Os políticos sempre tiveram opiniões muito sólidas sobre o modo como as empresas deveriam ser geridas.
Chegou agora a vez de os empresários ocuparem o seu tempo a redigir planos para administrar o Estado.
Toda esta gente falhou claramente a sua vocação.
E que tal se trocassem? O país certamente não melhoraria, mas nós ríamo-nos um bocadinho.
29.4.04
26.4.04
A lógica é uma chatice
«Eles mentem, eles perdem.»
Será por isso que, até hoje, o Bloco perdeu todas as eleições a que concorreu?
Será por isso que, até hoje, o Bloco perdeu todas as eleições a que concorreu?
Ensaio sobre a lucidez
Fez ontem 30 anos que Vasco Pulido Valente nos inflige periodicamente os seus ensaios sobre o 25 de Abril. Para comemorar a efeméride, publicou mais um no DN.
O mundo é confuso e o ser humano não é boa peça. Armado destas surpreendentes trivialidades, o valente Pulido está sempre pronto para dissertar sabiamente sobre todo e qualquer assunto sem correr grandes riscos de se enganar. Com a condição, obviamente, de jamais se deixar envolver por qualquer acontecimento ou influenciar por qualquer personagem real.
Apesar de todo o tempo que já teve para meditar sobre o assunto, a mensagem permanece pobre e a análise superficial. Mas escreve muito bem -- oh que bem que ele escreve! -- e, no país de iletrados que nós somos, a forma pesa muito mais do que a substância.
Vasco é mais um desses talentos indisciplinados em que somos férteis, como a Agustina ou o Luís Pacheco. Incapazes de trabalho sólido e pertinaz, não deixam nada de substancial atrás de si, excepto ruído e fúria -- e a inabalável convicção do seu próprio génio. Português, demasiado português.
De resto, tudo o que ele escreve sobre o 25 de Abril poderia sê-lo por alguém que apenas dele teve conhecimento num país distante pela leitura dos jornais. Único entre todos os portugueses, ele jamais se comoveu ou deixou iludir. Porque, ao contrário de todos nós, ele é essencialmente lúcido.
Mais um que nunca se enganou e raramente teve dúvidas -- ou será ao contrário?
O seu assunto pouco interessa, porque ao fim e ao cabo se limita a falar de si mesmo, ou melhor, da sua auto-imagem, sem suspeitar um momento que isso só lhe importa a ele.
(O melhor exemplo do que digo foi a descomposta nota que há poucos meses teve a infeliz ideia de enviar da cama do hospital a «arrasar» o best-seller de Miguel Sousa Tavares, como se disso dependesse a salvação do mundo.)
Todos os autênticos estalinistas que conheci eram assim. Para eles, o mundo divide-se em duas partes incomunicáveis: de um lado estão os outros, pobres tolos fantasistas que interminavelmente perseguem as abomináveis ilusões a que dão o nome de felicidade, sem recuarem perante a estupidez ou o crime; do outro lado estão eles, só eles e eles sós, irredutíveis na sua lucidez, na sua recusa da emoção, na sua lógica fria e incorruptível.
Eles são os guardiões da verdade, são puros, incorruptíveis no raciocínio e inabaláveis nos princípios. O preço que pagam para conservarem o respeito por si próprios é o cinismo.
Falta todavia explicar o mistério da extraordinária aceitação de que as suas doentias elucubrações disfruta nos nossos círculos dirigentes.
Desde a mais remota antiguidade, as cortes sempre tiveram um personagem estranho cujos comportamentos e ideias excêntricas serviam para exorcizar os demónios -- jester, chamavam-lhes os ingleses. Conjecturo eu que uma sociedade atrasada e supersticiosa como a nossa também não pode dispensar uma figura assim.
O mundo é confuso e o ser humano não é boa peça. Armado destas surpreendentes trivialidades, o valente Pulido está sempre pronto para dissertar sabiamente sobre todo e qualquer assunto sem correr grandes riscos de se enganar. Com a condição, obviamente, de jamais se deixar envolver por qualquer acontecimento ou influenciar por qualquer personagem real.
Apesar de todo o tempo que já teve para meditar sobre o assunto, a mensagem permanece pobre e a análise superficial. Mas escreve muito bem -- oh que bem que ele escreve! -- e, no país de iletrados que nós somos, a forma pesa muito mais do que a substância.
Vasco é mais um desses talentos indisciplinados em que somos férteis, como a Agustina ou o Luís Pacheco. Incapazes de trabalho sólido e pertinaz, não deixam nada de substancial atrás de si, excepto ruído e fúria -- e a inabalável convicção do seu próprio génio. Português, demasiado português.
De resto, tudo o que ele escreve sobre o 25 de Abril poderia sê-lo por alguém que apenas dele teve conhecimento num país distante pela leitura dos jornais. Único entre todos os portugueses, ele jamais se comoveu ou deixou iludir. Porque, ao contrário de todos nós, ele é essencialmente lúcido.
Mais um que nunca se enganou e raramente teve dúvidas -- ou será ao contrário?
O seu assunto pouco interessa, porque ao fim e ao cabo se limita a falar de si mesmo, ou melhor, da sua auto-imagem, sem suspeitar um momento que isso só lhe importa a ele.
(O melhor exemplo do que digo foi a descomposta nota que há poucos meses teve a infeliz ideia de enviar da cama do hospital a «arrasar» o best-seller de Miguel Sousa Tavares, como se disso dependesse a salvação do mundo.)
Todos os autênticos estalinistas que conheci eram assim. Para eles, o mundo divide-se em duas partes incomunicáveis: de um lado estão os outros, pobres tolos fantasistas que interminavelmente perseguem as abomináveis ilusões a que dão o nome de felicidade, sem recuarem perante a estupidez ou o crime; do outro lado estão eles, só eles e eles sós, irredutíveis na sua lucidez, na sua recusa da emoção, na sua lógica fria e incorruptível.
Eles são os guardiões da verdade, são puros, incorruptíveis no raciocínio e inabaláveis nos princípios. O preço que pagam para conservarem o respeito por si próprios é o cinismo.
Falta todavia explicar o mistério da extraordinária aceitação de que as suas doentias elucubrações disfruta nos nossos círculos dirigentes.
Desde a mais remota antiguidade, as cortes sempre tiveram um personagem estranho cujos comportamentos e ideias excêntricas serviam para exorcizar os demónios -- jester, chamavam-lhes os ingleses. Conjecturo eu que uma sociedade atrasada e supersticiosa como a nossa também não pode dispensar uma figura assim.
24.4.04
O revisionismo histórico está activo
«Tanto que devemos a tão poucos», escreve hoje José Manuel Frenandes no Público, querendo com isso dizer que, em 25 de Abril de 1974, algumas dezenas de capitães ofereceram a liberdade aos portugueses numa bandeja.
Esta mistificação histórica é tão antiga como a data que está na sua origem. Muitos recordar-se-ão ainda que ela foi inventada pelo PCP para legitimar a chamada aliança Povo-MFA.
Ao anoitecer do dia 25 de Abril, ninguém sabia em Portugal que espécie de regime queriam os militares para Portugal. Por isso se deve dizer que o 25 de Abril não instaurou a democracia, instaurou uma oportunidade. Foi nosso mérito colectivo termos sabido aproveitá-la com entusiasmo e ousadia -- mas também, vistas as coisas à distância, com muito bom senso.
Durante breves semanas, a nação tornou-se numa noção palpável, em vez de um conceito abstracto e intangível. Vimo-nos e encontrámo-nos uns aos outros, sacudimos o torpor e pusémo-nos em movimento.
Em seguida, o pai enfrentou o filho, o irmão separou-se da irmã, o vizinho divergiu do vizinho. Depois de aprendermos a viver em sintonia, tivemos que aprender a viver em confronto sem necessariamente nos agredirmos.
Esta segunda etapa foi muito mais difícil, mas também incomparavelmente mais valiosa.
É disso que hoje nos deveríamos fundamentalmente orgulhar, pondo definitivamente de parte esses mitos sebásticos do MFA salvador que desembocou no Largo do Carmo numa manhã de nevoeiro para libertar o pobre povo português.
Esta mistificação histórica é tão antiga como a data que está na sua origem. Muitos recordar-se-ão ainda que ela foi inventada pelo PCP para legitimar a chamada aliança Povo-MFA.
Ao anoitecer do dia 25 de Abril, ninguém sabia em Portugal que espécie de regime queriam os militares para Portugal. Por isso se deve dizer que o 25 de Abril não instaurou a democracia, instaurou uma oportunidade. Foi nosso mérito colectivo termos sabido aproveitá-la com entusiasmo e ousadia -- mas também, vistas as coisas à distância, com muito bom senso.
Durante breves semanas, a nação tornou-se numa noção palpável, em vez de um conceito abstracto e intangível. Vimo-nos e encontrámo-nos uns aos outros, sacudimos o torpor e pusémo-nos em movimento.
Em seguida, o pai enfrentou o filho, o irmão separou-se da irmã, o vizinho divergiu do vizinho. Depois de aprendermos a viver em sintonia, tivemos que aprender a viver em confronto sem necessariamente nos agredirmos.
Esta segunda etapa foi muito mais difícil, mas também incomparavelmente mais valiosa.
É disso que hoje nos deveríamos fundamentalmente orgulhar, pondo definitivamente de parte esses mitos sebásticos do MFA salvador que desembocou no Largo do Carmo numa manhã de nevoeiro para libertar o pobre povo português.
23.4.04
Abril é reinação
Para o Bloco de Esquerda, o 25 de Abril é uma espécie de Disneylândia, reino do sonho e da fantasia, paraíso perdido da inocência revolucionária.
Promiscuidade entre os media e o futebol
Não há muitos anos, um presidente do Sporting e outro do Benfica foram julgados e condenados por crimes cometidos ao comando dessas agremiações desportivas.
Em Portugal só há três clubes que mexem em dinheiro a sério. Dir-se-ía que dois em três é uma boa proporção em termos de combate à corrupção, até porque em nenhum sector da vida portuguesa se atingiu nada que se pareça com essa marca.
Julgava eu, por conseguinte, que a fiscalização de eventuais irregularidades nos clubes de futebol já tinha começado há muito tempo. Trata-se inclusivamente do único sector da economia para o qual o Ministério das Finanças criou uma comissão especial destinada a fiscalizar as eventuais dívidas ao fisco, embora se saiba que essa severidade não foi suficiente para evitar o sistemático incumprimento por parte do Benfica.
Isso era o que eu pensava. Mas os media, explicaram-nos que agora, com os casos do Gondomar SC e dos Dragões Sandinistas, é que finalmente começou a «limpeza do futebol». Ouvi inclusivamente na TSF duas notórias especialistas na matéria, Clara Ferreira Alves e Constança Cunha e Sá, asseverarem que esta é a melhor forma de comemorarmos o 25 de Abril.
A razão de todo este alvoroço resulta de Valentim Loureiro, ao que parece, ser suspeito de ter favorecido Pinto da Costa (não seria antes o F.C. Porto?) numa decisão da Comissão Disciplinar da Liga da Clubes.
Num jornal como o Público, supostamente o último farol da seriedade na imprensa diária portuguesa, a notícia do dia foi mesmo a suposta acusação contra Pinto da Costa, e não a prisão de Valentim Loureiro. Daí para baixo, foi sempre a piorar.
Bastou ser falado o nome de Pinto da Costa para que aos facciosos do costume lhes cheirasse logo a sangue. Pois desejo-lhes, como habitualmente, muito boa sorte.
P.S. - Declaração de conflito de interesses: para que conste, sou adepto e associado do F.C. Porto.
Em Portugal só há três clubes que mexem em dinheiro a sério. Dir-se-ía que dois em três é uma boa proporção em termos de combate à corrupção, até porque em nenhum sector da vida portuguesa se atingiu nada que se pareça com essa marca.
Julgava eu, por conseguinte, que a fiscalização de eventuais irregularidades nos clubes de futebol já tinha começado há muito tempo. Trata-se inclusivamente do único sector da economia para o qual o Ministério das Finanças criou uma comissão especial destinada a fiscalizar as eventuais dívidas ao fisco, embora se saiba que essa severidade não foi suficiente para evitar o sistemático incumprimento por parte do Benfica.
Isso era o que eu pensava. Mas os media, explicaram-nos que agora, com os casos do Gondomar SC e dos Dragões Sandinistas, é que finalmente começou a «limpeza do futebol». Ouvi inclusivamente na TSF duas notórias especialistas na matéria, Clara Ferreira Alves e Constança Cunha e Sá, asseverarem que esta é a melhor forma de comemorarmos o 25 de Abril.
A razão de todo este alvoroço resulta de Valentim Loureiro, ao que parece, ser suspeito de ter favorecido Pinto da Costa (não seria antes o F.C. Porto?) numa decisão da Comissão Disciplinar da Liga da Clubes.
Num jornal como o Público, supostamente o último farol da seriedade na imprensa diária portuguesa, a notícia do dia foi mesmo a suposta acusação contra Pinto da Costa, e não a prisão de Valentim Loureiro. Daí para baixo, foi sempre a piorar.
Bastou ser falado o nome de Pinto da Costa para que aos facciosos do costume lhes cheirasse logo a sangue. Pois desejo-lhes, como habitualmente, muito boa sorte.
P.S. - Declaração de conflito de interesses: para que conste, sou adepto e associado do F.C. Porto.
22.4.04
Abril é evolução
A espanhola Iberdrola confirmou hoje à agência Lusa que o ex-ministro das Finanças e da Economia Joaquim Pina Moura vai gerir os investimentos da eléctrica em Portugal.
Caíu mais um pedaço do Muro de Berlim
A espanhola Iberdrola confirmou hoje à agência Lusa que o ex-ministro das Finanças e da Economia Joaquim Pina Moura vai gerir os investimentos da eléctrica em Portugal.
O fim da história
A espanhola Iberdrola confirmou hoje à agência Lusa que o ex-ministro das Finanças e da Economia Joaquim Pina Moura vai gerir os investimentos da eléctrica em Portugal.
Descoberta a quarta via
A espanhola Iberdrola confirmou hoje à agência Lusa que o ex-ministro das Finanças e da Economia Joaquim Pina Moura vai gerir os investimentos da eléctrica em Portugal.
A caminho da convergência real
A espanhola Iberdrola confirmou hoje à agência Lusa que o ex-ministro das Finanças e da Economia Joaquim Pina Moura vai gerir os investimentos da eléctrica em Portugal.
Um case-study de sucesso empresarial à portuguesa
A espanhola Iberdrola confirmou hoje à agência Lusa que o ex-ministro das Finanças e da Economia Joaquim Pina Moura vai gerir os investimentos da eléctrica em Portugal.
Deixem em paz o Valentim
A espanhola Iberdrola confirmou hoje à agência Lusa que o ex-ministro das Finanças e da Economia Joaquim Pina Moura vai gerir os investimentos da eléctrica em Portugal.
Empreendedorismo de vento em popa
A espanhola Iberdrola confirmou hoje à agência Lusa que o ex-ministro das Finanças e da Economia Joaquim Pina Moura vai gerir os investimentos da eléctrica em Portugal.
O que faltou à mulher de César foi um bom assessor de imprensa
A empresa espanhola Iberdrola confirmou hoje à agência Lusa que o ex-ministro das Finanças e da Economia Joaquim Pina Moura vai gerir os investimentos da eléctrica em Portugal.
21.4.04
Empreendedorismo e cleptocracia
Tanto quanto consigo avaliar, uma parte dos quadros técnicos portugueses dos sectores público e privado passam o seu tempo em seminários, conferências e mesas redondas.
Por muito insignificante que seja o tema, a afluência é sempre enorme, e ninguém arreda pé durante o dia todo. Quem sou para os criticar? Normalmente conhece-se gente interessante e, em termos práticos, também não se produz menos do que no escritório.
Há dias assisti a um pow-wow sobre o momentoso problema do empreendedorismo. Como não podia deixar de ser, um professor universitário presente sugeriu que se lançassem iniciativas destinadas a - adivinharam! - sensibilizar os jovens para a importância do empreendedorismo e motivá-los para correrem riscos.
Mas será preciso? Sempre ouvi dizer que, nas mais variadas sociedades, as pessoas com perfil empreendedor representam uma proporção aproximadamente constante da população. Essa percentagem só aumenta significativamente nos países com uma elevada taxa de imigração.
Logo, o grande problema não é fomentar o empreendedorismo, mas assegurar que os seus efeitos são úteis para a sociedade.
Eu explico. Após a queda da União Soviética constatou-se que os russos têm um fortíssimo instinto empreendedor; lamentavelmente, porém, canalizam-no principalmente para actividades ilícitas. O resultado foi a criação em pouco mais de uma década de uma poderosa e tentacular cleptocracia que, não tarda muito, atacará a mafia americana -- instalada, abúlica e pouco competitiva -- no seu próprio terreno.
Passa-se algo semelhante entre nós, visto que os portugueses revelam um notável espírito de iniciativa. Todavia, preferem aplicá-lo em actividades anti-sociais: fuga aos impostos, contrabando de tabaco, caça organizada a todo o género de subsídios, suborno de autarcas para obter autorizações para construir em zonas protegidas, etc., etc., etc.
Alguns dos casos de corrupção revelados nos últimos tempos revelam mesmo uma notável aliança entre imaginação e alta tecnologia, como por exemplo a fraude nas portagens da Brisa.
Apetece-me recordar mais uma vez a inutilidade dos sermões: as pessoas comportam-se consoante os incentivos que recebem. O que os jovens vêm é que, em Portugal, raramente se triunfa na vida por meios legítimos. As grandes fortunas portuguesas são as mesmas de há 30 anos, de há 100 anos ou de há 200 anos e, na maioria dos casos, têm origem em negócios de algum modo ligados à escravatura.
As alternativas válidas são, pois, nascer na família certa, arranjar um bom padrinho e fazer carreira à sua sombra ou, quando essas alternativas falham, encarar a lei de forma descontraída.
O empreendedorismo não é necessariamente uma coisa boa para a sociedade. Depende do que ela for capaz de fazer com ele.
Por muito insignificante que seja o tema, a afluência é sempre enorme, e ninguém arreda pé durante o dia todo. Quem sou para os criticar? Normalmente conhece-se gente interessante e, em termos práticos, também não se produz menos do que no escritório.
Há dias assisti a um pow-wow sobre o momentoso problema do empreendedorismo. Como não podia deixar de ser, um professor universitário presente sugeriu que se lançassem iniciativas destinadas a - adivinharam! - sensibilizar os jovens para a importância do empreendedorismo e motivá-los para correrem riscos.
Mas será preciso? Sempre ouvi dizer que, nas mais variadas sociedades, as pessoas com perfil empreendedor representam uma proporção aproximadamente constante da população. Essa percentagem só aumenta significativamente nos países com uma elevada taxa de imigração.
Logo, o grande problema não é fomentar o empreendedorismo, mas assegurar que os seus efeitos são úteis para a sociedade.
Eu explico. Após a queda da União Soviética constatou-se que os russos têm um fortíssimo instinto empreendedor; lamentavelmente, porém, canalizam-no principalmente para actividades ilícitas. O resultado foi a criação em pouco mais de uma década de uma poderosa e tentacular cleptocracia que, não tarda muito, atacará a mafia americana -- instalada, abúlica e pouco competitiva -- no seu próprio terreno.
Passa-se algo semelhante entre nós, visto que os portugueses revelam um notável espírito de iniciativa. Todavia, preferem aplicá-lo em actividades anti-sociais: fuga aos impostos, contrabando de tabaco, caça organizada a todo o género de subsídios, suborno de autarcas para obter autorizações para construir em zonas protegidas, etc., etc., etc.
Alguns dos casos de corrupção revelados nos últimos tempos revelam mesmo uma notável aliança entre imaginação e alta tecnologia, como por exemplo a fraude nas portagens da Brisa.
Apetece-me recordar mais uma vez a inutilidade dos sermões: as pessoas comportam-se consoante os incentivos que recebem. O que os jovens vêm é que, em Portugal, raramente se triunfa na vida por meios legítimos. As grandes fortunas portuguesas são as mesmas de há 30 anos, de há 100 anos ou de há 200 anos e, na maioria dos casos, têm origem em negócios de algum modo ligados à escravatura.
As alternativas válidas são, pois, nascer na família certa, arranjar um bom padrinho e fazer carreira à sua sombra ou, quando essas alternativas falham, encarar a lei de forma descontraída.
O empreendedorismo não é necessariamente uma coisa boa para a sociedade. Depende do que ela for capaz de fazer com ele.
2º round da perseguição aos «poderosos»
O tema da Casa Pia estava a morrer um pouco -- por coincidência, ou talvez não, Proença de Carvalho anunciou hoje a renúncia à defesa das vítimas -- de modo que a PJ, principal fornecedora de conteúdos para os tablóides televisivos, tinha a estrita e patriótica obrigação de arranjar outra coisa, não fosse dar-se o caso de os telejornais começarem a abordar assuntos importantes.
Desta vez, os «poderosos» são, para já, o Gondomar S.C. e os Dragões Sandinistas.
Abriguem-se, que vem aí mais uma tempestade de conversa da treta.
Para começar, hoje o tema de um fórum na TSF era este: «Acha que, nas vésperas do Euro 2004, a prisão de dirigentes ligados ao futebol pode prejudicar a imagem do país lá fora?» A invencível brigada da estupidez ataca de novo.
Desta vez, os «poderosos» são, para já, o Gondomar S.C. e os Dragões Sandinistas.
Abriguem-se, que vem aí mais uma tempestade de conversa da treta.
Para começar, hoje o tema de um fórum na TSF era este: «Acha que, nas vésperas do Euro 2004, a prisão de dirigentes ligados ao futebol pode prejudicar a imagem do país lá fora?» A invencível brigada da estupidez ataca de novo.
16.4.04
Civilização
No século XX, os grandes contributos portugueses para a civilização mundial foram, sem sombra de dúvidas, Fernando Pessoa e a pasta de eucalipto branqueada.
Fernando Pessoa é genericamente incensado, o eucalipto é carinhosa e metodicamente odiado. Ambos são eficazmente ignorados.
Fernando Pessoa é genericamente incensado, o eucalipto é carinhosa e metodicamente odiado. Ambos são eficazmente ignorados.
Cúmulo da incompetência
Os portugueses pelam-se por rituais, de preferência pomposos e vazios. Antiquíssimos e credíveis testemunhos comprovam que sempre foi assim desde tempos imemoriais.
Porque será então que são incapazes de organizar decentemente uma cerimónia, seja ela um simples casamento, a abertura de um torneio desportivo ou uma gala de entrega de prémios?
Porque será então que são incapazes de organizar decentemente uma cerimónia, seja ela um simples casamento, a abertura de um torneio desportivo ou uma gala de entrega de prémios?
Sensibilizar
Sensibilizar é a grande receita nacional para todos os problemas que afligem a pátria.
Sensibilizar as donas de casa para a separação do lixo, sensibilizar os jovens para o perigo da SIDA e para a actualidade do 25 de Abril, sensibilizar os cidadãos para a importância de votarem nas eleições europeias, sensibilizar os veraneantes para a protecção da floresta, sensibilizar os trabalhadores para a competitividade das empresas portuguesas, sensibilizar as crianças para a protecção das espécies ameaçadas.
Meio mundo tenta sensibilizar o outro meio, e os grandes sensibilizadores profissionais são os jornalistas, que diariamente desenterram no telejornal das oito mais uma mão cheia de causas que prometem salvar a humanidade da catástrofe iminente.
Infelizmente, estes beneméritos esforços esbarram invariavelmente em dois obstáculos de monta. Por um lado, com tanta gente a sensibilizar, os seus esforços anulam-se mutuamente. Em segundo lugar, e mais importante ainda, as pessoas aprendem principalmente com a sua experiência e não com sermões.
Na ausência de planos de acção e de trabalho metódico, sensibiliza-se. Que é como quem diz: finge-se que se faz qualquer coisa.
Sensibilizar as donas de casa para a separação do lixo, sensibilizar os jovens para o perigo da SIDA e para a actualidade do 25 de Abril, sensibilizar os cidadãos para a importância de votarem nas eleições europeias, sensibilizar os veraneantes para a protecção da floresta, sensibilizar os trabalhadores para a competitividade das empresas portuguesas, sensibilizar as crianças para a protecção das espécies ameaçadas.
Meio mundo tenta sensibilizar o outro meio, e os grandes sensibilizadores profissionais são os jornalistas, que diariamente desenterram no telejornal das oito mais uma mão cheia de causas que prometem salvar a humanidade da catástrofe iminente.
Infelizmente, estes beneméritos esforços esbarram invariavelmente em dois obstáculos de monta. Por um lado, com tanta gente a sensibilizar, os seus esforços anulam-se mutuamente. Em segundo lugar, e mais importante ainda, as pessoas aprendem principalmente com a sua experiência e não com sermões.
Na ausência de planos de acção e de trabalho metódico, sensibiliza-se. Que é como quem diz: finge-se que se faz qualquer coisa.
O vira-pautas
Muitas pessoas declaram-se chocadas por a humanidade ser hoje capaz de complexas manipulações genéticas, mas não de encontrar o remédio para a caspa.
A mim, pessoalmente, faz-me mais impressão aquele enervante exercício de alguém virar à mão às páginas de música do virtuoso pianista. Porque têm os nossos nervos de continuar a sofrer, e o nosso gozo estético do 22º concerto para piano de Mozart ser perturbado, pelo permanente receio de que a qualquer momento trema a mão do vira-pautas e se espalhem no chão as folhas da partitura?
Em pleno século XXI, a ninguém ocorreu inventar um écrã táctil que resolvesse o problema?
Mas talvez também eles tenham tido essa ideia e, mesmo assim, por puro snobismo, optassem antes por conservar esse arcaico ritual, do mesmo modo que envergam aquelas ridículas casacas de criado de restaurante de luxo só para marcar a diferença entre nós e eles e a reverência de todos ao cânone musical.
A mim, pessoalmente, faz-me mais impressão aquele enervante exercício de alguém virar à mão às páginas de música do virtuoso pianista. Porque têm os nossos nervos de continuar a sofrer, e o nosso gozo estético do 22º concerto para piano de Mozart ser perturbado, pelo permanente receio de que a qualquer momento trema a mão do vira-pautas e se espalhem no chão as folhas da partitura?
Em pleno século XXI, a ninguém ocorreu inventar um écrã táctil que resolvesse o problema?
Mas talvez também eles tenham tido essa ideia e, mesmo assim, por puro snobismo, optassem antes por conservar esse arcaico ritual, do mesmo modo que envergam aquelas ridículas casacas de criado de restaurante de luxo só para marcar a diferença entre nós e eles e a reverência de todos ao cânone musical.
Mutatis mutandis
Costumava chamar-se inocentes úteis àqueles ingénuos que, a pretexto de combater males maiores, aceitavam alistar-se em frentes populares hegemonizadas por cínicos comissários estalinistas.
Hoje em dia, porém, os inocentes úteis são antes os sujeitos inteligentes e bem-intencionados, como Pacheco Pereira e Pedro Lomba, que se esfalfam a inventar argumentos especiosos para justificarem as malfeitorias de George Bush e seus associados.
Hoje em dia, porém, os inocentes úteis são antes os sujeitos inteligentes e bem-intencionados, como Pacheco Pereira e Pedro Lomba, que se esfalfam a inventar argumentos especiosos para justificarem as malfeitorias de George Bush e seus associados.
15.4.04
Um blogue competitivo
7% dos visitantes do Blogoexisto vêm do Brasil, 5% dos EUA.
É a minha contribuição para a nossa balança de pagamentos intelectual.
É a minha contribuição para a nossa balança de pagamentos intelectual.
Osama e Bush
Arnaldo Jabor na Globo online de 3ª feira:
Estamos num tempo em que as «soluções» não existem mais. Não há solução para o terrorismo, graças às tarefas que Osama encomendou a Bush e que ele executou, obedientemente. “«Osama-Bush» é um veneno duplo. Osama é um dos maiores estrategistas da História: sozinho, desestabilizou o planeta, usando as armas do inimigo. Assim como usou os aviões da United para o WTC, usou o presidente dos USA contra os USA e o mundo. Mesmo que Osama morra, sua obra já está feita. Ele semeou o terrorismo e Bush legitimou-o para sempre.
Osama criou Bush como um lugar-tenente para destruir tudo que o Ocidente criou no século XX, tudo que foi conquista democrática, valores ecológicos, sexuais, culturais.
Bush não é uma pessoa; é um resultado. São séculos de uma ideologia religiosa que começa puritana, com humildade bíblica, mas que a complexidade do progresso social poluiu de rancor e boçalidade fanática. Bush é o porta-voz de uma «gangue» da América silenciosa que odeia a democracia. Como Osama odeia.
Bush e sua gangue não querem pouco; querem mudar a face do mundo e da América. Eles acham que nós, democratas, somos «cães infiéis», exatamente como a al Qaeda. Assim como há Osama, há Bush, na mesma moeda.
O que nos choca nisso tudo é a inatualidade do fenômeno. Eles, as gangues do Bush e do Osama, ambas negam a existência do seculo XX, da arte, da política, da filosofia. Negam Marx, Freud, Picasso, renegam Darwin e seus macacos. Na gangue americana, temos Karl Rove, Perle, Rumsfeld, Wolfwitz — iguais aos fanáticos de Osama. Eles odeiam a Europa (principalmente a França) por ser mais culta, mais sábia, mais chique. Estão ainda no século XIX; são colonialistas, não isolacionistas. Eles não querem se isolar; querem nos isolar. Como Osama.
A gangue de Osama nos odeia desde 1492. A gangue de Bush tenta o poder desde o Watergate, desde o fim da Guerra Fria, desde a primeira guerra do Golfo, feita pelo papai em 91. Bush-Osama nos aparecem justamente na hora em que a América nos prometia uma multilateralidade política sedutora. Bush veio para acabar com todas as conquistas liberais dos anos 60. Só faltava um pretexto; Osama deu-o. Bush é um detergente; ele acha que problemas se «lavam mais branco», se raspam, ele acha que dissidências se esmagam, que complexidades devem ser achatadas, que o múltiplo tem de virar «um», que tudo tem um princípio, meio e um fim, e que o fim deve ser igual ao início, realizando o pensamento dos milhões de idiotas que jazem entre o hambúrguer e o sofá, diante da TV. Como Osama, ele também quer nos raspar da face da Terra.
Bush está arrasando com a esperança da Europa, que, depois de um século de brutalidades, de duas guerras mundiais, estava no caminho de uma solução pacífica de convivência. A gangue Bush sempre odiou os europeus afrescalhados, que falam em coisas profundas, humanistas, metidos a «superiores». A América republicana acha que esse papo de multiculturalismo é coisa de fracos. Como Osama. Há algo de conjunção astral maligna, algo que houve nos anos 30, quando Hitler crescia. Há períodos históricos em que parecemos desejar a morte. Surge uma fome de irracionalismo, como que uma libertação animalesca dos freios da civilização. Osama-Bush fizeram o inconsciente bárbaro irromper de novo entre nós. A partir de agora, sob o comando de Bush, só vamos errar. É como se o Bush e sua turma apavorante dissessem: «Chega de frescuras de democracia, de bom senso europeu. Vamos botar pra quebrar!» Como Osama.
Bush usa o nome de Cristo em vão. Osama usa o nome de Alá em vão. Ambos rezam antes de agir. E ambos, unidos, acabaram com o sonho de se alcançar uma harmonia política futura. Mixou a idéia platônica de «futuro redentor». Outro dia, o Baudrillard disse: «Acabou o universal; só há o singular contra o mundial». Perfeito. A genialidade de Osama consistiu em atacar isso: o sonho universal da civilização.
Os fanáticos só têm certezas — tanto Bush quanto Osama; só que um continua a acertar. O outro, a errar. Nós achávamos que chegaríamos a um futuro sem perigos. Os fanáticos já chegaram lá, no «futuro». O futuro deles é hoje. Os fanáticos do Islã querem o imóvel, a verdade incontestável. Osama acha que somos o mal. Ele é o bem. O Bush pensa igual, do outro lado. A América tem uma ideologia. Eles têm a teologia (ou não, pois Bush também é teologia).
Espanta-me muito que Clinton tenha quase sido impeached porque papou uma mulherzinha e, no entanto, Bush suja o nome da América, mata centenas de jovens no deserto do absurdo, arrasa o Ocidente e ninguém fala em impeachment, o que prova o horror moralista da direita cristã e a caretice da América.
Osama traçou um destino para o século XXI, que Bush executa. O terrível é que tenha sido tão fácil, tão imaginoso. Ele (Osama ou Bush?) acabou com nossa idéia de «finalidade». O projeto do Ocidente agora é localizar bueiros com bombas e cartas venenosas. Osama acabou com nosso mito de tudo controlar, a busca do destino sem acontecimentos, sem sustos. Ele não quer nada de nós; só a tecnologia para «suicidá-la» contra nós. Ele está nos fazendo viajar no tempo. Estamos de volta ao século VII, na Idade Média, quando Maomé cria as bases de uma religião obsessiva, desértica, que louva o martírio e a exclusão dos «infiéis».
Uma coisa é certa: a idéia de «vencer» não existe mais, não há vitórias para nós; vamos ter de incluir a morte em nosso dia-a-dia, como fazem os islâmicos. Não poderemos esquecê-la jamais. Neste sentido, ficaremos mais «orientais», fatalistas. Consolo ridículo: «Isso pode até ser útil para o Ocidente consumista». Achávamos também que Osama amava a morte e o Bush amava a vida. Engano. Bush também ama a morte. A única diferença é que Osama é inteligente e Bush é burro.
(Com os meus agradecimentos ao Gilson que me fez chegar este magnífico texto.)
Estamos num tempo em que as «soluções» não existem mais. Não há solução para o terrorismo, graças às tarefas que Osama encomendou a Bush e que ele executou, obedientemente. “«Osama-Bush» é um veneno duplo. Osama é um dos maiores estrategistas da História: sozinho, desestabilizou o planeta, usando as armas do inimigo. Assim como usou os aviões da United para o WTC, usou o presidente dos USA contra os USA e o mundo. Mesmo que Osama morra, sua obra já está feita. Ele semeou o terrorismo e Bush legitimou-o para sempre.
Osama criou Bush como um lugar-tenente para destruir tudo que o Ocidente criou no século XX, tudo que foi conquista democrática, valores ecológicos, sexuais, culturais.
Bush não é uma pessoa; é um resultado. São séculos de uma ideologia religiosa que começa puritana, com humildade bíblica, mas que a complexidade do progresso social poluiu de rancor e boçalidade fanática. Bush é o porta-voz de uma «gangue» da América silenciosa que odeia a democracia. Como Osama odeia.
Bush e sua gangue não querem pouco; querem mudar a face do mundo e da América. Eles acham que nós, democratas, somos «cães infiéis», exatamente como a al Qaeda. Assim como há Osama, há Bush, na mesma moeda.
O que nos choca nisso tudo é a inatualidade do fenômeno. Eles, as gangues do Bush e do Osama, ambas negam a existência do seculo XX, da arte, da política, da filosofia. Negam Marx, Freud, Picasso, renegam Darwin e seus macacos. Na gangue americana, temos Karl Rove, Perle, Rumsfeld, Wolfwitz — iguais aos fanáticos de Osama. Eles odeiam a Europa (principalmente a França) por ser mais culta, mais sábia, mais chique. Estão ainda no século XIX; são colonialistas, não isolacionistas. Eles não querem se isolar; querem nos isolar. Como Osama.
A gangue de Osama nos odeia desde 1492. A gangue de Bush tenta o poder desde o Watergate, desde o fim da Guerra Fria, desde a primeira guerra do Golfo, feita pelo papai em 91. Bush-Osama nos aparecem justamente na hora em que a América nos prometia uma multilateralidade política sedutora. Bush veio para acabar com todas as conquistas liberais dos anos 60. Só faltava um pretexto; Osama deu-o. Bush é um detergente; ele acha que problemas se «lavam mais branco», se raspam, ele acha que dissidências se esmagam, que complexidades devem ser achatadas, que o múltiplo tem de virar «um», que tudo tem um princípio, meio e um fim, e que o fim deve ser igual ao início, realizando o pensamento dos milhões de idiotas que jazem entre o hambúrguer e o sofá, diante da TV. Como Osama, ele também quer nos raspar da face da Terra.
Bush está arrasando com a esperança da Europa, que, depois de um século de brutalidades, de duas guerras mundiais, estava no caminho de uma solução pacífica de convivência. A gangue Bush sempre odiou os europeus afrescalhados, que falam em coisas profundas, humanistas, metidos a «superiores». A América republicana acha que esse papo de multiculturalismo é coisa de fracos. Como Osama. Há algo de conjunção astral maligna, algo que houve nos anos 30, quando Hitler crescia. Há períodos históricos em que parecemos desejar a morte. Surge uma fome de irracionalismo, como que uma libertação animalesca dos freios da civilização. Osama-Bush fizeram o inconsciente bárbaro irromper de novo entre nós. A partir de agora, sob o comando de Bush, só vamos errar. É como se o Bush e sua turma apavorante dissessem: «Chega de frescuras de democracia, de bom senso europeu. Vamos botar pra quebrar!» Como Osama.
Bush usa o nome de Cristo em vão. Osama usa o nome de Alá em vão. Ambos rezam antes de agir. E ambos, unidos, acabaram com o sonho de se alcançar uma harmonia política futura. Mixou a idéia platônica de «futuro redentor». Outro dia, o Baudrillard disse: «Acabou o universal; só há o singular contra o mundial». Perfeito. A genialidade de Osama consistiu em atacar isso: o sonho universal da civilização.
Os fanáticos só têm certezas — tanto Bush quanto Osama; só que um continua a acertar. O outro, a errar. Nós achávamos que chegaríamos a um futuro sem perigos. Os fanáticos já chegaram lá, no «futuro». O futuro deles é hoje. Os fanáticos do Islã querem o imóvel, a verdade incontestável. Osama acha que somos o mal. Ele é o bem. O Bush pensa igual, do outro lado. A América tem uma ideologia. Eles têm a teologia (ou não, pois Bush também é teologia).
Espanta-me muito que Clinton tenha quase sido impeached porque papou uma mulherzinha e, no entanto, Bush suja o nome da América, mata centenas de jovens no deserto do absurdo, arrasa o Ocidente e ninguém fala em impeachment, o que prova o horror moralista da direita cristã e a caretice da América.
Osama traçou um destino para o século XXI, que Bush executa. O terrível é que tenha sido tão fácil, tão imaginoso. Ele (Osama ou Bush?) acabou com nossa idéia de «finalidade». O projeto do Ocidente agora é localizar bueiros com bombas e cartas venenosas. Osama acabou com nosso mito de tudo controlar, a busca do destino sem acontecimentos, sem sustos. Ele não quer nada de nós; só a tecnologia para «suicidá-la» contra nós. Ele está nos fazendo viajar no tempo. Estamos de volta ao século VII, na Idade Média, quando Maomé cria as bases de uma religião obsessiva, desértica, que louva o martírio e a exclusão dos «infiéis».
Uma coisa é certa: a idéia de «vencer» não existe mais, não há vitórias para nós; vamos ter de incluir a morte em nosso dia-a-dia, como fazem os islâmicos. Não poderemos esquecê-la jamais. Neste sentido, ficaremos mais «orientais», fatalistas. Consolo ridículo: «Isso pode até ser útil para o Ocidente consumista». Achávamos também que Osama amava a morte e o Bush amava a vida. Engano. Bush também ama a morte. A única diferença é que Osama é inteligente e Bush é burro.
(Com os meus agradecimentos ao Gilson que me fez chegar este magnífico texto.)
12.4.04
O diabo que escolha
Francamente, não sei qual das duas soluções para o Iraque é pior, se a de George Bush, se a do Barnabé.
Uma coisa é certa: ambas se fundam na ignorância, no wishful thinking e na irresponsabilidade.
Uma coisa é certa: ambas se fundam na ignorância, no wishful thinking e na irresponsabilidade.
Pesadelo
E se, ao finalmente descobrirmos a verdade, constatássemos que ela era, afinal, desinteressante?
Modesta proposta para resolver de uma vez por todas o problema do insucesso escolar
Os meninos e as meninas de tenra idade, digamos entre os seis e os oito aninhos, deveriam ser levados pelos seus professores a visitar uma fábrica.
No final da visita, os mestres reuniriam os cachopos e dir-lhes-iam que, se não estudassem, o seu futuro seria trabalhar num sítio como aquele.
Remédio santo, acredito eu, porque os jovens em idade escolar não fazem ideia da violência que é o trabalho na grande maioria das indústrias, e ficariam certamente apavorados para toda a vida com essa perspectiva.
Nem seria preciso levá-los a um matadouro ou a uma fábrica de conservas de carne, tortura sem dúvida excessiva para crianças inocentes. Uma fábrica de detergentes, uma siderurgia, uma fábrica de pasta para papel ou uma cimenteira bastariam para lançar o pânico nas pobres e desprotegidas almas dos nossos infantes. As únicas visitas contra-indicadas seriam empresas de chocolates ou gelados.
No final da visita, os mestres reuniriam os cachopos e dir-lhes-iam que, se não estudassem, o seu futuro seria trabalhar num sítio como aquele.
Remédio santo, acredito eu, porque os jovens em idade escolar não fazem ideia da violência que é o trabalho na grande maioria das indústrias, e ficariam certamente apavorados para toda a vida com essa perspectiva.
Nem seria preciso levá-los a um matadouro ou a uma fábrica de conservas de carne, tortura sem dúvida excessiva para crianças inocentes. Uma fábrica de detergentes, uma siderurgia, uma fábrica de pasta para papel ou uma cimenteira bastariam para lançar o pânico nas pobres e desprotegidas almas dos nossos infantes. As únicas visitas contra-indicadas seriam empresas de chocolates ou gelados.
10.4.04
Post pascal
Se a violência gratuita devidamente esteticizada vende bem, que ideia melhor do que encenar duas horas e tal de murros, pontapés, cotoveladas, chibatadas e o mais que se conseguir inventar sobre o próprio símbolo da inocência, sobre o homem que oferecia a face direita a quem lhe batesse na direita, ou seja, sobre Jesus, o Cristo, em pessoa?
Diz-se -- mas talvez seja propaganda -- que João Paulo II tem em grande estima o último filme de Mel Gibson. Verdade ou mentira, o facto é que A Paixão de Jesus Cristo foi geralmente muito bem recebido pelos círculos católicos, o que, junto aos elogios ainda recentemente dirigidos pelos mesmos meios ao Senhor dos Anéis, só confirma o vazio de ideais que se instalou no Vaticano e que granjeia tanto apoio entre os seus seguidores.
Deixemos de lado o anti-semitismo implícito, talvez imperceptível para quem não foi educado no ódio de princípio aos assassinos de Deus. O fundamental é que esta descontextualização da morte de Cristo é um evidente instrumento de absolutização da crença religiosa. Isso consegue-se desligadando-a tanto dos seus pressupostos como dos seus ensinamentos, o que facilita a mobilização incondicional dos cristãos contra o mal absoluto incarnado pelos adversários (ou simplesmente não partidários) dessa seita particular.
Os maus não são maus porque se oponham a certos princípios éticos recomendáveis ou porque defendam concepções ou comportamentos inaceitáveis. São maus porque são maus, ou, melhor dizendo, porque não são dos nossos. É a isto que se convencionou chamar fanatismo ou, mais modernamente, fundamentalismo religioso.
Historicamente, esta versão da morte de Cristo que tenta desviar a responsabilidade de Pilatos para os dirigentes religiosos e políticos judeus é insustentável. Não parece hoje haver grandes dúvidas de que Jesus foi executado por, de mera ameaça aos sacerdotes do Templo, ter passado em certo momento a ser considerado por Pilatos uma ameaça séria à Pax Romana naquelas partes do mundo.
Dois mil anos transcorridos sobre a Paixão de Cristo, todos os anos pela Páscoa somos castigados com a passagem nos canais de televisão com uma interminável série de séries e filmes históricos medíocres que glosam o tema nos mais variados registos. O efeito de todos eles é uma estranha normalização do maior escândalo de todos os tempos, um acontecimento cujas incalculáveis consequências ainda hoje estamos longe de ter integralmente incompreendido.
Muitos homens se haviam proclamado deuses, mas a nenhum deus lhe ocorrera proclamar-se homem, ainda por cima para em seguida se deixar matar pelas suas criaturas. Estranha, sem dúvida, quase blasfemo, esta nova religião criada por Paulo, que, ao degradar a divindade ao nível dos mortais, deixa no ar uma insuportável sugestão de ateísmo. A morte de Deus, solenemente proclamada por Nietzsche em pleno século XIX, começou de facto aí.
«Creio, porque é absurdo», escreveu com toda a lógica Tertuliano. Na verdade, se não fosse absurdo, não seria preciso crer – bastaria constatar.
Diz-se -- mas talvez seja propaganda -- que João Paulo II tem em grande estima o último filme de Mel Gibson. Verdade ou mentira, o facto é que A Paixão de Jesus Cristo foi geralmente muito bem recebido pelos círculos católicos, o que, junto aos elogios ainda recentemente dirigidos pelos mesmos meios ao Senhor dos Anéis, só confirma o vazio de ideais que se instalou no Vaticano e que granjeia tanto apoio entre os seus seguidores.
Deixemos de lado o anti-semitismo implícito, talvez imperceptível para quem não foi educado no ódio de princípio aos assassinos de Deus. O fundamental é que esta descontextualização da morte de Cristo é um evidente instrumento de absolutização da crença religiosa. Isso consegue-se desligadando-a tanto dos seus pressupostos como dos seus ensinamentos, o que facilita a mobilização incondicional dos cristãos contra o mal absoluto incarnado pelos adversários (ou simplesmente não partidários) dessa seita particular.
Os maus não são maus porque se oponham a certos princípios éticos recomendáveis ou porque defendam concepções ou comportamentos inaceitáveis. São maus porque são maus, ou, melhor dizendo, porque não são dos nossos. É a isto que se convencionou chamar fanatismo ou, mais modernamente, fundamentalismo religioso.
Historicamente, esta versão da morte de Cristo que tenta desviar a responsabilidade de Pilatos para os dirigentes religiosos e políticos judeus é insustentável. Não parece hoje haver grandes dúvidas de que Jesus foi executado por, de mera ameaça aos sacerdotes do Templo, ter passado em certo momento a ser considerado por Pilatos uma ameaça séria à Pax Romana naquelas partes do mundo.
Dois mil anos transcorridos sobre a Paixão de Cristo, todos os anos pela Páscoa somos castigados com a passagem nos canais de televisão com uma interminável série de séries e filmes históricos medíocres que glosam o tema nos mais variados registos. O efeito de todos eles é uma estranha normalização do maior escândalo de todos os tempos, um acontecimento cujas incalculáveis consequências ainda hoje estamos longe de ter integralmente incompreendido.
Muitos homens se haviam proclamado deuses, mas a nenhum deus lhe ocorrera proclamar-se homem, ainda por cima para em seguida se deixar matar pelas suas criaturas. Estranha, sem dúvida, quase blasfemo, esta nova religião criada por Paulo, que, ao degradar a divindade ao nível dos mortais, deixa no ar uma insuportável sugestão de ateísmo. A morte de Deus, solenemente proclamada por Nietzsche em pleno século XIX, começou de facto aí.
«Creio, porque é absurdo», escreveu com toda a lógica Tertuliano. Na verdade, se não fosse absurdo, não seria preciso crer – bastaria constatar.
Aos benfiquistas
Ser benfiquista tornou-se, nos tempos que correm, após tantos anos de insucesso, uma coisa bonita, um acto de fidelidade, de fidalguia, de devoção a algo que vale mais, muito mais, do que o valor que objectivamente tem.
Pensei nisso ao escutar hoje Reggiani cantar Sarah, e lembrei-me de dedicar a todos os benfiquistas, sans rancunne, este lindíssimo poema de Baudelaire:
Si vous la rencontrez, bizarrement parée,
Se faufilant, au coin d'une rue égarée,
Et la tête et l'oeil bas comme un pigeon blessé,
Traînant dans les ruisseaux un talon déchaussé,
Messieurs, ne crachez pas de jurons ni d'ordure
Au visage fardé de cette pauvre impure
Que déesse Famine a par un soir d'hiver,
Contrainte à relever ses jupons en plein air.
Cette bohème-là, c'est mon tout, ma richesse,
Ma perle, mon bijou, ma reine, ma duchesse,
Celle qui m'a bercé sur son giron vainqueur,
Et qui dans ses deux mains a réchauffé mon coeur.
9.4.04
A eliminação dos galácticos e o fim da história
Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique, Manchester United, Arsenal, Milan, Juventus, Inter -- todas os mais poderosos clubes da Europa se encontram este ano afastados das meias finais da Liga dos Campeões.
Dentre os sobreviventes, só o Chelsea ombreia em poder financeiro, que não em historial desportivo, com esses clubes. Não sendo propriamente pobres de pedir, Porto, Mónaco e Corunha são usualmente outsiders da principal competição europeia de clubes desde que, na sequência da Lei Bosman, a FIFA reformulou o seu modelo em função das exigências dos clubes mais poderosos dos maiores países do Continente.
O entusiasmo algo pueril pelo capitalismo todo-poderoso e incontrolado decretou uma nova orgânica de organização do futebol assente na predominância do clube-empresa sobre qualquer outra consideração desportiva, económica ou política.
Eliminadas todas as barreiras à livre circulação dos jogadores no espaço comunitário, nada mais podia impedir que os grandes clubes açambarcassem os melhores futebolistas, deixando apenas os restos (praticantes jovens ou, alternativamente, em fim de carreira) para os outros.
Como o poder dos clubes resulta hoje fundamentalmente das receitas televisivas e estas dependem da dimensão dos mercados publicitários de cada país, decorreu daí que, tirando os clubes espanhóis, italianos, ingleses, alemães e franceses, mais ninguém tinha efectivamente hipóteses de competir com sucesso. Os clubes das potências futebolísticas europeias de segunda linha – Portugal, Holanda, Escócia, Bélgica, Rússia, Jugoslávia, Roménia, Suécia – que anteriormente coleccionavam títulos europeus, foram reduzidos à condição de meros paus de cabeleira.
O mais importante, porém, é que esta organização do futebol prefigurou o que de mais errado há hoje na União Europeia: a concentração de todo o poder real num reduzido directório de grandes países com exclusão de todos os restantes. Eles jogam à bola entre si, nós assistimos.
(Curiosamente, os EUA, onde o capitalismo europeu pretensamente vai buscar a sua inspiração, têm o cuidado de não organizar o seu desporto profissional desta maneira tão estupidamente auto-destrutiva.)
Este modelo tinha, porém, uma falha. Nos clubes-empresas coexistem duas lógicas opostas, a financeira e a desportiva. A menos que os clubes sejam totalmente subtraídos ao controlo dos seus sócios e adeptos, a lógica desportiva tenderá sempre a sobrepor-se, e ela traduz-se na pressão para conquistar títulos comprando os melhores jogadores disponíveis no mercado que, não por acaso, também são os mais caros.
Alimentada pela escalada das receitas televisivas apropriadas pelos clubes, a inflação dos preços dos jogadores atingiu em meia dúzia de anos valores inimagináveis. Quando, ao virar da primeira recessão, as primeiras caíram, os clubes entraram em profunda crise financeira. Mesmo aumentando os seus níveis de endividamento, em 2003 foram pela primeira vez obrigados a moderar os seus impulsso para ir mais uma vez ao mercado recrutar as estrelas em ascensão.
Duas excepções apenas: o Chelsea, alimentado com dinheiro fresco directamente proveniente das máfias russas; e o Real Madrid que, para comprar a estrela David Beckham, prescindiu de se reforçar noutros sectores mais carentes da equipa.
Não é, pois, fortuita a eliminação prematura dos grandes emblemas milionários na Liga dos Campeões. Quando as estrelas já em declínio (há quantos anos ouvimos falar de Figo, Giggs, Henry, David ou Shevtchenko?) não podem, por força de restrições financeiras, ser substituídas por outras em ascensão, abre-se um espaço para que outros clubes que primam pela sua organização colectiva também possam brilhar.
É por isso que a derrota dos galácticos e similares é uma boa notícia para todos os que de facto gostam de futebol, e ainda mais para os que entendem que a consciência europeia se forja, em grande medida, pela participação nas competições futebolísticas. Nós, portugueses, começámos a sentirmo-nos europeus quando o Benfica venceu a final de Berna e os cantores portugueses pela primeira vez participaram nos festivais da canção da Eurovisão.
Á entrada do século XXI, repetiram-nos até à exaustão que o futuro pertenceria às grandes unidades empresariais e que, por isso, não haveria alternativa à concentração do poder económico. Se, no futebol, se provar que não é necessariamente assim, o futuro voltará a estar em aberto. Talvez o fim da história ainda esteja longe.
Não estar do lado dos poderosos voltará a ser considerada uma atitude racional, não um mero devaneio romântico. Outras galáxias aguardam talvez por nós.
À margem
Título do El Pais e do ABC de hoje: «EE UU reconoce que ha perdido el control de varias ciudades en Irak».
Título do DN: «Justiça portuguesa está a perder credibilidade - arcebispo de Braga acusa a Comunicação Social de pretender substituir-se aos juízes»
Título do Público: «Moldavo repatriado de Portugal fez alusões ao 11 de Março doze dias antes dos atentados»
Pobre país que, apesar dos regulares e grandiloquentes protestos de europeismo, persiste em encerrar-se sobre si mesmo e colocar-se à margem de tudo o que de mais importante se passa no mundo.
Título do DN: «Justiça portuguesa está a perder credibilidade - arcebispo de Braga acusa a Comunicação Social de pretender substituir-se aos juízes»
Título do Público: «Moldavo repatriado de Portugal fez alusões ao 11 de Março doze dias antes dos atentados»
Pobre país que, apesar dos regulares e grandiloquentes protestos de europeismo, persiste em encerrar-se sobre si mesmo e colocar-se à margem de tudo o que de mais importante se passa no mundo.
Louvor do fracasso
«As causas perdidas são precisamente aquelas que poderiam ter salvo o Mundo.»
G. K. Chesterton
G. K. Chesterton
8.4.04
Sabedoria e meteorologia
«Toda a verdadeira amizade inicia-se pelo lume, pela comida e pela bebida e pela opinião sobre a chuva ou a geada. Os que não começam pelo lado corpóreo das coisas são já pedantes.»
«Na simples frase «lindo dia» contém-se integralmente o grande ideal humano da camaradagem.»
G. K. Chesterton
Todos no mesmo barco
«Nenhum homem se deve sobrepor às coisas que a todos os homens são comuns. Esta forma de igualdade deve ser carnal, grosseira e cómica. Não só estamos todos no mesmo barco, como estamos todos enjoados.»
G. K. Chesterton
G. K. Chesterton
Em defesa do parlamentarismo
«Os deputados apreciam os lazeres e as longas discussões como toda a gente; nisso são eles bem os representantes da Inglaterra. Nisso se aproximam das viris virtudes da cervejaria pública»
G. K. Chesterton
G. K. Chesterton
É o negócio deles
«O resumo da atitude moderna, em conclusão, é este: invente o homem novos ideais, já que não ousa esforçar-se para atingir os antigos.»
«Os ricos sempre foram modernos: é o seu negócio.»
G. K. Chesterton
«Os ricos sempre foram modernos: é o seu negócio.»
G. K. Chesterton
Não há nada mais prático do que uma boa teoria
«Se pedissemos qualquer coisa abstracta, talvez algo se obtivesse de concreto»
G. K. Chesterton
G. K. Chesterton
A fantasia dos homens práticos
«Uma das mais singulares fantasias da nossa época é a de que, quando as coisas vão mal, é preciso um homem prático. Estariamos bem mais perto da verdade se disséssemos que, quando as coisas vão mal, precisamos de um homem não-prático. (...) Quando as coisas não andam, do que se precisa é de um pensador, de um homem que tem uma doutrina pela qual as coisas correrão. É disparate tocar lira quando Roma arde, mas há toda a razão para que se estude hidráulica durante o incêndio»
G. K. Chesterton
G. K. Chesterton
6.4.04
1.4.04
Perguntas que Brad de Long gostaria de fazer a Condoleezza Rice
Q: You stated that the proposals for attacking Al Qaeda that Richard Clarke submitted to you in January 2001 were a "laundry list," and that it took eight months of work to turn that "laundry list" into a coherent plan. Isn't that claim false? Wasn't the plan the NSC Principals discussed on September 4 in its essentials the same plan that Richard Clarke had proposed on January 25?
Follow Up Q: In retrospect, don't you deeply regret that you did not give Richard Clarke the NSC Principals meeting he asked for at the very start of the administration?
Follow Up Q: Why have you worked so hard to exaggerate the differences between what Clarke proposed on January 25 and what the NSC Principals discussed on September 4?
Q: Do you regret requiring that Richard Clarke report to the NSC Deputies committee rather than chairing the NSC Principals committee? Didn't this greatly slow down policy development? Wouldn't things have been better if you had let Clarke do what he wanted to do--play the same role he played in the Clinton administration?
Follow Up Q: What benefit was gained from forcing Richard Clarke to jump through bureaucratic hoops set for him by people like Wolfowitz who believed that Saddam Hussein was a much more important foreign policy concern than Osama bin Laden?
Q: You have stated that in the summer of 2001 the Bush administration was at "battle stations". When the Clinton administration was at battle stations in the run-up to January 1, 2000, the NSC staff led by Richard Clarke shook the trees by having daily cabinet-level meetings on the terrorist threat, and demanding that cabinet officers probe deeply into their organizations looking for important but unrecognized information. There was no corresponding effort in the summer of 2001, was there?
Follow Up Q: When you say that the Bush administration was at "battle stations" before 911, aren't you misleading people who know what Richard Clarke's idea of "battle stations" is?
Follow Up Q: Do you regret not giving Richard Clarke the authority in the summer of 2001 to do what he wanted to do--to "shake the trees" of the departments in an attempt to uncover information of unrecognized importance?
Q: Richard Cheney has claimed that before September 11, 2001, Richard Clarke was "out of the loop" on important counterterrorism matters. What important matters relevant to counterterrorism was Richard Clarke--the administration's counterterrorism coordinator--not informed of before September 11?
Follow Up Q: Whose policy decision was it that the counterterrorism coordinator would not be allowed to coordinate--would not be informed of--important aspects of counterterrorism?
Follow Up Q: [If Rice backs Cheney] Wasn't this keeping the counterterrorism coordinator from having the information he needed to do his job a really stupid idea?
Follow Up Q: [If Rice contradicts Cheney] So you are saying that Richard Cheney is not trustworthy?
Q: Richard Clarke's counterterrorism proposals were taken to the NSC Principals on September 4, 2001. But isn't it correct that there was no agreement on how to fund Clarke's proposals reached at that meeting?
Follow Up Q: When--if 9/11 had not happened--would the next NSC Principals' meeting on this issue have been scheduled?
Q: In May 2001, George W. Bush asked for a plan to destroy Al Qaeda. Richard Clarke told you he could have such a plan ready on two days. Was there any reason not to rapidly satisfy Bush's request?
Q: Why does George W. Bush believe that Saddam Hussein played a role in the attacks of September 11, 2001?
Follow Up Q: Did you attempt to disabuse George W. Bush of this belief?
Follow Up Q: Why not?
Q: George W. Bush's belief that Saddam Hussein was responsible for 911 has had important consequences. In early 2002, to prepare for the war in Iraq, important elite American combat units were withdrawn from Afghanistan. Didn't this have a significant impact retarding out hunt for members of Al Qaeda?
Follow Up Q: If these units weren't important, why were they sent to Afghanistan in the first place?
Follow Up Q: Aren't the steps we are taking now along the Afghan-Pakistan border steps that we should have taken in the spring of 2002--steps that we would have taken in spring 2002 if not for the administration's focus on Iraq?
Follow Up Q: In retrospect, don't you deeply regret that you did not give Richard Clarke the NSC Principals meeting he asked for at the very start of the administration?
Follow Up Q: Why have you worked so hard to exaggerate the differences between what Clarke proposed on January 25 and what the NSC Principals discussed on September 4?
Q: Do you regret requiring that Richard Clarke report to the NSC Deputies committee rather than chairing the NSC Principals committee? Didn't this greatly slow down policy development? Wouldn't things have been better if you had let Clarke do what he wanted to do--play the same role he played in the Clinton administration?
Follow Up Q: What benefit was gained from forcing Richard Clarke to jump through bureaucratic hoops set for him by people like Wolfowitz who believed that Saddam Hussein was a much more important foreign policy concern than Osama bin Laden?
Q: You have stated that in the summer of 2001 the Bush administration was at "battle stations". When the Clinton administration was at battle stations in the run-up to January 1, 2000, the NSC staff led by Richard Clarke shook the trees by having daily cabinet-level meetings on the terrorist threat, and demanding that cabinet officers probe deeply into their organizations looking for important but unrecognized information. There was no corresponding effort in the summer of 2001, was there?
Follow Up Q: When you say that the Bush administration was at "battle stations" before 911, aren't you misleading people who know what Richard Clarke's idea of "battle stations" is?
Follow Up Q: Do you regret not giving Richard Clarke the authority in the summer of 2001 to do what he wanted to do--to "shake the trees" of the departments in an attempt to uncover information of unrecognized importance?
Q: Richard Cheney has claimed that before September 11, 2001, Richard Clarke was "out of the loop" on important counterterrorism matters. What important matters relevant to counterterrorism was Richard Clarke--the administration's counterterrorism coordinator--not informed of before September 11?
Follow Up Q: Whose policy decision was it that the counterterrorism coordinator would not be allowed to coordinate--would not be informed of--important aspects of counterterrorism?
Follow Up Q: [If Rice backs Cheney] Wasn't this keeping the counterterrorism coordinator from having the information he needed to do his job a really stupid idea?
Follow Up Q: [If Rice contradicts Cheney] So you are saying that Richard Cheney is not trustworthy?
Q: Richard Clarke's counterterrorism proposals were taken to the NSC Principals on September 4, 2001. But isn't it correct that there was no agreement on how to fund Clarke's proposals reached at that meeting?
Follow Up Q: When--if 9/11 had not happened--would the next NSC Principals' meeting on this issue have been scheduled?
Q: In May 2001, George W. Bush asked for a plan to destroy Al Qaeda. Richard Clarke told you he could have such a plan ready on two days. Was there any reason not to rapidly satisfy Bush's request?
Q: Why does George W. Bush believe that Saddam Hussein played a role in the attacks of September 11, 2001?
Follow Up Q: Did you attempt to disabuse George W. Bush of this belief?
Follow Up Q: Why not?
Q: George W. Bush's belief that Saddam Hussein was responsible for 911 has had important consequences. In early 2002, to prepare for the war in Iraq, important elite American combat units were withdrawn from Afghanistan. Didn't this have a significant impact retarding out hunt for members of Al Qaeda?
Follow Up Q: If these units weren't important, why were they sent to Afghanistan in the first place?
Follow Up Q: Aren't the steps we are taking now along the Afghan-Pakistan border steps that we should have taken in the spring of 2002--steps that we would have taken in spring 2002 if not for the administration's focus on Iraq?
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