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Vi a greve de ontem essencialmente como uma oportunidade perdida de impulsionar uma viragem decisiva na política nacional e – quem sabe? – europeia.
Tenho perguntado repetidas vezes qual era o objectivo da greve geral. Ninguém sabe responder-me. No melhor dos casos, cada qual diz-me o que acha que deveria ser.
Olhando para a propaganda difundida constata-se imediatamente que não foi definida nenhuma palavra de ordem ou reivindicação unificadora. “Contra as injustiças”, “Assim não” ou “Basta!” são apenas algumas das muitas frases que por aí li em cartazes, numa anarquia comunicacional que não permite fixar uma só ideia-chave.
Que queriam os grevistas? Cada qual decidiu por si, o que é tão reconfortante como escassamente mobilizador.
Entendo que as centrais sindicais encararam a iniciativa de modo burocrático. Dir-se-ia que, no fundo, se tratava antes de mais de desenferrujar a máquina e fazer prova de vida. O objectivo, como de costume - para quê especificá-lo se já toda a gente o sabe? – consiste tão só em embaraçar o governo, seja ele qual for.
E de que serve, nas presentes circunstâncias, dificultar a vida ao governo, cercá-lo, preparar o seu derrube, se, como é óbvio, a sua margem de manobra é extremamente reduzida?
Carvalho da Silva afirmou ontem que a Intersindical nunca no passado recebeu tantas mensagens de apoio de tantos países como ontem. Esse simples facto deveria tornar evidente que estamos antes de mais perante uma questão de política europeia, e que talvez os sindicatos estejam melhor posicionados que ninguém para torná-lo claro.
Que devem então reivindicar os sindicatos? Compreendo que queiram forçar o governo a sentar-se à mesa das negociações tendo em vista a correcção de algumas das medidas mais iníquas constantes do OE 2012. Porém, sejamos francos, nas presentes circunstâncias os resultados previsíveis serão sempre exíguos e, como tal, decepcionantes para quem trabalha.
É vital que os sindicatos raciocinem no plano da política económica e laboral europeia e que, por essa via, se coloquem na primeira linha de um combate transnacional às políticas de liquidação do legado da social-democracia europeia.
Portugal está encurralado. Felizmente para nós, cada vez mais países estão-no também. Em breve todo o continente mergulhará na estagnação económica e no desemprego generalizado, o que cria condições para uma regeneração do projecto europeu.
Os sindicatos deveriam ser capazes de se posicionar acima da pequena política doméstica. Isso significa, antes de mais, denunciar as políticas destrutivas e punitivas promovidas pela UE e executadas país e país por governos submissos, que se aproveitam da crise internacional para operar um retrocesso civilizacional em larga escala.
Os sindicatos precisam de ter uma posição clara em relação à crise de financiamento das dívidas públicas porque, sem que ela seja resolvida, não terá fim à vista a degradação do rendimento disponível, do emprego, da saúde e da educação.
Assim, eles podem e devem exigir: no plano nacional, a renegociação da dívida e o controlo apertado sobre o processo de recapitalização dos bancos; no plano internacional, a reforma do euro e do BCE, a reestruturação do sistema bancário europeu e o lançamento de euro-obrigações destinadas a financiar projectos de investimento público em infra-estruturas, em educação e em investigação. Por último, deveriam tornar clara a sua oposição ao crescente chauvinismo que procura opor povos a povos, centro a periferia, nativos a imigrantes.
Quando ao governo português, deve primeiro que tudo ser criticado por se prestar a ser cúmplice desta política, um instrumento dócil ao serviço do programa traçado pelas forças que presentemente controlam a UE.
Acredito que uma tal plataforma teria condições para reunir uma larga base social de apoio, condição indispensável para começarmos a construir uma solução política sólida e viável. Ainda estamos a tempo.
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26.11.11
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2 comentários:
A greve é expressão. Não pode ser um calculismo tacticista mas uma manifestação tão genuína, epidermica e actual do descontentamento. Uma fotografia não um photoshop.
A greve é expressão. Não pode ser um calculismo tacticista mas uma manifestação tão genuína quanto possivel, epidermica e actual do descontentamento. Uma fotografia não um photoshop.
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