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Desde que votamos em liberdade, o PS conseguiu uma e só uma maioria absoluta. Das outras vezes que ganhou as eleições governou por regra sem maioria no parlamento, tirando pontuais e acidentadas experiências de coligação (de uma vez com o CDS, doutra com o PSD).
Mesmo assim, a única maioria absoluta alcançada em 2005 não se deveu ao amor do eleitorado pelo PS ou por Sócrates, apenas à manifesta insanidade do opositor do momento.
Com o atual espectro partidário, o PS só irá para o governo em momentos de desespero nacional e só poderá aspirar à maioria absoluta em situações terminais, ou seja: quase nunca.
O PCP assegura uma votação à roda dos 8% pelo mero facto de existir, proveniente daquela parte da população que, tendo jurado vingança no dia 25 de Novembro, prefere ser grelhada viva a votar nos traidores da classe operária.
Neste contexto, a emergência de um partido mais à esquerda não aferrado a uma mitologia pré-jurássica suscitou em tempos a expectativa de uma alteração das condições de formação de um governo em Portugal. O tempo revelou, porém, que, tirando o entusiasmo pelos chamados temas fracturantes, o Bloco pouco se diferencia dos comunistas quanto à sua postura básica.
A megalomania dos dirigentes bloquistas leva-os a acreditar que chegarão um dia ao poder não em aliança com o PS, mas sobre os escombros dele. Para além disso, agitam periodicamente vagos projetos de derrubar a burguesia e implantar as nacionalizações e a reforma agrária cuja sedução é puramente nostálgica, uma espécie de marxismo retro de contornos intrigantes.
É bom de ver que, enquanto este problema não for resolvido, só a estupidez da direita a impedirá de conservar eternamente o poder em Portugal. E nunca se deve contar demasiado com a estupidez dos outros, especialmente quando o brilho da nossa própria inteligência também não se afigura particularmente fulgurante.
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7.6.11
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