará a situação de partida.
Se me permitem, eu gostaria de chamar agora a atenção para o outro lado do problema. Num mercado competitivo, se uma empresa degrada a qualidade do seu serviço, não tem mesmo outra solução senão baixar o preço de venda enquanto não conseguir resolver o problema. O simples facto de isso não suceder no caso das auto-estradas mostra que há aqui uma falha do mercado.
O que me incomoda no argumento do António Amaral é o facto de ele não admitir nem por um momento que as empresas que falham nas suas obrigações de serviço público devam ser penalizadas. É assim que o liberalismo de princípio se transforma às vezes numa mera ideologia interesseira de defesa dos poderosos.
E, se teme que a baixa do preço possa ter efeitos perversos prejudiciais para os utentes que mais necessitam de circular com rapidez, porque não considera em alternativa a aplicação de uma multa cujo montante reverta a favor do Estado?
O António Amaral acha que não, dado que essa medida faria crescer a procura, o que agravaria ainda mais os problemas de circulação. Eis um argumento interessante.
Se o nível de serviço da auto-estrada em reparação baixa, afirma ele que isso afasta alguns automobilistas e que, por conseguinte, a empresa concessionária é penalizada pela consequente quebra de receitas. Logo, ela terá um incentivo para completar as obras no mais curto prazo possível.
A questão está, pois, em saber duas coisas:
a) Se a procura se reduz de facto significativamente no curto prazo em resposta à degradação das condições de circulação;
b) Se a procura aumentaria sigificativamente em resultado da proposta descida do preço.
A primeira questão pode ser esclarecida analisando as receitas da concessionária. A segunda exige estudos da elasticidade da procura em relação ao preço.
Tem António Amaral dados de facto sobre o assunto? Se tiver, e se corroborarem o seu ponto de vista, eu calo-me. Todavia, o que tenho lido sobre o assunto faz-me crer que, em ambos os casos, a elasticidade da procura deverá ser elevada no longo prazo, mas insignificante no curto, que é aquele que nos interessa.
Se assim for, forçoso será reconhecer que, por um lado, a concessionária não tem um forte incentivo para concluir com celeridade as obras de reparação; e que, por outro, a redução do preço não piorará a situação de partida.
Se me permitem, eu gostaria de chamar agora a atenção para o outro lado do problema. Num mercado competitivo, se uma empresa degrada a qualidade do seu serviço, não tem mesmo outra solução senão baixar o preço de venda enquanto não conseguir resolver o problema. O simples facto de isso não suceder no caso das auto-estradas mostra que há aqui uma falha do mercado.
O que me incomoda no argumento do António Amaral é o facto de ele não admitir nem por um momento que as empresas que falham nas suas obrigações de serviço público devam ser penalizadas. É assim que o liberalismo de princípio se transforma às vezes numa mera ideologia interesseira de defesa dos poderosos.
E, se teme que a baixa do preço possa ter efeitos perversos prejudiciais para os utentes que mais necessitam de circular com rapidez, porque não considera em alternativa a aplicação de uma multa cujo montante reverta a favor do Estado?
Dilema para economistas
Muita gente já ouviu falar do dilema do prisioneiro, uma situação altamente perturbadora estudada pela teoria dos jogos dado mostrar que, em certas circunstâncias razoavelmente comuns, a atitude mais racional de indivíduos preocupados com o seu bem-estar pessoal consiste em fazer batota e prejudicar os seus semelhantes.
Isto cria alguns problemas à teoria económica dominante, a qual sugere que, mesmo que cada qual só se preocupe consigo mesmo, o resultado final pode ser benéfico para toda a gente. Pelo contrário, o dilema do prisioneiro leva-nos a crer que o egoísmo generalizado conduzirá toda a gente à ruína.
Felizmente, prova-se que, quando o jogo do dilema do prisioneiro é jogado repetidamente, é possível, mas não seguro, o surgimento de formas espontâneas de cooperação entre os participantes que os impelem a superar o egoísmo estreito.
Acontece que três investigadores (Frank, Lovich e Regan) conceberam uma experiência destinada a testar a hipótese segundo a qual os economistas se comportam de uma forma mais egoísta do que pessoas com outros backgrounds quando jogam repetidamente o dilema do prisioneiro.
Ora o facto é que a experiência validou a hipótese: os economistas são, por conseguinte, mais egoístas do que as outras pessoas.
Dito isto, resta saber se eles se dedicaram ao estudo da economia porque são naturalmente egoístas, ou se se tornaram egoístas por terem estudado economia.
Que eu saiba, este assunto ainda não foi investigado. Cá por mim, porém, inclino-me para a segunda alternativa.
Isto cria alguns problemas à teoria económica dominante, a qual sugere que, mesmo que cada qual só se preocupe consigo mesmo, o resultado final pode ser benéfico para toda a gente. Pelo contrário, o dilema do prisioneiro leva-nos a crer que o egoísmo generalizado conduzirá toda a gente à ruína.
Felizmente, prova-se que, quando o jogo do dilema do prisioneiro é jogado repetidamente, é possível, mas não seguro, o surgimento de formas espontâneas de cooperação entre os participantes que os impelem a superar o egoísmo estreito.
Acontece que três investigadores (Frank, Lovich e Regan) conceberam uma experiência destinada a testar a hipótese segundo a qual os economistas se comportam de uma forma mais egoísta do que pessoas com outros backgrounds quando jogam repetidamente o dilema do prisioneiro.
Ora o facto é que a experiência validou a hipótese: os economistas são, por conseguinte, mais egoístas do que as outras pessoas.
Dito isto, resta saber se eles se dedicaram ao estudo da economia porque são naturalmente egoístas, ou se se tornaram egoístas por terem estudado economia.
Que eu saiba, este assunto ainda não foi investigado. Cá por mim, porém, inclino-me para a segunda alternativa.
1.10.05
Raio de elites
Durante anos a fio, os comentadores explicaram pacientemente ao povo o conceito da presunção da inocência. Ninguém pode ser considerado culpado, disseram, enquanto não for julgado e condenado em tribunal.
Agora, os mesmos comentadores pretendem que o povo confirmará a sua alegada perversidade se eleger candidatos autárquicos arguidos em processos-crime.
Por outras palavras, pretendem que os eleitores decidam o que os tribunais não decidiram. Por outras palavras ainda, pretendem que os eleitores declarem com o seu voto a culpa dos candidatos arguidos.
Mas nem essa responsabilidade incumbe aos eleitores, nem o critério de alguém ser arguido deve ser essencial para a escolha de um titular de um cargo público.
Se aceitarmos como bom e válido em todas as circunstâncias o princípio de que quem for arguido num processo não tem o direito de candidatar-se a um cargo público, criaremos as condições para que os órgãos de investigação criminal possam passar a determinar quem irá dirigir os destinos do país.
Num Estado de Direito, os tribunais condenam e os cidadãos votam. Não são os cidadãos que condenam e as polícias que votam.
Agora, os mesmos comentadores pretendem que o povo confirmará a sua alegada perversidade se eleger candidatos autárquicos arguidos em processos-crime.
Por outras palavras, pretendem que os eleitores decidam o que os tribunais não decidiram. Por outras palavras ainda, pretendem que os eleitores declarem com o seu voto a culpa dos candidatos arguidos.
Mas nem essa responsabilidade incumbe aos eleitores, nem o critério de alguém ser arguido deve ser essencial para a escolha de um titular de um cargo público.
Se aceitarmos como bom e válido em todas as circunstâncias o princípio de que quem for arguido num processo não tem o direito de candidatar-se a um cargo público, criaremos as condições para que os órgãos de investigação criminal possam passar a determinar quem irá dirigir os destinos do país.
Num Estado de Direito, os tribunais condenam e os cidadãos votam. Não são os cidadãos que condenam e as polícias que votam.
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