24.7.03

Tomar a sério? O artigo hoje publicado por Pacheco Pereira no Público admite duas interpretações absolutamente opostas, tanto no plano político como no plano ético.

A primeira leitura, literal e pouco inteligente, consiste em tomar à letra o que está escrito. PP pensaria de facto que Ferro tem a estrita obrigação de precisar com o maior detalhe as suas acusações sobre a tentativa de «decapitação do PS».

Este ponto de vista é difícil de aceitar. Corresponde a afirmar que uma vítima de perseguição caluniosa tem a obrigação de afrontar de peito aberto os poderes fácticos que secretamente o atacam. Numa palavra, tem de expor-se ainda mais e de facilitar-lhes os seus ataques.

Ora, quando alguém é vítima de ataques cobardes de gente que não ousa dizer o seu nome, frequentemente sabe mais, muito mais, do que está em condições de provar. Whodunnit? O próprio, se não for completamente estúpido, é capaz de, mediante o tradicional método de conjecturar quem tem simultaneamente a motivação, a ocasião e a arma do crime, identificar com razoável precisão a origem da calúnia.

Logo, tomado à letra, o texto de PP assemelha-se muito a uma provocação de inspiração policial destinada a atrair a vítima à armadilha. Como nada do que PP tem dito e feito permite supor que seja capaz de tal baixeza, esta interpretação deve ser posta de lado.

Resta então compreender o texto de PP como uma forma ardilosa de insinuar ele próprio aquilo que Ferro, pela razões atrás aduzidas, não está em condições de afirmar. Possivelmente, PP terá entendido com quem o seu partido anda metido e, muito legitimamente, não quer ser confundido nem com essa gente nem com os seus métodos.

Mas, é claro, isto é apenas uma interpretação...

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