23.6.06

Antes dos oitavos

1. O Campeonato de Mundo de Futebol é o melhor exemplo do softpower europeu. Durante coisa de um mês a América revela-se como o único país que, de facto, vive à margem da única globalização que verdadeiramente interessa.

2. Sem brilho e sem merdas - assim tem jogado a selecção portuguesa. Por mim, aplaudo.

3. O Ronaldo está gordo e cansado? Dêem-lhe uma cadeirinha para repousar um pouco quando a equipa tiver que recuar no terreno. Tendo em conta a importância no futebol moderno dos defesas laterais - os jogadores mais completos, mais rápidos e mais resistentes que uma equipa deve ter - o grande desafio do Brasil é saber como vão resistir à sobrecarga de jogos os dois veneráveis anciãos de que dispõe para fazer esses dois lugares. Se aguentarem, o campeão estará encontrado.

4. Há muitos anos que a Inglaterra não contava com um lote de futebolistas de tão grande qualidade. Ainda por cima jogam em equipas que competem ao mais alto nível europeu e são orientados por excelentes treinadores estrangeiros (o próprio Alex Ferguson é escocês). Dir-se-ía, pois, que poderiam ser incluidos entre os favoritos. Mas o ambiente de desbunda que invariavelmente rodeia a selecção parece convencê-los de que é chegado o momento de esquecerem tudo o que aprenderam e voltarem a jogar à velha maneira inglesa. Pois não é isso que, afinal, os fãs desejam?

5. Querem convencer-me de que nenhum daqueles jogadores angolanos tem lugar na nossa Primeira Liga? Ora, ora... Reconheçam, pelo menos, que o palanca branca Figueiredo, um jogador prático e inteligente, teria dado muito jeito, digamos, ao Vitória de Guimarães. Mas Portugal, já se sabe, não é uma meritocracia, nem sequer nestas actividades em que os profissionais se exibem à frente de toda a gente. Lembrem-se, por exemplo, de que o Pauleta nunca jogou em Portugal na Primeira Liga. Que o Costinha só foi descoberto depois de ser campeão de França. Que o Giovanni (não, não é este do Benfica...) esteve um ano sentado no banco do Guimarães antes de seguir para o Barça e para a selecção brasileira. Que... Que...

6. Segundo creio, Angola terá sido a única selecção africana suficientemente confiante para se deixar dirigir por um treinador africano. Quero ver nisso um bom sinal.

7. O grande problema que tem a Argentina é que, com poucas excepções, os seus craques não jogam em equipas de topo. Vendo a irregularidade do Riquelme e do Maxi Lopes percebe-se porque é que foram degradados do Barcelona para respectivamente, o Villarreal e o Maiorca. É possível ser-se campeão do mundo com um handicap destes? Duvido.

8. Não posso dizer nada sobre a Espanha: ainda não os vi jogar. Os espanhóis também não viram, por isso estão eufóricos.

9. E a Itália? Sim: e a Itália? Ora, a Itália...

10. Em acabando o futebol, vão ver que regressam os incêndios.

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