11.2.05

Manoel e nós

No écrã do cinema King projectava-se um trailer anunciando a reposição de «Francisca». Não eram passados quinze segundos, e já toda a plateia ria à gargalhada.

Quatro americanos ali presentes entreolhavam-se perplexos. Um deles comentou em voz baixa para o vizinho: «Porque é que as pessoas riem? Isto parece ser um filme dramático...»

O Manoel de Oliveira é uma «private joke» dos portugueses. Nós pagamos-lhe para não fazer filmes e ele, como contrapartida, não os faz, porque não sabe. E nós rimo-nos imenso porque o torturamos obrigando-o a fazer algo que ele visivelmente detesta.

Não há nada de chocante ou estranho nisto. Afinal, muita gente em Portugal ganha a sua vida a fazer coisas que não sabe fazer. Trata-se de uma profissão absolutamente respeitável, talvez mesmo a única.

No estrangeiro, ao que parece, há algumas pessoas que apreciam muito o cinema de Manoel. Manoel é pitoresco, como o eram as carroças puxadas por burros, a ceifa manual ou os ronceiros eléctricos amarelos de Lisboa. Infelizmente, acham eles, tudo isso tem vindo a desaparecer.

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