30.9.03

Peço explicações. O que é que o facto de ser possível um sujeito fabricar uma bomba nuclear na garagem tem a ver com a guerra contra o terrorismo? Pacheco Pereira insinua ontem no Abrupto que tem tudo. Eu, embora entenda onde ele quer chegar, não consigo acompanhar o raciocício.

Em primeiro lugar, gostaria de recordar que o 11 de Setembro foi levado a cabo com armas rudimentares. O que aí se provou, pois, foi que o terrorismo pode ser altamente eficaz recorrendo apenas a fisgas, facas de bolso e tesouras.

Depois, a possibilidade de proliferação descontrolada de armas de destruição massiva em consequência da facilidade da sua construção levanta sobretudo o problema do seu uso por indivíduos isolados ou por pequenos grupos de fanáticos activistas, e não especialmente por estados párias. Os estados, mesmo os dirigidos por tresloucados, podem com mais facilidade ser controlados ou ameaçados do que grupos informais virtualmente invisíveis e com grande facilidade de movimentação.

Portanto, nenhuma guerra convencional contra o «Eixo do Mal» pode enfrentar com êxito os problemas decorrentes da democratização das tecnologias do assassinato em massa nem, acredito, alguma vez foi esse o seu propósito.

Resta, portanto, como verdade inquestionável, que os comportamentos anti-sociais de sectores extremistas poderão assumir formas cada vez mais perigosas para a sociedade mundial. Que fazer?

Uma solução consiste em instituir sistemas de policiamento preventivo muito mais rigorosos do que aqueles que actualmente existem. Isso pode significar, por exemplo, a fiscalização sistemática dos movimentos de todos e quaisquer indivíduos cujos comportamentos possam ser considerados desviantes. Mas isso implicaria a instauração de verdadeiros estados policiais que nem eu nem Pacheco Pereira estaremos preparados para aceitar.

Há alguns anos, Peter Sloterdijk alvitrou numa conferência (tradução francesa: Règres pour le parc humain, Mille et une Nuits, 2000) que a solução poderá estar na utilização da engenharia genética para reprogramar o ser humano por forma a eliminar certas taras congénitas de origem biológica. Estas propostas desencadearam prontamente um indignado clamor de protestos, tanto à esquerda como à direita.

Concluindo, eu não tenho uma solução para propor, mas parece-me evidente que tão pouco a tem Pacheco Pereira.

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