16.6.06

O Estado são eles

Dizer-se que "o Estado somos todos nós" é um absurdo. Nós somos o povo, o país ou, se quiserem, a nação - nunca o Estado.

Eis, porém, que o próprio Presidente da República, ou seja, o Chefe do Estado, adoptou esse pensamento profundo e também ele veio afirmar publicamente no 10 de Junho que "o Estado somos todos nós".

Por outras palavras, o Estado são vocês, não são eles. Se o país for mal governado, se os tribunais não funcionarem, se a corrupção grassar, o problema é vosso, não deles.

É claro que, em última análise e a longo prazo, um país é aquilo que o povo que o habita consegue fazer dele. Com maior ou menor meiguice, os regimes e os governos que não servem podem ser derrubados e substituídos por outros.

Acontece que a democracia representativa é o regime que se inventou para resolver esses problemas sem andar tudo à pancada. Simplificando: a gente debate, a gente vota, e os representantes eleitos tratam dos problemas.

Por conseguinte, é batota esses representantes eleitos virem declarar, depois de entronizados, que nos incumbe a nós resolver os problemas porque "o Estado somos todos nós". Engano, puro engano: o Estado são eles.

Pode-se imaginar maior exemplo de fuga às responsabilidades do que a primeira figura da hierarquia do Estado português vir comunicar-nos, por outras palavras, que não devemos contar com ele para nada?

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