27.6.11
Faz Villas-Boas bem em mudar-se para o Chelsea?
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Se Villas-Boas fracassar no Chelsea, toda a gente dirá que a sua grande temporada no Porto foi um golpe de sorte. Dificilmente será pretendido por outro grande clube.
Imaginemos, porém, que ficava no Porto mais uma temporada, voltava a ser campeão nacional e chegava aos quartos de final da Liga dos Campeões, o que é quase tão difícil como ganhar a Liga Europa.
Seria de novo requestado por clubes importantes e, se falhasse, seria muito mais difícil culpá-lo a ele do fracasso. As pessoas concluiriam, se ele se mudasse então para o Chelsea e as coisas corresem mal, que ninguém pode fazer um trabalho sério com aquele presidente. Sem problemas, seguiria dali para o Milan, ou a Juve, ou o Lyon.
Terá Villas-Boas feito bem em aceitar a proposta do Chelsea? É facto que lhe pagam 5 milhões por temporada, mas, se a próxima época voltasse a correr-lhe bem no Porto, seria natural que aparecessem mais clubes dispostos a oferecer-lhe mais dinheiro.
Aparentemente, Villas-Boas não está seguro de valer aquilo que lhe vão pagar, doutro modo optaria por adiar a saída do Porto. Ou, então, estará consciente de que circunstâncias fortuitas independentes do mérito podem arruinar o trabalho do mais capaz treinador.
Como avaliar as probabilidades de tais ciscunstâncias? Não se pode, pois não se trata de um risco calculável, mas de uma incerteza radical.
No lugar de Villas-Boas, é possível que Mourinho tomasse a opção inversa. Mas, ao contrário dele, Villas-Boas não é um aventureiro.
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Se Villas-Boas fracassar no Chelsea, toda a gente dirá que a sua grande temporada no Porto foi um golpe de sorte. Dificilmente será pretendido por outro grande clube.
Imaginemos, porém, que ficava no Porto mais uma temporada, voltava a ser campeão nacional e chegava aos quartos de final da Liga dos Campeões, o que é quase tão difícil como ganhar a Liga Europa.
Seria de novo requestado por clubes importantes e, se falhasse, seria muito mais difícil culpá-lo a ele do fracasso. As pessoas concluiriam, se ele se mudasse então para o Chelsea e as coisas corresem mal, que ninguém pode fazer um trabalho sério com aquele presidente. Sem problemas, seguiria dali para o Milan, ou a Juve, ou o Lyon.
Terá Villas-Boas feito bem em aceitar a proposta do Chelsea? É facto que lhe pagam 5 milhões por temporada, mas, se a próxima época voltasse a correr-lhe bem no Porto, seria natural que aparecessem mais clubes dispostos a oferecer-lhe mais dinheiro.
Aparentemente, Villas-Boas não está seguro de valer aquilo que lhe vão pagar, doutro modo optaria por adiar a saída do Porto. Ou, então, estará consciente de que circunstâncias fortuitas independentes do mérito podem arruinar o trabalho do mais capaz treinador.
Como avaliar as probabilidades de tais ciscunstâncias? Não se pode, pois não se trata de um risco calculável, mas de uma incerteza radical.
No lugar de Villas-Boas, é possível que Mourinho tomasse a opção inversa. Mas, ao contrário dele, Villas-Boas não é um aventureiro.
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26.6.11
Vamos todos ajudar o governo da nação
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"Precisa de fatura?"
A mera colocação desta pergunta é ilegal. A emissão de fatura como contrapartida de uma transação comercial não é optativa, é obrigatória. Não o fazer é crime.
Agora vem a parte melhor que toda a gente desconhece: dispensar o vendedor da emissão de fatura também é crime. Ninguém tem o direito de prescindir de recebê-la.
Houve uma altura em que os inspetores fiscais iam para a porta dos consultórios médicos e perguntavam a quem saía se, vindo de uma consulta, trazia consigo a respetica fatura. Se não a tivesse, sujeitava-se a pagar uma multa.
Por isso, da próxima vez que vos perguntarem se querem uma fatura, respondam: "Ou uma fatura ou um polícia".
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"Precisa de fatura?"
A mera colocação desta pergunta é ilegal. A emissão de fatura como contrapartida de uma transação comercial não é optativa, é obrigatória. Não o fazer é crime.
Agora vem a parte melhor que toda a gente desconhece: dispensar o vendedor da emissão de fatura também é crime. Ninguém tem o direito de prescindir de recebê-la.
Houve uma altura em que os inspetores fiscais iam para a porta dos consultórios médicos e perguntavam a quem saía se, vindo de uma consulta, trazia consigo a respetica fatura. Se não a tivesse, sujeitava-se a pagar uma multa.
Por isso, da próxima vez que vos perguntarem se querem uma fatura, respondam: "Ou uma fatura ou um polícia".
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24.6.11
Como não extinguir os Governos Civis
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O problema dos Governos Civis é que constituem de certo modo uma aberração no actual arranjo da máquina do Estado. Temos um governo central e temos um poder local assente nos municípios. Que vêm os distritos fazer aqui?
Pensando bem, os governos civis só sobreviveram porque a regionalização nunca se fez. Dizer-se que as suas atribuições devem transitar para as autarquias é um absurdo, pois daí necessariamente decorreria a redução da eficiência e a degradação dos serviços prestados aos cidadãos no que respeita à segurança, à proteção civil do território e à gestão das eleições.
Eliminar de uma penada os governos civis deixaria inúmeros e intrincados problemas por resolver. Nada, já se sabe, que atrapalhe o actual PM, apostado em não perder uma oportunidade para demonstrar que raramente sabe do que fala.
PS - O tom acintoso com que Passos Coelho se referiu aos Governadores Civis e o momento que escolheu para o fazer revelam má educação e falta de sentido de Estado. Os servidores do Estado devem ser respeitados, independentemente das tarefas em que se ocupam e da concordância de cada qual com as políticas que a mando dos governos eles executam ou executaram. Imaginem que o PM se tinha pronunciado nos mesmos termos sobre as forças armadas que se encontram no Afeganistão.
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O problema dos Governos Civis é que constituem de certo modo uma aberração no actual arranjo da máquina do Estado. Temos um governo central e temos um poder local assente nos municípios. Que vêm os distritos fazer aqui?
Pensando bem, os governos civis só sobreviveram porque a regionalização nunca se fez. Dizer-se que as suas atribuições devem transitar para as autarquias é um absurdo, pois daí necessariamente decorreria a redução da eficiência e a degradação dos serviços prestados aos cidadãos no que respeita à segurança, à proteção civil do território e à gestão das eleições.
Eliminar de uma penada os governos civis deixaria inúmeros e intrincados problemas por resolver. Nada, já se sabe, que atrapalhe o actual PM, apostado em não perder uma oportunidade para demonstrar que raramente sabe do que fala.
PS - O tom acintoso com que Passos Coelho se referiu aos Governadores Civis e o momento que escolheu para o fazer revelam má educação e falta de sentido de Estado. Os servidores do Estado devem ser respeitados, independentemente das tarefas em que se ocupam e da concordância de cada qual com as políticas que a mando dos governos eles executam ou executaram. Imaginem que o PM se tinha pronunciado nos mesmos termos sobre as forças armadas que se encontram no Afeganistão.
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20.6.11
Os melhores dos melhores
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1. Só quem nunca trabalhou na vida pode ignorar as dificuldades que a drástica redução do número de ministérios colocará à actuação do novo governo. Como se espera que alguém faça algo de útil se se coloca sob a sua responsabilidade a Economia, os Transportes e Comunicações, as Obras Públicas e o Trabalho? João Cravinho, uma pessoa de capacidades superiores, aceitou tomar simultaneamente conta de parte delas (Transportes e Obras Públicas) e o resultado não foi brilhante. O que Passos decidiu não passa de uma brincadeira de crianças.
2. Uma interminável procissão de sumidades empresariais e académicas debitou-nos durante anos do alto dos seus púlpitos mediáticos infalíveis soluções para curar a pátria infeliz. Chagada a hora, todas as desculpas valeram para se baldarem, sendo a mais vergonhosa a da necessidade de dar lugar a uma nova geração imberbe e inocente. Nuno Crato merece ser felicitado por ter tido a ousadia de, num momento crítico, submeter à prova do fogo as suas convicções. Mesmo que tudo lhe corra mal, terá a oportunidade de completar a sua educação sentimental.
3. Dirigir um ministério é uma função executiva. Consiste basicamente em traçar objetivos, tomar decisões, buscar apoios, liderar projetos, motivar pessoas e controlar resultados. Como é que uma vida de investigação e intriga académica, resguardada do escrutínio da opinião pública, pode preparar alguém para tais funções? É como pretender-se transformar um fabricante de tintas em pintor. Tal como Saramago foi uma revelação tardia, não é impossível que Gaspar e Santos Pereira tenham descoberto a meio das suas vidas uma nova vocação e que ela seja coroada de sucesso. Mas isso parece tão improvável como ganhar a sorte grande em duas semanas consecutivas.
4. Confirma-se que o CDS não tem existência real fora da televisão. Chegada a hora da verdade não conseguiu arrebanhar para o governo senão Cristas, que, revelando-nos uma nova faceta das Novas Oportunidades, vai aprender muito sobre Agricultura, e Mota Soares, um destacado chegamisso.
5. Macedo vai para a Saúde cortar custos. É sempre fascinante observar gestores bancários a cuidar de actividades mais terra a terra. Prevejo que descobrirá que cortes de custos sem uma estratégia conduzem no fim a surpreendentes aumentos de custos.
6. Deslumbrado com as câmaras de tv à chegada à Portela, o Ministro da Economia informa-nos que a Isabel ficou no Canadá a cuidar das crianças de oito, seis e quatro anos. Próximo passo: transmissão em direto das mudanças.
7. Moedas tem neste governo a missão de controlar de perto Gaspar por conta de Passos Coelho. A coisa promete.
8. Na sua primeira intervenção pública depois do anúncio da composição do novo governo, Cavaco Silva assumiu a postura de chefe do executivo. Mais um factor de instabilidade a acrescer aos restantes.
9. Num momento tão difícil, dir-se-ia que precisamos de gente com autoridade e experiência. Puro engano: o que se quer é leviandade e amadorismo.
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1. Só quem nunca trabalhou na vida pode ignorar as dificuldades que a drástica redução do número de ministérios colocará à actuação do novo governo. Como se espera que alguém faça algo de útil se se coloca sob a sua responsabilidade a Economia, os Transportes e Comunicações, as Obras Públicas e o Trabalho? João Cravinho, uma pessoa de capacidades superiores, aceitou tomar simultaneamente conta de parte delas (Transportes e Obras Públicas) e o resultado não foi brilhante. O que Passos decidiu não passa de uma brincadeira de crianças.
2. Uma interminável procissão de sumidades empresariais e académicas debitou-nos durante anos do alto dos seus púlpitos mediáticos infalíveis soluções para curar a pátria infeliz. Chagada a hora, todas as desculpas valeram para se baldarem, sendo a mais vergonhosa a da necessidade de dar lugar a uma nova geração imberbe e inocente. Nuno Crato merece ser felicitado por ter tido a ousadia de, num momento crítico, submeter à prova do fogo as suas convicções. Mesmo que tudo lhe corra mal, terá a oportunidade de completar a sua educação sentimental.
3. Dirigir um ministério é uma função executiva. Consiste basicamente em traçar objetivos, tomar decisões, buscar apoios, liderar projetos, motivar pessoas e controlar resultados. Como é que uma vida de investigação e intriga académica, resguardada do escrutínio da opinião pública, pode preparar alguém para tais funções? É como pretender-se transformar um fabricante de tintas em pintor. Tal como Saramago foi uma revelação tardia, não é impossível que Gaspar e Santos Pereira tenham descoberto a meio das suas vidas uma nova vocação e que ela seja coroada de sucesso. Mas isso parece tão improvável como ganhar a sorte grande em duas semanas consecutivas.
4. Confirma-se que o CDS não tem existência real fora da televisão. Chegada a hora da verdade não conseguiu arrebanhar para o governo senão Cristas, que, revelando-nos uma nova faceta das Novas Oportunidades, vai aprender muito sobre Agricultura, e Mota Soares, um destacado chegamisso.
5. Macedo vai para a Saúde cortar custos. É sempre fascinante observar gestores bancários a cuidar de actividades mais terra a terra. Prevejo que descobrirá que cortes de custos sem uma estratégia conduzem no fim a surpreendentes aumentos de custos.
6. Deslumbrado com as câmaras de tv à chegada à Portela, o Ministro da Economia informa-nos que a Isabel ficou no Canadá a cuidar das crianças de oito, seis e quatro anos. Próximo passo: transmissão em direto das mudanças.
7. Moedas tem neste governo a missão de controlar de perto Gaspar por conta de Passos Coelho. A coisa promete.
8. Na sua primeira intervenção pública depois do anúncio da composição do novo governo, Cavaco Silva assumiu a postura de chefe do executivo. Mais um factor de instabilidade a acrescer aos restantes.
9. Num momento tão difícil, dir-se-ia que precisamos de gente com autoridade e experiência. Puro engano: o que se quer é leviandade e amadorismo.
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17.6.11
16.6.11
Um lugar ao sol?
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Por que é que se deve subsidiar as energias solar e eólica?
Porque são as energias do futuro? E por que não se haverá antes de esperar que chegue esse futuro, quando elas serão suficientemente eficientes para não necessitarem de ser subsidiadas?
Porque assim se fomenta a fabricação de equipamentos, criando empregos e eventualmente exportações? Mas por quê subsidiar estes e não outros setores industriais?
Porque assim se posiciona a indústria portuguesa para competir num mercado com futuro? Mas que competências particulares temos nós que nos vocacionem para triunfar neste mercado? Estará a criação dessas competências dependente da decisão de entrar cedo no setor?
Mas que tecnologia própria temos ou estamos a criar? Nenhuma digna de nota, creio. No essencial, o que fazemos neste domínio é importar tecnologia estrangeira.
E estaremos ao menos a reduzir a nossa dependência energética do exterior? Não, porque a nossa produção de energia solar e eólica não tem suficiente importância e porque as importações de petróleo dirigem-se sobretudo aos transportes.
Se não ficaste convencido, experimenta este argumento alternativo do Maradona.
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Por que é que se deve subsidiar as energias solar e eólica?
Porque são as energias do futuro? E por que não se haverá antes de esperar que chegue esse futuro, quando elas serão suficientemente eficientes para não necessitarem de ser subsidiadas?
Porque assim se fomenta a fabricação de equipamentos, criando empregos e eventualmente exportações? Mas por quê subsidiar estes e não outros setores industriais?
Porque assim se posiciona a indústria portuguesa para competir num mercado com futuro? Mas que competências particulares temos nós que nos vocacionem para triunfar neste mercado? Estará a criação dessas competências dependente da decisão de entrar cedo no setor?
Mas que tecnologia própria temos ou estamos a criar? Nenhuma digna de nota, creio. No essencial, o que fazemos neste domínio é importar tecnologia estrangeira.
E estaremos ao menos a reduzir a nossa dependência energética do exterior? Não, porque a nossa produção de energia solar e eólica não tem suficiente importância e porque as importações de petróleo dirigem-se sobretudo aos transportes.
Se não ficaste convencido, experimenta este argumento alternativo do Maradona.
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15.6.11
A questão europeia
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Não houve nas últimas décadas em Portugal uma questão europeia, visto que sempre tanto os cidadãos como os principais partidos se mostraram entusiastas da integração.
O próprio Bloco, que, pelo caminho, se opôs a todos os avanços, queixa-se agora de não haver suficiente Europa para enfrentar a crise.
A alteração de humor do Bloco é intempestiva, pois ocorre no momento em que deveríamos talvez começar a questionar-nos sobre se haverá futuro para nós na UE e que tipo de futuro será esse.
A distância histórica permite-nos hoje concluir que, no plano económico, a nossa integração foi um fiasco. Passado o período inicial de cinco anos e iniciados o Mercado Único e a Zona Euro, não é evidente, bem pelo contrário, o que ganhámos em integrar o chamado "grupo da frente".
Tampouco se afigura aliciante o que aí vem. Nós poderíamos eventualmente viver felizes com uma Europa à moda antiga (mais união comercial que união política) ou com uma federação continental - mas parece claro que o presente arranjo institucional representa para nós o pior de dois mundos.
Sendo inviável o regresso à união comercial, por implicar a saída do euro, restaria o avanço rumo à federação política europeia. Sucede que a interpretação que o Tribunal Constitucional alemão fez no ano passado ano do Tratado de Lisboa proibiu taxativamente todo e qualquer evolução posterior nesse sentido.
Vejo pouca gente consciente do que isto significa para Portugal. Temos hoje uma séria questão europeia pela frente, mas nenhuma estratégia para enfrentá-la com sucesso.
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Não houve nas últimas décadas em Portugal uma questão europeia, visto que sempre tanto os cidadãos como os principais partidos se mostraram entusiastas da integração.
O próprio Bloco, que, pelo caminho, se opôs a todos os avanços, queixa-se agora de não haver suficiente Europa para enfrentar a crise.
A alteração de humor do Bloco é intempestiva, pois ocorre no momento em que deveríamos talvez começar a questionar-nos sobre se haverá futuro para nós na UE e que tipo de futuro será esse.
A distância histórica permite-nos hoje concluir que, no plano económico, a nossa integração foi um fiasco. Passado o período inicial de cinco anos e iniciados o Mercado Único e a Zona Euro, não é evidente, bem pelo contrário, o que ganhámos em integrar o chamado "grupo da frente".
Tampouco se afigura aliciante o que aí vem. Nós poderíamos eventualmente viver felizes com uma Europa à moda antiga (mais união comercial que união política) ou com uma federação continental - mas parece claro que o presente arranjo institucional representa para nós o pior de dois mundos.
Sendo inviável o regresso à união comercial, por implicar a saída do euro, restaria o avanço rumo à federação política europeia. Sucede que a interpretação que o Tribunal Constitucional alemão fez no ano passado ano do Tratado de Lisboa proibiu taxativamente todo e qualquer evolução posterior nesse sentido.
Vejo pouca gente consciente do que isto significa para Portugal. Temos hoje uma séria questão europeia pela frente, mas nenhuma estratégia para enfrentá-la com sucesso.
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O que fazem e para que servem os economistas
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"Já é mais difícil entender-se o que fazem tantos economistas - de facto, a larga maioria deles - a trabalhar no estado, tendo em conta a sua paixão pelo mercado e pelo setor privado e a aversão instintiva que lhes desperta o setor público. Os economistas amam loucamente o mercado livre, a concorrência sem freios, o empreendedorismo audaz e a globalização absoluta - mas só de longe. Dir-se-ia que temem repetir o desapontamento dos Hebreus antigos quando, depois de vaguearem décadas pelo deserto em busca da Terra Prometida, acabaram por descobrir que, afinal, lá não brotavam das pedras o leite e o maná"
Hoje, no Jornal de Negócios: "Por que é que os economistas aparentam saber tão pouco sobre a economia?"
.14.6.11
Proposta de combate activo à evasão fiscal
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A atribuição de automóveis aos quadros das empresas é sem dúvida uma modalidade de fuga ao IRS extremamente generalizada.
A dificuldade de combatê-la resulta em parte de não ser fácil distinguir-se entre a efectiva utilização de veículos em serviço e a sua utilização particular, inviabilizando a aplicação de regimes distintos de taxação.
Proponho, pois, para combater a evasão fiscal, que os carros vendidos a empresas para toda e qualquer finalidade passem obrigatoriamente a ostentar uma placa de identificação distintiva. Tal como os automóveis do corpo diplomático usam placas com letras vermelhas, as das empresas ou de quaisquer outras instituições seriam, por exemplo, azuis.
O simples facto de se revelar publicamente que um certo carro não pertence ao seu utilizador reduziria para ele o valor da benesse. Em que proporção? Só experimentando se poderia saber.
Uma coisa é certa: o vulgar contribuinte ficaria atónito com a quantidade de carros topo de gama de empresas que circulam nas nossas ruas e estradas. O efeito educativo seria incalculável.
PS - Numa segunda fase, as viaturas propriedade de empresas passariam a ser obrigatoriamente pintadas de cor-de-rosa fosforescente, excepto tratando-se de veículos pesados ou comerciais ligeiros.
PS 2 - Isto também era uma boa ideia para aprovar no Parlamento Europeu.
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A atribuição de automóveis aos quadros das empresas é sem dúvida uma modalidade de fuga ao IRS extremamente generalizada.
A dificuldade de combatê-la resulta em parte de não ser fácil distinguir-se entre a efectiva utilização de veículos em serviço e a sua utilização particular, inviabilizando a aplicação de regimes distintos de taxação.
Proponho, pois, para combater a evasão fiscal, que os carros vendidos a empresas para toda e qualquer finalidade passem obrigatoriamente a ostentar uma placa de identificação distintiva. Tal como os automóveis do corpo diplomático usam placas com letras vermelhas, as das empresas ou de quaisquer outras instituições seriam, por exemplo, azuis.
O simples facto de se revelar publicamente que um certo carro não pertence ao seu utilizador reduziria para ele o valor da benesse. Em que proporção? Só experimentando se poderia saber.
Uma coisa é certa: o vulgar contribuinte ficaria atónito com a quantidade de carros topo de gama de empresas que circulam nas nossas ruas e estradas. O efeito educativo seria incalculável.
PS - Numa segunda fase, as viaturas propriedade de empresas passariam a ser obrigatoriamente pintadas de cor-de-rosa fosforescente, excepto tratando-se de veículos pesados ou comerciais ligeiros.
PS 2 - Isto também era uma boa ideia para aprovar no Parlamento Europeu.
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9.6.11
15 minutos de fama
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Não houve praticamente um dirigente do Bloco de Esquerda que não tivesse desfrutado de elevado protagonismo nos jornais, nas rádios e nas televisões ao longo dos últimos anos.
Todos conhecemos a explicação do fenómeno: a presença dos bloquistas dava uma aparência de pluralismo informativo ao mesmo tempo que reforçava a frente comum de oposição ao governo socialista.
Não é arriscado apostar-se que esse estado de graça estará prestes a chegar ao fim. O pretexto será a grande queda da votação no Bloco, mas a mudança de humor resulta na verdade de a sua cooperação se ter tornado desnecessária depois de ajudar a direita a derrubar o governo.
O caniche do PSD já está, desde domingo, a ser muito maltratado nos media. Parece que, de repente, Louçã deixou de ser engraçado, ou antes, esvaiu-se-lhe a graça.
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Não houve praticamente um dirigente do Bloco de Esquerda que não tivesse desfrutado de elevado protagonismo nos jornais, nas rádios e nas televisões ao longo dos últimos anos.
Todos conhecemos a explicação do fenómeno: a presença dos bloquistas dava uma aparência de pluralismo informativo ao mesmo tempo que reforçava a frente comum de oposição ao governo socialista.
Não é arriscado apostar-se que esse estado de graça estará prestes a chegar ao fim. O pretexto será a grande queda da votação no Bloco, mas a mudança de humor resulta na verdade de a sua cooperação se ter tornado desnecessária depois de ajudar a direita a derrubar o governo.
O caniche do PSD já está, desde domingo, a ser muito maltratado nos media. Parece que, de repente, Louçã deixou de ser engraçado, ou antes, esvaiu-se-lhe a graça.
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7.6.11
A estupidez dos outros
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Desde que votamos em liberdade, o PS conseguiu uma e só uma maioria absoluta. Das outras vezes que ganhou as eleições governou por regra sem maioria no parlamento, tirando pontuais e acidentadas experiências de coligação (de uma vez com o CDS, doutra com o PSD).
Mesmo assim, a única maioria absoluta alcançada em 2005 não se deveu ao amor do eleitorado pelo PS ou por Sócrates, apenas à manifesta insanidade do opositor do momento.
Com o atual espectro partidário, o PS só irá para o governo em momentos de desespero nacional e só poderá aspirar à maioria absoluta em situações terminais, ou seja: quase nunca.
O PCP assegura uma votação à roda dos 8% pelo mero facto de existir, proveniente daquela parte da população que, tendo jurado vingança no dia 25 de Novembro, prefere ser grelhada viva a votar nos traidores da classe operária.
Neste contexto, a emergência de um partido mais à esquerda não aferrado a uma mitologia pré-jurássica suscitou em tempos a expectativa de uma alteração das condições de formação de um governo em Portugal. O tempo revelou, porém, que, tirando o entusiasmo pelos chamados temas fracturantes, o Bloco pouco se diferencia dos comunistas quanto à sua postura básica.
A megalomania dos dirigentes bloquistas leva-os a acreditar que chegarão um dia ao poder não em aliança com o PS, mas sobre os escombros dele. Para além disso, agitam periodicamente vagos projetos de derrubar a burguesia e implantar as nacionalizações e a reforma agrária cuja sedução é puramente nostálgica, uma espécie de marxismo retro de contornos intrigantes.
É bom de ver que, enquanto este problema não for resolvido, só a estupidez da direita a impedirá de conservar eternamente o poder em Portugal. E nunca se deve contar demasiado com a estupidez dos outros, especialmente quando o brilho da nossa própria inteligência também não se afigura particularmente fulgurante.
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Desde que votamos em liberdade, o PS conseguiu uma e só uma maioria absoluta. Das outras vezes que ganhou as eleições governou por regra sem maioria no parlamento, tirando pontuais e acidentadas experiências de coligação (de uma vez com o CDS, doutra com o PSD).
Mesmo assim, a única maioria absoluta alcançada em 2005 não se deveu ao amor do eleitorado pelo PS ou por Sócrates, apenas à manifesta insanidade do opositor do momento.
Com o atual espectro partidário, o PS só irá para o governo em momentos de desespero nacional e só poderá aspirar à maioria absoluta em situações terminais, ou seja: quase nunca.
O PCP assegura uma votação à roda dos 8% pelo mero facto de existir, proveniente daquela parte da população que, tendo jurado vingança no dia 25 de Novembro, prefere ser grelhada viva a votar nos traidores da classe operária.
Neste contexto, a emergência de um partido mais à esquerda não aferrado a uma mitologia pré-jurássica suscitou em tempos a expectativa de uma alteração das condições de formação de um governo em Portugal. O tempo revelou, porém, que, tirando o entusiasmo pelos chamados temas fracturantes, o Bloco pouco se diferencia dos comunistas quanto à sua postura básica.
A megalomania dos dirigentes bloquistas leva-os a acreditar que chegarão um dia ao poder não em aliança com o PS, mas sobre os escombros dele. Para além disso, agitam periodicamente vagos projetos de derrubar a burguesia e implantar as nacionalizações e a reforma agrária cuja sedução é puramente nostálgica, uma espécie de marxismo retro de contornos intrigantes.
É bom de ver que, enquanto este problema não for resolvido, só a estupidez da direita a impedirá de conservar eternamente o poder em Portugal. E nunca se deve contar demasiado com a estupidez dos outros, especialmente quando o brilho da nossa própria inteligência também não se afigura particularmente fulgurante.
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6.6.11
Solução governativa
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Parece-me razoável presumir-se que os eleitores que decidiram a votação de ontem - cerca de 10% dos que compareceram nas urnas - valorizaram mais a probabilidade de uma solução governativa estável do que os programas partidários em confronto.
Faz sentido.
Para quê dar a maioria ao PS se, isolado à direita à esquerda, ele não teria condições para governar? Se dúvidas houvesse, o último ano e meio comprovou que uma maioria socialista, necessariamente relativa, equivale a um défice de capacidade governativa inaceitável num momento crítico para o país.
Votar no PSD, em alternativa, garantia praticamente um executivo apoiado numa maioria absoluta. Nas atuais circunstâncias, terão muitos pensado, é isso que interessa, tanto mais que a ação governativa estará à partida muito condicionada pelo acordo assinado com a UE, o BCE e o FMI.
Repito: faz sentido.
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Parece-me razoável presumir-se que os eleitores que decidiram a votação de ontem - cerca de 10% dos que compareceram nas urnas - valorizaram mais a probabilidade de uma solução governativa estável do que os programas partidários em confronto.
Faz sentido.
Para quê dar a maioria ao PS se, isolado à direita à esquerda, ele não teria condições para governar? Se dúvidas houvesse, o último ano e meio comprovou que uma maioria socialista, necessariamente relativa, equivale a um défice de capacidade governativa inaceitável num momento crítico para o país.
Votar no PSD, em alternativa, garantia praticamente um executivo apoiado numa maioria absoluta. Nas atuais circunstâncias, terão muitos pensado, é isso que interessa, tanto mais que a ação governativa estará à partida muito condicionada pelo acordo assinado com a UE, o BCE e o FMI.
Repito: faz sentido.
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2.6.11
1.6.11
Agora, também em português
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A Leya acaba de editar em português o já célebre Nudge Marketing, um livro que aborda de forma surpreendente e inovadora o fenómeno das redes sociais (tanto on como offline) e a sua relevância para o marketing contemporâneo.
A tradução do título não foi, porém, feliz. De facto, a palavra "nudge" designa um encorajamento discreto, uma tentativa de persuasão suave e amigável. Esse significado, central para a compreensão das ideias do autor, perdeu-se de todo na expressão "ombro a ombro" que, no máximo, poderá ser considerada engraçadinha, mas inócua.
Mais inexplicável ainda foi o aportuguesamento do nome do autor. John Castro é um americano de origem cubana que se destacou como docente universitário e consultor de empresas. Terá a Leya pretendido enganar o público leitor com este artifício, sugerindo que se trata de um autor português? Inacreditável, verdadeiramente inacreditável!
Enfim, assim vai a atividade editorial entre nós...
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A Leya acaba de editar em português o já célebre Nudge Marketing, um livro que aborda de forma surpreendente e inovadora o fenómeno das redes sociais (tanto on como offline) e a sua relevância para o marketing contemporâneo.
A tradução do título não foi, porém, feliz. De facto, a palavra "nudge" designa um encorajamento discreto, uma tentativa de persuasão suave e amigável. Esse significado, central para a compreensão das ideias do autor, perdeu-se de todo na expressão "ombro a ombro" que, no máximo, poderá ser considerada engraçadinha, mas inócua.
Mais inexplicável ainda foi o aportuguesamento do nome do autor. John Castro é um americano de origem cubana que se destacou como docente universitário e consultor de empresas. Terá a Leya pretendido enganar o público leitor com este artifício, sugerindo que se trata de um autor português? Inacreditável, verdadeiramente inacreditável!
Enfim, assim vai a atividade editorial entre nós...
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